Marcos Coimbra: Os partidos no novo Congresso

Tempo de leitura: 3 min

por Marcos Coimbra, em CartaCapital

Tomaram posse na segunda-feira 1º os senadores e deputados eleitos em outubro. Com o terço não renovado do Senado, vão formar a 54ª legislatura, que constituirá o Legislativo nacional durante o governo Dilma.

Mais que qualquer outra, é a legislatura mais afetada por decisões do Judiciário que já tivemos. Especialmente no Senado, mas também na Câmara, os empossados não foram, muitas vezes, aqueles que venceram as eleições em seus estados.

O motivo é justo. Trata-se de uma consequência da Lei da Ficha Limpa, apoiada pela maioria do País. Ainda assim, é lamentável que tenhamos feito uma eleição cujos resultados eram imprevisíveis. Os candidatos que podiam ser enquadrados corriam um risco calculado e tinham consciência de que os votos recebidos talvez não valessem. O mesmo não se aplica aos eleitores certos de que seu voto seria contado.

Não custa repetir que em nada avançaremos na consolidação de uma cultura democrática sem uma legislação eleitoral estável, que os cidadãos possam conhecer e compreender. Em vários estados, o eleitor votou em A e levou B, o que poderia ter sido evitado se os nossos legisladores quisessem. E, como a validade da Ficha Limpa na eleição de 2010 ainda não foi confirmada pelo Supremo, a indefinição persiste.

A principal característica do novo Congresso é o aumento do peso do PT e da coligação que apoia o governo, seja na Câmara, seja no Senado. O PT é o único dos grandes partidos que sempre cresceu desde a sua fundação, com uma única exceção, em 2006, quando pagou o preço do mensalão: oito deputados em 1982, 16 em 1986, 35 em 1990, 50 em 1994, 59 em 1998, 91 em 2002, 83 em 2006 e 88 agora. Nesta legislatura, é o maior partido em número de deputados e o segundo no de senadores.

Dilma se relacionará com uma Câmara na qual os partidos que a apoiaram na eleição terão 311 cadeiras, que representam 60% do total. Se considerarmos todos que estavam com Lula, teria perto de 400 deputados a seu lado. Neste cenário, poderia contar com, aproximadamente, 75% dos integrantes da Casa.

O bloco oposicionista (PSDB, DEM e PPS) perdeu tamanho e substância. Na Câmara, recuou de 163 deputados, na última legislatura, para 109 nesta, uma redução de 33%. No Senado, não voltaram algumas de suas vozes mais falantes e, de 29 votos, passou a 16, caindo quase pela metade.

É provável que a derrota de José Serra não seja a única causa dessa debacle, mas tudo indica que deve ter contribuído. Apesar de muitos candidatos dos três partidos terem evitado identificar-se com Serra, todos acabaram pagando o preço pelos erros de sua campanha.

Um segundo traço do novo Congresso é a pulverização partidária. Na Câmara, 22 partidos terão representantes; no Senado, 15. Salta aos olhos que números assim fazem pouco sentido. Não existem diferenças reais de opinião na sociedade brasileira que justifiquem tamanha fragmentação. Resolver esse problema é mais um item importante da reforma política prometida.

Pelo que se pode antecipar, o governo Dilma se relacionará com o Congresso de uma maneira diferente da que nos acostumamos. Mais que em qualquer outro momento de nossa história política moderna poderemos ter uma efetiva independência entre os Poderes, que foi pouco mais que uma ficção no presidencialismo híbrido que nossa Constituição consagrou e que experimentamos de 1988 para cá.

Entre as muitas coisas originais no seu governo, Dilma é o primeiro chefe do Executivo sem biografia congressual. Sarney, Collor, Itamar, Fernando Henrique e Lula tinham passado pelo Legislativo (com maior ou menor gosto), sabiam pensar e se comportar como políticos profissionais. Ela, não. Embora habituada a conviver com senadores e deputados, para Dilma, a fronteira entre os Poderes é, provavelmente, mais nítida que para seus predecessores.

Dilma no Planalto, um novo Congresso, o Supremo completo. Brasília está pronta para começar um período em que a maioria do País aposta.


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Comentários

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Domngos

Tem que acabar essa história de trocar apóio por cargos, o que interessa é o BRASIL. Os mais competentes e honestos precisam estar à frente dos ministérios. A presidenta sabe disso e vai fazer o melhor.

everaldo

A Dilma não vai expulsar o PMDB do salão, só está mudando a música, quem não quiser, ou nao souber, dançar que vá sentar. O risco é que apareçam bailarinos mais hábeis, e aí … baile nunca mais.

monge scéptico

Um partido, ums vontade nacional de "queimar" etapas em todos os campos,
para poder enfim exercer de fato a democracia, que nos empurram como sen-
-do essa dispersão, que não conduz a carroça, a lugar algum.
O BRasil não precisa de partidos; precisa de um partido e, uma vontade, uma
direção a ser seguida pela nação inteira; um por todos e todos por um".
Tal idéia é risível,porque encontrariamos muitos, esperandos uns pelos outros.
É só uma idéia estapafúrdia. Dessas que passam.Não somos a CHINA.
PARTIDO ÚNICO; PT. Isso é só uma provocação pessoal.

    Alex

    a título de informação existe pluripartidarismo na China, muito embora a direção geral do Estado Nacional chinês caiba ao Partido Comunista

Jairo_Beraldo

Espero que os senhores promotores e magistrados do TSE tenham a lisura de continuar a julgar também os membros do executivo, como fora feito com Cunha Lima(PB), Jackson Lago(MA) e Marcelo Miranda(TO). Tem muito malandro a solta nos palácios estaduais, que precisam ser barrados. O que vale para um, tem que valer para todos.

aldo luiz

Caro Azenha, "dentro da caixa" não há salvação. A (velhíssima) nova ordem mundial escravagista vem usando a combinação de várias táticas de seus jogos de guerra (Pentágono) sob o comando da arma chamada HAARP para desestabilizar em insuspeito genocídio as populações (milenarmente escravizadas e em permanente fratricídio) enquanto midiotizadas assistem ao futebol, novelas e bbbs se empanturrando de drogas lícitas e ilícitas e tudo aquilo que intencionalmente as adoece e mata; internacionalmente. E os políticos estão aí para nos manter ocupados, discutindo no vazio labirinto do nada, a indecorosa ilusão de que temos liberdade de escolha. Enquanto isto, os divinizados intocáveis banqueiros com sua escassez planejada de tudo, se divertem contando as doações de mais juros sobre juros, que aterrorizado, honestamente, o povo corre a depositar para tentar se socorrer. É O CRIME PERFEITO… Quem somos nós? Para onde estão nos levando estes "flautistas de Hamelin" ? Pense nisso, sinto muito, sou grato.

    Klaus

    Pobres crianças…

Alan Tern

Espero que a cada eleição o PT possa depender menos do PMDB, esse lobo em pele de cordeiro…

    Gerson Carneiro

    O PT foi esperto: passou uma coleira no lobo em pele de cordeiro agora o mantém preso na corrente sob controle, bem melhor do que tê-lo rondando, rosnando e mostrando os dentes, incitado por velhos lobos em pele de lobos.

    Alan Tern

    Sei não, Gerson… Temer e Sarney estão em posições muito fortes, consequência da influência que o PMDB ainda tem. Infelizmente, Dilma e o PT devem favores ao lobo…

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