Nelson Nisembaum: Uma agenda do caos está em operação no mundo

Tempo de leitura: 2 min

A AGENDA DO CAOS

Por Nelson Nisembaum*, especial para o Viomundo

Nesta semana, assisti à gravação de um dos mais estarrecedores episódios que já vi: o presidente dos EUA, Donald Trump, tentando convencer, numa conversa por telefone, o secretário de estado da Geórgia, a “arrumar” 11.780 votos a favor dele.

Usando argumentos, como  “pessoas dotadas de vontade de resolver o problema, e como excelente advogado que é”, Trump pedia ao interlocutor que providenciasse uma fraude eleitoral que lhe fosse favorável.

Esta iniciativa, se é tão surpreendente enquanto atitude de um agente de estado, em absoluto não surpreende quem conhece a vida íntima das empresas privadas, estas tão protegidas por legislações que garantem o sigilo de negócios, a privacidade de pessoas físicas e jurídicas, o sigilo bancário, telefônico, eletrônico, e onde os trituradores de papel devolvem a verdade à poeira cósmica.

Se algo de bom pode sair do episódio é a leitura clara e cristalina da vida cotidiana nos intestinos das grandes corporações das quais Trump é um perfeito representante, seja do ponto de vista técnico, ético e comportamental como político.

Em síntese, o episódio revela uma verdade totalmente arraigada nessas instituições que viram na candidatura de Trump a sua maior oportunidade de tomada do estado que talvez o mundo já tenha presenciado.

Mas nada disso seria suficiente para os agentes de poder econômico e poder de fato que irromperam no cenário Reagan/Tatcher, que derrotados politicamente em alguns contextos europeus e sulamericanos, foram levados à radicalização por um novo projeto de poder, este já passando distante do campo democrático tradicional.

Em função do maior acesso à internet e à informação, mais pessoas tornaram-se conscientes das ameaças do neoliberalismo.

Os agentes do poder, então, passaram a adotar uma nova estratégia, desta vez mais profunda, cruel, vingativa e perversa, para desorganizar os sistemas de informação (e formação), através da disseminação intensa de fake news e teorias conspiratórias.

O objetivo deles: corromper a linguagem, o senso de realidade, de ciência, de democracia e de cultura institucional, para atingir em cheio a maior força de estabilidade das sociedades: os laços de confiança entre os indivíduos e entre os indivíduos e as instituições políticas, sociais, científicas e culturais (se é que podemos segmentá-las desta forma).

Ainda na agenda dos Estados Unidos, agudizada pelos choques entre fascistas e as forças de segurança no Congresso (Capitólio), vimos nessa quarta-feira (06/01) o resultado da ruptura de laços de confiança daquela sociedade, tragicamente capitaneada por Trump, expondo à vergonha mundial a nação tida como a mais poderosa da Terra.

Não é implausível que esses fenômenos se reproduzam no Brasil em futuro próximo, uma vez que diversos ensaios de movimentos semelhantes já foram levados a cabo, apesar da ação incisiva de  agentes de algumas instituições democráticas brasileiras que ainda operam no campo da razão e da lei.

O mais importante e sensível no momento e que se apreenda, de uma vez por todas, a idéia de que existe uma agenda do caos em operação e progresso no mundo, e que as instituições correm real perigo.

A vitória de Biden nos EUA e eventual derrota de Bolsonaro em 2022 (ou antes) não trarão soluções pelos fatos em si mesmos.

É fundamental uma agenda sociopolítica especificamente desenhada e executada em contraposição à agenda de rupturas que fundamenta o processo que levou Trump e Bolsonaro ao poder (e ao Brexit, na Inglaterra) e ainda permanecerá arraigada à realidade visível nos planos mais imediatos da realidade.

Tempos difíceis e imprevisíveis pela frente.

*Nelson Nisembaum é médico.


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Comentários

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Oseias

“Não é implausível que esses fenômenos se reproduzam no Brasil em futuro próximo”…acho que o autor não ainda não se deu conta que o ‘futuro’ já está aí. Estamos assistindo a triste e lenta agonia da destruição de um país. A sociedade brasileira está apodrecendo, só não vê quem não quer.

Morvan

A invasão do Capitólio representa, proporcionalmente falando, a travessia do Rubicão, ou seja, chegou-se ao ponto de não retorno, não na política estadunidense, tão-somente, e sim no capetalismo X rentismo. Haverá muita repressão, aqui, lá, algures, pois ninguém retira direitos sem conflito e o rentismo é isso. Perda de direitos da classe trabalhadora e desestímulo à produção “capetalista”. Anos de chumbo vêm aí. Nada será como antes; Q A Non Mas Som. D mentes.

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