José do Vale: Covid comprova que neoliberalismo não tem capacidade para evitar e conter pandemias

Tempo de leitura: 3 min

Por José do Vale Pinheiro Feitosa*, especial para o Viomundo 

Em setembro de 2020, o diretor-geral da Organização Mundial (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesusm, anunciou uma resolução histórica determinada pela  73ª Assembleia Mundial da Saúde.

A instituição de um comitê de especialistas para fazer uma avaliação independente e abrangente da resposta mundial à covid-19.

A missão ficou a cargo do Painel Independente para Preparação e Resposta à Pandemia (The Independent Panel for Pandemic Preparedness and Response, em inglês).

Pois nessa quarta-feira  (12/05), o relatório do Painel Independente foi divulgado.

Concluiu que a escala catastrófica da pandemia de covid-19 poderia ter sido evitada se os países tivessem reagido com mais rapidez no início.

O relatório diz que fevereiro de 2020 foi um importante “mês perdido”,  já que os países não deram atenção aos alertas.

Segundo o relatório, fevereiro poderia ter sido usado pelos países para prepararem melhor o enfrentamento da doença e que ações, muitas vezes, só foram tomadas tarde demais, quando houve um colapso no sistema de saúde.

O documento também críticas a OMS. Diz que ela declarou emergência global com mais de uma semana de atraso.

Porém, a maioria das críticas foi proferida para os líderes que negaram a ciência, dificultando a imposição de medidas eficazes no combate à propagação do coronavírus.

Oficialmente, já são 162 milhões de pessoas infectadas  e 3,3 milhões de óbitos pela covid-19 em todo o mundo. No Brasil, 15,4 milhões de casos e 430 mil mortes.

O fato é que a humanidade está diante de um impasse histórico a ameaçar a sua própria sobrevivência.

As cadeias produtivas de bens e serviços estão interligadas demais e por elas circulam agentes infecciosos, produtos contaminados com agrotóxicos e materiais radioativos, substâncias psicoativas, minerais, lixo e pessoas.

Para o neoliberalismo só a livre iniciativa faz alocação ideal de capitais e que o Estado não o faz.

A partir dessa ideia central segue-se o conhecido roteiro: desmonte dos estados de proteção social, transformação dos bens essenciais às populações em produtos mercantil ou commodities, sua consequente privatização.

Ou seja, transforma tudo em concorrência.

Acontece que uma epidemia é rápida demais para ser enfrentada em sistemas concorrentes.

Uma epidemia não pode se transformar em commodity nem em mercadoria, como aconteceu de modo indireto no início da pandemia.

O que está acontecendo no Brasil e na Índia é um alerta.

Variantes do novo coronavírus estão surgindo, a letalidade já atinge outras faixas etárias e outras populações.

Além disso, o que se observa no segundo ano da pandemia é um curso desregrado e sem governança global.

Esse descontrole é fruto de contradições imensas.

Em tempo recorde, laboratórios farmacêuticos e instituições de pesquisa desenvoleram vacinas contra a covid.

Só que essa vacinação está acontecendo especialmente nos países ricos, deixando parcelas imensas da humanidade expostas a esse vírus letal.

Aqui vale registrar algo que certamente é mais do que uma coincidência.

A epidemia de gripe espanhola do início do século XX  era parte inseparável do liberalismo econômico em crise.

Agora, a pandemia de covid-19 está umbilicalmente ligada ao neoliberalismo com seus desastres financeirizados.

Peguemos o exemplo do agora ex-presidente dos EUA, Donald Trump.

Além de hostilizar ostensivamente a Organização das Nações Unidas (ONU) e, em especial a OMS), agiu de modo irresponsável com a própria população americana.

Na verdade, em função dos efeitos sociais e econômicos do neoliberalismo, os estados nacionais estão desatualizados em suas responsabilidades políticas.

A ONU tornou-se um escaninho inerte da “Desordem Mundial” (quando não apenas um escritório de lobbies das grandes farmacêuticas).

De acordo com relatório Painel Independente para Preparação e Resposta à Pandemia, a janela de tempo para conter a pandemia era de um mês. Mais precisamente o mês de fevereiro de 2020.

Nesse um mês todos os estados nacionais deveriam ter fechado suas fronteiras, mobilizado suas populações e preparado recursos para cuidar dos infectados ao mesmo tempo  em que os isolava.

Foi a ordem neoliberal do “deixar fazer”, “deixar acontecer” que, ao final de pouco mais de dois meses, a Itália estava devastada pela covid.

Aí, os países da Europa, após a porta arrombada, tiveram que adotar medidas mais impeditivas à “liberdade individual” do que as adotadas na China.

O relatório do Painel Independente destaca o papel de lideranças negacionistas entre os fatores importantes que levaram suas populações ao desastre. É o caso do Brasil.

Mais uma vez temos o dedo do neoliberalismo econômico associado a governos autoritários, violentos e de cunho fascista, inclusive aqui.

É clara a intenção de deixar grande parte morrer até que se crie a dita imunidade de rebanho e o vírus deixe de circular.

O futuro da humanidade dependerá de uma ordem política, social e econômica muito mais distributiva de conhecimentos, bens e preparo para ação coletiva imediata e consciente da nova ecologia mundial.

A pandemia de covid-19 nos deu o caminho: o desastre humano só será evitado com a superação histórica do sistema econômico chamado capitalismo e suas variantes de adaptações a cada crise dele.

*José do Vale Pinheiro Feitosa é médico sanitarista.


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Comentários

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Zé Maria

Hoje (15), o Brasil ficou em 2º Lugar em
Número de Mortes Diárias por COVID,
no Mundo, atrás apenas da Índia.
2.067 Mortes em 24 Horas, no Sábado.

E a Mídia Venal falando em ‘fim da 2ª Onda’.
Segunda Onda, o Escambau! É uma Tragédia!

https://www.worldometers.info/coronavirus/#countries

Zé Maria

.
Olha só que “tranquilizadoras” as Manchetes da Mídia Venal:

‘Média Móvel de Mortes por Covid-19
fica abaixo de 2 MIL pelo 5º dia seguido’

“Platô” de 2.000 Mortes não é Normal!
Isso é um Crime! E os Empresários de
Comunicação do Brasil são Comparsas!
Em favor do Lucro às custas de Vidas,
Abriram tudo em todo lugar Sem Vacinas.

https://www.worldometers.info/coronavirus/country/brazil/

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