Marcelo Silber: Honrando a memória do meu avô

Tempo de leitura: 2 min

por Marcelo Silber*, especial para o Viomundo

Caros Amigos

Sempre gostei de ouvir histórias, e quando era pequeno, gostava das histórias contadas pelo meu avô materno, Meir  Bojmel, meu querido vovô Maurício.

Nascido em Lutz, Polônia, emigrou aos 17 anos para o Brasil e segundo ele não teve uma infância feliz. Sua família era muito pobre, mas não era este o problema.

Ele se queixava da discriminação e do antissemitismo que sentia em sua vida diária (não pode fazer o ginásio por ser judeu) e com a ajuda do cunhado que morava em Formiga, Minas Gerais, emigrou para o Brasil.

Se apaixonou pelo país: “Marcelinho, é o melhor pais do mundo. Povo bacana, clima maravilhoso, oportunidade para todos”. Gostava de política, falava sempre de Getúlio Vargas e que o dia mais importante de sua vida foi quando se naturalizou brasileiro, quando jurou a bandeira no Estádio do Pacaembu em 1942. Herdei do meu querido avô o amor pelo Brasil.

Mas o menino cresceu e começou a perceber que  o país tinha algumas coisas esquisitas…

O mito da democracia racial era uma delas.

Milhões de africanos (as) foram escravizados no Brasil por mais de 350 anos. Foram chicoteados, assassinados.  Marcados a ferro, desumanizados e trabalharam sob o regime de escravização.

Estamos nos transformando numa sociedade intolerante. Gays são espancados na rua, nordestinos são violentamente ofendidos em redes sociais após um simples jogo de futebol, as nossas mulheres são obrigadas a realizar abortos em clínicas clandestinas com altas taxas de mortalidade.

Todos, principalmente as pessoas que ocupam espaços importantes na nossa sociedade, deveriam sempre se lembrar disso (Lembrando sempre que o candidato derrotado à presidência da República, que teve 44 milhões de votos, ou seja, fatia importantíssima da opinião pública se aliou aos setores mais retrógrados da nossa população, que apóiam explicitamente o preconceito, a intolerância e a discriminação).

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Fiquei triste com as manifestações explícitas de antissemitismo que explodiram esta semana, inclusive com piadas jocosas sobre Auschwitz, lugar onde pereceram várias pessoas da minha família. Triste sim, mas, infelizmente, não fiquei surpreso…

Nós judeus, demos ao mundo, a invenção do monoteísmo ético, que produziu três grandes religiões, a saber: Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. Desempenhamos papel importante na evolução dos dois sistemas econômicos que prevalecem no mundo contemporâneo, o capitalismo e o socialismo, ajudamos a desvendar os mistérios da psique humana e demos ao mundo inúmeros progressos nas artes, ciências e medicina.

Ajudamos a dar contribuições também ao Brasil. Faço minhas as palavras do Presidente Lula:

“ Venho de um país que recebeu dezenas de milhares de imigrantes judeus, perseguidos em suas terras de origem pela intolerância étnica, cultural e religiosa. A contribuição que esses imigrantes e seus descendentes deram e continuam dando ao Brasil é extraordinária. Ela está em nossa literatura, com Clarice Lispector e Moacir Scliar; em nossas artes visuais, com Lasar Segall e Carlos Scliar; em nosso cinema, com Leon Hirszman. Ela é ainda mais visível no mundo da ciência e da cultura, na atividade empresarial e na atividade política”.

O site Viomundo é um espaço importante. Cabe a nós fazer dele uma mola propulsora do debate civilizado de idéias e combate a todas as formas de antissemitismo, preconceito, racismo e intolerância, ajudando a fazer do Brasil, como dizia o meu avô, o melhor país do mundo.

* Marcelo Silber é médico pediatra, em São Paulo, e leitor assíduo do Viomundo.

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