Militares lançam nota de repúdio a Aziz, mas Hildegard Angel acha que crimes cometidos por eles precisam ser ensinados nas escolas

Da Redação

A nota dos comandantes militares aumentou a fervura nos bastidores de Brasília.

Provavelmente provocados pelo presidente Jair Bolsonaro, eles repudiaram declaração dada mais cedo pelo presidente da CPI da Pandemia, o senador Omar Aziz (PSD-AM).

Ouçam abaixo, atentamente, o que Aziz disse na CPI:

A nota assinada pelos comandantes militares e reproduzida pelo presidente Jair Bolsonaro em suas redes sociais diz o seguinte:

O Ministro de Estado da Defesa e os Comandantes da Marinha e do Brasil, do Exército Brasileiro e da Força Aérea Brasileira repudiam veemente as declarações do Presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito, Senador Omar Aziz, no dia 07 de junho de 2021, desrespeitando as Forças Armadas e generalizando esquemas de corrupção.

Essa narrativa, afastada dos fatos, atinge as Forças Armadas de forma vil e leviana, tratando-se de uma acusação grave, infundada e, sobretudo, irresponsável.

A Marinha do Brasil, o Exército Brasileiro e a Força Aérea Brasileira são instituições pertencentes ao povo brasileiro e que gozam de elevada credibilidade junto à nossa sociedade conquistada ao longo dos séculos.

Por fim, as Forças Armadas do Brasil, ciosas de se constituírem fator essencial da estabilidade do País, pautam-se pela fiel observância da Lei e, acima de tudo, pelo equilíbrio, ponderação e comprometidas, desde o início da pandemia Covid-19, em preservar e salvar vidas.

As Forças Armadas não aceitarão qualquer ataque leviano às Instituições que defendem a democracia e a liberdade do povo brasileiro.

É importante lembrar que Bolsonaro demitiu os comandantes das três Forças e escolheu aqueles que, em tese, seriam mais próximos dele.

Estão tentando distorcer minha fala e me intimidar. Não aceitarei! Não ataquei os militares brasileiros. Disse que a parte boa do Exército deve estar envergonhada com a pequena banda podre que mancha a história das forças armadas.

— Omar Aziz (@OmarAzizSenador) July 8, 2021

O presidente da CPI reforçou que sua fala foi pontual, como de fato foi (ver o vídeo), mas disse em resposta: “Podem fazer 50 notas contra mim, só não me intimida”.

A nota dos comandantes militares veio depois da entrevista concedida pela jornalista Hildegard Angel ao Viomundo.

Mas, ela comentou no twitter:

Falhou o senador Rodrigo Pacheco em seu apoio unilateral ao teor da nota das FFAA, quando o presidente da CPI de fato não generalizou em seu comentário, foi claro e equilibrado. As FFAA poderiam ter emitido nota quando um general da ativa participou de comício pre-campanha

— Hildegard Angel (@hilde_angel) July 7, 2021

O general a que ela se refere é Eduardo Pazuello, que escapou de qualquer punição apesar de violar o regimento das Forças Armadas em comício antecipado da campanha de Bolsonaro.

O irmão de Hildegard, Stuart Edgart Angel Jones, é um dos desaparecidos pela ditadura militar, quando era estudante de economia e aderiu à resistência armada contra o regime.

Ele foi preso, torturado e assassinado aos 25 anos de idade.

A mãe de Hildegard, a estilista Zuzu Angel, passou a denunciar o crime cometido contra o filho no Brasil e no mundo.

Por isso, os militares forjaram um acidente de trânsito para matá-la, em abril de 1976, no bairro de São Conrado, no Rio de Janeiro, quando Zuzu tinha 54 anos de idade.

Na entrevista ao Viomundo (topo), Hildegard sugere que os militares de hoje simplesmente decidiram ceder às prebendas oferecidas pelo governo Bolsonaro, como a possibilidade de acumular o soldo com o salário de cargos públicos, por exemplo.

Ela não se conforma que os militares tenham aderido ao governo em troca de pixulecos num momento em que milhões de brasileiros enfrentam dificuldades para sobreviver.

Hildegard diz que não está em busca de vingança, mas em nome da memória da mãe e do irmão acredita que sua obrigação é educar as novas gerações sobre como foi viver sob a ditadura militar.

Para ela, é essencial que se inclua futuramente nos currículos escolares as verdades sobre os 21 anos de escuridão da ditadura, quando os militares cassaram, prenderam, torturaram, mataram, desapareceram, arrocharam salários e, acima de tudo, censuraram a imprensa para que a população fosse impedida de saber sobre os bastidores da política, inclusive dos muitos casos ou suspeitas de corrupção.

Sobre os militares que aderiram aos governo Bolsonaro, hoje, ela diz simplesmente que são “vorazes” e “sem pudor”, num país famélico.

Vale a pena ouvir o desabafo de Hildegard.