O ocaso da Odisseia

Tempo de leitura: 2 min

O ocaso da odisseia

21/3/2011, blog do Beppe Grillo

Tradução do Coletivo da Vila Vudu

Caros jornalistas e políticos, por favor, não acreditem nos italianos.

Não há nada de humanitário no que estão fazendo: são atos de guerra. Guerra suja por energia, petróleo, gás. A França, que depois de Fukushima já não tem futuro nuclear, precisa de gás e petróleo.

Pelo menos desde o tempo do massacre de Ustica [1], França e Itália lutam pelo controle do petróleo da Líbia, quando os céus da Itália viraram teatro da guerra com a França, aviões italianos e Gaddafi, que estava presente e safou-se por um fio. Gaddafi foi apoiado pelos italianos nos anos 70s, for armado pelos italianos. Parte do exército da Líbia foi treinado na Itália em troca de relações privilegiadas para comprarmos gás e petróleo.

Essa é guerra ensandecida que os europeus não desejam. Do modo como os italianos foram informados, não passaria de notícia de rodapé nos noticiários, como uma partida de futebol. China e Rússia são contra os ataques. A Alemanha absteve-se no CSONU e a União Africana rejeitou “qualquer tipo de intervenção estrangeira na Líbia, seja de que tipo for.” O presidente da Mauritânia Abdel Aziz disse bem claramente: “é crise gravíssima que se abate sobre um país irmão e que exige solução africana”. O presidente Aziz disse também que “nenhum representante da União Africana participou do encontro internacional sobre a Líbia, em Paris”.

O CSONU aprovou “uma zona aérea de exclusão”. Não aprovou bombardeio que reduzisse a Líbia a ruínas. Centenas de mísseis disparados por EUA e britânicos contra “alvos”, numa operação batizada de “Alvorada da Odisseia”.

Linguagem de videogame. Não é alvorada. É ocaso: o ocaso da odisseia.

Há hoje mais civis mortos pelas mãos de Obama, Cameron e Sarkozy ou em Benghazi que mortos pelas mãos de Gaddafi. Talvez os líbios mortos por mãos líbias valham, cada morto, duas mortes?

O art. 11 da constituição da Itália diz que “a Itália rejeita a guerra como instrumento de agressão contra as liberdades de outros povos e também como meio para resolver controvérsias internacionais (…).”  Por que os partidos políticos não estão nas ruas, brandindo a Constituição, contra a guerra?

Estamos bombardeando uma nação muçulmana africana. Nenhuma nação, nem muçulmana nem africana participa do ataque “internacional” das potências ocidentais, ao lado dos “cruzados”, como Gaddafi os chama.

A Arábia Saudita invadiu o Bahrain, agitado por manifestações populares contra a ditadura. Quando começará o ataque dos “cruzados” contra os ditadores-xeiques?

Gaza foi convertida em cemitério. Ninguém considerou necessária qualquer intervenção humanitária. A Itália é um porta-aviões cercado de navios canadenses, americanos e britânicos que entram e saem de nossos portos. Com que direito? Somos país de soberania limitada, mas o que está acontecendo é demais.

Fora! Fora da Itália as bases dos EUA, antes que seja tarde demais! O que sabemos sobre os rebeldes de Benghazi? Opõem-se a Gaddafi por quê? Por razões democráticas, tribais, econômicas ou religiosas? Propõem o quê, para a Líbia? Nada sabemos. Nada.

Qualquer um aí, que precise de petróleo, que lance o primeiro Tomahawk. Os EUA já lançaram 110 Tomahawks para adiantar o serviço.

[1] Sobre o conflito entre Itália e França pelo controle dos recursos energéticos no norte da África. Segundo Priore e Fasanella (autores do livro Intrigo internazionale), esse seria o pano de fundo do massacre de Ustica. Um avião italiano de passageiros explodiu, em circunstâncias jamais esclarecidas, sobre a cidade de Ustica, dia 27/6/1980. Suspeita-se de que tenha sido abatido por um caça francês. Em 2008, a Itália reabriu as investigações sobre o caso (TG2 Punto di vista, 17/5/2010).


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Comentários

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eroni spinato

O ranço americano não tem limites, querem mostrar que podem fazer tudo sem represálias. A Rússia e a China estão vacilando, estão perdendo o respeito e os americanos estão aproveitando. Bons tempos o da Guerra Fria, ninguém invadia ninguém.

Morvan

Boa noite.
É a mesma Itália que apregoava, dias atrás, em quase uníssono, que o Brasil precisava respeitar os cânones do Direito (Sic!), sobre a extradição – ou não – de Battisti; a mesma Itália que evocava Ulpiano! E também a mesma Itália da Cosa Nostra e do Berlusconi (que se confundem). Quanta escroquice, quanta hipocrisia!
Interessante, não vi nenhum artigo do Mino Carta nem do Faganielo sobre o assaque aos líbios (nutro a maior admiração por ambos, mas, no episódio do Battisti, eles – literalmente – pisaram a bola; italianaram.
França e Itália, historicamente saqueiam ou ajudam a saquear – vide as guerras mundiais. A diferença é que ambas se contentam, ora, como coadjuvantes do império.

Morvan, Usuário Linux #433640

FrancoAtirador

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Além da questão do petróleo,

há também o fator

XENOFOBIA FRANCESA E ITALIANA.

Estão matando os imigrantes na origem,

por medida preventiva.
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    ratusnatus

    Para de falar besteira.

    Gustavo Pamplona

    Não acho que o Franco esteja falando besteira… basta ver que na França aqueles "distúrbios" civis envolvendo cidadãos jovens de classes menos favorecidas onde muitos deles queimaram carros e outras coisas mais… bom a maior parte provinha de ex-colônias da África. Obviamente sei a a Líbia não é uma delas… mas é fonte dos imigrantes.

    Algo semelhante aconteceu no Brasil com o José Serra com aquelas políticas higienistas de inundar regiões habitadas por nordestinos ou queimar favelas

    FrancoAtirador

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    NEONAZI SKINHEAD
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    beattrice

    As sociedades francesa e italiana tem sérios problemas na região, históricos.
    Concordo que há razões além da financeira neste caso.
    Aliás, diante das declarações pátéticas de Sarkozy, que a França só quer levar à Líbia a democracia, vale a pena lembrar a biografia da sociedade francesa no capítulo Argélia e Marrocos.

Mário Salerno

Ao contrário do que o Sr. Pamplona quer fazer crer, o papel francês e italiano é apenas o de ajudantes. É o "sub-imperialismo", tal como o pratica o Brasil no Haiti, Ambos, França e Itália, ocupam o papel de coadjuvantes. Pois quem tem o papel principal são, novamente, os Estados Unidos. Basta ler com atenção quando o Sr. Grillo diz :

" Itália é um porta-aviões cercado de navios canadenses, americanos e britânicos que entram e saem de nossos portos. Com que direito? Somos país de soberania limitada, mas o que está acontecendo é demais."

    Gustavo Pamplona

    Amigo… Qual é o país da Europa mais próximo da Líbia?

Marat

O ocaso, no caso é o canto das sereias estadunidense e da "comunidade internacional" , aliás essa tal "comunidade" está mais para uma confraria de ratazanas! Quem ouve o canto das sereias, sem estar devidamente amarrado no mastro, morre, sem dó nem piedade. Se não morrer pelas sereias, ainda há Cila e Caríbdes… , mas os terroristas assassinos de EEUU, França, Inglaterra e o resto, ainda comerão o pão dos Lotofágos…

SILOÉ

Não querendo ser pessimista, mas correremos um grande risco, se a ONU não voltar atrás e der um basta nesta vergonhosa invasão, movida pela avidez de dominar os países produtores de petróleo.
Como reagirão Russia, Alemanha, China, Japão entre outros, todos dependentes de petróleo?
Será que eles se aproveitaram da fragilidade atual do Japão e com essa invasão e liquidar com ele também?
E os outros produtores fora da LIga Árabe, ficarão de braços cruzados esperando sua vez?
E a comunidade muçulmana como reagirá?
Será que o futuro do Oriente Médio ficará tão negro como o motivo dessas guerras?
Com a palavra alguém mais otimista.

    Marat

    Já que ninguém tem coragem de enfrentar os EEUU, o negócio é torcer para que um forte terremoto os atinga, e, em seguida, um terrível tsunami… mas, terá de ser devastador, e, preferencialmente, em áreas de complexos militares e nucleares…

SILOÉ

Não querendo ser pessimista, mas correremos um grande risco se a ONU não voltar atrás e der um basta nesta vergonhosa invasão movida pela avidez de dominar os países produtores de petróleo.

Gustavo Pamplona

É o que eu estava falando deste o princípio… a cegueira de alguns aqui do blog os impediram de ver isto… sempre falei que eram a França e Itália…

    Bonifa

    A posição dos Estados Unidos bé bem conhecida. "Ôba, se tem oportunidade de guerra, ainda mais com árabes, estamos aí… E queremos ficar bem na frente!" Se não fosse a loucura que os alemães dizem que tomou conta do Sarkozi (os alemães chegaram a afirmar que era melhor deixarem alguma decisão para mais tarde, porque consideravam que o francês não estava em boas condições físicas e mentais para decidir coisa tão importante) é provável que "Odisséia" nenhuma tivesse acontecido. Já o Berlusconi, quem o conhece sabe que, por ele, não haveria confusão, nem marola, nem bombardeio nem nada. Mas o senso de dever subalterno o faz acompanhar as tendências dos 'capi" maiores que ele. Inclusive os 'capi" da própria Itália. Você tem razão.

    beattrice

    A pressa do Sarkozy pode ser explicada pelo seu desespero em silenciar Kadaffi para evitar que sejam veiculados maiores detalhes da sua campanha anterior, que teve contribuições do líbio.

    Marat

    Sarkozy é um francesinho complexado, que precisa subir em caixotes para dar entrevistas e se sentir mais alto… Ele também é um dos parasitas europeus, que vivem sob a proteção do brucutu ignorante Tio Sam.

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