Para o economista Randall Wray, em situações de crise governos devem emitir moeda e aumentar seus gastos; vídeo legendado

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Randall Wray participou de seminário no Rio de Janeiro, a convite do CEE-Ficoruz, em novembro de 2019

CEE-Fiocruz entrevista o economista Randall Wray: governos devem emitir moeda e aumentar seus gastos

CEE-Fiocruz 

Para o financiamento de políticas sociais, cabe aos governos a decisão de emitir moeda e aumentar seus gastos.

Esse princípio da Teoria Moderna da Moeda (MMT, na sigla em inglês) é explicado por um de seus autores, o economista norte-americano Randall Wray no vídeo no topo, de mais de uma hora, produzido pelo CEE-Fiocruz.

Wray esteve no Brasil em novembro de 2019, a convite do CEE e foi entrevistado pelos também economistas Daniel Conceição, da UFRJ, ex-aluno de Wray, e Gustavo Noronha, do Incra.

Ele destaca que, se um país emite moeda, sempre poderá gastar o necessário para atender suas demandas.

Em meio à crise sanitária provocada pela pandemia de coronavírus, mesmo os países mais liberais vêm percebendo que é preciso abandonar o controle dos gastos públicos para salvar vidas e socorrer as pessoas, inclusive do desemprego, provocado pela retração das atividades econômicas.

De acordo com Teoria Moderna da Moeda, para recompor a economia, o melhor remédio não é a austeridade fiscal e sim a ampliação da base monetária, imprimindo-se mais dinheiro.

“Há uma crença de que bastaria cortar os gastos públicos para os déficits caírem, mas, na verdade, a austeridade joga a economia numa recessão, que matará a receita tributária”, explica Wray, professor do Levy Institute/Bard College, nos Estados Unidos.

“O mais importante é que, se (o país) tiver os recursos e o conhecimento técnico para fazê-lo, o financiamento não deve ser uma barreira”.

Como exemplo de aumento de gastos públicos em situação de crise, o professor de Economia cita a experiência do governo americano durante a Segunda Guerra Mundial: para mobilizar os recursos necessários no esforço de guerra, os EUA viram seus gastos públicos aumentarem de 3% para 50% do PIB.

Segundo o economista, a emissão de um volume maior de moeda pelo governo para subsidiar políticas públicas não necessariamente deve resultar em inflação.

Políticas sociais como um programa de garantia de emprego “estabilizam os salários, determinam um piso salarial, e não aumentam a pressão salarial, porque, por definição, estão contratando os desempregados”.

Essas pessoas ao passarem a receber seus salários, vão poder suprir necessidades básicas.

Nesse cenário de aumento das despesas do governo, caso haja alguma pressão inflacionária, Wray recomenda que o sacrifício tenha como foco pessoas de renda alta, que deverão passar a consumir menos.

“A inflação é provocada por pessoas de renda alta, que podem consumir cem vezes mais que as pessoas de renda baixa”, diz.

No Brasil, a pandemia de Covid-19 sublinhou a importância de o governo aumentar os recursos para o SUS, responsável tanto pela atenção à saúde como pelas ações de vigilância sanitária e epidemiológica do país.

A crise provocada pelo coronavírus ressalta tensões decorrentes da enorme desigualdade social e econômica do país. As recomendações da OMS para evitar a propagação do vírus esbarram em problemas crônicos, como a falta de universalização de acesso ao saneamento básico. Metade da população até hoje não tem coleta de esgoto.

O quadro põe em cheque a aprovação da Emenda Constitucional 95, em 2016, que limitou o teto dos gastos públicos nas próximas duas décadas.

Na entrevista, Randall Wray lembra que é preciso desfazer a ideia de que um governo soberano é como uma família ou uma empresa.

“Famílias e empresas não emitem as próprias moedas”, observa.

“A MMT ensina que um governo maximiza o espaço da sua política interna ao aproveitar a própria moeda nacional. Se o governo emite a própria moeda, esta não tem como se esgotar”.


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