José do Vale: Quando a deterioração política e social do Brasil se sobrepõe a uma norma contra a covid

Tempo de leitura: 2 min

QUEIROGA E A CONSTATAÇÃO, COM O GOSTO TRÁGICO DE BRIOCHE, DA REALIDADE BRASILEIRA.

Neste sábado, haverá mobilização popular nas cidades brasileiras

Por José do Vale Pinheiro Feitosa, especial para o Viomundo

Ficou marcada na história moderna uma suposta frase da rainha da França Maria Antonieta nos tempos tumultuosos da Revolução: se não têm pão, que comam brioches.

A frase é o símbolo do desprezo da elite francesa pelo camponês faminto.

O atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga,  foi o promotor da famosa reunião em que o colega Paulo Guedes defendeu a privatização ampla do SUS, transformando uma instituição de Estado num mero “vaucher” distribuído pelo governo para consumo da mercadoria saúde.

No Câmara dos Deputados, Queiroga, que é oriundo da medicina privada, fez uma constatação à la Maria Antonieta.

Na “falta de farinha de pão”, a população a substitui pelo “brioche privado”, como diz Paulo Guedes.

Em sua fala, afirmou que a tragédia da pandemia de covid-19 no Brasil decorre das deficiências do SUS, daí, segundo ele, privatizar é preciso.

Lamentavemente o ministro recorreu a inverdades e argumentos seletivos.

“Esqueceu-se”, por exemplo, da lei do Teto de Gastos, que promoveu cortes de mais de R$ 20 bilhões no SUS nos três anos anteriores à eclosão da pandemia.

Também ignorou o efeito socioeconômico da covid-19, que se dissemina entre as populações das periferias,  trabalhadores e pessoas vulneráveis, com muito mais dificuldade de acesso à assistência à saúde do que os ricos, é claro.

O fato é que:

1) está surgindo uma terceira onda da covid-19, com mais infecções, adoecimentos e mortes;

2)importantes lideranças da oposição têm criticado a omissão pública de Queiroga em relação ao isolamento social;

3) aglomerações públicas ficaram abolidas desde o início da pandemia pela necessidade do distanciamento social e  proteção à vida

Acontece que, mesmo diante da iminência da terceira onda, os movimentos sociais estão convocando para este sábado, 29 de maio, manifestações em todo o País em repúdio à atuação criminosa do governo Bolsonaro no enfrentamento da covid-19.

De antemão, aviso. Considerando a situação epidêmica, não há um argumento científico que dê sustentação aos atos deste sábado.

Porém, nenhum motivo sanitário perdura face à deterioração política, social e econômica, causada por este governo.

É preciso agir para mudar a condução do país.

Neste sábado, em mais de 100 cidades e em todas as capitais, populações, seguindo normas de segurança sanitária, irão às ruas do país não apenas para dizer basta, mas para dar novo conteúdo aos rumos da nação.

A história está repleta de manifestações políticas de massa que mudam rumos da história.

Recentemente os EUA, na pior fase de sua epidemia, foram à ruas para mudar o rumo da violência do estado contra a população negra.

*José do Vale Pinheiro Feitosa é médico sanitarista.


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Nenhum comentário ainda, seja o primeiro!

Deixe seu comentário

Leia também