marxismo21 homenageia Chico de Oliveira: Criativo pensador, bravo e generoso companheiro

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Chico de Oliveira (1933-2019)

HOMENAGEM A CHICO DE OLIVEIRA

marxismo21, via professor Caio Navarro Toledo 

Nascido em Recife, em 1933, Francisco Maria Cavalcanti de Oliveira graduou-se pela Universidade do Recife (atual Universidade Federal de Pernambuco – UFPe) nos anos 1950 e trabalhou intimamente com Celso Furtado na SUDENE.

Logo nos primeiros dias de abril de 1964 foi preso pela ditadura militar e esteve detido por dois meses na capital pernambucana.

A convite de Octavio Ianni –, integrou-se ao Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), importante núcleo de pesquisa sobre a realidade brasileira e que, a partir de 1969, passou a se destacar como um reduto de resistência da intelectualidade democrática à ditadura militar. Entre 1993 a 1995, foi presidente deste Centro.

Em 1972, publicou Crítica à razão dualista – um ensaio que, de forma criativa e original, questionou leituras e interpretações clássicas sobre o desenvolvimento capitalista no Brasil.

Nele, o autor, sob a orientação de suas leituras de Marx,  procedeu a “acerto de contas” com sua influência cepalina/furtadiana.

Anos depois, em 1977, ainda no Cebrap, lançou Elegia para uma re(li)gião, uma análise crítica das concepções e atividades da Sudene no período anterior ao golpe de Estado de 1964. Um livro que, nos anos recentes, julga estar teoricamente superado. A relação completa de seus trabalhos, feita por um pesquisador de sua obra, pode ser conhecida aqui.

Em 2003, O ornitorrinco, juntamente com o ensaio de 1972, foi publicado por Boitempo editorial.  Para ele, como informa o blog de sua editora, este seria seu “livro favorito”. Em 2004, a obra seria agraciada com o Prêmio Jabuti em Ciências humanas.

Como outros pesquisadores de esquerda, cassados ou “malditos” pela ditadura militar, foi convidado a trabalhar na PUC-SP (1980-1988).

Em 1988, passou a integrar o quadro docente do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas.

Atualmente, era professor titular aposentado da FFLCH-USP e continuava ativo junto grupo de pesquisadores do Cenedic-USP.

Foi dignificado com vários prêmios acadêmicos por universidades brasileiras. Mas, nunca deles se vangloriou, pois estava permanentemente mobilizado na intransigente defesa da universidade pública, gratuita e de qualidade e na democratização de todas as suas instâncias de decisões.

Igualmente, na melhor tradição do pensamento crítico, foi um intelectual que nunca se omitiu diante dos desafios políticos postos pelas conjunturas políticas vividas. Foi um arguto, incansável e respeitoso polemista dentro e fora da universidade,

À esquerda do “marxismo acadêmico”, Chico de Oliveira – por meio de debates e palestras junto às entidades sindicais de servidores, centros acadêmicos estudantis, associações de docentes, sindicatos de trabalhadores e movimentos sociais populares – sempre se solidarizou com as reivindicações democráticas defendidas por estes setores.

Foi assim que, em setembro de 2009, aceitando o apelo de docentes, servidores e estudantes se tornou candidato à Reitoria da USP – na verdade, uma autêntica anticandidatura; por meio dela, buscou ser apenas o porta-voz dos setores críticos das desastradas e autoritárias reitorias de sua universidade.

Chico de Oliveira também teve uma participação direta na política partidária de esquerda.

No início dos anos 1980, foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores; mas, desde sua fundação, manteve-se distante da burocracia partidária.

Em 2003, rompeu publicamente com o PT por considerar que o governo Lula, ainda em seu primeiro ano, estaria “aprofundando a chamada `herança maldita´ de FHC e tornando-a irreversível”.

Em dezembro de 2003, afirmou em artigo: “não votei para esse aprofundamento, mas contra ele.”

Desde então, se aproximou do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) sem, contudo, se tornar um “intelectual orgânico” do partido.

Embora nos últimos anos estivesse com a saúde combalida, Chico de Oliveira permaneceu com a aguda lucidez que o caracterizou como combativo intelectual de esquerda; determinado e incansável, jamais ensarilhou as armas da crítica na luta pela realização de suas convicções democráticas e anticapitalistas.

Neste sentido, os setores progressistas, democráticos e, em particular, os socialistas que – na atual conjuntura política brasileira têm sofrido amargas e significativas derrotas políticas – não podem senão lamentar a perda deste criativo pensador e generoso companheiro d´armas.

Este breve dossiê é uma singela homenagem à fecunda e generosa existência do bravo combatente.

Chico de Oliveira, PRESENTE!

Editoria de marxismo21 / 12 de julho de 2019.

 


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Zé Maria

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Às vezes o ato isolado de uma pessoa insensata destrói décadas
de Construção de uma Cultura de Paz e Tolerância na Sociedade.
O Fanatismo, de qualquer ordem, só constrói Ódio e Intolerância.

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