Mulheres indígenas ocupam Brasília para reflorestar mentes e curar a Terra; leia o manifesto das primeiras brasileiras

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Acampamento Luta Pela Vida, agosto de 2021. Fotos: Cícero Bezerra/ISA e Foto Hellen Loures/Cimi

 Primavera Indígena: Mulheres indígenas ocupam Brasília para reflorestar mentes

Por Assessoria de Comunicação Anmiga, via Cimi 

A Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga) realiza entre os dias 7 e 11 de setembro a 2ª Marcha Nacional das Mulheres Indígenas, em Brasília.

Com o tema “Mulheres originárias: Reflorestando mentes para a cura da Terra’, está prevista a participação de cerca de 4 mil mulheres, com mais de 150 povos, vindas de todos os biomas do Brasil, durante os 3 dias de atividades, que acontecem no espaço da Fundação Nacional de Artes (FUNARTE).

“Estamos em busca da garantia de nossos territórios, das que nos antecederam, para as presentes e futuras gerações, defendendo o meio ambiente, este bem comum que garante nossos modos de vida enquanto humanidade. Para além de mero recurso físico é igualmente morada dos espíritos das florestas, dos animais e das águas da vida com um todo, fonte de nossos conhecimentos ancestrais”, reforça o comunicado da Anmiga sobre a marcha.

Acampamento Lula Pela Vida, agosto de 2021. Foto: Scarlett Rocha

A mobilização foi realizada pela primeira vez em 2019, e aconteceu de forma virtual em 2020 devido à pandemia da Covid-19. Os protocolos sanitários da segunda Marcha reforçam todas as normas já existentes e recomendadas para o combate ao coronavírus.

De acordo com a organização da Marcha, as delegações de mulheres foram orientadas para priorizar a participação de pessoas que tiveram seu ciclo de imunização contra a Covid-19 completo, com pelo menos duas doses da vacina, ou dose única.

O uso de máscara durante as atividades é obrigatório e será realizada testagem na chegada das pessoas que estarão no evento.

A equipe de saúde da Marcha conta com profissionais indígenas de saúde em parceria com a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), com a Fundação Oswaldo Cruz de Brasília e do Rio de Janeiro (Fiocruz DF e RJ), com o Ambulatório de Saúde Indígena da Universidade de Brasília (Asi/UNB), Secretaria de Saúde do Distrito Federal e com o Hospital Universitário de Brasília (HUB).

Mobilização Permanente

“Afirmamos que as mulheres indígenas estarão na linha de frente para enterrar de vez a tese do Marco Temporal, durante a 2ª marcha das mulheres indígenas”, enfatiza a coordenação da Anmiga.

Desde o dia 22 de agosto mais de seis mil indígenas, de 176 povos, de todas as regiões do país, estiveram presentes em Brasília, reunidos no acampamento “Luta pela Vida”, que é atualmente a maior mobilização da história do movimento indígena.

Encabeçada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), em conjunto com todas as suas organizações regionais de base, os indígenas acompanham o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), que vai definir o futuro das demarcações de Terras Indígenas e também protestar contra a agenda anti-indígena do governo Bolsonaro e do Congresso Nacional.

Após o início do julgamento, no dia 26 de agosto, e a previsão de que fosse retomado nesta quarta-feira (1/09), os indígenas decidiram manter a mobilização em Brasília e nos territórios.

Assim, cerca de 1.200 lideranças indígenas, representando seus povos, permaneceram em Brasília, e o acampamento “Luta pela Vida” foi transferido para um novo local, a Funarte.

O grupo seguirá acompanhando o julgamento e une forças com a 2ª Marcha das Mulheres Indígenas em uma proposta de mobilização permanente.

“Afirmamos que as mulheres indígenas estarão na linha de frente para enterrar de vez a tese do Marco Temporal, durante a 2ª marcha das mulheres indígenas”

Programação

O dia 7 de setembro será dedicado à acolhida das delegações em Brasília, com atividades internas, orientações e testagem para Covid-19. O Fórum Nacional das Mulheres Indígenas inicia na quarta-feira, dia 8, e toda a mobilização vai acompanhar a volta do julgamento no STF a partir das 14h.

Na quinta-feira (9), está prevista a realização da Marcha das Mulheres Indígenas, até a Praça dos Três Poderes e no dia 10 o encerramento das atividades da mobilização será realizado com o lançamento da mobilização “Reflorestarmentes”.

Todas as atividades podem ser acompanhadas no site: anmiga.org

 Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga) realiza 2ª Marcha Nacional das Mulheres Indígenas

MANIFESTO DAS PRIMEIRAS BRASILEIRAS

AS ORIGINÁRIAS DA TERRA: A MÃE DO BRASIL É INDÍGENA

“Nós, Mulheres Indígenas, estamos em muitas lutas em âmbito nacional e internacional. Somos sementes plantadas através de nossos cantos por justiça social, por demarcação de território, pela floresta em pé, pela saúde, pela educação, para conter as mudanças climáticas e pela “Cura da Terra”. Nossas vozes já romperam silêncios imputados a nós desde a invasão do nosso território.

A população indígena do Brasil é formada por 305 Povos, falantes de 274 línguas. Somos aproximadamente 900 mil pessoas, sendo 448 mil mulheres. Nós, Mulheres Indígenas, lutamos pela demarcação das terras indígenas, contra a liberação da mineração e do arrendamento dos nossos territórios, contra a tentativa de flexibilizar o licenciamento ambiental, contra o financiamento do armamento no campo. Enfrentamos o desmonte das políticas indigenista e ambiental.

Nossas lideranças estão em permanente processo de luta em defesa de direitos para a garantia da nossa existência, que são nossos corpos, espíritos e territórios.

Reunidas no XV Acampamento Terra Livre, em abril de 2019, construímos um espaço orgânico de atuação. Levamos pautas importantes para o centro do debate da mobilização que resultou na primeira Marcha das Mulheres Indígenas com a união de 2500 mulheres de 130 povos, em Brasília, no dia Internacional dos Povos Indígenas, em 9 de agosto daquele ano.

A Marcha, com o lema “Território: nosso corpo, nosso espírito”, foi pensada desde 2015 como um processo de formação e de fortalecimento com sustentada ação de articulação com diversos movimentos.

Agosto de 2020. Após um ano da 1ª Marcha das Mulheres Indígenas, nós, Mulheres Indígenas de todo o Brasil, realizamos uma mobilização histórica! Diante do agravamento das violências aos povos indígenas durante a pandemia da Covid-19, nós decidimos demarcar as telas e realizar a maior mobilização de mulheres indígenas nas redes virtuais. Assim, nos dias 7 e 8 de agosto, acontecia a nossa grande assembleia online com o tema “O sagrado da existência e a cura da terra”.

Nós, Mulheres Indígenas, também somos a Terra, pois a Terra se faz em nós. Pela força do canto, nos conectamos por todos os cantos, onde se fazem presente os encantos, que são nossas ancestrais. A Terra é irmã, é filha, é tia, é mãe, é avó, é útero, é alimento, é a cura do mundo.

Como calar diante de um ataque? Diante de um Genocídio que faz a Terra gritar mesmo quando estamos em silêncio? Porque a Terra tem muitos filhos e uma mãe chora quando vê, quando sente que a vida que gerou, hoje é ameaçada. Mas ainda existe a chance de mudar isso, porque nós somos a cura da Terra!

Diante da Pandemia, criamos espaços de conexão para fortalecer a potência da articulação de Mulheres Indígenas, retomando valores e memórias matriarcais para avançar em pleitos sociais relacionados aos nossos territórios, enfrentando as tentativas de extermínio dos Povos Indígenas, as tentativas de invasão e de exploração genocida dos territórios – ações que têm se aprofundado no contexto da pandemia. Dessa forma, conseguimos também fortalecer o movimento indígena, agregando conhecimentos de gênero e geracionais.

As Mulheres Indígenas assumiram um papel fundamental na articulação das redes de apoiadores nesse momento. Além de atuarem permanentemente nas barreiras sanitárias, as mulheres estiveram frente às construções estratégicas dos planos Territorial, Regional e Nacional no enfrentamento à Covid-19. Há muitas Mulheres Indígenas com atuações significativas na contribuição pela defesa dos direitos dos Povos Indígenas – muitas vezes enfrentando diversas formas de violências.

Em virtude das constantes violações de direitos, aprofundadas no contexto da pandemia, é urgente fortalecer a contribuição dessas defensoras, qualificando e ampliando suas ações nos espaços de participação política e decisória e apoiando a participação qualificada das Mulheres Indígenas como protagonistas e multiplicadoras.

Estamos atuando não somente no enfrentamento à Covid-19, mas na linha de defesa do “Covid sistemático do Governo Federal” e de seus ataques permanentes aos direitos indígenas.

Como desdobramento, notou-se a necessidade de avançar ainda mais, fortalecer nossas capacidades organizacionais, com vias de oficializar essa articulação da ANMIGA, incluindo o planejamento estratégico e o funcionamento de nossas redes.

Somos muitas, somos múltiplas, somos mil-lheres, cacicas, parteiras, benzedeiras, pajés, agricultoras, professoras, advogadas, enfermeiras e médicas nas múltiplas ciências do Território e da universidade. Somos antropólogas, deputadas e psicólogas. Somos muitas transitando do chão da aldeia para o chão do mundo.

Mulheres terra, mulheres água, mulheres biomas, mulheres espiritualidade, mulheres árvores, mulheres raízes, mulheres sementes e não somente mulheres, guerreiras da ancestralidade”.


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Zé Maria

O Terrorismo da Band
pelo Marco Temporal:
‘vão tomar até o Morumbi’,

Desde o início da discussão sobre o marco temporal,
a grande mídia só dá voz à tese dos ruralistas.
E ninguém exagera mais na dose do que o Grupo Bandeirantes.

Por João Filho, no Intercept

O agronegócio tem comprado anúncios disfarçados
de textos jornalísticos nos grandes jornais para defender
a tese do marco temporal sobre os territórios dos povos
originários.

O assunto está em debate tanto no STF quanto no Congresso, onde tramita através do PL 490. E a pressão do agronegócio sobre as duas casas tem sido enorme, principalmente por meio da imprensa. Assim como aconteceu com as reformas trabalhista e previdenciária, a defesa do marco temporal monopolizou o debate na mídia e sufocou as vozes contrárias. O poder financeiro do agronegócio transformou os jornais, tanto os impressos quanto os televisivos, em palanques de defesa dos interesses do setor. Os povos indígenas, que não costumam comprar anúncios nos jornais, foram completamente escanteados do debate e são pintados como uma ameaça ao desenvolvimento econômico do país.

Enquanto o assunto tem tido pouco destaque na imprensa em geral, na Band ele tem sido a pauta principal. Nas últimas semanas, a cobertura tem sido diária e invariavelmente defende o ponto de vista dos ruralistas.
Também pudera, o dono do grupo Bandeirantes,
João Carlos Saad, mais conhecido como Johnny Saad, é fazendeiro e criador de gado.
Além disso, tem sido o principal divulgador dos interesses dos barões do agronegócio por meio de seus canais de televisão.
O grupo Bandeirantes, cujo nome é uma homenagem aos homens que escravizaram e assassinaram os povos indígenas no século 17, conta com dois canais de televisão a cabo inteiramente dedicados ao agronegócio e financiados por ele por meio de anúncios: o Terra Viva e o AgroMais.

Toda a cobertura do jornalismo da Band sobre o tema é baseada no terrorismo promovido pelos ruralistas.

Na BandNews, um dos apresentadores de jornal classificou o assunto como “polêmico” e, “por isso” chamou “uma pessoa que entende muito, que se debruçou sobre o assunto”. A especialista convocada para pôr fim à polêmica é Samanta Pineda, comentarista e apresentadora da TV Terra Viva, canal em que costuma dizer absurdos como esse: “não existe relação entre o desmatamento e o agronegócio brasileiro”.

Durante seu comentário, ela reforçou os clichês terroristas do agronegócio e concluiu que “o índio brasileiro não tem falta de terras. Tem falta de assistência. Falta de uma política que leve saúde, educação e evolução pra esses índios”. É uma vergonha para o jornalismo da emissora que essa fala absolutamente ignorante, que prega “evolução” para o “índio”, seja tratada como a fala de uma especialista no assunto.

Mais adiante ela afirmou que, se o marco temporal não for reconhecido, “nós teremos um grande conflito de terra no Brasil”.
Pineda ainda deu um exemplo “do quão inseguro seria não estabelecer o marco temporal: o Morumbi foi uma terra indígena há muito tempo atrás; então poderíamos, sim, ter índios reivindicando o Morumbi para ser uma terra indígena”.

Íntegra:
https://theintercept.com/2021/09/05/indigenas-band-ruralistas-marco-temporal/

Zé Maria

ATENÇÃO!

Nos últimos dias, conteúdos compartilhados nas redes sociais
enganam ao atribuir falsamente alguns vídeos às convocações
de protestos para o 7 de Setembro.

1) Não é recente nem tem relação com o ato bolsonarista marcado para o 7 de Setembro um vídeo que mostra caminhões em um protesto na Esplanada dos Ministérios,
em Brasília. As imagens foram gravadas em maio deste ano durante uma manifestação de ruralistas bolsonaristas e circulam em postagens nas redes sociais.

2) Igualmente, é também de maio, e não de mobilização para o próximo 7 de Setembro, vídeo que mostra fila de ônibus em um trecho da rodovia BR-060, no Distrito Federal.

3) Também circulam como se fossem recentes vídeos de 2015 em que alguns artistas convidam a população para manifestações contra a então presidente Dilma.
As gravações foram divulgadas originalmente pelo movimento ‘Vem Pra Rua’.

Fonte: Aos Fatos.

Zé Maria

Vídeos de Bolsonaristas Fascistas que circulam nas redes sociais atribuem um acampamento montado nesta semana na Praça da Cidadania, em Brasília (DF), à mobilização de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, o que não é verdade.

As tendas mostradas nas imagens são parte de um ato de indígenas e ativistas pela manutenção das atuais regras de demarcação de terras, que podem ser revistas pelo Supremo Tribunal Federal.

‘Aos Fatos’ verificou que o local onde as filmagens foram registradas é o mesmo do acampamento indígena ao comparar uma foto aérea divulgada pela Agência Cenarium com imagens do Google Maps.

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