Jean-Luc Mélenchon tem o que a França precisa. Sarkozy e Hollande, não
Sarkozy tornou a França mais desigual, mas há um candidato presidencial progressista que não se dobrou à austeridade
por Mark Weisbrot, no diário britânico Guardian
O presidente conservador francês Nicolas Sarkozy concorreu em 2007 com um programa que prometia tornar a economia francesa mais parecida com a dos Estados Unidos. Escolheu uma época ruim: os Estados Unidos estavam próximos de sua pior recessão desde a Grande Depressão e arrastariam a Europa e boa parte da economia do mundo depois do colapso. Sarkozy provavelmente não gostaria de ter dito o mesmo hoje, depois que os Estados Unidos ficaram sem praticamente nenhum crescimento econômico em quatro anos.
Mas Sarkozy conseguiu tornar a economia francesa mais parecida com a dos Estados Unidos em alguns pontos. Depois de ser um dos poucos países de alta renda que não tiveram aumento da desigualdade dos anos 80 aos anos 2000, a França se tornou mais desigual desde que Sarkozy foi eleito. Por exemplo, a relação de renda entre pessoas que pertencem ao 1% do topo/1% da base da economia foi de 11.8 para 16.2. Outras medidas da desigualdade também aumentaram significativamente (o coeficiente Gini aumentou de 26,6 para 29,9). Isso aconteceu entre 2007 e 2010; provavelmente está pior hoje. Ao aumentar a idade para a aposentadoria — uma mudança totalmente desnecessária que causou enorme oposição e protesto — Sarkozy ajudou a tornar a França ainda mais desigual.
A comparação entre França e Estados Unidos é boa, já que os dois países têm praticamente o mesmo nível de produtividade por hora. Isso significa que eles têm uma capacidade econômica que permite praticamente o mesmo nível de vida. Os franceses escolheram receber seus ganhos de produtividade em menos horas de trabalho, férias mais longas, serviço de saúde universal, educação superior gratuita, creches e uma distribuição de renda mais equilibrada. Por contraste, nos Estados Unidos mais de 60% dos ganhos de renda das últimas três décadas foram para o 1% mais rico da população. A pobreza atingiu agora os níveis do fim dos anos 60; os custos da educação superior dispararam, não temos feriados ou férias legalmente pagas e 52 milhões de norte-americanos continuam sem cobertura do serviço de saúde (embora isso possa ser reduzido se a Suprema Corte não derrubar o plano de Obama).
A maioria dos cidadãos franceses gosta de sua segurança econômica e de sua prosperidade compartilhada. Parece estranho que alguém com o programa de Sarkozy tenha se elegido e tenha chance de se reeleger. Mas isso acontece principalmente por causa do desconhecimento do público sobre as questões econômicas mais importantes, com ajuda e cumplicidade de uma cobertura midiática distorcida. Como em 2007, o senso comum é de que a França está vivendo além de seus recursos e Sarkozy agora alerta que o país poderá ser a próxima Grécia e enfrentar um derretimento econômico se ele não for reeleito. Sarkozy promete equilibrar o orçamento nacional até 2016.
Infelizmente seu rival socialista, François Hollande, promete equilibrar o orçamento até 2017. Naturalmente que existem algumas importantes diferenças entre eles, mas se algum dos dois candidatos implementasse um programa de austeridade fiscal desta magnitude enquanto as economias francesa e europeia estão enfraquecidas, é quase certo que o desemprego e os problemas sociais iriam piorar. E a França perderia algumas de suas importantes conquistas econômicas e sociais.
Felizmente a França tem uma alternativa mais progressista: Jean-Luc Mélenchon, apoiado pela Frente de Esquerda. Ele parece ser o único na disputa que entende as verdadeiras escolhas econômicas diante da França e da eurozona. A França não precisa de austeridade — isso aumentaria a chance dela acabar sendo a próxima Grécia. Mélenchon propõe, em vez disso, que o Banco Central Europeu cumpra sua tarefa e faça empréstimos à França e a outros governos europeus com taxas de juros de 1%, da mesma forma que faz para os bancos privados. O peso dos juros pagos pela França em sua dívida já são razoáveis, representando cerca de 2,4% do PIB; se puder continuar emprestando com custos reduzidos, a França crescerá para fora dos seus problemas atuais, criando empregos e aumentando a renda no processo. Isso é política macroeconômica sensível.
Mélenchon também quer reduzir as horas de trabalho, aumentar o salário mínimo e os impostos dos mais ricos. Ele rejeita a estupidez do orçamento equilibrado — como a maioria dos economistas norte-americanos faz — e também rejeita a falta de compromisso do Banco Central Europeu com o pleno emprego. Isso também faz sentido, especialmente em um momento de recessão no qual o BCE pode emitir dinheiro (o Tesouro americano emitiu U$ 2,3 trilhões desde 2008) sem risco de inflação excessiva.
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Nas eleições francesas, os dois primeiros colocados vão para o segundo turno se, como parece provável, nenhum conseguir a maioria no primeiro turno. Mélenchon aparece nas pesquisas com cerca de 15%, mas provavelmente teria mais se não houvesse medo dele empurrar o partido socialista para fora do segundo turno. Isso aconteceu em 2002, quando o candidato da ultradireita e anti-imigrantes ficou em segundo lugar. Mas não existe uma chance significativa disso se repetir este ano; Marine Le Pen aparece com cerca de 13%. Assim, qualquer pessoa que pretenda preservar o nível de vida dos franceses deveria votar em Mélenchon.
Comparado com os Estados Unidos, é muito mais fácil para o candidato de um terceiro partido na França obter significativa influência política sem vencer. Hollande já se moveu à esquerda para capturar votos da Frente de Esquerda e Mélenchon terá o poder de barganha ao definir quem apóia no segundo turno. Com os dois maiores partidos assumindo o compromisso com políticas econômicas que vão derrubar o nível de vida da maioria dos franceses — em 2007 foi apenas Sarkozy que assumiu este compromisso — é difícil imaginar ocasião melhor para votar fora do convencional.
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