Os vinte anos da morte de Saldanha

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20 ANOS DE INESTIMÁVEL PERDA

por Lucas Rafael Chianello

Itália, Roma, 12 de Julho de 1990, Hospital Santo Eugênio. Depois de inúmeras conversas familiares, recomendações médicas e a decisão de viajar para cobrir mais uma Copa do Mundo, um dos mais completos brasileiros do séc. XX, senão o mais, deixaria o plano terreno, mas jamais passaria a ter sido alguém. Gaúcho, jornalista, botafoguense e gremista, mas acima de tudo o homem da política, como uma vez definiu uma de suas filhas ao insculpir uma dedicatória num exemplar de sua biografia, cujo dono é este que vos escreve.

Se dar ao prazer de conhecer a história de vida deste brasileiro completo é ter a oportunidade única de compreender que valorizar a vida é lutar para que todos a tenham dignamente e assim possam vivê-la intensamente, da forma que ele viveu, fosse na política, no futebol ou na imprensa.

Ninguém jamais entendeu de futebol como ele, a ponto de seu biógrafo, André Iki Siqueira, declarar que ao assistir jogos de seu time de coração no Maracanã, o Vasco, ia embora no  meio do jogo quando seu biografado comentava, pelo rádio, que não tinha mais jeito. “Dificilmente ele errava”, diz André quando é entrevistado. Uma das provas de sua sabedoria futebolística é o jogo Portugal x Coreia do Norte, na Copa de 66. Após os asiáticos abrirem 3×0, o narrador Jorge Cury o pergunta se a fatura já estava liquidada. Ele responde que os lusos ainda poderiam reverter o elástico placar, que lhes terminou favorável por 5×3. “Os coreanos correram em meio jogo o que tinham para correr o ano todo”, explicou.

Em 1957, Botafogo e Fluminense, o clássico mais antigo do futebol brasileiro, definiria o campeão estadual. As instruções foram simples: “o Quarentinha marca o Telê Santana e vocês vencem o jogo, pois o empate é deles. Vocês estão perdendo de 0x0”. No final, Botafogo 6×2, com cinco gols de  Paulinho Valentim. Até hoje, a maior goleada em finais de campeonato carioca.

Ao detectar os momentos nos quais o futebol e a política se misturavam, a maestria continuava consigo. Enfeitava-se jogadas para se conseguir contrato em dólar na Europa; o êxodo de jogadores é o nosso maior PIB, “escala o teu ministério que eu escalo a minha seleção”.

Ninguém foi tão partidário e obediente ao PCB. Fosse nos movimentos de juventude fugindo da polícia e do hospital com o pulmão ferido para não ser preso; na guerrilha em  Porecatu (PR), lutando pela reforma agrária; nas panfletagens das greves gerais em São Paulo na década de 40, nas denúncias de tortura do regime militar que lhe valeram uma medalha do Projeto Brasil, Nunca Mais.

Perdão, Mestre, se escrevi sobre você em mais de 30 linhas, as quais  você dizia que além delas, o leitor se cansava. Mas é só para demonstrar que um longo artigo é pouco para descrever tua vida que há 20 anos se foi. A tua vida, porque tu ainda és e sempre será.

“A vida é a razão da gente ser. Claro que a vida vale a pena. E a melhor coisa da vida é a própria vida. Eu tenho usado bem a vida. Sou otimista e tenho confiança. Acredito no futuro. E gosto da vida”.

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“A coisa que eu mais amo é o socialismo, porque eu conheço os países socialistas. São pobres alguns, têm grandes dificuldades outros, mas não conhecem crise nem miséria. Ninguém precisa pensar nos filhos, o futuro deles está garantido. Eu estou feliz porque, no decorrer da minha vida, eu já vi o avanço do socialismo”.

João Saldanha

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