Netanyahu e a colonização de ocupação

Tempo de leitura: 4 min

por  Khaled Amayreh (de Ramállah), Al-Ahram Weekly, Cairo

Coletivo de tradutores Vila Vudu

Nem bem o primeiro-ministro de Israel Binyamin Netanyahu desembarcou nos EUA essa semana, o governo de Israel anunciou planos para construir 1.300 novas casas exclusivas para colonos judeus na Cisjordânia ocupada.

O novo plano – somado aos demais vários planos para implantar talvez dezenas de milhares de novas unidades residenciais – consuma a decapitação de qualquer esperança que ainda restasse de qualquer tipo de acordo de paz entre Israel e uma impotente e isolada Autoridade Palestina (AP).

A maior parte das novas casas serão construídas na colônia Har Homa na região de Belém-Beit Sahur e em outras colônias exclusivas para judeus dentro ou em torno de Jerusalém Leste. A colonia de Har Homa (em árabe, Jabal Ab Ghuneim) foi criada – apesar da grita internacional há cerca de 20 anos – com o objetivo de isolar de Jerusalém Leste os palestinos do Sul da Cisjordânia.

A própria Jerusalém Leste já está ocupada por dúzias de colônias, que tornam a ideia de um Estado palestino cada vez mais inviável. Revelou-se, semana passada, que o governo israelense já está organizando grupos de colonos para construir mais 238 apartamentos em Jerusalém Leste. A revelação coincidiu com outra, feita por ativistas dos movimentos pela paz, de que o governo de Israel, em ação coordenada com grupos de colonos judeus, falsifica regularmente títulos de propriedade de terras e outros documentos, para confiscar propriedades de árabes na cidade ocupada.

O plano para nova expansão nas colônias é evidência da indiferença com que o governo de Israel encara o processo de paz. Também é evidência de até que ponto os israelenses serão capazes de ir em claro desafio aos esforços desesperados do governo Obama, que ainda tenta remendar o já precário processo de paz, na esperança de obter “qualquer coisa” antes do fim do mandato.   O governo Obama, ainda no rescaldo da derrota eleitoral de 2/11, criticou o plano de novas construções nas colônias e declarou-se “profundamente desapontado”. “[O anúncio de novas construções] é contraproducente e mina nossos esforços para que os dois lados retomem as negociações diretas”, disse o porta-voz do Departamento de Estado Phillip J Cowley. “Temos pedido que os dois lados evitem atos que gerem desconfiança, inclusive em Jerusalém, e continuaremos trabalhando para que as conversações diretas sejam retomadas, para que se chegue a um acordo nessas e noutras questões de definição.”

Mas a reação pareceu mais manifestação de incômodo diplomático, do que tentativa de acalmar os palestinos ou, menos ainda, indicação de que o governo Obama esteja disposto a tomar alguma atitude mais firme contra os israelenses.

De fato, o governo Obama só fez garantir a Netanyahu, por vários meios, que Washington não cogita de tomar qualquer medida para dissociar-se do projeto israelense para expandir as construções na Cisjordânia, e que o premier israelense não tem, de fato, motivo para preocupações.

O vice-presidente Joe Biden, por exemplo, disse a Netanyahu que quaisquer diferenças que haja entre Israel e os EUA na questão das colônias em território palestino, são diferenças de tática, que de modo algum abalarão as indestrutíveis relações que unem os dois aliados. Biden disse a Netanyahu, como vários jornais noticiaram, que as relaçõe entre Israel e EUA continuariam intocadas, “apesar” das diferentes ideias sobre novas colônias. “Nossas relações permanecem literalmente inabaláveis”.

Por ironia, as únicas críticas que Netanyahu recebeu contra sua política anti-paz na Cisjordânia vieram de membros da comunidade de judeus norte-americanos, que parecem estar perdendo a paciência com a eterna política, praticada pelos israelenses, de usar os judeus norte-americanos e o destaque que têm na política interna dos EUA, para promover o racismo, o fascismo e a expansão das colônias na Palestina ocupada, à custa do fracasso do processo de paz.

Durante discurso na Assembleia Geral da Federação Judia em New Orleans, na 2a-feira, Netanyahu foi várias vezes vaiado pela plateia.   Segundo a imprensa israelense, o primeiro incidente aconteceu logo ao início do discurso, quando alguém interrompeu Netanyahu aos gritos de “O juramento de lealdade deslegitima Israel!”

Outros gritaram slogans contra a ocupação de terras palestinas e contra atos de selvageria praticados por colonos judeus na Cisjordânia. Netanyahu respondeu com cinismo. Disse que tinha esperanças de que “discussões sem precondições” com os palestinos levariam a um acordo de paz em, no máximo, um ano.

O premier israelense ignorou as dezenas de milhares de moradias exclusivas para colonos judeus construídas ilegalmente nos territórios palestinos ocupados e as centenas de milhares de judeus que vários governos israelenses sempre deslocaram para a Cisjordânia para ocuparem terras pertencentes aos palestinos. De fato, em lugar de cuidar das verdadeiras dificuldades geradas pela expansão das colônias contra um já moribundo processo de paz, Netanyahu dedicou-se quase exclusivamente ao que chamou de “ameaça iraniana” e exigiu que os EUA recorram ao uso de força militar para obrigar os iranianos a suspender seu “programa nuclear”.  Israel é o único país do Oriente Médio que todo o mundo suspeita que armazene bombas atômicas.

Por sua vez, os funcionários da Autoridade Palestina nada fazem além de repetir obviedades sobre as dificuldades que a política de colonização israelense cria para o processo de paz. Em sua mais recente declaração, o presidente da AP, Máhmude Abbás, disse que se falará na hora certa. Quando? Ninguém sabe. Abbas e seus ministros estão sendo responsabilizados pelo governo Obama por não terem conseguido convencer Israel a suspender as construções na Cisjordânia. A popularidade de Abbas – como o processo de paz – está em ruínas.


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Comentários

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Hag

O boicote foi muito importante para vencer o regime de Apartheid na África do Sul. Apoiado! Abaixo os racismos!

Alceste Pinheiro

Gostaria de lembrar que 29 de novembro é o Dia Internacional da Solidariedade ao Povo Palestino.
Viva Jerusalém livre!

mariazinha

O pior de tudo é que essa lenga lenga vai continuar, indefinidamente, pois eles possuem o poder de barrar até os comentários do AZENHA. Sei QUE TRAMARAM, DURANTE longos ANOS , a invasão da Palestina. Isto não é um ato fortuito. Foi de caso pensado. Conseguiram, através de grandes corporações, somas imensa de dinheiro para financiarem o terror. O boicote de seus produtos é um bom começo para tentar barra-los.
Espero que este comentário, possa ser publicado.

O_Brasileiro

A casa feita na areia, veio a água e derrubou.
A casa feita sobre a rocha, nada conseguiu derrubar.
A primeira é a que ocorre à custa de invasão, usando ódio e violência.
A última é a alicerçada na paz.

Jairo_Beraldo

Desde a criação do Estado de Israel em 1948, o país promoveu seis guerras e quatro invasões.Ainda hoje, a entidade sionista ocupa 3 países ( Palestina, Síria e Líbano).Mantém 11.000 prisioneiros políticos encarcerados sem julgamento. E arrotam serem democraticos. Endemoniados são os árabes.

Allan Erick

Esse tal "processo de paz" é coisa para inglês ver…ou melhor, estadunidense ver…
Israel não quer paz, é o grande desestabilizador do oriente médio, por enquanto um perigo para as nações vizinhas, futuramente um perigo para o mundo, a não ser que seja contido antes…

Quem viver verá…

Arthur Schieck

Os israelenses nunca cogitaram abrir mão da Cisjordânia. Não vê quem não quer.
O problema é que tem um monte de palestino lá. Expulsar ou matar todo mundo tornaria o apóio americano insustentável.
Não fosse a necessidade desse apoio eles já tinham executado o plano.
Uma solução mais simples é anexar de uma vez o território a Israel e dar voto aos palestinos em um mesmo estado, mas isso eles não farão nunca.

    Jairo_Beraldo

    Vamos deixar de cinismo e vamos aos fatos.Palestinos e israelenses não têm o que negociar.Existe um pais invadido, a Palestina.Existe um pais ocupado, a Palestina.Portanto, negociar o que?E ainda mais agora com o infeliz do Obama se perdendo nos meandros asiáticos.

Jair de Souza

Ao mesmo tempo que expulsam o humilde povo palestino de suas terras milenares para lá instalar colonos procedentes dos Estados Unidos e da Europa, os neo-nazistas (ou nazi-sionistas) israelenses levam adiante um processo de demolição de casas de palestinos. É um comportamento diabólico, característico de quem assimilou o espírito do nazismo. Em seu livro "An Israeli in Palestine" (Um israelense na Palestina), o judeu israelense Jeff Halper revela toda a crueldade da demolição de moradias que vem sendo praticada pelos nazi-sionistas contra o povo palestino. Lamentavelmente, os judeus que não aceitam compactuar com a política assassina dos nazi-sionistas são minoritários neste momento. Mas sempre existe a esperança de que as vozes humanistas e sensatas como a de Jeff Halper venham a ser ouvidas pelas comunidades judaicas. As tradições humanistas dos judeus não podem desaparecer.

Julio Silveira

Essa é a encrenca do fim do mundo.

emilio gf

Boicotem Israhell:
http://www.missionislam.com/images/frontpage/boyc

*No Brasil, a Sara Lee possui as marcas: Pilão, Café do Ponto, Caboclo, Seleto e Moka. O café Três Corações também pertence a Israehellenses.

    francisco.latorre

    muito bem.

    tou nessa.

    ..

    mxdi

    Bom saber das marcas.

Jairo_Beraldo

Vamos deixar de cinismo e vamos aos fatos. Palestinos e israelenses não têm o que negociar. E a razão é simples. Existe um pais invadido, a Palestina.Existe um pais ocupado, a Palestina.Portanto, negociar o que? Israel que saia das terras invadidas e ocupadas e o problema estará resolvido.Não há o que negociar.

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