José do Vale: Palmas a Paulo Gustavo, um holofote expondo o drama social brasileiro

Tempo de leitura: 2 min
Fotomontagem: José do Vale

UM POVO DIGNO JAMAIS SERÁ VENCIDO – PAULO GUSTAVO VIVE.

Por José do Vale Pinheiro Feitosa*

A percepção que o governo Bolsonaro malversou o patrimônio econômico, social, cultural e político, levando ao descontrole da pandemia de covid-19 no Brasil, é nacional e internacional.

Casualmente, nessa quarta-feira, 5 de maio, eu estava num bairro do Rio de Janeiro, de maioria bolsonarista, nas vizinhanças do condomínio Vivendas da Barra, onde moram o presidente e o filho Carlos Bolsonaro.

Por volta de 20 h, ouvi uma forte salva de palmas, sem voz de comando.

Eram sobretudo palmas. Me lembraram o som de uma chuva forte numa noite de céu aberto.

As palmas eram para Paulo Gustavo, que se encantou um dia antes.

Paulo Gustavo faz parte daquelas centelhas da emoção coletiva que sintetizam a realidade social.

Seu humor, talento, solidariedade manifesta e alegria de viver se tornaram o símbolo que denuncia a condução política do presidente Bolsonaro.

No momento das palmas já se sabia por análises de redes sociais que a doença de Paulo Gustavo havia criado em parte da sociedade um clima de que a consciência da importância da política e do Estado Nacional se refletia pela repulsa ao mandatário federal.

No sábado, 1º de Maio, Dia do Trabalhador, especialmente em Copacabana (RJ), Avenida Paulista (SP) e na Esplanada dos Ministérios (BSB), bolsonaristas foram às ruas para “passar um cheque em branco” ao líder.

Nenhuma palavra em defesa do emprego e da renda.

Apenas presença  simbolicamente indicando “medo da CPI da covid”.

As palmas a Paulo Gustavo foram como um holofote expondo o drama social brasileiro de forma objetiva. Uma epidemia é sempre enorme crise social e econômica como nos grandes desastres naturais e nas guerras.

Nessa quinta-feira (06/05), chegamos a 417 mil mortes e 15 milhões de brasileiros infefectados pelo novo coronavírus.

Há muito tempo esses dados deixaram de ser meras contagens e se transformaram em gigantescas perdas, em interrupções abruptas de afetos.

Tais mortes já representam 30% do total de óbitos ocorridos em um ano por todas as causas.

Já é 1,15 vezes mais do que todos os óbitos ocorridos por doenças do aparelho circulatório (o principal grupo de causas de mortes), 1,76 vezes por neoplasias e 2,55 vezes por doenças do aparelho respiratório.

Entre os países com mais de 20 milhões de habitantes, o Brasil só perde em taxa de mortalidade por covid (194 mortes por 100 mil habitantes) para a Itália (202 mortes por 100 mil habitantes) que tem uma estrutura etária mais velha.

À exceção da Região Nordeste, todas as demais têm taxa de mortalidade por covid-19 que varia entre 238,19  (Centro-Oeste) a 206,87 (Norte) óbitos por 100 mil habitantes.

Ao contrário do que se espera devido às condições sociais e econômicas, a região Nordeste, com uma taxa de mortalidade de 148,82 óbitos por 100 mil habitantes, só pode refletir políticas de Estado voltadas para controlar a epidemia.

Com a CPI do Genocídio, os ex-ministros da Saúde confessando suas intenções, atos e omissões, os bolsonaristas nas ruas desafiando a boa temperança, as palmas em homenagem a Paulo Gustavo são um sinal de esperança.

*José do Vale Pinheiro Feitosa é médico sanitarista.


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