Nesta quinta, Izaías Almada e Matheus Grasselli lançam no Canadá romance sobre os bastidores das grandes crises econômicas

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Da Redação

Izaías Almada e Matheus Grasselli escreveram a quatro mãos o romance Os Arquivos de Veneza (The Venetian Files), que aborda um tema pouco conhecido pelo grande público: os bastidores das grandes crises econômicas.

Izaías é escritor, dramaturgo e roteirista.

Matheus, professor de matemática financeira na Universidade Mc Master em Hamilton, Canadá.

A editora canadense Mosaic Press interessou-se em publicar o livro, assim que leu os originais, com tradução para o inglês.

Pois o romance The Venetian Files será internacionalmente lançado nesta quinta-feira, 21 de novembro, na livraria King West Books, em Hamilton, Ontario/Canadá.

Segundo Izaías, é um dos poucos  e raros livros brasileiros que têm o seu lançamento fora do Brasil.

A previsão é que chegue às nossas livrarias no segundo semestre de 2020.

Izaías dá uma ideia do que o leitor vai encontrar:

Trata-se de um romance cuja narrativa acompanha a investigação e busca que fazem um professor de matemática financeira da Universidade Columbia em Nova York e sua jovem assistente, graduada em biblioteconomia, a partir de um valioso documento da Baixa Idade Média, tentando localizar a origem de supostos arquivos com fórmulas e ensinamentos sobre as várias maneiras de enfrentar crises financeiras.

Surpreendem-se a certa altura com a descoberta que fazem… E começam a temer por suas próprias vidas.

O prefácio é de Alex Lipton, que durante durante oito anos foi um dos  principais gerentes executivos do Bank of America Merrill Lynch, tendo trabalhado no Credit Suisse e no Deutsche Bank.

Ele viveu  intensamente a crise econômica de 2008, razão – entre outras – pela qual  aceitou escrever a apresentação da edição em inglês do livro.

Abaixo, o prefácio em português.

Os Arquivos de Veneza (The Venetian Files)

PREFÁCIO – ALEX LIPTON

Prezado leitor: o livro à sua frente – “Os Arquivos de Veneza” – começa com um título “Fim de Semana Lehman: 12-14 de setembro de 2008, Cidade de Nova York – EUA”.

Ao ler isso, uma onda de memórias, há muito esquecidas, invadiram minha cabeça, pois para mim, pessoalmente, era também o Fim de Semana Merrill Lynch.

Na 6ª feira, 12 de setembro de 2008, eu deixei minha mesa no andar de trading do arquitetônico e ecologicamente aconchegante Centro Financeiro Merrill Lynch em Londres, Reino Unido, às 20 horas, levando comigo todas as fotos familiares, O Príncipe de Maquiavel, com o marcador na página 25 e a seguinte frase sublinhada: “No entanto, ainda que nosso livre arbítrio não possa ser negado, eu considero que mesmo que a fortuna (sorte) seja o árbitro da metade das nossas ações, ela ainda nos permite controlar a outra metade, ou algo assim”, e meu livro, Mathematical Methods for Foreign Exchange (Métodos Matemáticos para Comércio Exterior) marcado na secção 7.6, descrevendo modelos de difusão de saltos (jump-diffusion) que eu pensei estar se tornando bem importante para aquele momento, dada a gravidade das condições do mercado.

Eu tinha certeza que o banco iria falir e não seria necessário voltar ao trabalho na segunda feira.

Setembro de 2008 estava bastante frio, na verdade, o mais frio em 10 anos. Com a temperatura oscilando em torno de 10°C, caminhei rapidamente ao longo da Holborn, Fleet Street, passei pela sede do Goldman Sachs, depois Strand, Pall Mall com seu escuro, silencioso e imponente Buckingham Palace, residência oficial da rainha, à minha esquerda, e finalmente chegando a Knightsbridge uma hora depois.

Assim que virei à esquina passando pela Harrods – a última loja luxuosa de Londres – abri a porta do meu apartamento onde minha família me aguardava.

Nosso jantar foi marcado pela pressa e melancolia, ao invés do habitual ritmo calmo e alegre. Fui para a cama e dormi por 16 horas seguidas, em parte pela exaustão de uma noite insone no escritório e, por outro lado, pela grande quantidade de eventos se desenvolvendo à minha frente.

Apreensivo, estava com o sentimento de que a história se escrevia diante dos meus olhos. A inabilidade para compreender o que estava acontecendo e porque, e também quem estava manipulando os cordéis e como, começou a cobrar seu preço.

Durante todo o fim de semana, eu tentei pensar no meu futuro com o evento do colapso do Merrill.

Felizmente, meus planos de contingência não chegaram a se realizar, pois minhas premonições provaram ser muito pessimistas.

Enquanto o Lehman Brothers tentava e não conseguia ser comprado pelo respeitável banco britânico Barclays, principalmente devido à justificável relutância dos britânicos em permitir uma transação tão arriscada, o Merrill Lynch & Co. reuniu condições de ser adquirido pelo Bank of America, no domingo.

A transação completou-se em janeiro de 2009 e o Merrill Lynch foi formalmente absorvido pelo Bank of America em outubro de 2013.

Eu passei os oito anos seguintes no Bank of America, a maior parte do meu tempo co-dirigindo seu Grupo de Pesquisa Quantitativa.

Finalmente deixei a empresa em 2016 para seguir meus vários interesses acadêmicos e de negócios, na expectativa de mudar para melhor o sistema financeiro global.

Pouco sabia eu que os eventos que afetaram minha trajetória de vida foram causados, sobretudo, pelo encontro dos mais proeminentes banqueiros do mundo, trabalhando ininterruptamente durante meu sonolento e preocupante fim de semana para evitar uma crise financeira global.

Os mais poderosos e influentes financistas do mundo, incluindo o Secretário do Tesouro Hank Paulson, o Presidente do Banco Federal de Reserva (Fed) de Nova York Timothy Geithner, o Chanceler do Tesouro britânico Alistair Darling, o Presidente do Banco Central Europeu Jean-Claude Trichet, o Presidente do Banco Central Alemão Axel Weber, e outros numerosos conhecidos e desconhecidos atores estavam ocupados tentando encontrar um comprador para o agonizante Lehman Brothers.

Enquanto o Lehman falia e era relegado aos livros de história, o Merrill foi salvo.

Durante alguns anos os Bancos Centrais incluindo o Fed (Banco Central Americano), o Banco da Inglaterra, o Banco Central Europeu e o Banco do Japão, conduziram um massivo esforço para estabilizar e fortalecer o Sistema Financeiro Global, injetando enormes quantias de dinheiro através da Flexibilização Quantitativa e outros meios.

Contudo, apesar do sucesso local em restaurar a calma e evitar o completo colapso da economia mundial, a Crise Financeira Global falhou em reorganizar o ecossistema financeiro do mundo.

Bancos considerados grandes demais para falhar se tornaram maiores, ao invés de menores, por aumentarem massivamente a sua participação nos negócios bancários.

Aparentemente bem mais capitalizadas, as instituições bancárias tornaram-se tão complexas que sua estabilidade e seu valor de crédito já não poderiam mais ser determinados com segurança.

Suas planilhas de balanço são opacas e apresentam riscos complicados demais para serem decifrados pelos seus próprios diretores, e muito menos por agências reguladoras, depositantes e investidores.

Juntas, essas sempre crescentes camadas de complexidade estão rapidamente criando grandes bancos cada vez mais difíceis de administrar.

Além disso, devido à Flexibilização Quantitativa e outras medidas não tradicionais empreendidas por Bancos Centrais e Tesouros, taxas de juros têm se tornado negativas em muitas economias desenvolvidas, trazendo de volta memórias centenárias de estagnação econômica e desespero.

A frustração do público em geral com o status quo se manifesta de várias maneiras – com turbulência política, deteriorando o discurso geral, e, mais diretamente, com a estratosférica ascensão da Bitcoin e outras criptomoedas.

Como uma coordenação tão afinada dos esforços de poderes poderia ser mantida? Seria a macroeconomia uma luz a nos guiar por trás desse esforço?

Teria o sistema se autorregulado?

Ou haveria uma força mais sinistra atuando por trás das cortinas?

Pode-se com certeza excluir qualquer possibilidade da macroeconomia salvar a situação. As teorias macroeconômicas convencionais não ajudam a entender a verdadeira natureza do sistema financeiro porque elas falham em apreender e dar conta de suas complexidades e, consequentemente, são inúteis na prática.

Essas teorias não são somente inúteis, são perigosas e, adversamente, afetam a ambos: o discurso acadêmico e as ações práticas de agências reguladoras e de políticos.

O último fato é crucial por suas enormes implicações para a sociedade como um todo: Nas palavras do físico austríaco e vencedor do premo Nobel Wolfgang Pauli, famoso por sua sagacidade e sua língua ferina, essas teorias “não são nem mesmo erradas”.

Isso nos deixa com duas possibilidades: resiliência interna do sistema no espírito da mão invisível descrita por Adam Smith, ou uma teoria conspiratória. Eu prefiro a possibilidade anterior, enquanto os autores do livro argumentam em favor da última.

Mesmo sendo difícil acreditar que uma organização secreta possa se perpetuar e prosperar por centenas de anos, as teorias conspiratórias parecem soar bastantes plausíveis, dada a estranheza dos fatos conhecidos.

Independentemente de uma conspiração ter existido ou não, os autores criaram um thriller convincente baseado nessa possibilidade.

E o que poderia dar errado com tudo isso: uma sociedade secreta com centenas de anos comandada desde as Florestas Ardenas na Bélgica por um idoso recluso Monsieur Henry; um dos primeiros bancos de Veneza baseado nos princípios do famoso matemático florentino Fibonacci e iniciado com uma pilha de ouro herdada de um fugitivo Cavaleiro Templário; e um promissor, talvez nerd, estudante de pós-doutorado da Universidade de Columbia (NY), Willbe, de origem ítalo-americana e descendente de Fibonacci; sua namorada bibliotecária Sarah, funcionária do presidente do Fed de Nova York, Geithner; e outros numerosos personagens, alguns reais, outros ficcionais, e outros ainda reais, mas com nomes ficcionais.

“Os Arquivos de Veneza” é uma fascinante história de detetive, escrita por um duo único composto por experiente escritor, dramaturgo e roteirista brasileiro, com vários romances e ampla variedade de outros escritos, e um competente e inteligente matemático, sendo este o seu primeiro romance.

Seguindo o estilo pioneiro de Dan Brown, e caracterizado por movimentos perfeitos no tempo e no espaço, o livro mescla livremente personagens reais e ficcionais na mais fina tradição do livro Guerra e Paz de Leon Tolstoi.

Para mim, foi um prazer reconhecer alguns dos meus antigos amigos.

Esse livro constrói de forma excitante a base para uma longa serie de livros, onde os autores podem explorar as histórias individuais e entrelaçadas de Willbe, Sarah e Monsieur Henry.

Eu aguardo ansiosamente pela continuação dos autores e suas explicações dos mistérios financeiros antigos e atuais, em particular as suas opiniões sobre a minha área de pesquisa mais recente: como e porque Bitcoins e outras criptmoedas foram criadas e, claro, qual a verdadeira identidade do Satoshi Nakamoto.

Alexander Lipton 


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