Padre Júlio Lancelotti celebra missa para comemorar os 100 anos de Margarida Genevois; ela estará presente

Tempo de leitura: 4 min
Margarida Genevois com o presidente em evento na PUC-SP e com Dom Paulo Evaristo Arns. Foi a convite dele que, em 1972, tornou-se a primeira mulher a integrar a Comissão de Justiça e Paz. Créditos: Arquivo pessoal e Áurea Lopes

Da Redação*

Margarida Genevois completa nesta sexta-feira, 10/03, 100 anos.

Referência na defesa dos direitos humanos no Brasil, foi a primeira mulher a integrar a Comissão de Justiça e Paz, onde entrou em 1972, durante a ditadura militar, a convite de Dom Paulo Evaristo Arns.

E, desde 2019, é a presidente de honra da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos D. Paulo Evaristo Arns – Comissão Arns.

Para comemorar a data, o padre Julio Lancelotti celebra nesta segunda-feira, 13/03, uma missa especial.

Será às 18h, na igreja São Domingos, no conjunto dos Dominicanos, rua Caiubí, 164, em Perdizes, zona oeste de São Paulo. Margarida estará presente.

No evento, o advogado José Carlos Dias, ex-ministro da Justiça, presidente da Comissão Arns e ex-colega de Margarida na Comissão de Justiça e Paz, lhe entregará um álbum de fotos em tributo ao papel dela como presidente honorária desde a fundação da entidade.

Margarida Genevois: vida e atuação

Margarida Bulhões Pedreira Genevois é carioca e nasceu no dia 10 de março de 1923.

Foi alfabetizada em instituições católicas baseadas no modelo de ensino francês, como a Sacre-Coeur e a Sion, no Rio de Janeiro.

Sua família pertencia à tradicional elite carioca e, segundo ela, descendia dos fundadores da cidade.

O pai de Margarida, advogado, faleceu aos 52 anos, e a mãe decidiu, já viúva, colocar em prática suas aspirações de impacto social.

Tornou-se voluntária da Santa Casa e criou a “Obra da Mãe Sem Lar”, que acolhia mães adolescentes que eram expulsas de casa.

Margarida não demorou para seguir a influência da mãe na busca por trabalhos sociais.

Enquanto a Segunda Guerra Mundial sacudia a Europa, matriculou-se em um curso de enfermagem da Cruz Vermelha e estava pronta para ir pessoalmente à Itália, no auge do conflito, para enfrentar o nazifascismo. Tinha apenas 18 anos.

Não conseguiu ir, mas isso não a desviou da missão que tinha escolhido para sua vida: ajudar as pessoas.

Aos 21 anos, já formada em biblioteconomia, casou-se com um engenheiro francês chamado Lucien,  diretor da subsidiária brasileira da multinacional francesa Rhodia, e se mudou para uma fazenda na zona rural de Campinas, onde teve seu primeiro contato com a militância pelos direitos humanos no Brasil.

Primeiros passos

Margarida foi à região com seu marido para supervisionar uma plantação de cana-de-açúcar, matéria-prima para a produção de álcool e produtos químicos da empresa.

O que encontrou ao chegar, porém, foi um quadro chocante: as crianças dos funcionários estavam subnutridas, sem acesso a cuidados médicos e escolas.

Margarida reuniu-se com esposas dos funcionários e mulheres católicas da região de Campinas e, com o apoio do marido, construiu um posto de atendimento para crianças na fazenda.

Também ergueu uma escola e uma igreja e levou um médico e uma enfermeira para atender regularmente na região. Ela se dedicou à comunidade local por 22 anos.

D. Paulo Evaristo Arns e a Comissão de Justiça e Paz

A experiência na Fazenda Rhodia abriu as portas para que, em 1972, Margarida fosse a primeira mulher a ingressar na Comissão de Justiça e Paz, que tinha como objetivo denunciar as violações aos direitos humanos na ditadura. O convite veio de D. Paulo Evaristo Arns, fundador da entidade.

“Foi esse convite que me fez descobrir o sentido que daria à minha vida”, afirmou Margarida em relato ao jornalista Camilo Vannuchi, autor da biografia “Margarida, coragem e esperança”, publicada em julho de 2021 pela Alameda Editorial.

Não demorou para que ela se destacasse e fosse promovida a presidente da Comissão, cargo que ocupou três vezes entre 1982 e 1994.

Depois que se mudou para São Paulo, Margarida fundou o grupo Veritas, projeto cultural para mulheres que, como ela, tinham sido educadas em francês, mas que careciam de instrução em política, economia, sociologia e outras ciências sociais.

Genevois viajava pelo país e pelo mundo organizando doações e prestando assistência a comunidades vulneráveis.

Nessas viagens, conheceu figuras políticas importantes como Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso, além de notáveis vencedores do Nobel da Paz, como Madre Teresa de Calcutá.

Mas sempre foi a Dom Paulo Evaristo Arns que Margarida nutriu a maior admiração.

Os direitos humanos pós-ditadura

Em 1994, determinada a impedir que os horrores da ditadura se repetissem, Margarida fundou a Rede Brasileira de Educação em Direitos Humanos, projeto que, mais tarde, foi revitalizado e está ativo até hoje.

Nos anos seguintes, recebeu uma série de condecorações por sua atuação na defesa dos direitos humanos, como a Ordre Nacional du Mérite (1998), do governo da França, o Prêmio Nacional de Direitos Humanos (2000) e o prêmio D. Paulo Evaristo Arns de Direitos Humanos da Prefeitura de SP (2019).

Na cerimônia de inauguração da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos D. Paulo Evaristo Arns – Comissão Arns, em 2019, Margarida foi nomeada presidente de honra da entidade, posição que ocupa até hoje.

Faz questão de acompanhar o trabalho de perto todas as semanas junto a outros membros da sociedade civil, como a socióloga Maria Victoria Benevides e o ex-ministro da Justiça José Carlos Dias, atual vice-presidente e presidente da Comissão, respectivamente.

Nas palavras do cientista político Paulo Sérgio Pinheiro e do advogado Belisário dos Santos Júnior, também membros efetivos da Comissão Arns, Margarida é, ainda hoje, “a grande dama dos Direitos Humanos no Brasil”.

*Com informações da assessoria de imprensa da Comissão Arns

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Nesta segunda, acompanhe “Marielle Vive! Favelas na Reconstrução do País”; ao vivo, das 9h às 14h


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Comentários

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Messias Faro

Se estudou na PUC então é cheio da grana.
Inteligência rara.

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