Julian Rodrigues: Não normalizem a violência. Tapa na cara não pode, nunca!

Tempo de leitura: 2 min
Foto: Reprodução

Não, tapa na cara não pode (nunca)

Pior do que a agressão perpetrada por Smith é certa onda de normalização da violência

Por Julian Rodrigues*

Noite de domingo, 28 de março – dividindo a atenção entre a cerimônia do Oscar e o BBB. De repente, meu marido veio me chamar a atenção. O Will Smith acabara de subir ao palco do Oscar e meter um tapão na cara do Chris Rock, que ancorava a apresentação naquele momento.

Teria sido uma reação indignada contra piada ofensiva de Chris Rock relacionada à calvície de Jada Smith, esposa do astro Will – que todos aprendemos a amar desde “Um maluco no Pedaço” (The Fresh Prince of Bel Air).

Jada, com um belíssimo vestido verde, brilhava na plateia. Como sofre de alopecia, a atriz optou pelo visual cabeça totalmente raspada: digna, empoderada, radiante.

Em certo momento, Chris Rock apresentava a premiação e brincou dizendo que Jada estava careca para poder estrelar “G.I. Jane 2”, em uma referência ao que seria uma sequência do filme “Até o Limite da Honra”, que em inglês tem o título de “G.I. Jane”. Na obra, Demi Moore, sem cabelos, interpreta a protagonista.

Uma piada fraca, com certeza. De mau gosto, mesmo. Até aí, faz parte. O que tem de piada ruim e constrangedora circulando …

O que não faz parte é a reação de Smith. Não, gente, não pode. Não é bacana. Não é cavalheirismo. Não é legítimo.

Em primeiro lugar: nenhuma agressão física pode ser tolerada nesse tipo de situação. Não estamos falando de autodefesa, de batalha contra fascistas, nada do tipo. Vi muita gente boa delirar por esse caminho.

Em segundo lugar: piadas de bom, e sobretudo de mau gosto são recorrentes, sobretudo no tipo de humor hegemônico nos EUA, – que, aliás, tem influenciado sobremaneira os estandapeiros e novos humoristas aqui no Brasil.

Se relativizarmos a violência física, abrimos um flanco terrível. De novo: não estamos falando nem de autodefesa nem de processos revolucionários.

O direito de dar porrada em quem eu não gosto não é um direito. É coisa da direita, dos bolsonaristas, reaças, dos neofascistas, machistas e racistas mundo afora.

Mais grave ainda é o aspecto sexista. Quer dizer que Jada é uma indefesa mocinha que precisa de ser protegida pelo macho alfa? Não pode falar ou reagir por si mesma?

Parece aquela argumentação arcaica para livrar a cara de homens assassinos, que teriam agido “em legítima defesa da honra”. Da honra deles, quando matavam as esposas, ou da honra delas, quando matavam os supostos “amantes”.

Tentar “passar pano” pra Will Smith é reforçar a hegemonia da masculinidade tóxica.

É quase uma celebração da figura do ogro, do macho primitivo, reprodutor e provedor, demarcador de território, protetor das fêmeas e de suas crias.

Um troço tosco – totalmente incompatível com os avanços feministas, igualitários, progressistas.

Não normalizem a violência. Não normalizem as agressões físicas.

Resumindo: Chris Rock fez só uma piada ruim (como tantas outras, ele é bem fraco mesmo); Jade Smith não é vítima e não precisa de heróis para salvá-la do dragão; Will Smith foi um babaca escroto e machista; agressão física nunca é legal, coleguinhas, nunca!

*Julian Rodrigues é professor, jornalista, ativista de Direitos Humanos.


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Comentários

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Ibsen Marques

Tapa na cara não pode nunca. Já agressão em forma de piada é normalizada sempre.
Não, não foi piada de mau gosto, foi uma agressão mesmo. Ambas não se deve fazer nunca. Piada tem a ver com o tabu da liberdade de expressão. Mesmo que se trate de agressão tudo bem se for verbalizada. É do uma”piada de mau gosto”.

João Ferreira Bastos

A guerra da Ucrania e o tapa na cara me ensinaram que com nazifascistasmilicianos só existe um tipo de dialogo.
Guerra.

“Quando a oposição não mostra os dentes a situação não tem medo de mordida”
Zé Genoíno

Zé Maria

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O Comediante [SIC] que levou o tapa é um Assediador Contumaz.
O que ele faz não é humor, é Bullying, Assédio Moral, por Princípio.
Se fosse braZileiro, por certo seria Âncora de Talk Show no SBT.
Ou nomeado Presidente da Fundação Palmares por Bolsonaro.
Realmente não merecia levar um tapa na cara, mas sim Cadeia.
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A piada [SIC] com Jada na cerimônia do Oscar no domingo (27)
não foi a única do comediante, que possui uma vasta lista de
‘polêmicas’ [Assédios Morais] no que ele acredita ser engraçado.”

Sofrendo de Alopecia [*], Jada Pinkett Smith [**] está com os
cabelos raspados desde dezembro do ano passado após sofrer
anos com a perda dos fios.
Chris Rock então fez uma “brincadeira”, dizendo que Jada
estava careca para estrelar “G.I. Jane 2”, em uma referência
ao que seria uma sequência do filme “Até o Limite da Honra”,
que em inglês tem o título “G.I. Jane”.
Na obra, Demi Moore está careca para viver a protagonista.

O episódio de domingo no Oscar não foi o primeiro de Chris Rock que causou polêmica [sic].

Ao apresentar a cerimônia em 2016, ele foi criticado quando levou três crianças
asiáticas no palco e as apresentou como sendo contadores da empresa que
computa os resultados da premiação.

Não satisfeito, ele ainda disse que as pessoas poderiam reclamar no Twitter:
“Quem não gostou pode reclamar no Twitter usando o smartphone que eles
[the kids = as crianças] montaram”.
Os comentários geraram reações e membros asiáticos na Academia criticaram
o que eles chamaram de “piadas de mau gosto e quadros ofensivos”.

Na mesma noite, Chris não conteve mais piadas inconvenientes.
Em meio ao movimento #OscarsSoWhite (Oscars tão brancos, em
tradução livre), ele ironizou diversas vezes:
“Bom, estou no Oscar da Academia, também conhecido como os prêmios
dos brancos”, falou, referindo-se à ausência de indicados negros nas principais
categorias.

Em seguida, o comediante destacou que esta sempre foi a história de Hollywood
e que, nos anos 1960, ninguém protestava por isso.
“É a 88ª edição do Oscar, o que significa que essa coisa toda de ‘sem indicados
negros’ aconteceu pelo menos outras 71 vezes, ok?
Vocês precisam se dar conta de que isso aconteceu nos anos 1950, 1960”,
afirmou Rock.
“Sabe, quando sua avó está pendurada em uma árvore, é muito difícil se preocupar com o melhor curta de documentário estrangeiro”, provocou.

REINCIDÊNCIA
No monólogo tradicional da premiação, Rock ainda fez piada com a mulher
de Will Smith [!!!].

“Jada boicotar o Oscar é como eu boicotar a calcinha da Rihanna. Eu não fui convidado”, falou.
Uma fonte disse à People que Will estaria bravo com ele devido a isso,
o que motivou reação à piada de domingo.
O casal participou do boicote e não compareceu à cerimônia de 2016, em
protesto pela Academia não ter indicações de pessoas negras por dois anos
consecutivos.

Quando apresentou o New York Film Critics Circle Awrds 2019, Chris Rock
afirmou que o “medo da cultura de cancelamento” [SIC] faz comediantes
a produzirem conteúdo “chato e sem graça”.

Ele acabou recebendo críticas de fãs, já que o mesmo estaria sendo a favor
de uma “cultura de comédia tóxica”, conforme publicou o tabloide britânico
Daily Mail.

Em 2021, ele reafirmou o pensamento à rádio Breakfast Club:
“Se fosse há cinco anos, eu poderia dizer algo realmente ofensivo e engraçado,
mas agora não posso fazer isso”.
No programa ele ainda falou que vê programas de TV, premiações e filmes e
todos estão “sem graça, porque todo mundo tem medo de dizer alguma coisa”.

*[ https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/ser-saude/alopecia-entenda-sintomas-prevencao-e-tratamento-1.3209776 ]
**[ https://www.instagram.com/jadapinkettsmith
https://www.instagram.com/p/CboCmMPPaY9
https://www.uol.com.br/splash/noticias/2022/03/28/jada-pinkett-smith.htm ]**

[Fonte: Splash/UOL]
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