Luciana Genro: “Nem Temer, nem Dilma” será testado nas eleições municipais; Psol tem chance de vitória em Porto Alegre, Rio e Belém

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Demonizado por petistas, junho de 2013 é abraçado por Luciana Genro, que sai na frente na disputa pela prefeitura de Porto Alegre

por Luiz Carlos Azenha

O Estadão foi direto ao assunto: Planalto teme que pedido de prisão de Renan atrapalhe o impeachment.

O ministro Gilmar Mendes, com sua tradicional imparcialidade, sugeriu que o procurador-geral Rodrigo Janot vazou a notícia dos pedidos de prisão da cúpula do PMDB para pressionar o colega Teori Zavascki.

A Folha, em editorial, criticou Janot.

A mídia velha, como se sabe, está investida 100% no afastamento definitivo de Dilma Rousseff.

Através do PSDB, que ocupa os postos-chave na economia do governo interino, a mídia velha espera obter oportunidades de negócio como as que surgiram quando Fernando Henrique Cardoso promoveu a primeira onda neoliberal nos anos 90.

Temer, por sua vez, já sinalizou que pretende usar dinheiro público para recompensar aliados. Às favas com o republicanismo do PT.

O corte de R$ 8 milhões em publicidade oficial da blogosfera de esquerda, que desafina do discurso único dos Marinho-Frias-Mesquita-Civita, é acima de tudo um sinal aos barões da mídia: fiquem espertos!

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Pelo comportamento do Estadão e da Folha, deu certo: há um limite às denúncias contra Temer e o entorno com o qual ele precisa contar para se sustentar no poder.

O limite é não provocar a derrocada de Temer no Senado, mesmo que para isso seja preciso engolir em seco o voto da deputada tia Eron para salvar o mandato de Eduardo Cunha.

Cunha, afinal, tem os votos para passar na Câmara todas as reformas que interessam ao PSDB e à mídia.

Assim como Romero Jucá continua atuando nos bastidores, mesmo oficialmente afastado do ministério, Cunha é um morto-vivo que pode prestar grandes serviços ao golpe!

DILMA: CAINDO A FICHA

O senador Roberto Requião (PMDB-PR) diz que Dilma pode obter 30 votos no Senado se prometer um plebiscito que convoque eleições gerais assim que reassumir o Planalto.

Dilma precisa de 28 para enterrar o impeachment.

Ainda assim, Luciana Genro está pessimista.

A candidata do PSOL à Prefeitura de Porto Alegre não acredita que as cúpulas do PMDB-PSDB-PT estejam dispostas a romper com as propostas mais ou menos conservadoras para salvar a economia brasileira no contexto de uma profunda crise internacional.

Ela acredita que o teste do “Fora Temer, Fora Dilma” se dará nas eleições municipais deste ano.

Luciana merece crédito pela resiliência. Ela foi duramente atacada nas redes sociais quando propôs eleições gerais antecipadas mesmo com a discordância de algumas das mais importantes lideranças de esquerda, inclusive do Psol.

“Vejo que esta é uma bandeira que tem crescente apelo popular”, diz.

Fato: segundo pesquisa CNT/MDA divulgada hoje, 54,8% dos entrevistados afirmam que governo Temer é igual ao de Dilma, 14,9% dizem que está pior, 20,1% que está melhor. O apoio à antecipação das eleições é de 50,3%.

Luciana se coloca claramente como uma alternativa eleitoral, à moda de Bernie Sanders nos Estados Unidos e do Podemos na Espanha.

Embora não pretenda ser a candidata de seu partido ao Planalto, se de fato houver eleições antecipadas, ela diz que as eleições municipais de 2016 podem demarcar este novo campo político: o dos que, no Brasil, encarnem a luta contra os privilégios do 1%.

Proposta mais geral? Reforma tributária para cobrar a conta dos bancos, limite às remessas de lucros das multinacionais, privilégio ao interesse nacional, auditoria da dívida interna.

CONEXÃO COM JUNHO DE 2013

No plano municipal, a ideia é se conectar aos movimentos sociais autônomos. No caso de Porto Alegre, especialmente com os que batalham por moradia, pelos direitos das mulheres e LGBT. Contra a especulação imobiliária no cais do porto do Guaíba.

São as “novas forças políticas e sociais”, no dizer de Luciana, que acredita que os partidos políticos E os movimentos sociais institucionalizados tenham igualmente perdido legitimidade.

Enquanto petistas enxergam em junho de 2013 o início de uma revolta instrumentalizada pela direita para extinguir as conquistas dos governos Lula e Dilma, Luciana vê a expressão de um profundo divórcio entre as instituições e os eleitores.

Ela reconhece a importância dos programas sociais da era Lula/Dilma, mas diz que são “as bordas do bolo”, enquanto o recheio continuou na mão de poucos.

O repórter, provocador, quer saber da ex-candidata do Psol ao Planalto a explicação para o fato dela, ontem, dizer que não era golpe, mas agora assumir que, sim, Dilma foi golpeada.

Luciana argumenta que nunca aceitou tratar-se de um golpe à moda do de 64, como pretendiam os petistas.

Ela admite que as gravações recém-reveladas de Romero Jucá demonstram, sim, tratar-se de uma manobra, “um golpe, se você quiser chamar assim”, contra o andamento da Operação Lava Jato — mas que não deu certo.

Aqueles que acreditavam que a Lava Jato era apenas uma ação contra o PT estão sendo desmentidos, afirma Luciana, que apoia a operação mas faz ressalvas ao comportamento do juiz Sergio Moro.

O repórter, em dia de provocador, cutuca a candidata do Psol à Prefeitura de Porto Alegre: “Luciana, e se houver eleições antecipadas, você for candidata e perder para o Lula?”.

“A gente não pode defender só as eleições que pretende ganhar”, responde.

Mas, sendo de fato um golpe — como você agora admite — por que não aceitar pura e simplesmente a volta de Dilma e o cumprimento do mandato até 2018?

“Eu não acho que um governante tem de cumprir mandato de 4 anos se ele está traindo seus compromissos de campanha”, afirma Luciana, se arriscando mais uma vez a polemizar com muitas lideranças de esquerda, inclusive do Psol.

Ela diz que se lembra perfeitamente de uma propaganda eleitoral de Dilma em que uma família, em torno de uma mesa, denunciava o risco da perda de direitos em caso de vitória de Aécio Neves.

Assim que Dilma venceu e assumiu, relembra Luciana, a petista escolheu Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda e passou a adotar medidas que acusou o adversário de planejar.

Interlocutores da presidenta afastada dizem que, privadamente, Dilma agora admite que foi seu grande erro.

Para Luciana, o “nem Temer, nem Dilma” será testado em breve.

O Psol, segundo ela, tem grandes chances de vencer em Porto Alegre — onde Luciana lidera as primeiras sondagens –, além do Rio de Janeiro e Belém. Pode obter um bom resultado também em São Paulo, com a dupla Luiza Erundina-Ivan Valente.

Seria, na visão de Luciana Genro, o desembarque concreto no Brasil da política contra os privilégios do 1%, cujos interesses hoje são claramente defendidos pelo consórcio Temer/PSDB/mídia velha.

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