Miriam Leitão: Militares sempre mentiram sobre os crimes da ditadura

Tempo de leitura: 2 min
Ustra, torturador herói de Jair Bolsonaro. Foto Wikipedia

Bolsonaro mostra que os militares sempre mentiram sobre os crimes da ditadura

Míriam Leitão | O Globo

Durante mais de três décadas os militares disseram ao país que não tinham documentos, não sabiam dizer onde estavam os desaparecidos políticos, não souberam como morreram os que foram assassinados nos quartéis durante a ditadura militar.

Hoje, o presidente Jair Bolsonaro disse o oposto.

Primeiro, decidiu brincar com mais um drama humano e dizer ao presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, que sabia como o pai do advogado havia morrido.

Depois, criou a sua versão que culpa a esquerda.

O que o presidente fez é repulsivo.

Mostra, como definiu Felipe Santa Cruz, crueldade e a falta completa de empatia que os seres humanos têm uns em relação aos outros.

O presidente brinca com o sentimento de um filho que nunca conviveu com o pai porque ele foi morto aos 26 anos.

Mas ao se colocar como o conhecedor dos segredos da ditadura, ele diz que há informações sonegadas ao país, que ele sabe onde estão.

Nunca ficou tão claro que as Forças Armadas mentiram quando disseram não ter como recuperar os fatos.

Nunca souberam, por exemplo, dizer as circunstâncias da morte de Vladimir Herzog, onde foi posto o corpo de Rubens Paiva, como foi assassinado num quartel da Aeronáutica o jovem Stuart Angel.

As famílias dos muitos mortos e desaparecidos sempre quiseram a reparação da informação.

Pediram a verdade. E tiveram como respostas o “nada sabemos”.

E por isso é que um dia um bravo deputado, Alencar Furtado, fez um discurso libelo em nome dos filhos do “talvez”, os órfãos do “quem sabe”.

Alencar Furtado foi cassado pelo AI-5 pelo que disse.

O Brasil não teve o conforto das informações.

Em nome da paz e da construção do futuro foi dito que aceitássemos essa perda de memória dos militares.

Só que ontem, pela fala do presidente, caiu a máscara.

O presidente se sente no direito de manipular as informações que foram sonegadas ao país e às famílias e jogar a culpa sobre as vítimas.

Quem está com a palavra agora é o Exército, a Marinha, a Aeronáutica.

O que houve com Fernando Santa Cruz, o pai do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil?

Como foram as circunstâncias dessa morte e de tantas outras ocorridas no período em que os militares governaram o Brasil?

Onde estão os restos dos desaparecidos políticos?

A Constituição anda sendo desrespeitada diariamente pelo presidente da República.

É hora de lembrar o que disse o grande Ulysses Guimarães ao promulgar a nossa Carta Magna: “Temos ódio à ditadura, ódio e nojo”.

Ontem foi o dia de sentir nojo.


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Comentários

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maria nadiê rodrigues

Nassif tem razão em dizer que a Globo está vivendo numa baita saia justa. Entrou, de sola, num enredo da nossa História que nos conduziu a esse inferno, onde ela hoje também se encontra, sem saber como dele sair, porque àquele enredo outro está vigente, depois da VazaJato. Até Reinaldo Azevedo, Veja e o Estado de São Paulo, que seguiam a mesma linha da maldita, todos juntos como dizia PHA, formando o PIG, enfim, tem mudado suas pautas, mas para a Globo não é fácil mudar. Talvez por isso ou por aquilo, mas, com quase toda a certeza, porque Moro conseguiu livrá-la de crimes perpetrados visando seus benefícios particulares.
Míriam Leitão, em que pese ser peça-chave da politicagem sabuja, também responsável por essa triste quadra por que passa o Brasil, está tendo um pouco mais de liberdade por dois motivos: 1. por ter sido vítima da ditadura, e 2. porque seus patrões, em tempo hábil(?) pediram desculpas à sociedade por ter apoiado a ditadura.
Enfim, ontem, na ABI vimos uma manifestação exuberante em homenagem ao trabalho digno e importante do Intercept. Em apoio a Gleen um punhado de gente se apertou em multidão dentro e fora da instituição, e, ao final, tivemos o gosto de ouvir Gleen, que foi irrepreensível em cada palavra proferida. Uma lição de jornalismo que a Globo tem que aprender, se quiser sobreviver aos novos e tristes tempos.

a.ali

conseguiste, só ontem, sentir nojo, miriam ?
o br. há muito sente repulsa a tudo que está aí exposto e, vc. tem uma parcela, generosa, nessa maracutaia toda, certo ?

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