O cometa José Alencar
por José Eurides de Queiroz
Agora eu já sei, o José Alencar é um deles. Eles batem à porta dos geralistas, à noite, com seus alforjes estufados de coisas, cartas, contas, amostras de fazendas e outros artigos, talões de notas fiscais e pequenos bornais de um brim encorpado azul marinho, trama e urdidura da vida – onde comem os cavalos. Os cavalos são robustos, ferrados, rabos e crinas bem aparados, ancas largas, musculatura bem definida e pelagem reluzente. São de esquipado e trabalho.
Os visitantes pouco falam, apenas abordam. O dono da casa, disposto em atenções e ciente dos pertencimentos deles, sente-se honrado, avia água para lavar os cavalos e milho seco para os bornais. As mudas molares prensam o cereal, coruscam o som que crepita no oitão e se alarga na noite. Cavalos em fila.
Os viajantes percorriam o Gerais vindos do Sul, rompiam para a Bahia a negociar atacados e varejos da União dos Cometas, ante espantos dos sertanejos que espritavam os perigos das estradas.
José Alencar é um cometa. Nesta noite lenta, ele cruzou a terceira margem do Velho Chico para comer um pirá e beber a vinte seis curraleira no Pouso das Dormideiras.




Comentários
Nenhum comentário ainda, seja o primeiro!