Observatório Social da Petrobrás alerta: Projetos no Congresso para frear alta dos combustíveis não atacam a raiz do problema

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Foto: Reprodução

Projetos para frear aumento dos preços não eliminam causa do problema, afirma OSP

Por Alessandra Martins*

Os quatro projetos em tramitação no Congresso Nacional para conter a alta dos preços dos combustíveis são ineficazes e não vão resolver o problema no país.

Análise do Observatório Social da Petrobrás (OSP) mostra que as propostas não atacam a causa do problema, que é a política de cálculo adotada pela gestão da Petrobrás, e podem se transformar, simplesmente, em subsídio sem resultados relevantes no preço final dos combustíveis, mas com alto impacto fiscal.

Cada um dos quatro projetos foi examinado a fundo pelo economista Eric Gil Dantas, do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps) e do OSP, organização ligada à Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) e responsável pela pesquisa sobre o preço justo dos combustíveis, que se baseia na análise da estrutura de custos da Petrobrás.

Os parlamentares apresentaram até agora duas Propostas de Emenda à Constituição (PECs) e dois Projetos de Lei (PLs).

Segundo Dantas, nenhum desses projetos corta o mal pela raiz, já que a verdadeira origem do aumento dos combustíveis é o Preço de Paridade de Importação (PPI).

“As propostas só tocam em questões laterais. São meramente ataques aos sintomas. O caso do ICMS é um exemplo, é só uma alíquota que acompanha o aumento dos preços”, afirma.

O problema, de acordo com a análise, não é de volatilidade, que seria resolvido com mecanismos de estabilização.

“Os projetos propõem mecanismos como congelamento de imposto e o fundo de estabilização, mas estruturalmente estamos com câmbio e preços internacionais de combustíveis elevados. Não há estimativas de que isso mude nos próximos anos”, prevê.

O estudo alerta que a criação de um fundo de estabilização vai financiar importadores de combustíveis, ajudando essas empresas a atingirem os tão desejados preços internacionais.

Segundo o último levantamento da consultoria CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), de 31 de janeiro, a defasagem em relação aos preços internacionais é de R$ 0,46 para o diesel S-10 e R$ 0,55 para a gasolina.

“Se esse fundo estivesse em vigor hoje, estaríamos retirando das contas públicas dinheiro de dividendos e participações governamentais (além do imposto sobre exportação) para pagar essa diferença. Só para não mudar nada – isto é, não baratear em nenhum centavo os combustíveis, apenas pagando a diferença atual – quantos bilhões de reais não torraríamos dos cofres públicos?”, questiona o pesquisador.

A análise aponta ainda que, ao contrário do que propagandeia o governo federal, o imposto não é o vilão da alta dos combustíveis.

Segundo o Relatório Mensal de Mercado (do Ministério de Minas e Energias) de agosto de 2008, o mais antigo disponível, a gasolina comum naquele mês tinha uma carga tributária estadual de 27% e federal de 16%.

Ou seja, 43% do preço da gasolina era de imposto. Hoje, conforme dados da Petrobrás, a gasolina comum tem um ICMS de 27% e carga federal de 10%, ou seja, 37% do preço da gasolina é de imposto. Em relação ao gás de cozinha (GLP), a carga tributária total – desde março de 2021 não há mais tributo federal no botijão – caiu de 20% para 15% nesse mesmo período.

“Isso representa uma queda de 6 e de 5 pontos percentuais no total da carga tributária, respectivamente. E o detalhe é que o imposto não aumentou e, sim, diminuiu. Além disso, os últimos subsídios tiveram alto custo fiscal, mas não reduziram o preço dos combustíveis”, avalia Dantas.

Mudança do PPI

Com a política do PPI, adotada pela Petrobrás no governo de Michel Temer e mantida por Jair Bolsonaro, o preço dos combustíveis no Brasil é estabelecido pela simulação do custo de importação, que seria o preço internacional mais o custo de internalização vezes o dólar. Segundo Dantas, a Petrobrás tem uma estrutura de custos que permite vender os combustíveis por preços muito mais baratos, sem ser a preços internacionais.

“Produzimos a maior parte do combustível que consumimos. O custo para produzir gasolina, diesel e GLP não mudou nos últimos anos, à exceção do que se paga de participações governamentais, que varia junto ao preço do brent. No entanto, todos os derivados de petróleo alcançaram nos últimos meses seus maiores preços reais da história. Esse cenário é resultado do PPI e é essa metodologia que os parlamentares devem atacar e exigir mudança, porque ela é a origem desse cenário caótico de preços altos, que penaliza o consumidor brasileiro”, conclui.

*Alessandra Martins é assessora de imprensa do Observatório Social da Petrobrás

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Comentários

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Nelson

Os direitos e parcos ganhos salariais da grande maioria podem ser esmagados ao talante dos parlamentos e governos, ainda que para isso seja preciso agredir a Carta Maior quantas vezes o grande capital asism o exigir. Neste caso, os contratos podem ser desrespeitados à vontade.

Já os lucros de uns poucos, de uma ínfima parte da sociedade, são sagrados e não podem ser tocados. Neste caso, os contratos tornam-se cláusulas pétreas e ai de quem queira neles mexer.

Absurdamente, parlamentares e governos, ou a maioria deles, que foram eleitos para defenderem o povo como um todo, pensam exatamente assim, com a cabeça do capital. E ainda têm a coragem de chamar a isso de democracia.

Zé Maria

PRIVATIZAÇÃO DA ELETROBRAS

Tribunal de Contas da União (TCU)
TC Processo 008.845/2018-2
Desestização [da Eletrobrás]
Julgamento Plenário TCU
Ao Vivo:
https://youtu.be/edO8OjJV86Y

    Zé Maria

    https://pbs.twimg.com/media/FLpUPSYXEAsgcXw?format=jpg
    https://twitter.com/gleisi/status/1493598859070783504/photo/1

    ‘Erro de cálculo’?

    Ou subvalorização para beneficiar Grupos Privados?

    “O ministro Vital do Rêgo, do TCU, revelou hoje
    uma subavaliação de R$ 34 BILHÕES no valor
    da outorga que deverá ser paga ao Tesouro
    Nacional no âmbito da privatização da Eletrobras.”
    [elevando o Valor da Outorga da Estatal para,
    no mínimo, R$ 57 MILHÕES, ou seja, mais que
    o dobro do que os R$ 23,2 bilhões avaliados
    por Guedes/Bolsonaro.]

    https://twitter.com/Joao_P_Romero/status/1493682674803908619

    Zé Maria

    Em seu voto revisto, o ministro Vital do Rego sugere ao plenário
    que o processo seja paralisado e devolvido ao MME para atualização
    dos cálculos referentes ao valor agregado dos contratos de geração
    da Eletrobras.

    “O que se demonstrou neste voto é que as várias falhas
    na modelagem e nos parâmetros de precificação utilizados
    [pelo Governo] resultam no desfazimento de patrimônio
    da União por valor menor do que ele de fato representa”,
    afirmou Vital.

    [ Reportagem: Murillo Camarotto | Valor — Brasília ]

    Zé Maria

    Conforme, ainda, a mesma reportagem do Valor:

    “Apesar dos argumentos, ele [Vital do Rego] deve enfrentar a resistência de outros ministros do TCU, que foram procurados
    nos últimos dias por representantes do governo preocupados
    com o eventual fracasso da privatização.”

    O repórter Murillo Camarotto acertou. Os outros Ministros do TCU
    estão entregando a Rapadura, mesmo apesar de alguns deles
    confessarem: “se a Eletrobras fosse minha eu não a privatizaria”.
    Mas votam a favor da Privatização, sabendo que houve subavaliação,
    que a Petrobras está sendo vendida a preço de [casca] de banana.
    Uma Vergonha!

    Zé Maria

    .
    .
    Vital do Rêgo ainda fez diversas ponderações em seu voto sobre a privatização da Eletrobras.

    Segundo ele, “nenhum país cuja matriz elétrica
    possua hidroeletricidade como parte significativa
    [caso do Brasil] privatizou seu setor elétrico.
    Estados Unidos, China, Canadá, Suécia, Noruega, Índia, Rússia.
    Nenhum deles”.

    No relatório, o ministro diz ainda que as 22 hidroelétricas da Eletrobras, que detêm 50% dos reservatórios do Brasil, já estão “completamente amortizadas e depreciadas”.

    “Em tese, a partir de então, toda a população passaria a usufruir de todo esse investimento já feito e liquidado”, segue ele.

    “Mantidas as outras variáveis constantes, isso poderia significar contas de energia mais baratas na casa do consumidor. Contudo, com a desestatização em curso, o aproveitamento desses investimentos já amortizados será transferido à iniciativa privada, sem qualquer garantia de modicidade tarifária”, afirma ainda.

    “Em outras palavras, a sociedade arcou com os custos de construção e instalação dessas UHEs, mas, depois de prontas e pagas, não poderá delas usufruir de forma direta.
    Além disso, poderá ter uma conta para pagar de R$ 100 bilhões, nos próximos 30 anos”, segue Vital do Rêgo em seu voto.

    Ele ainda questiona:
    “Fazendo uma singela analogia, é como se uma pessoa passasse anos a fio pagando as prestações de sua casa, e ao final, depois de inteiramente quitada, tivesse de abrir mão de sua propriedade e não mais dela pudesse usufruir.
    Terá essa pessoa que pagar por sua casa novamente?”

    Vital do Rêgo afirma que é preciso “jogar luzes sobre tal questão, que considero outro ponto importante que me leva a reprovar a desestatização nos moldes submetidos ao TCU, por notadamente contrária ao interesse público, de modo a evidenciar para toda a sociedade, inclusive para os mais leigos em matéria tão complexa, o que exatamente isso representa”.

    “Todas essas questões abordadas, aliadas às comprovadas falhas técnicas verificadas nos estudos submetidos ao TCU, levam à conclusão por um nítido açodamento nas tratativas para a concretização da desestatização da Eletrobras, não condizente com a sua magnitude, com a sua importância e com os seus desdobramentos.

    Reforço que não se está aqui a defender que a decisão pela desestatização da Eletrobras seja revogada.
    O que se exige é que o processo esteja suportado em parâmetros consistentes que garantam a higidez do modelo escolhido, e, principalmente, assegurem o interesse do titular do patrimônio público a ser desestatizado – a sociedade brasileira.

    Sabemos que o brasileiro sofre hoje com as consequências de ter de pagar pela segunda tarifa de energia mais cara do planeta, segundo dados da agência internacional afeta ao tema.
    Levar adiante a desestatização da Eletrobras no formato eivado de falha técnicas aqui detalhadamente demonstradas significará grandes possibilidades de passarmos a ocupar o primeiro posto nesse nefasto ranking”,
    finaliza ele.

    [Fonte: Blog da Jornalista Mônica Bergamo]

Henrique Martins

https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/marielle-mp-desvendar-o-caso/

Depois que Bolsonaro for obrigado pelo povo a renunciar ou a sofrer impeachment eles vão descobrir.

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