Nelson Nisenbaum: O que o transtorno do déficit tem a ver com a dengue?

Tempo de leitura: 4 min

O que o TDAH tem a ver com a Dengue?

por dr. NELSON NISENBAUM

Caros leitores e leitoras,

Acompanhando o debate sobre a questão do TDAH neste site, pude indentificar uma série de entendimentos por parte de leitores que evidenciam a falta de compreensão sobre miríades de variáveis e conceitos sobre a medicina, a profissão médica, o conceito de doença, a influência da indústria farmacêutica, entre outros.

A medicina é um patrimônio da humanidade construído ao longo de milênios, e não obstante os diversos sistemas filosóficos que a tenham provido do necessário substrato, mudou muito pouco na sua essência, qual seja, a de assistir o ser humano nos seus sofrimentos, evitá-los da melhor forma, não fazer o mal, e recuperar o recuperável, curar o curável.

A revolução cartesiana dotou, não só a medicina, mas a todos os campos do conhecimento, do ferramental filosófico pelo qual o conhecimento passa a ser construído pelas relações de causa e efeito, pelo entrelaçamento lógico e metodológico entre os elementos de construção, e pelo conceito de reprodutibilidade, todos como critérios de verdade científica.

Assim, o conhecimento que temos sobre a Dengue, que tomo como exemplo pela contemporaneidade e importância, nos dá como agente etiológico um vírus com 4 cepas; um vetor, o aedes aegypti com toda a sua gama de hábitos e nichos; toda a complexidade de seu quadro clínico tão variável; os critérios para suspeita diagnóstica; os critérios e métodos laboratoriais para a confirmação diagnóstica; as técnicas de tratamento escalonadas pela gravidade do caso, por sua vez medidas por diversos parâmetros clínicos e laboratoriais; o conjunto de medidas ambientais em pequena, média e grande escala para a contenção de focos e surtos, e assim por diante.

Todo esse conhecimento que se não nos salvou das epidemias registradas, certamente evitou uma tragédia muito maior, é norteado pelo mesmo sistema de valores e conceitos que nos trazem o conhecimento que temos sobre a AIDS, sobre a Hipertensão Arterial, sobre a Diabetes, sobre a Apendicite Aguda, enfim, sobre qualquer entidade clínica e nosológica sobre a qual tenhamos as capacidades médicas listadas no segundo parágrafo deste texto.

Vale portanto, o mesmo para o TDAH, como vale também para o conhecimento que permite manter vivo um paciente em hemodiálise ou fazer um transplante renal, ou seja, o conhecimento que temos, publicado na vasta literatura médica sobre o assunto, foi construído dentro de um sistema de valores e conhecimentos comuns a todo o restante da medicina, sendo também compartilhados com todos os ramos da ciência, seja na física, na química, na biologia, na sociologia, na psicologia e além.

A outra perspectiva é a da medicina como profissão, que está bem longe (e deve guardar a devida distância) da produção do conhecimento científico. É claro que estará aliada a esta produção nas entidades que tem esse fim, mas a medicina aplica o conhecimento geral e científico ao caso particular, e assim o faz com a devida particularidade, unicidade. Quase como que em um julgamento, onde o juiz interpreta as condições dadas para então adequar ao texto legal, que apenas raramente reproduz a realidade apresentada.

Isto põe o médico em uma situação de confronto com variáveis não científicas, uma vez que o encontro médico-paciente é repleto de subjetividades, localidades e temporalidades que não pertencem ao campo da ciência. Portanto, do sucesso terapêutico, dependerá, por parte do profissional médico, um conjunto de habilidades que ultrapassam o campo da ciência, e abraçam o campo da linguagem, da cultura, da compaixão, do senso ético e moral, da psicologia, e até mesmo de algo que poderíamos chamar de arte.

Mais que isso, o que é sucesso terapêutico será definido, em primeiro lugar, pelo doente que procura o médico, e esta avaliação necessariamente contém a subjetividade deste indivíduo. Toda essa complexidade tem o objetivo de construir o que chamaríamos de verdade clínica, um conjunto de dados que exigirá ou não uma resposta do profissional à demanda do doente, seja lá qual for a patologia.

A medicina sofre, sem dúvida, as influências culturais, filosóficas, éticas e morais da época que vivemos, e o profissional médico é diuturnamente torturado por repetidos dilemas oriundos desses campos. Cabe a ele, por imperativo ético de fundamento, adequar-se da melhor forma a não faltar com os princípios milenares que sustentam esse edifício. Neste universo, e diante da enormidade do conjunto das instituições da saúde, públicas e privadas em todo o mundo, podemos com segurança afirmar que a medicina é um sucesso da humanidade, pois mantém-se em crescimento e evolução, com ampla aceitação pelas mais diferentes sociedades.

Os questionamentos apresentados por diversos debatedores neste site ao problema do TDAH, poderia portanto ser aplicado a qualquer patologia e respectivo tratamento que dispomos na atualidade, o que equivale a dizer em uma simplificação grosseira que creio pertinente, que a medicina que estamos praticando não é válida. Os argumentos utilizados pelos contestadores do tratamento medicamentoso do TDAH poderiam ser igualmente aplicados ao tratamento da pneumonia, da epilepsia, à prática da vacinação, e assim por diante, pondo portanto, em cheque, a medicina como um todo, o que parece paradoxal diante da credibilidade nela depositada por ampla maioria da sociedade e diante dos milênios desse sucesso, mas que como quase tudo no mundo, não alcança a unanimidade.

Voltando à especificidade do TDAH, muitos debatedores cobram as referências bibliográficas e científicas que fundamentam o arcabouço teórico-prático da doença, mas assimetricamente, não apresentam textos científicos como contestação, citando por vezes autores isolados, que apresentam suas opiniões e que devem ser respeitadas. Mas a ciência exige mais que opiniões, e por outro lado, é aberta à produção de novos conhecimentos em qualquer lugar e tempo.

Entretanto, para terem poder de contestação, deverão construir-se pelas mesmas metodologias aplicadas na produção daquilo que se quer contestar. Por esta razão, muitas vezes confrontamos-nos com assertivas, relatos e opiniões de autores que não pertencem ao mundo médico, e somos interpretados como arrogantes ou corporativistas, quando na realidade, trata-se apenas de tentar dizer que ciência confronta-se com ciência, e esta, tem seus territórios demarcados não por nós médicos, mas pela sociedades democráticas que adotaram a ciência como valor. E até prova em contrário, fazemos parte de uma delas.

*Médico, especialista em Clínica Médica e ativista em Saúde Pública

 


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Comentários

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aldo luiz

Caros doutores, leitores e comentaristas, a citação é para não digam depois que meu texto é "pedante, vazio e verborrágico, dos anos 70 do século XX", e me desqualifica para o debate.
Citação:
"Todo esse conhecimento que se não nos salvou das epidemias registradas, certamente evitou uma tragédia muito maior, é norteado pelo mesmo sistema de valores e conceitos que nos trazem o conhecimento que temos sobre a AIDS, sobre a Hipertensão Arterial, sobre a Diabetes, sobre a Apendicite Aguda, enfim, sobre qualquer entidade clínica e nosológica sobre a qual tenhamos as capacidades médicas listadas no segundo parágrafo deste texto."

Um fato seríssimo entre outros tantos que a midiocracia sistemáticmente nos esconde:
"Um jovem americano traumatizado pelo, (in side job) atentado 911 em 2001 se alista nas forças armadas para lutar contra os "terroristas" muçulmanos que "atacam" seu país. É um grande patriota. Ao chegar ao "campo de batalha" conscientiza-se da dura verdade de que foi enganado pela propaganda oficial. Sente-se traído, manipulado, e agora sua vida não pode ser mudada. Deprimido profundamente, recorre em desespero ao médico da tropa. Pede dispensa, implora. O médico discursa seu machista patriotismo e lhe entrega uma caixa de Prozac com a seguinte observação: " Tome este remédio que você vai se sentir muito melhor. E de mais a mais, assim que você tiver começado a matar uns malditos iraquianos você vai ver que esta depressão passa."

A medicina cartesiana terá que mudar sua visão. Não basta se sentir honesto. A ideologia professada pelo indivíduo é o que determina o resultado inseparável do processo que a ele conduz.

A medicina é um patrimonio da humanidade sequestrado pela farmáfia da casa grande escravista que torceu, fraudou, encobriu e baniu conhecimentos que ainda hoje a SUA "medicina oficial" desdenha e mistifica com o golpe cínico e solerte de; "não tem de comprovação científica". A FARMÁFIA doutrina a medicina de SEUS médicos desde SUAS faculdades. Adoram a fragmentada literatura de erudição "científica" que lhes dá a pompa da aparencia de necessária importância, poder e autoridade sobre as massas cientificamente analfabetizadas e mentalmente indigentes. O sistema cria o nosso sofrimento do qual se alimenta. Somos lucrativos polpudos números em seus computadores. Perguntemos aos "planos de saúde"; esses vendedores de planos do terror da possibilidade do vir a adoecer.
Um ser vivo nutrido corretamente, equilibrado emocionalmente, raramente adoece. Nós ainda, sob o jugo deste corrupto sistema escravista, não conhecemos nosso real "prazo de validade". Nunca se viu tanta doença; tanto câncer.
Cada vez há mais "médicos especialistas", mais remédios dos remédios dos remédios, mais diagnósticos dos diagnósticos e mais lucro, do lucro, do lucro porque ao invés do numero de doentes diminuir, ele aumenta e potencia. Não seria para ser justamente ao contrário? Cada vez menos médicos em razão de cada vez mais saúde e menos doentes?
A farmáfia não quer curar ninguém. Nem pode. Seria um paradóxo. No máximo alivia sintomas recidivantes e posterga a solução das causas profundas e verdadeiras. Quando, e se, as encontra. Curar determinaria a falência de seus acionistas. O "paciente" foi transformado em rato de laboratório onde os "efeitos colaterais" são o "inevitável mal necessário" ao sucesso das suas milionárias infindáveis "pesquisas científicas".

Mas, o que o TDAH tem a ver com a Dengue? TUDO.

Desejo a todos longa vida com saúde, paz e prosperidade; e sou grato por esta esclarecedora oportunidade.

Márcio

Caro Dr. Nelson Nisenbaum

O senhor parece escrever sobre o ideal da profissao médica e das práticas científicas, de como ela deveria ser. Porém, nao sem motivos, a credibilidade dos médicos cai dia após dia, uma vez que os princípios mais nobres da medicina se vêem cada vez mais limitados pelos compromissos de mercado de empresas, laboratórios e clínicas e isso os pacientes sentem na própria pele.

Jairo_Beraldo

Só aprendi uma coisa…dizem que existem somente 3 tipos de médicos:
1-aqueles que se acham DEUS;
2-aqueled que estão acima de DEUS;
3-aqueles que querem ensinar/dar aula a DEUS.
E a maioria esmagadora, esquece HIPOCRATES e se torna HIPÓCRITA.
Se voce tiver grana, te recebem…se não tiver….ai,ai,ai,ai,ai…fila do SUS, sem dó e nem piedade!
Claro que como toda comunidade, existem as exceções…neste caso são raras, mas existem!

    Elton

    Mandou "na gaveta"!!!

    NELSON NISENBAUM

    Ok, Jairo, se tiver uma apendicite procure um engenheiro.

    Conceição Lemes

    Dependendo do médico…

    Elton

    E isso nem sempre há como saber………..É uma "caixinha de surpresas"

    Jairo_Beraldo

    Eu sou engenheiro….minha filha está em Miami, fazendo especialização médica, DOCTOR. Abraço.
    AHHHH…tenho felizmente plano medico…sou MEIO maltratado!

Lucas Cardoso

Apesar de concordar que não devemos ignorar que a medicina moderna, apesar de imperfeita, é a melhor forma de diagnosticar e tratar doenças que temos, é importante lembrar que a maior parte das doenças mentais não são tão simples quanto doenças como a dengue. Por exemplo, homossexualismo era considerado doença mental até poucos anos atrás. A analogia entre TDAH e dengue não é exata.

Fátima Oliveira

Leonard M. Martin, em "A Ética Diante do Paciente Terminal", é categórico: "No Ocidente, o surgimento da medicina científica como uma profissão e a separação crescente entre a religião e a medicina são fenômenos com consequências enormes. É um processo histórico complexo, marcado por tensões entre a medicina popular e a erudita, entre medicina de inspiração religiosa e a secularizada, entre medicina tecnológica e científica e uma mais humanística centrada no paciente individual".
(OLIVEIRA, Fátima, in “Não há mistério; desde sempre, o ato médico é o fazer médico”)

Fátima Oliveira

Caro colega Nelson Nisenbaum e caríssim@s debatedores(as),

As medicinas, como Minas, são muitas…
A medicina alopática, ocidental, ou científica, da qual sou profissional, com muita honra, não é, nunca foi e jamais será uma ciência, é apenas tão-somente uma profissão cujo lastro são os saberes produzidos pelas biociências.
Isto é, a medicina lança mão dos conhecimentos das biociências para fazer o que se propõe desde sempre, minorar o sofrimento humano causado pelas doenças, paliando ou curando quando possível, inclusive quando era um misto de ciência e religião – para quem não conhece é uma epopeia a separação dos médicos de corpos dos médicos de alma.

Paulo

Não gostei do texto. Além de empolado, se baseia em uma noção de ciência positivista que já está devidamente ultrapassada. Uma noção de ciência que, ao contrário do que dá a entender o autor, não pode e não é compartilhada com as ciências sociais como antropologia e a sociologia e com o pensamento filosófico contemporâneo.

No fim, o argumento do texto se baseia em "premissas" muito frágeis:
1 – A ciência é desvinculada de interesses não científicos e move-se apenas pela busca pelo conhecimento;

2 – Com base nesse "estoque" de conhecimento científico disponível, o médico toma decisões que afetam seu microcosmo ético e as subjetividades diretamente envolvidas.

Quer dizer, no fim, tudo não passa de uma questão de escolhas éticas e acesso ao conhecimento científico disponível. As implicações políticas e econômicas que envolvem interesses das indústrias farmacêuticas, as patentes, etc. são solenemente ignoradas.

E isso tudo com base em uma razão científica que já naufragou junto com o Círculo de Viena. Pena que esqueceram de avisar a medicina.

    NELSON NISENBAUM

    Paulo, depois você me explica o que é "empolado". Sobre a sua assertiva 1, ela está implícita no texto e você não prestou atenção. A assertiva 2 é óbvia e em momento algum discordei disto. Sobre a razão científica, ela é um sistema e si mesma, e não naufraga, a menos que alguém decida destruí-la. E aí, teremos que perguntar: por que, e para que?

    Elton

    Há que se conviver um pouco mais com expressões populares, doutor….

    Elton

    De acordo com o site:
    http://www.dicio.com.br/
    Significado de Empolado

    adj. Que tem empola, que se empolou.
    Fig. Diz-se de um estilo, ou de um modo de falar afetado, retórico, pomposo.

    Está aí……..

    NELSON NISENBAUM

    A última vez que ouvi este termo, foi de um paciente, e era a sua queixa. Tinha catapora.

    dukrai

    morri de rir, falou com um linguista kkkkk

    Paulo

    Você claramente não me entendeu. Tanto é que você nem ao menos percebeu que o que você chama de assertivas 1 e 2 são, na verdade, conclusões do seu próprio texto, que eu apenas tive o trabalho de sintetizar.

    A questão é que ambas são frágeis e já foram devidamente discutidas ao longo dos últimos 100 anos do pensamento científico e filosófico. Sugiro que num próximo texto você não fale mais em nome da "ciência", mas restrinja suas conclusões sobre o tema ao campo de conhecimento que você domina.

@gusbru

A analogia proposta pelo Nelson é ótima: 1. porque o juiz como o médico baseiam-se na lei (discurso legitimado) para um julgamento subjetivo, 2. porque a lei é uma construçao sócio-histórica como sao os discursos da ciência e 3. porque estes dois profissionais tem a mesma origen social de classe. Perdida a inocência e logo a fé em uma ciência boa e neutra, confrontados com o fato de que trata-se de um discurso poderoso apropriado pelas classes domimantes dessas sociedades (pretensamente) democráticas que a adotaram como valor, podemos discutir ciência junto com política, mais ou menos como o fazemos quando discutimos leis. O saber psico-médico (Nelson-Bruno-Kátia) debate com abordagens sócio-pedagógicas (Heloisa-Francisco Hugo-Elton) há muitos anos na proposiçao de formas de educaçao de alunos com necessidades especiais. Quando mudam as relaçoes de poder entre pais, professores, diretores, alunos, secretarias de educaçao, universidades, associaçoes profissionais, etc., consequentemente muda a configuraçao do discurso dominante se formam-se novos consensos, sempre provisórios, sobre o assunto.

    NELSON NISENBAUM

    @gusbru, sua discussão é profunda, mas acho que pertinente a outra pauta.

    @gusbru

    Continuando o fluxo do debate desde o primeiro texto da Heloísa acho que foi você entortou a paula para discutir o campo de atuaçao dos médicos "em si" em nao em relaçao ao problema TDAH. Seguindo a linha de debate iniciada antes, acho que trata-se de discutir sim os aportes do saber psico-médico e também do profissional médico ou paramédico, mas sem perder de vista que trata-se apenas de um ponto de vista de um problema que supera sua capacidade de compreensao. É fundamental o diálogo com o campo disciplinar sócio-pedagógico e logo com os profissionais que se reunem por aí…

    Elton

    Na mosca!

Sandra

O Dr está tendo que dar tantas explicações sobre o seu texto a nós leigos quem e parece que ou não foi claro, logo ninguém entendeu, ou diante das críticas está tentado justificar, mudando o que disse, ou somo todos incapazes de entender um debate científico.

    NELSON NISENBAUM

    Estou tentando explicar aquilo que está no texto e não foi entendido. Não mudei uma vírgula. Não se trata de texto científico, e sim, de uma tentativa de contribuir para o debate, apontando idéias e experiências.

Cristiana Castro

Resumindo, a gente vai ter que esperar a douta ciência se dar conta de que tá todo mundo tomando bola só para poder ir à escola. Tá bem, a gente aguarda… Fazer o quê? Só não vale, depois , reclamar que a turma que lê Mônica e Cebolinha, já tinha se antecipado à ciência.
Já tô até vendo um grupo de americanos ganhando o prêmio Nobel pq descobriram que as crianças e professores estavam muito bem, obrigada… Aí os comentaristas aqui, do Viomundo, tem que entrar com uma acusação de plágio.

    NELSON NISENBAUM

    Cristina, não sei de onde você tem este dado de que "está todo mundo tomando bola só para poder ir para a escola". Se você tem números ou estatísticas, por favor, vamos ao debate.

    Elton

    Há coisas que o cotidiano revela. Só dispõe de estatísticas quem trabalha neste meio, porque fora dele, poucos têm acesso ao que o doutor consideraria "confiável". Ademais…….até no regime militar brasileiro havia estatísticas que apoiavam ao "excelente" desempenho econômico do Brasil nos anos 60 e 70.
    Já houve quem dizia: "Estatísticas são como biquínis, mostram coisas interessantes, mas escondem o essencial."

    Cristiana Castro

    Tenho estatísticas,nãp. Tenho filhos na escola, serve?

    NELSON NISENBAUM

    Eu também tenho, Cristiana.

@gusbru

O que o TDAH nao tem a ver com dengue?
O campo. É certo que os problemas nao pertencem a uma área da ciência. Nao sao “da” medicina. Sao apenas problemas e a ciência de várias disciplinas sao um instrumento privilegiado para lidar com eles. O TDAH trata-se de um problema compartilhado por médicos com professores, gestores do sistema educacional, psicopedagogos, fonoaudiólogos, pais, portadores, etc.
A dengue, por sua vez, requer um tipo de debate público completamente diferente, com outros interlocutores que pouco nos poderiam ajudar com o TDAH. O interessante título do artigo de Nelson mostra o alcance da visao do seu artigo: a medicina como um campo disciplinar com valor em si, a ser defendido antes mesmo que a defesa da soluçao dos problemas que ela, como ciência, se proponha a analisar.

    NELSON NISENBAUM

    @GUSBRU, a sua última frase é interessante, mas não entendi qual a surpresa da sua conclusão. A medicina é um campo de atuação com valor em si mesma, é claro, como qualquer outro campo de atuação. As sociedades desenvolvem seus segmentos, e cada segmento cria os seus campos, valores e limites. E a própria sociedade trata de delimitar essas fronteiras, justamente com o objetivo de criar os núcleos de saber ou de suposto saber. Ou você pensa em uma sociedade onde todos façam tudo, saibam tudo e possam tudo?

    @gusbru

    Quis apenas sublinhar que ao meu ver nao se trata de defender a medicina nem suas propostas para o TDAH, mas a pessoa ou grupos humanos que sofrem dessa sintomatologia. Nesse sentido a medicina nao é nem "boa" nem "positiva", é apenas um campo de interlocuçao que domina algumas variáveis da equaçao. A equaçao, contudo nao comeca nem termina no campo da medicina.

    NELSON NISENBAUM

    Desculpe, gusbru, não sei onde você quer chegar. Quem tem que dizer o que é bom ou ruim é por um lado a ciência médica de um lado e o esquecido DOENTE do outro lado. Não existe equação pois não há determinismo. Cada caso é um caso.

@gusbru

O saber psico-médico (Nelson-Bruno-Kátia) debate com abordagens sócio-pedagógicas (Heloisa-Francisco Hugo-Elton e muitos outro) há muitos anos na proposiçao de formas de educaçao de alunos com necessidades especiais. Quando mudam as relaçoes de poder entre pais, professores, diretores, alunos, secretarias de educaçao, universidades, associaçoes profissionais, etc., a configuraçao do discurso dominante muda e podem ser tomadas açoes baseadas mais em um ou outro tipo de saber. Como discutia anteriormente com o Bruno Mendonça, a virtude intelectual estaria em conseguir trabalhar na tênue linha da fronteira entre esses dois saberes, encarando debates como este no Viomundo. Nossa açao política poderia entao ser melhor fundamentada para a busca da muita vaga noçao de bem comum por meio de consensos, sempre provisórios, sobre o assunto.

@gusbru

A analogia proposta pelo Nelson é ótima: 1. porque o juiz como o médico baseiam-se na lei (discurso legitimado) para um julgamento subjetivo, 2. porque a lei é uma construçao sócio-histórica como sao os discursos da ciência e 3. porque estes dois profissionais tem a mesma origen social de classe. Perdida a inocência e logo a fé em uma ciência boa e neutra, confrontados com o fato de que trata-se de um discurso poderoso apropriado pelas classes domimantes dessas sociedades (pretensamente) democráticas que a adotaram como valor, devemos discutir política junto com ciência, mais ou menos como o fazemos quando discutimos leis.

Regis Mesquita

Uma amiga que cuida da sua mãe doente estava no consultório da médica. Sua mãezinha diz para a médica que a filha (minha amiga) era uma filha maravilhosa, que cuidava dela com amor e carinho. Os olhos de minha amiga se encheram de lágrimas… Eis que isto bastou para a médica diagnosticar uma depressão. Ela saiu de lá com receita e tudo.____Certamente, se fossem procurar nesta minha amiga encontrariam vários sintomas de depressão e, talvez, até algum desequilíbrio bioquímico. Eis a grande diferença entre a pneumonia ou dengue e as condições psíquicas. Os limites entre o normal e o patológico são MUITO mais fluidos e multiplas variáveis altamente significativas estão envolvidas.____Já tratei de pacientes depressivos, que estavam a anos tomando remédios (não tenho nada contra o uso parcimonioso dos mesmos) e o trauma psíquico que causava o problema jamais havia sido tratado. ____Por fim: a ciência não é neutra. Basta ver a distribuição de verbas para pesquisa. O modelo de tratamento medicamentoso recebe praticamente a totalidade das verbas. ____Abraço, Regis Mesquita ____

David

Agora sim: serenidade e razão!!! Muito melhor. Este texto está de parabéns. Argumentos consistentes, embasados,.. apesar de não concordar 100%. Acho que ele exagerou ao dizer: "Os argumentos utilizados pelos contestadores do tratamento medicamentoso do TDAH poderiam ser igualmente aplicados ao tratamento da pneumonia, da epilepsia, à prática da vacinação, e assim por diante, pondo portanto, em cheque, a medicina como um todo,…" na minha opinião não cabe essa comparação, pois as enfermidades citadas não são tão subjetivas quanto TDAH, muito menos pairam dúvidas sobre os diagnósticos, tratamentos ou efeitos colaterais.

    NELSON NISENBAUM

    David, você tem razão, pairam muitas dúvidas sobre diagnósticos, tratamentos, etc. Esta é a responsabilidade que pesa sobre o profissional médico, que muitas vezes tomará decisões que como já disse antes, estão fora do contexto científico, mas nem por isso errôneas. Ausência de prova não é prova de ausência.

Maria Ines Azambuja

"Os questionamentos apresentados por diversos debatedores neste site ao problema do TDAH, poderia portanto ser aplicado a qualquer patologia e respectivo tratamento que dispomos na atualidade… pondo portanto, em cheque, a medicina como um todo"

Quem sabe não seja este o caso? Talvez seja tempo de começarmos a questionar as atuais bases filosóficas, cartesianas, que tem embasado a Medicina… Como bem disse o autor, a Medicina passou por diversos sistemas filosóficos ao longo da história, e nada indica que o sistema cartesiano seja o último.
Muitas coisas continuam sem resposta sob este sistema, como por exemplo as causas das epidemias – sejam as epidemias de dengue ou as de doença do coração ou deficit de atenção.

Novos paradigmas – como o paradigma da complexidade(*) – vem ganhando espaço na discussão da causalidade. E a boa Medicina seguirá incorporando e adaptando criticamente os conhecimentos de cada época às necessidades de casa paciente.

* http://www.ete-online.com/content/pdf/1742-7622-8

Sandra

Até omde sei, já que como professorae trabalho com crianças e adolescentes, não se faz o diagnóstico de TDA através de um exame de sangue, não há algo específico para diagnosticar a doença, por isso, a comparação com dengue é inadequada. Segundo o artigo a ciência não erra e os médicos são semideuses que não devem ser contestados. Vivo o dia-a-dia de lidar com crianças chapadas para a maior tranquilidade dos pais. Ninguém discute a existência da doença, o que se contesta é a exatidão e os interesses por trás dos diagnósticos

    NELSON NISENBAUM

    Sandra, peço que releia o artigo, pois pelo que você afirma, claramente não entendeu os argumentos. A comparação com a dengue foi uma mera figura de "atualidade", mas o exemplo serve para qualquer conhecimento estabelecido da medicina. Eu não disse em ponto algum que a ciência não erra e muito menos na pseudodivindade de médicos. Deixar crianças "chapadas" não é o objetivo de nenhum tratamento. Se isto está ocorrendo, pode ser fruto de má prática ou até mesmo de má conduta dos pais.

    Elton

    Só dos pais???? Sei…….

Francisco Hugo

Parte 1
Voluptuosa netinha precisou acompanhar a decrépita vovó em consulta médica. Hora marcada.
Chegaram com a devida antecedência, aguardaram o trivial atraso. Então, a atendente anunciou: podiam entrar na sala do facultativo.
Impaciente, a jovem tomou a frente da vovó e foi entrando.
Sentado em sua escrivaninha, o médico a olhou por sobre o óculos de leitura e ordenou secamente, apontando o dedo:
— Tire toda a roupa e deite-se naquela cama!
— Perdão, doutor, quem veio para a consulta é minha avó — esclareceu a jovem.
Só então o doutor reparou na idosa que lentamente ingressava na sala. E disparou:
— A senhora sente-se aqui e mostre a língua.
……………………………………………………………….
Um pouco de humor para amenizar tão sisuda polêmica e para deixar claro o que pode ser subjetividade do médico.

    Elton

    E o pior, é que esta anedota reflete a realidade de muitos consultórios, felizmente a minoria.

Francisco Hugo

Parte 2
Doutor Nelson identificou “uma série de entendimentos por parte de leitores que evidenciam a falta de compreensão sobre miríades de variáveis e conceitos sobre a medicina…”
De minha parte, identifico nenhum entendimento do doutor Nelson sobre Pedagogia.
Complicado é debater com quem hierarquiza ciências. Pior: com quem desqualifica alguma.
Pedagogos, os há bons e maus. Uns e outros passíveis de erro.
Pedagogos sabem: para crianças, infância é o melhor remédio.
John Dewey (1859-1952), autor de vastíssima obra, dentre as quais, em razão do que aqui se discute, destacamos “Como Pensamos”, ao tempo em que luz elétrica, automóveis e telefone eram modernidades foi professor universitário de Filosofia Mental e Moral.
Dewey já defendia um ambiente escolar cercado de muros, não para segregar crianças, mas para lhes garantir espaços de infância que o admirável mundo novo cada vez mais lhes tolhe.

    Elton

    Absolutamente………CERTO! Afinal, o Dr. Nelson é psiquiatra e Neurologista há 26 anos.

    NELSON NISENBAUM

    Elton, não sou psiquiatra nem neurologista. Minha intimidade com a área deve-se ao meu passado de professor de neuroanatomia e de minha paixão pessoal pelos temas correlatos. Atendo pacientes psiquiátricos sim, embora não tenha o título de especialista.

    Elton

    Ahhh, agora está tudo esclarecido.

    NELSON NISENBAUM

    Francisco, quem está hierarquizando é você. Aqui, eu só discuto medicina e ciência médica. E o TDAH está muito longe de ser um problema pedagógico, é um problema neurológico que afeta toda a extensão da vida do ser, que por sinal, passa a maior parte do tempo fora da escola.

Francisco Hugo

Parte 3
Todo o bem que a talidomida reconhecidamente faz no tratamento do lúpus, da hanseníase e até da AIDS nos dias de hoje jamais vão apagar a teratogenia de ontem.
Ciência sem humildade é uma desgraça.

    Francisco Hugo

    Todo o bem … jamais vai apagar

Debora Oliveira

Concordo com o Sr. Roberto Locatelli ,só acrescentando que também vendem doenças. Medicina e outras carreiras em nossa sociedade precisam dos danos sociais, como as doenças e outros males, para gerar dinheiro, por essa razão talvez, a prevenção, na visão capitalista ,causaria prejuizos financeiros.Imaginem uma utópica sociedade sem males, para quem iriam vender remédios e consultas e exames. Quanto mais doentes e doenças melhor para a medicina, e pior para a humanidade como um todo.Soube que na medicina chinesa, cuja base é a prevenção, é uma desonra para o médico um paciente adoecer.
Quando vejo aquele Dr. ….vendendo cintas milagrosas na TV , dá vontade de rir se não representasse algo tão trágico.

    Elton

    Dr, Nelson agora dirá que em todo campo de atuação existem os "sérios" e o "charlatães". E que NÃO ESTÁ sendo corporativo……dirá que "É UM ABSURDO, QUE ESTÃO COLOCANDO PALAVRAS ONDE NÃO É DEVIDO"……..VAMOS AGUARDAR!

    NELSON NISENBAUM

    Eu preciso dizer isso?

    Elton

    Já disse diversas vezes, e nas entrelinhas os comentaristas (incluo-me) é que são Desequilibrados e buscam denegrir a medicina, opinar sobre o que não é cabível, etc, etc, etc……

    NELSON NISENBAUM

    Desculpe, Elton, não me lembro de ter ofendido qualquer pessoa neste fórum ou em qualquer outro. Mas sem dúvida, há aqui debatedores totalmente descrentes na medicina atual e manifestam esta descrença com ataques sistemáticos a qualquer autor ou idéia que discorde deles(as). Sem dúvida, há muita gente aqui descontente com a medicina, e eu compreendo. Só tenho insistido para que não se confunda o conhecimento com a prática. A má prática é um problema da pessoa do profissional, e não destrói o conhecimento.

    Elton

    Descontente com o que VÊ e com o que RECEBE de grande parte dos médicos. Há situações que são simplesmente ATERRADORAS como os "exames" periódicos, admissionais e demissionais nos consultórios de "médicos do trabalho", só vou porque é exigência legal. Quase perdi uma filha em 2006 por diagnóstico de "virose" sem que fosse solicitado nenhum exame. Era pneumonia, descoberta dois dias depois porque a "virose" não cedeu. Um mês internada, cirurgia para colocação de dreno numa criança bem alimentada, bem tratada e deposi administrar os traumas que nela ficaram.
    Era médica de nossa confiança, estabelecida com seu consultório em bairro nobre de minha cidade, atendimento via plano de saúde muito famoso.
    Não ofendeste ninguém até porque estaria exposto a riscos processuais, é sua postura ao dialogar de modo insistentemente "altivo" com os não-médicos.

    Médico

    Boa Noite!
    O certo seria esse médico ter tido mais tempo e tranquilidade na avaliação da cça (muitas vezes a enfermagem empurra "só mais esse pacientinho Dr…!! " ) , num final de sexta-feira à tarde, e até aquela BOA orientação de : "Se não melhorar dessa provável virose => Retornem !! "….FICA prejudicada !! MAS essa frase: " Se não melhorar => Retornem" é muito usada e procuro até escrever nas receitas….(Com boa letra, é claro…Mas agora o computador já está entrando até no SUS – Devagarzinho…É claro!)

    Valeu a atenção !

    Elton

    Não foi NADA DISSO que aconteceu, doutor. Não seja mais um apenas a se "defender" de um "suposto ataque terrorista" de um descontente qualquer. Não minimize o sofrimento que eu e minha família tivemos na época. Ela sofreu por causa de erro médico, e depois disso foi salva por outros médicos. Por coincidência a pediatra que cuidava de minha filha na época era também plantonista no hospital onde a internamos. Depois que viu a "CAG_DA" que fez deu uma "passadinha" no apartamento onde a paciente estava e depois disso "deu no pé", LITERALMENTE.
    O que o senhor acha de receita seguida à risca pelos pais de uma criança de UM ANO, a VIROSE não cede e em no máximo 36 horas temos de levá-la a pronto atendimento onde é diagnosticada pneumonia, que havia "tomado conta" de um pulmão mais um terço do outro? Não estávamos com pessoas do SUS, era consultório e hospital em Área nobre de minha cidade, uma capital.

    Elton

    Em tempo: Os ataques sistemáticos a que o doutor se refere tiveram origem NO APOIO a artigos apresentados por Heloísa Villela que mencionavam o que se acredita serem excessos da prática médica, os quais foram sistemáticamente rechaçados pelo senhor, a ponto de expor sua posição em artigo e não apenas nos espaços para comentários, após quatro artigos sobre medicação PSIQUIÁTRICA, no caso do TDAH ou do uso do rivotril.

Heloisa Villela

Continuando…
A discussão fica mais complicada, e mais subjetiva, na medida em que se definem comportamentos aceitáveis e outros patológicos, não acha? Conceitos que mudam como mudam as sociedades. E o que ontem era tratado como algo aceitável, hoje já não é. E fica a pergunta: medicar quem? a partir de que grau de "desvio" do comportamento normal? Para melhorar a vida do paciente ou facilitar a vida de quem lida com ele? Tenho muitas dúvidas, doutor.

    NELSON NISENBAUM

    Se o foco do médico for o indivíduo no seu meio social, cultural, e nos seus próprios valores, ele saberá que o patológico é o que causa um sofrimento improdutivo ou desnecessário no ser sobre o qual assume a responsabilidade. O que causa sofrimento em um indivíduo em um dado tempo e local pode não causar a outro que esteja em outro tempo e local. Assim, o conceito de normal e patológico não é estático, e sim dinâmico. Não quero ser arrogante, Heloísa, mas se você tem tantas dúvidas, faça um curso de medicina e atenda pessoas. Infelizmente não há outro caminho, pois agimos conforme nossas convicções, que por sua vez formam-se no diário confronto entre a realidade da pessoa que atendemos, o conhecimento científico, nossa experiência pessoal e nossos valores.

Heloisa Villela

Dr., me desculpe a ignorância de quem nunca frequentou uma faculdade de medicina e tem apenas a curiosidade, alguma leitura e a observação da sociedade para tentar entender o que se passa. Mas acho que o parágrafo que iguala a Dengue, a Aids e a TDAH pula uma série de conceitos e dúvidas que existem há 50 anos para afirmar algo que não é necessáriamente aceito por todo mundo.
Quando falamos de saúde pública, de vacinação contra doenças e tratamento para AIDS, Dengue, etc, temos informações precisas a respeito das doenças, o que permitiu o desenvolvimento dos tratamentos adequados. Mas é impossível tratar as doenças mentais neste mesmo âmbito. Bem que os psiquiatras gostariam. Desde o descobrimento da penicilina, eles vivem brigando prá provar que também tem um receituário e por isso são médicos como todos os outros. Acho que eles são sim, mas não vai ser impossível estabelecer essa confiança nas mesmas bases.

    Elton

    Meus parabéns!

    NELSON NISENBAUM

    Eiu não quis comparar as doenças, apenas ressaltei que a produção do conhjecimento científico da medicina tem os mesmos mecanismos e técnicas, em qualquer território. Nesse contexto, as verdades clínicas nem sempre são providas de provas materiais. Einstein calculou o tamanho dos átomos em um momento da ciência em que nem se sabia se existiam ou como eram. Se vejo um doente com febre alta, pressão baixa, pulsos finos e acelerados, sei que está séptico, independente de eu ver ou não a bactéria em seu sangue.

    Médico

    Boa Noite!
    Sou médico do ESF (ex-PSF) de minha cidade, além de médico do SAMU-UTImóvel (Já atuei anteriormente, vários anos, como cirurgião geral e VídeoLaparoscopia).
    Dia desses recebi uma criança de 6 anos com TDAH no consultório do SUS (e sua mãe, com razoável condição social e muita lucidez) …Parecia que a cça ia começar a "andar pelas paredes" logo, logo…
    Proponho aos debatedores, imaginarem seu(s) filho(s) terem esse menino c/ TDAH como colega de aula…Ou sua esposa ser professora do primário e ter "várias salas" com alunos como ele…(Minha mãe é professora estadual aposentada).
    Pedi exames básicos + TSH(tireóide), e fiz encaminhamento desse menino ao Pediatra, e humildemente solicitei que nos explicasse os prós e contras de iniciar o tratamento com brevidade(!!!)

    Até breve !

Miriam

Gostei de ler o texto, não estou reclamando dele, apenas com relação à parte que fala do poder de contestação. Ciência confronta-se com ciência. Está bem, mas médico é gente, sujeito a idiossincrasias como qualquer um. Não vejo nenhum problema de os leigos se manifestarem, ainda que não utilizem a mesma linguagem científica que os médicos. Se eu fosse médico ficaria atento para tentar entender o que tanto reclama essa gente. Será que é gente que reclama de tudo e mais um pouco só pelo prazer? A despeito dos estudos e tratamentos bem-sucedidos, existe uma percepção diferente de uma parcela de gente. Quero crer que se existe a possibilidade de debate com cada um se esforçando para ouvir o que o outro tem a dizer é num blog. Ninguém tá indo reclamar lá nos periódicos científicos.

    NELSON NISENBAUM

    Cara Miriam, quis ressaltar no meu artigo que maus resultados tem mais a ver com o profissional do que com a ciência. Não podemos confundir o eventual mau resultado com a invalidade do conhecimento científico. Os leigos podem e devem se manifestar, mas devem saber separar ciência de profissional. É bem verdade que nem todos os pacientes se beneficiam do tratamento medicamentoso, como em qualquer patologia. E bons e maus profissionais existem em qualquer lugar.

    Elton

    Cite, por gentileza ONDE está issso em seu artigo, para todos poderam embasar seus comentários.

    NELSON NISENBAUM

    A outra perspectiva é a da medicina como profissão, que está bem longe (e deve guardar a devida distância) da produção do conhecimento científico. É claro que estará aliada a esta produção nas entidades que tem esse fim, mas a medicina aplica o conhecimento geral e científico ao caso particular, e assim o faz com a devida particularidade, unicidade. Quase como que em um julgamento, onde o juiz interpreta as condições dadas para então adequar ao texto legal, que apenas raramente reproduz a realidade apresentada.
    Aqui, Elton.

    Isto põe o médico em uma situação de confronto com variáveis não científicas, uma vez que o encontro médico-paciente é repleto de subjetividades, localidades e temporalidades que não pertencem ao campo da ciência. Portanto, do sucesso terapêutico, dependerá, por parte do profissional médico, um conjunto de habilidades que ultrapassam o campo da ciência, e abraçam o campo da linguagem, da cultura, da compaixão, do senso ético e moral, da psicologia, e até mesmo de algo que poderíamos chamar de arte.

    Elton

    Certo. Posso assegurar-lhe, Dr. Nelson que desde minha mais tenra infância tive contato com bons e maus profissionais em sua área, assim como existem bons e maus em minha profissão.
    E se não exixte o tal corporativismo, POR QUE é TÃO DIFÍCIL punir ao erro médico COMPROVADO?

    NELSON NISENBAUM

    Você já denunciou algum erro médico comprovado ao CRM? Eu já, e os profissionais foram punidos.

    Conceição Lemes

    Dr. Nelson, conheço vários casos gravíssimos, denunciados ao Cremesp, que não tiveram sequer abertura de sindicância. Um deles é famosíssimo. O Brasil inteiro conhece a pessoa e o senhor lamentaria se soubesse a verdade. Apesar de haver prova no prontuário do erro médico do seu colega e que acabou com a vida desse grande brasileiro, o relator do cremesp sequer teve o trabalho de ohar o prontuário. Resultado: o paciente dançou. A família nem foi ouvida. Portanto, sendo reporter investigativa da área de saúde há 28 anos,te garanto: a realidade é um pouco diferente do que o senhor relata quando se refere a punições por erros médicos. Saudações

    Elton

    Boa intervenção, Conceição Lemes. Mas talvez não seja levada em consideração pois você é jornalista e não médica……..

    Conceição Lemes

    Elton, um dia a verdade aparece…Se soubessem, o que eu sei (rs). Fazendo jornalismo investigativo de saúde há 28 anos, saco à distância os vários estilos de doutores: dos ditos bonzinhos até…Abração

    geraldo de carvalho

    acho q sei de quem vc está falando conceição. na minha cidade esse gde brasileiro é nome de escola. uma belíssima escola inaugurada durante uma gestão do pt. estou quente ou não?

    NELSON NISENBAUM

    Não sei de quem ou de que caso está falando. Tribunais erram, e o CREMESP não é exceção. Mas um caso não anula o todo.

    Miriam

    Maria Rita Kehl no livro "O tempo e o cão", no capítulo "a atualidade das depressões": "Não é possível precisar se todos esses crescimentos estatísticos revelam um aumento epidêmico das depressões (assim como dos transtornos bipolares e da hiperatividade infantil), um aprefeiçoamento de métodos diagnósticos, uma consequência da indústria farmacêutica ou, na pior das hipóteses, uma atuação conjunta de todos esses fatores".

    Mais prá frente ela cita Frederick Crews, em artigo publicado em O Estado de São Paulo (21/12/2007): "a maior parte dos lucros da indústria farmacêutica depende de uns poucos remédios para os quais sempre buscam novos usos. Se tais novos usos não surgem por meio de experimentos, recorre-se à publicidade de certos males – ou seja, a convencer as massas de que alguns de seus estados de ânimo são, na verdade, doenças que requerem tratamento. O objetivo é criar demanda espontânea pela cura milagrosa que a empresa pode oferecer."

    E logo a seguir:
    "Nos congressos internacionais de psiquiatria patrocinados pelos grandes laboratórios, mais que a propaganda de produtos lançados no mercado, o que se divulgam são novos métodos diagnósticos capazes de detectar os menores sinais de distúrbios depressivos. Trata-se de instruir médicos e psiquiatras a detectar a depressão, assim como outros distúrbios medicalizáveis, a partir de praticamente todas as queixas de seus pacientes…"

    NELSON NISENBAUM

    Maria Rita Kehl é uma brilhante e respeitável autora. Mas se prestar atenção, ela fala em hipóteses, que são, sim, consideráveis e devem ser debatidas.

    Mafalda Souza

    Tá bom, Dr. Fabrício. Já tomou seu danoninho hoje? Então vá.

dukrai

Por outro lado, pra falar da TDAH não ser médico é uma vantagem porque permite uma análise da epidemia que grassa nos EUA, e não só lá, com uma visão multidisciplinar e além do que, a abordagem exclusiva médica é restrita e pode se confundir com defesa corporativa.
Um vídeo de animação sobre educação postado aqui mostra o avanço da "doença" no sentido leste-oeste dos EUA e as perguntas que ficam é se a epidemia de fato existe e só faltava o diagnóstico, se os capiau do oeste são mais relaxados e menos afetados, se os urbanóides do leste estão se estressando muito, se é uma forma de controle social dos pentelhos e mais 18 "se" sem respostas conclusivas.

Pedro Luiz Paredes

Me desculpe doutor, mas falou da medicina, da evolução, do sistemas de tratamento de patologias, e falou da beleza que é ser médico.
De repente colocou um " Vale portanto, …." no 6° parágrafo e não fez a conexão de uma coisa com a outra.
A patologia não esta no "doente", a patologia é a vaidade de achar que o que é importante e interessante para vocês, deva ser importante e interessante para eles também.
Não entendem que isso é um fruto social do que a sociedade se tornou e as mudanças que ocorrem a todo momento.
As diferênças entre você e vosso pai ou vosso pai e vosso avô hoje acontecem entre irmãos com nem 10 anos de diferença de idade entre eles, pois em 10 anos muda-se o que antes demorava 50.
Isso tende a se agravar cada vez mais.
O que vocês não conseguem enxergar é a vossa incapacidade de aceitar as mudanças no âmbito cognitivo dessas novas gerações, e não fazem ideia de como lidar com isso.
Estão paralisados pelo medo e pela ignorância, por bloqueios e limitações.
Acham que o problema esta em quem não consegue se adequar aos seus métodos arcaicos de educação, à sua maneira de ver e entender a vida.
Querem porque querem formar cidadão que vão servir um modelo que já esta em plena decadência e não entendem nem de longe as consequências que isso pode trazer. É remar contra a maré.
Eu não sou tão jovem para saber plenamente como lidar com isso e nem tão velho a ponto de não perceber o que esta acontecendo na sociedade; mas tenho certeza que esse não é o melhor caminho, pois quando alguns estiverem condicionados da maneira como vocês querem, eles já não se encaixarão mais na própria era.
Isso não tem nada haver com patologia.
Com muita sorte essa vossa "patologia" não sera absorvida pelas novas gerações.
Estude um grupo de crianças de 3 a 7 anos e veja com seus próprios olhos a capacidade que eles tem de se defender da vossa herança e como são abertos.
Fugirão de seus preceitos e criarão algo novo; algo que você não faz idéia do que seja mas que já ocorreu antes na história.
Vocês já perderam a sanidade faz tempo doutor.
Deveriam tentar entender isso antes de julgar ou ficar inventando esse monte de bobagens.
A essência de vossa geração é o existencialismo e é por isso que o problema e a culpa é sempre dos outros.

"Numa sociedade formada por loucos, ser normal é doença".

    Elton

    Meus parabéns!!!

    Elton

    Prezado Pedro, vão chamar a você de "louco", dentro de instantes, defenda-se!

    Pedro Luiz Paredes

    Por eles?
    Tomara!!!!
    Será mais um indício de que sou completamente normal!

Roberto Locatelli

Com todo o respeito ao articulista, mas a revolução cartesiana não melhorou a medicina. A revolução cartesiana e o positivismo tornaram o médico um ser insensível, para o qual o paciente é apenas um número. Além disso, a fase imperialista do capitalismo tornou o médico um agente de vendas de "medicamentos" duvidosos produzidos por multinacionais que veem a doença como fonte de renda.

As escolas de medicina do país têm, presidindo as diversas cadeiras do currículo, pessoas que são representantes dessas multinacionais e que, já na formação dos futuros médicos, incute-lhes a ideia de que eles são vendedores de remédios.

    NELSON NISENBAUM

    Roberto, considero a sua crítica válida, mas você peca na generalização. Por outro lado, eu não disse que o sistema cartesiano e melhor ou pior que outro, apenas descrevi o fato e a função.

    Paulo

    Concordo com você, Locatelli.

    Creio que o autor do texto esteja tão subsumido por essa lógica positivista, que no fim acaba considerando que os problemas decorrentes da prática médica ruim sejam problemas de "ética". Assim, as relações promíscuas entre médicos e laboratórios passam a ser considerados "desvios", ao invés de serem observados como uma decorrência normal da dinâmica da indústria médica.

Elton

Sua manisfestação era esperada e é bem-vinda, Dr. Nelson. Em meus comentários busquei pontos de concordância com os artigos "provocativos" de Heloísa Villela com base na multiplicação de ALUNOS (crianças e adolescentes) em tratamento (?!?!?!) ou ao menos DIAGNOSTICADOS como portadores de TDAH ocorrida de cerca de dez anos até o presente momento. Esta é minha experiência e a de muitos outros colegas de profissão. Em suas respostas a meus comentários suas contestações eram resumos do artigo agora postado no Viomundo. E nele o Dr. mostra preocupação com uma eventual "demonização" da medicina ao afirmar:
"Os argumentos utilizados pelos contestadores do tratamento medicamentoso do TDAH poderiam ser igualmente aplicados ao tratamento da pneumonia, da epilepsia, à prática da vacinação, e assim por diante, pondo portanto, em cheque, a medicina como um todo…"
Creio que nem minha pessoa nem as demais que comentaram os artigos de H. Villela tiveram tal objetivo. Muitas vezes as opiniões estiveram ligadas à medicalização julgada excessiva, suas eventuais conexões com interesses econômicos externos……..tudo isto é impossível? É irreal? Fruto da imaginação de mentes despreparadas?
Repeito a medicina, foram médicos que salvaram meu pai da morte há oito anos e apenas cito um caso pessoal. Eu mesmo trato de diabetes tipo 2 há 14 anos e não descobri isto sozinho.
Mas aquilo que disse neste site é fruto de muito trabalho, observação, prática, dedicação e MUITO ESTUDO, Nosso trabalho no magistério TAMBÉM segue a método científico dentro de suas especificidades.
Se algumas vezes reagi de forma a fazê-lo sentir-se agredido é porque de sua parte recebi o mesmo, embora de forma polida.
Complementando com outra afirmação de seu artigo:
"….muitas vezes confrontamos-nos com assertivas, relatos e opiniões de autores que não pertencem ao mundo médico, e somos interpretados como arrogantes ou corporativistas…."
O modo como INTERPRETAMOS algo tem relação DIRETA com o que nossos olhos vêem, não há como dissociar palavras ditas de reais intenções.

Gustavo Pamplona

Não li o artigo nem me interessa isto mais… mas gostei que você colocou os links dos artigos anteriores.

    Elton

    E ainda chamou os artigos anteriores de" provocativos", para quem será?

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