Luciano Chagas: Globo enganou o público ao “desmentir” Ciro sobre negócio desastroso da Petrobrás

Tempo de leitura: 7 min
Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Reprodução de vídeo

Globo falseia números sobre venda de Carcará

do site da Aepet

Na entrevista que deu ao canal Globo News, na quarta-feira (01), o candidato à presidência Ciro Gomes (PDT) disse que a venda do campo Carcará, no pré-sal, à estatal norueguesa Equinor (ex-Statoil), foi subavaliada pela Petrobrás e que esta privatização deve ser revogada.

Para embasar sua tese, Ciro Gomes citou dados divulgados pela AEPET [Associação de Engenheiros da Petrobrás].

Após a entrevista, o portal G1, da mesma Globo, publicou um “Fato ou Fake”, onde tenta desqualificar as afirmações do candidato do PDT.

Segundo o G1, “a petroleira norueguesa Statoil, que mudou o nome recentemente para Equinor, pagou US$ 2,5 bilhões à Petrobras por 66% no bloco BM-S-8, onde fica parte do campo de Carcará, na Bacia de Santos. A empresa estima o volume de reservas recuperáveis na área entre 700 milhões a 1,3 bilhão de barris de óleo. Considerando a participação adquirida, cada barril de reserva de petróleo, portanto, foi vendido por um valor entre US$ 2,9 e US$ 5,4. Em seguida, a estatal norueguesa vendeu metade da sua participação para a norte-americana Exxon, sua parceira no campo, por US$ 1,3 bilhão. Nessa transação, cada barril custou entre US$ 3 e US$ 5,6, valores muito próximos aos que foram pagos à Petrobras”.

Como a contestação da emissora também atinge as posições da AEPET quanto à venda de Carcará, entrevistamos o geólogo e consultor Luciano Seixas Chagas que afirma que a Globo criou outra “fake fake news” (falsa notícia sobre notícia falsa).

Luciano Seixas Chagas, sócio e articulista da AEPET, também é experiente em cubagem de volumes, responde a algumas questões básicas sobre a venda de Carcará à Equinor.

Após a entrevista, num artigo técnico, ele esclarece ainda mais o dano da venda de Carcará.

AEPET – Acertou, mentiu ou errou o candidato Ciro Gomes?

Luciano – Acertou. O que a Globo News para desmentí-lo tenta passar a ideia que valores de venda foram consonantes com os preços internacionais o que é uma absoluta inverdade, pois usa estimativas absurdamente conservadoras de volumes algo entre 0,7 a 1,3 bilhões de barris,levando o público informações incompletas.

Como consequência, a globo obtém números questionáveis de valor para cada barril, relacionando-os sempre aos volumes mínimo e máximo estimados pelos 66% que a Petrobras possuía ou seja sobre 0,46 bilhões de barris (66% de 700 milhões) ou 0,86 milhões (66% de 1,3 bilhões) obtendo os pífios valores de US$ 5,6 a US$ 3,0 por cada barril vendido.

Isso caracteriza um absurdo na forma o modo de expor os fatos calcados em números, levando o público informações incompletas e falsas (fakes) que tanto diz combater diuturnamente, desinformando, interpreto, em favor dos seus propósitos eleitorais.

AEPET – Ao contestar o candidato, após a entrevista, com tempo para pesquisar (etc), o que o G1 trouxe de novo?

Luciano – Absolutamente nada além de tentar minar, a meu ver, a credibilidade do Ciro Gomes. Nem procurou ouvir outros especialistas como é feito pelo jornalismo sério.

AEPET – Antes de publicarmos seu artigo técnico, resuma em cinco linhas o porquê do erro financeiro e estratégico da venda de Carcará.

Luciano – A venda foi de áreas muito maiores do BM-S-8 que, além de conter Carcará, tem mais 2 prospectos chamados Guanxuma (uma já acumulação após a recente descoberta anunciada) e um outro, na porção Oeste que pode trazer boas surpresas.

Assim, além dos volumes recuperáveis que estimamos de 2 bilhões de barris só para Carcará, com 90% de chance de ocorrerem , ainda tem 0,6 bilhões de barris estimados para Guanxuma, com os mesmos 90% de chance e outro recurso prospectivo, mais a Oeste, onde não foi feita qualquer estimativa volumétrica.

Também a venda levou à desastrosa decisão de não comprar o ativo Carcará Norte, já sem risco e com volumes muito semelhantes aos de Carcará, por ser um reservatório contínuo e contíguo.

O “bom gestor” senhor Paulo Parente decidiu não participar do leilão da venda.

Abaixo, o artigo de Luciano Chagas:

Os volumes recuperáveis estimados em Carcará, pela compradora, na época Statoil, eram entre 0,7 a 1,3 bilhões de barris recuperáveis, range este por demais esticado e incompatível com a suíte de dados disponíveis na época, segundo as melhores práticas de certificação de volumes calcadas nos dados dos 3 poços já perfurados, sem que fosse detectada a presença de água em quaisquer um dos 3, que os geólogos, geofísicos e engenheiros chamam de contato óleo água.

Que fique bem claro que, por enquanto, todos falamos de estimativas.

Nestes casos, para efeito de cálculo volumétrico, usa-se a maior profundidade do último óleo encontrado no reservatório por um dos poços perfurados, e se assume ser esta a profundidade do contato óleo/água mais provável (most likely), que todo o mundo petrolífero sabe que são volumes subestimados, pois além desta profundidade ainda tem petróleo.

Assim, com uma cota estrutural determinada e o mapa com tal valor de “curva de nível” se delimita a área e, depois, se calcula o volume de rochas, multiplicando-se pela altura média algo que os geólogos e engenheiros chamam de fechamento estrutural, que define ou volume estrutural limitado pela cota inferior, a assumida como contato.

Em Carcará os dados de pressão e seus respectivos gradientes do petróleo, confrontados com o gradiente da água, também nos permite concluir que, na área, há mais volume que todos os até então calculados, corroborando as assertivas anteriores sobre volumes maiores.

É algo como o que na justiça, é caracterizado como evidência.

E evidência não é indício, apesar de ainda não conclusiva sobre volumes provados.

Calculado o volume de rocha, o volume poroso é obtido, primeiro, a partir das medidas de porosidade em todos os poços (o valor médio de porosidade de Carcará é maior de todo o pré-sal, com 16% médio contra 12% dos outros reservatórios).

Depois, com as medidas de porosidade de cada poço, estas são confrontadas com os atributos sísmicos e, assim, são feitos os mapas que os geofísicos chamam de impedância ou inversão (que significam, a grosso modo, variações de porosidades) e assim, através de relações biunívocas confiáveis, ou através de variogramas estatísticos, o volume poroso fica determinado segundo as suas heterogeneidades nos reservatórios, para toda a área encerrada dentro do contorno estrutural.

Depois, também com base nas propriedades do poço, especificamente dos perfis (espécie de radiografia do poço), ou de resistividade ou de outro, o de ressonância magnética, calcula-se quanto do volume poroso tem de petróleo ou a sua saturação em óleo e em água que, no caso de carbonato do pré-sal, a rocha está molhada (tensão de adesão) por óleo, indicando que praticamente todos os poros estão preenchidos exclusivamente por petróleo.

Para terminar, como os cálculos são feitos com base nas condições de superfície, através de uma divisão (óleo) e/ou uma multiplicação (gás) algo que denominamos fator volume de formação (Bo ou Bg respectivamente), calculam-se os volumes nas condições de reservatório.

Com um volume de óleo calculado, arbitra-se um fator de recuperação e assim se obtém os volumes recuperáveis ou as reservas, se estas forem calculadas após a completa delimitação do reservatórios com poços aferidores.

Ranges elevados significam incertezas forçadas, concluo, como os valores de volumes publicados na compra, sempre a e em favor do comprador.

O volume de petróleo recuperável, exclusivamente de Carcará e no Bloco BM-S-8, com 90% de chance de ocorrer é de 2 bilhões de barris de óleo equivalente (boe), podendo chegar até a 6 bilhões boe, sendo 4,65 bilhões de óleo e 1,44 bilhões de gás como óleo equivalente, na probabilidade de 10% (P10).

Desafio a Statoil a mostrar os números e métodos usados nos cálculos, como também a Petrobras.

Como eu próprio fiz os cálculos com base em mapas e probabilidades (análise determinísticas e probabilísticas) e estes pertencem a empresa que eu era sócio minoritário e diretor, não posso torná-los públicos aqui, exceto se autorizado, por razões éticas e de contratos pretéritos que assinei e honro na sua integridade.

Outro modo de se estimar volumes se faz através de análises exclusivamente probabilísticas.

Neste caso usa-se como área circunscrita a maior “curva de nível fechada”, que representa a maior profundidade, e a área circunscrita pela curva assumida como mais provável (most likely) e com este range de máximo e mínimo, respectivamente, se calcula a área media com 50% de chance (P50).

Com a maior e menor altura, calcula-se espessura média e assim se faz sucessivamente para todos os outros parâmetros.

As P90 e P10 de todos os fatores são as probabilidades máximas e mínimas, respectivamente, após as diversas e sucessivas interações dos parâmetros de entrada que têm como saída os volumes.

De novo reafirmo que os volumes de Carcará são de 2 bilhões, 4 bilhões e 6 bilhões boe, nas probabilidades de ocorrência de 90%, 50% e 10%, respectivamente.

Quanto aos valores, estão certos os números mostrados pela Globo na negociação da cessão onerosa no cenário da época.

Está absolutamente errado dizer que a Petrobrás recebeu de graça 5 bilhões de barris.

A União foi devidamente paga com o dinheiro da capitalização da Petrobrás, por ocasião da definição dos volumes da cessão onerosa.

Usando por mera deferência os números da Globo News, se o petróleo enterrado valia US$ 8,51 a US$ 75/bbl, então a US$ 40/bbl, numa simples regra de três, valeria US$ 4,53.

Se são 1,3 bilhões de barris, os 66% da Petrobras seriam 0,858 bilhões de barris que daria US$ 2,91/boe na venda, ou 64% do preço dito como real de US$ 4,53.

Já com os 2 bilhões de barris (P90) os 66% seriam 1,32 bilhões e o valor da venda US$ 1,9/boe ou 42% de US$ 4,53.

Como também não há contato óleo/água, com os 6 bilhões de barris (P10) os 66% seriam 3,96 bilhões boe ou US$ 0,63/boe ou 14% de US$ 4,53.

Quaisquer dos valores apontam claramente a sub valorização do ativo em quaisquer cenários ou com quaisquer cálculos.

Isto sem contar que a sísmica tem sido muito mais considerada e que agora é mais valorizada por todos, como uma grande mitigadora de riscos exploratórios.

Esta é a razão principal dos grandes players estarem ávidos por nossos ativos.

Isso também significa que, se não há risco, o valor nominal do óleo ainda enterrado é substantivamente maior que os US$ 4,53 aqui considerados com petróleo a US$ 40/boe, como é importante ressaltar que o preço atual voltou para o patamar dos US$ 75/bbl.

Pior, no bloco BM-S-8 negociado a Statoil ou Equinor anunciou a descoberta de Guanxuma, faltando divulgar a produtividade do poço que, certamente, será elevada, como já tinha sido alertado e vaticinado.

Os volumes que estimei para os 2 prospectos de Guanxuma, mapeados, com um já descoberto, estão na casa de 0,6 bilhões de barris, o que evidencia mais uma vez ou acentua que a venda de Carcará foi um absurdo, uma aberração gerencial.

Pior ainda. Os gerentes deixaram de comprar ou de exercer os direitos de compra dos 30% que podiam do ativo Carcará Norte, um ativo sem quaisquer riscos e com óleo em montantes semelhantes aos de Carcará.

A Equinos, Exxon e Galp que o digam, em grande júbilo.

E o catastrófico é que depois de vender óleo já descoberto, os gerentes atuais da Petrobrás perderam no valor do lance no leilão ANP do ativo Uirapuru, ainda sem descoberta, mas de iguais característica de Carcará, mas, acertadamente, exerceram o direito de participar dos 30%, mostrando o verdadeiro pandemônio e desconhecimento em gerenciar empresa de petróleo da gestão tão elogiada pela Globo, principalmente na época do “magnânimo” e “brilhante” senhor Pedro Pullen Parente, algo que o inesquecível Sérgio Porto caracterizaria como gestão própria do FEBEAPÁ (festival de besteira que assola o país) .

Assim a Globo, ao invés de analisar corretamente a fala do Ciro, continua a inventar novos e very news fakenews e isto não é próprio do País que eu quero, ouvindo sempre falácias da rede Globo.

Sua área econômica então? Se alguém segue as tendências por ela divulgadas, certamente falirá?

Minha análise não tem qualquer viés partidário. Apenas ético e de acordo com a verdade que é sempre modal, por ser a de mais uso.

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Comentários

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carlos

É recorrente uma lei de regulação da mídia, que não existe, é por isso que o todo poderoso grupo de mídia chamado rede globo de enganaçao, ou melhor fake news pinta e borda casa e batiza, quando na verdade deveria era ser responsabilizada criminalmente até a nossa justiça estão condenando com base em noticias da globosta.

lando carlos

as forças armadas e uma vergonha e motivo de chacota no mundo inteiro fala grosso com o povão brasileiro,e fala fino com os norte americanos

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