O WikiLeaks e a crise bancária na Islândia

Tempo de leitura: 3 min

O “segundo” de WikiLeaks vem para o centro da arena: Kristinn Hrafnsson

7/12/2010, Andy Greenberg, revista Forbes (reproduzido na redecastorphoto)

Meet the new public face of WikiLeaks: Kristinn Hrafnsson

Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu

Julian Assange descreveu-se algumas vezes como uma espécie de lanterna de WikiLeaks: é quem representa a causa do grupo e, ao mesmo tempo, atrai sobre si a fúria dos críticos. Ontem, a lanterna sofreu uma pane: Julian Assange foi preso em Londres, sem direito a libertação sob fiança; e WikiLeaks ficou privado de sua persona básica.

Mas há um “segundo homem” que representa WikiLeaks e que nos últimos meses começou a ser apresentado às câmeras: é islandês, é conhecido jornalista investigativo e acompanha Assange já há algum tempo. Chama-se Kristinn Hrafnsson e trabalha com WikiLeaks desde abril. À medida que os movimentos de Assange foram-se tornando cada vez mais limitados e ele precisou recolher-se por causa de ameaças legais e ilegais contra ele, Hrafnsson foi-se tornando cada vez mais visível.

Você pode ver Hrafnsson na extrema direita deste vídeo de um debate do Frontline Club sobre a divulgação de 250 mil telegramas diplomáticos secretos dos Estados Unidos na semana passada.

Não conseguimos fazer contato com Hrafnsson para que ele confirmasse e não há qualquer indicação de que liderará a organização na ausência de Assange. Mas Hrafnsson continua a ser o único rosto da organização na ausência de Assange, e a estrutura formal de WikiLeaks pode estar sendo parcialmente transferida para a Islândia: em novembro, Hrafnsson disse à imprensa que WikiLeaks criara uma empresa (Cia. Ltda.) na Islândia, cujo endereço oficial seria o apartamento de uma pessoa da equipe de WikiLeaks.

Como vários cidadãos islandeses, Hrafnsson, então jornalista empregado da RUV, rádio nacional da Islândia, tomou conhecimento da existência de WikiLeaks quando o grupo distribuiu documentos do hoje defunto Kaupthing Bank, em agosto do ano passado, dez meses antes da falência do banco. Os documentos comprovavam que o banco emprestara bilhões de dólares aos seus próprios executivos e a empresas das quais eram acionistas e proprietários.

Imediatamente depois, ainda sob o impacto do escândalo, Hrafnsson ajudou a organizar o movimento que ficou conhecido como Moderna Iniciativa para a Mídia da Islândia [ing. Icelandic Modern Media Initiative, (IMMI)].

[Nota do Viomundo: O blogueiro da Forbes acrescentou aqui uma correção, dizendo que Hrafnsson não ajudou a criar a IMMI, mas apenas prestou assessoria ao grupo]

O Movimento IMMI redigiu e fez aprovar a Lei Islandesa de proteção à liberdade de expressão e divulgação de documentos secretos tida como a claramente orientada, dentre todas as ‘leis de comunicações e mídia’ do mundo, para proteger o direito à plena informação, dos cidadãos e eleitores. O nome de Hrafnsson aparece como conselheiro no site do Projeto IMMI.

[Nota dos tradutores: Para conhecer o Projeto IMMI, ver: ICELAND TO BECOME INTERNATIONAL TRANSPARENCY HAVEN; sobre o projeto de lei IMMI, ver matéria de capa da revista Forbes sobre Assange, WikiLeaks e IMMI, em: WikiLeaks’ Julian Assange Wants To Spill Your Corporate Secrets; sobre a aprovação do projeto de lei IMMI (foi aprovado dia 16/6/2010), há matéria interessante em: Icelandic Modern Media Initiative passes: a new safe haven for journalists?]

Quando encontrei Hrafnsson em Reiquijavique em novembro, ele referiu-se à divulgação dos documentos do banco Kaupthing como “revelação tremendamente importante, talvez o mais importante depois da crise dos bancos” – e fator decisivo que despertou seu interesse tanto em relação a WikiLeaks quanto em relação à IMMI.

“O choque na sociedade islandesa foi incrível. A carência e a urgência de informação de boa qualidade fez aumentar a pressão sobre os jornalistas.

Muitos jornalistas desesperavam-se porque nada se conseguia, todos batendo cabeça contra a muralha de ferro da Lei do Sigilo Bancário e só obtendo fragmentos de informação que não se encaixavam uns nos outros” – disse ele.

“Rapidamente a sociedade islandesa percebeu a importância de haver uma organização como WikiLeaks, um canal anônimo que conseguisse levar a informação ao público.”

Em abril, Hrafnsson viajou para Bagdá para filmar uma entrevista com filhos dos civis que foram mortos no ataque do helicóptero Apache que WikiLeaks divulgou ao mundo sob o título de “Collateral Murder”.

Três meses depois, foi demitido de seu emprego na RUV; embora não haja provas, há suspeitas de que sua conexão com WikiLeaks foi fator de peso na demissão. Fonte da RUV, que pediu para não ser identificada, diz que a demissão foi consequência, exclusivamente, de desentendimento pessoal entre Hrafnsson e seu superior sobre a edição de um fragmento do noticiário.

Hrafnsson é personagem muito mais contido e taciturno que Assange, e não parece sentir-se à vontade sob os holofotes. Na entrevista que tivemos em novembro, disse que tem planos para “dar gradualmente cada vez mais ênfase sobre material vazado do que sobre a organização WikiLeaks, e mais ênfase à organização que ao fundador.”

Sobre o impacto da prisão de Assange? “Não somos organização de um homem só. Continuaremos a fazer o que sempre fizemos.”


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Comentários

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pedro

Já imaginou a histeria que tomaria conta dos poderosos quando os seus podres fossem divulgados, principalmente empresarios da midia, que apoiou as maiores atrocidades contra os presos politicos, e contra os interesses do povo brasileiro, as privataria então, abalariam os alicerces da elite e de muitos politicos, e é isso que eles tentam esconder a verdade, é por isso que a lei da midia é tão odiada pelos poderosos da comunicação, a mentira é uma arma poderosa que eles usam e abusam.

@Doradu

a primeira vez q vi sobre falência da Islândia foi no blog do Roberto Pompeo

ainda bem q o Brasil já conta com pequenos wikileaks, iguais ao Viomundo…

torço pruma onda de leis iguais as da Islândia

    Gustavo Pamplona

    Essa eu gostei… ;-)

    acrescente aí… o Escrevinhador, o Nassif, o Conversa Afiada, o Maria Frô, o Brasília eu Vi, o Miro, o Doladodelá, o Cidadania, o Cloaca, os 2 amigos (do Lula e da Dilma) e por aí vai…

Rodolfo

A prisão do Assange é uma decisão errada no meu ponto de vista, não deveria ocorrer.
A Internet hoje é o veículo de comunicação mais relevante que temos, onde você sempre encontra o que precisa.

Quem repassou as informações para o WikiLeaks?
Será que para alguém não é interessante que estas informações tão confidenciais sejam divulgadas?

Interesses diversos de batem nesta questão, e o que foi feito? – Encontraram um bode expiatório, para acalmar os ânimos daqueles que foram prejudicados.

Sergio Henrique

Realmente acredito que estamos presenciando no episódio do WikiLeaks, algo extremamente mais importante e poderoso do que um fato isolado, com repercussões imediatas e restritas.
As reações internacionais dos poderes e nacionais nas enrevistas que assisti nos ultimos dias, tentando tornar menor os fatos vazados, como simples " fofocas" , deixa clara a extrema preocupação dos poderosos sobre o que pode vir por ai.
Imagino quantas reuniões ja foram feitas em organizações, sejam internacioanais ou nacionais, para se avaliar quão grande é a possibilidade de o nome das mesmas ser a proxima a ter informações vazadas para o publico.
Imagino também, que este momento alguns JORNALISTAS, já estejam avaliando efetivar o WkiLeaks nacional, estando certo que não faltariam informações vazadas de grande relevância para o público e a justiça.
De certa forma estamos assistindo ao DISQUE DENÚNCIA dos poderoso, o que efetivamente só poderia acontecer atraves de internet.

Vamos dar repercussão ao assunto

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