Lelê Teles: Um homem negro sob o jugo dos carniceiros

Tempo de leitura: 3 min
Foto Lula Marques

A QUESTÃO DECOTELLI. TEM QUE VER RACISMO EM TUDO, SIM

Por Lelê Teles

decotelli, eu não queria estar na pele dele, está sendo linchado em praça pública; oh, dor amarga, oh, opróbrio terrível!

ouço seus lancinantes gemidos e não tenho como não ter empatia; é triste, sempre é triste ver um homem negro sob o jugo dos carniceiros.

o grande erro de decotelli, vamos começar por aqui, não foi ele ter cometido não sei quantas fraudes curriculares, o grande erro foi ele não ter se dado conta de que a “ele” não era permitida essa transgressão.

fraudes curriculares e plágios estão por toda a parte, dá um google.

só neste governo, que é uma fraude total, já foram flagrados alguns personagens anabolizando currículos ou enxertando coisa alheia em textos seus.

o lance é que há um estrato da sociedade que tem seus mecanismos de compadrio, de passapanismo, de mão na cabeça…

recorda-te que a punição para o magistrado é a aposentadoria compulsória com pomposa remuneração. eles têm uma rede de autoproteção e autodefesa.

porém, decotelli não se deu conta de que não era um deles.

o homem negro não é um homem, é um homem negro, gritava fanon.

ao homem negro, dentro da superestrutura criada pelo e para os brancos, não lhe é dada a prerrogativa do erro, há sempre uma espada apontada para o seu pescoço. e o carrasco, carrancudo, treme de ansiedade para receber a ordem capital: decapitar!

aquela cabeça rolando ali na frente, com um sinal horrível na testa, é decotelli.

seus “pares” o abandonaram, é sempre assim.

ninguém saiu em seu socorro. o general heleno já disse que “isso é problema dele”.

lembra-te do jovem mato grossense, pardo e gay, agredido violentamente por uma evangélica em seu local de trabalho. sua queixa? todos em volta apenas observavam e filmavam, ninguém veio acudi-lo.

anota isso, cara, eles têm um sistema de autodefesa que nunca funcionará para pessoas como decotelli. aquele infausto rapaz também saía dos padrões.

voltemos: esse ex-ministro, que entrou para a história saindo, é um personagem típico descrito por fanon, que empalidece, aos seus olhos, quando não reconhece sua própria alteridade diante da estrutura patriarcal branca em que tenta se imiscuir sem fazer ruídos, pois sabe-se clandestino.

talvez até se debatia para apartar-se da sua negritude. acontece em muitos casos.

acho injusto o ministro ter sido demitido? acho sacanagem que ele tenha saído sem nem ter entrado?

né isso não, cara. decotelli tem que pagar pelos seus erros, falo da natureza da sua atitude.

decotelli foi tão ingênuo, uso ingênuo aqui como sinônimo do que fanon chamou de alienado, que ele poderia ter declinado do convite; porque era óbvio que ocupando o posto que iria ocupar iriam escarafunchar sua vida pregressa, que uns perdigueiros iriam stalkear seu currículum e outras etcéteras; de onde ele tirou essa confiança de que não daria nada errado?

achou que a estrutura ia funcionar a seu favor., deu com os burros n’água.

é que ele achava, como bom mitomaníaco que demonstra ser, que uma desculpa esfarrapada seguida de uma galhofa faria todos sorrirem e deixarem por isso mesmo. ele viu isso acontecer diversas vezes.

é isso, decotelli não se enxerga.

vivendo numa situação ambivalente, doutrinado intelectualmente pela academia eurocêntrica, deve ter lutado muito contra mil demônios, forjando uma personagem que ele pudesse incorporar para ser aceito num reduto que, como vimos, era povoado por bolsonaristas racistas, classistas e cafajestes.

a coisa não deve ter sido fácil pra ele. lembro do parnasiano barroso se referindo ao colega joaquim barbosa de “negro de primeira linha”.

decotelli vai levar para o resto da vida essa marca na testa: mentiroso, fraudador, negro de segunda linha.

joice hasselmann, escuta essa, foi acusada de nada menos que 65 plágios.

sim, ela foi cobrada, os jornais falaram sobre isso, as pessoas lançaram-lhe tomates e ovos podres, mas era uma coisa mais jocosa que raivosa.

joice não carrega uma mancha na testa, a marca de caim, o sinal do criminoso.

quem ainda se lembra desse episódio de joice? ela foi premiada por seu erro, tá lá, ocupando uma das torres do congresso, caiu pra cima, como um weintraub.

lembra que eles são punidos com prêmio pelos seus erros?

o ministro do meio ambiente também andou mentindo sobre sua formação acadêmica. quêde a marca na testa?

nunca se esqueça que um ministro — negro como não? —  foi demitido de um governo progressista porque havia comprado uma tapioca, no valor de três lascas e noventa centavos de real, com cartão corporativo.

lembra da espada?

tem uns códigos aí, malandro, que os caras operam dentro de uma estrutura hermeticamente fechada.

o que vejo de racismo nesse caso é justamente o que decotelli não viu: você não é um deles ou, como diria o capitão nascimento, aquele racista debochado, “nunca será”.

saravá.


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Comentários

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a.ali

bem verdade!sem contar os olavistas e os moristas escarafunchando a vida de dacotelli, achando verdades e mentiras e ou justificativas.
realmente, esse DESgoverno é povoado de enxertos nos curriculuns de SInistros e bem lembrada a joice e ficou por isso mesmo…afinal eles são brancos…que fique bem claro ñ estou defendendo dacotelli mas esse episódio me faz lembra uma frase do Presidente Lula: nós não podemos errar…terrivel mas é assim, ainda, que anda a humanidade!!!
e a bem da verdade ele foi convidado pelo miliciano mor para dar um viez, um faz de conta que tem negro no seu ministério, tipo, olha um ministro negro. não me chamem de racista.

Zé Maria

Indígena de 15 anos denuncia Bolsonaro em conferência da ONU

“No ano passado, 15 crianças entre 6 e 9 anos que tomavam café na escola
indígena na aldeia Guyraroká foram cobertas por uma nuvem de agrotóxico,
causando vários danos à saúde”

“Muitos dos nossos pais e familiares adultos foram contaminados trabalhando
nas empresas frigoríficas da JBS”

Reportagem: Valéria Maniero, correspondente da RFI na Suíça

Um adolescente indígena do Brasil chamou atenção nesta quarta-feira (1°) ao participar, via vídeoconferência, do encontro anual sobre os direitos das crianças do Conselho de Direitos Humanos da ONU. Roger Ferreira Alegre, de 15 anos, da comunidade Amambaí, do povo Guarani Kaiowá, do Mato Grosso do Sul, fez um discurso no painel sobre crianças e meio ambiente.

Reportagem: Valéria Maniero, correspondente da RFI na Suíça

Falando em espanhol, o adolescente destacou as razões pelas quais é importante proteger o território indígena, fez críticas ao governo Bolsonaro e falou dos impactos do coronavírus na sua comunidade.

“O meio ambiente afeta diretamente os direitos de meninos e meninas. Para a infância indígena, a proteção do território é a forma de garantir nosso estilo de vida tradicional, sobrevivência, nosso desenvolvimento como ser humano e o exercício de todos os nossos direitos humanos. Infelizmente, no contexto guarani, há uma dívida histórica por parte do governo do Brasil em demarcar nosso território. O governo Bolsonaro paralisou o processo de demarcações no país. Como consequência, vivemos em uma situação de insegurança, com riscos à saúde, à alimentação, à integridade física e mental”, disse Roger, que discursou representando o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), órgão vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

O adolescente também denunciou a situação vivida por meninos e meninas indígenas, assim como as condições precárias enfrentadas por eles no dia a dia. “Nossas crianças sofrem com taxas elevadas de desnutrição. Somos mais de 2 mil famílias – 60% crianças, sobrevivemos em barracas de lona sem acesso à água, saúde, educação, alimentação, em uma verdadeira crise humanitária”, afirmou.

Segundo ele, “no ano passado, 15 crianças entre 6 e 9 anos que tomavam café na escola indígena na aldeia Guyraroká foram cobertas por uma nuvem de agrotóxico, causando vários danos à saúde”.

O impacto do coronavírus

A pandemia de Covid-19 atingiu a comunidade de Roger em cheio. No discurso feito na ONU, no mesmo dia em que um grupo de ONGs apresentou na Comissão de Direitos Humanos uma denúncia contra Bolsonaro, ele disse que faltam alimentos nos acampamentos e denunciou um foco de contaminação.

“Muitos dos nossos pais e familiares adultos foram contaminados trabalhando nas empresas frigoríficas da JBS”, disse.

Antes de dizer “muchas gracias” (obrigado), o adolescente afirmou que “a principal medida para proteger os direitos das crianças indígenas é garantir a demarcação dos nossos territórios”.

“O foco da sua fala é que a proteção dos povos indígenas, em especial as crianças, é baseada na proteção de seus territórios tradicionais, sem os quais, nem o meio ambiente nem seus direitos são protegidos”, acrescentou Paulo Lugon, representante do Conselho Indigenista Missionário (CIMI).

Nilson Moura Messias

Muito bom artigo.

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