José Coelho Sobrinho: O jornalismo está doente

Tempo de leitura: 5 min

COBERTURA DA COPA

O jornalismo está doente

Por José Coelho Sobrinho em 20/7/2010

no Observatório da Imprensa, via valeritabaiana

Há um texto que trata de relatos jornalísticos – cuja leitura deveria ser mais difundida entre os profissionais e estudantes da área – que, ao referir-se à narrativa jornalística, afirma que a ela “faz falta o juízo, a mais exímia qualidade do intelecto, para que, por meio dele, as coisas dignas de crédito sejam separadas dos rumores infundados que se fazem correr: as leves suspeitas e as coisas e ações diárias sejam separadas das coisas públicas e daquelas que merecem ser contadas. Este juízo faltou em outros tempos, sobretudo aos monges, assim como a muitos escritores, ou seja, aos autores das crônicas, e também falta frequentemente aos redatores de periódicos quando procuram falar de banalidades e minúcias e omitem o que seria útil e fácil de ler, envernizam com documentos o que ouviram dizer por outros e, por fim, quando não têm coisas exatas, fazem passar por história as suspeitas e conjecturas dos outros”.

Esse comentário, extraído de oportuna tradução de Paulo Rocha Dias, poderia ser aplicado a boa parte das coberturas jornalísticas de hoje. Entretanto, ele foi escrito em 1690 por Tobias Peucer e faz parte da primeira tese sobre jornalismo de que se tem notícia. Os rumores infundados, os fatos que não merecem ser contados, a omissão do útil, a imprecisão dos relatos e outras impropriedades que impedem o bom jornalismo puderam ser testemunhadas por todos aqueles que acompanharam a cobertura televisiva da Copa do Mundo de futebol vencida pela Espanha.

Foi possível constatar que as emissoras de televisão não preparam os seus enviados para fazer uma cobertura jornalística competente, apesar de todas as equipes se auto-intitularem de “jornalismo esportivo”. Faltou pesquisa, curiosidade, empenho e coordenação à maioria delas.

Jargões sem nexo

Boa parte dos repórteres e narradores demonstrou não ter conhecimento da organização política da África do Sul e, por isso mesmo, não conseguiu identificar as suas capitais (Cidade do Cabo, Pretória e Bloemfontein). Johannesburg foi informada a milhões de espectadores brasileiros como sendo a cidade que centraliza todos os poderes políticos constituídos do país. A tardia retificação foi feita fora de contexto e, possivelmente, talvez tenha passado desapercebida. As referências à cultura sul-africana foram lamentavelmente pobres. A maioria dos jornalistas de televisão concentrou comentários e informações em costumes locais sem contextualizar a formação dessas práticas, mas fazendo comparações indevidas com paradigmas de procedência estranha às onze etnias da África do Sul.

O polígamo presidente Jacob Zuma, da etnia zulu, por exemplo, foi inspiração para muitas piadas dos comunicadores brasileiros, que ofereceram aos telespectadores uma visão distorcida da organização social e formação étnica das várias nações daquele país. A contextualização também esteve ausente quando foram tratados os problemas sociais dos sul-africanos. Alguns profissionais parecem não ter arredado pé do hotel em que se hospedavam e do centro de imprensa.

Pela exaltação ao fim do apartheid feita por alguns jornalistas, parece que negros e brancos convivem em perfeita harmonia no país; que os problemas de violência foram solucionados e que a educação é direito de todos. Para a maioria das emissoras, principalmente para os canais abertos, o fato jornalístico relacionado à Copa do Mundo ficou restrito às partidas de futebol. Algumas matérias desses canais cumpriram a aventura de falar (superficialmente) sobre certos dados periféricos ao jogo, mas nada que viesse aprofundar o conhecimento do telespectador em relação a um mundo que não faz parte de seu horizonte.

Os equívocos desse “jornalismo esportivo” não ficaram somente na falta de conhecimento e de sensibilidade dos profissionais. Ele se agravou com a substituição de jornalistas por jogadores e ex-jogadores que foram elevados (ou rebaixados) à categoria de “comentaristas esportivos”. Alguns desses novos cronistas, efetivados na função, tentam criar jargões e os repetem à exaustão: “É brincadeira”; “É um cracaço”; “Está na minha seleção”; “Deu de três dedos”. A inclusão de um ou mais desses jargões nas falas ocorre, em boa parte das vezes, sem o menor nexo com o tema. Encobre a falta de repertório linguístico e raciocínio lógico.

Alguns trabalhos salvaram o jornalismo

Para valorizar a presença do ex-atleta como comentarista ou repórter foram criados codinomes que lembram a sua passagem pelos campos ou qualificam a sua atuação nessa nova função: “o craque Fulano”; “Sicrano show”, “Beltrano, o completo” e outras individualizações desnecessárias à profissão. Ao contrário do que se justifica, a presença dessa nova geração em nada contribui para a cobertura jornalística do fato porque os seus comentários são redundantes à narração e à imagem, pois não extrapolam a jogada.

Na falta de lances dúbios, que são os verdadeiros motivos da existência desses comentaristas durante as transmissões dos jogos, são forçadas situações para levantar hipóteses e gerar polêmicas. Essas situações tipificam as banalidades e minúcias de que falava Peucer. Em outras palavras, esse tipo de cobertura não é considerado jornalismo desde o final do século 17. E o jornalismo, depois da Copa, não ficou impune.

Alguns desses olimpianos do esporte promovidos a jornalista permanecerão na tela. Na avaliação das emissoras, eles conseguiram cooptar o público, mesmo construindo frases como: “Quando eu era jogador eu se esforçava….”; “A gente fizemos muitos treinos…” e outras construções linguísticas semelhantes. Mas a cobertura da Copa não ficou, felizmente, restrita a essas barbáries. Em meio a toda banalização do jornalismo, surgiram algumas boas matérias.

Uma entrevista feita em Orânia – uma pequena cidade habitada somente por brancos – foi emblemática como referência ao preconceito racial que ainda existe na África do Sul. O bom jornalismo também foi marcado por entrevistas com um guia do Museu do Apartheid e um membro da Igreja Reformada Holandesa, que apoiou a segregação e hoje é um dos baluartes em favor da convivência pacífica entre brancos e negros. Matérias sobre o Soweto: com lideranças comunitárias desse distrito negro; com líderes (brancos e negros) da luta contra o apartheid, ajudaram a salvar o jornalismo transmitido pela televisão durante a Copa. E foram feitas por jornalistas de profissão.

Aprovação bem-vinda

O saldo da cobertura revela que o jornalismo está enfermo. E a enfermidade parece estar agravada por uma profunda crise de identidade. Em determinados programas o doente satisfaz a máxima atribuída a César: “Ad populum panis et circensis.” Em outros, transforma o “jornalista” em bufão do Império Bizantino, levando-o a usar máscaras, perucas e a imitar olimpianos.

Esses “profissionais” não dominam a ética do carpinteiro a que se referiu Cláudio Abramo, portanto não sabem exatamente o papel que exercem. Por vezes parecem adotar a teoria do espelho atuando como um mediador desinteressado, mas jamais conseguirão entender a teoria do newsmaking porque não dominam a dimensão do fato jornalístico e se comportam como se fossem eles a própria notícia. A inconsistência do jornalismo praticado na cobertura da Copa pela maioria das emissoras não atendeu a qualquer dos pressupostos básicos que fundamentam a importância do jornalismo para a sociedade: o direito fundamental de ser (bem) informado e o interesse público.

Esse triste cenário indica que a aprovação, no dia 14 de julho, da exigência de diploma universitário específico para o exercício da profissão de jornalista, por uma comissão especial da Câmara dos Deputados, é bem-vinda. Em contra-partida, as escolas precisam adequar os seus programas de ensino às verdadeiras funções do jornalismo na sociedade moderna, preparando-se para formar jornalistas, e não produtores de mídia para o mercado.

PS do Viomundo: O principal fato jornalístico da África do Sul, uma década e meia depois do fim oficial do apartheid, é que quase não houve transferência de terras férteis dos brancos para os negros, como propunham os aliados de Nelson Mandela no período do apartheid. Não houve a prometida reforma agrária. A opção para os jovens negros é inchar as grandes cidades. Tratamos disso em um programa da série Nova África, mas que eu saiba não se falou disso durante a cobertura da Copa. O padrão de cobertura da Copa, especialmente quando se falou do apartheid, foi baseado no filme Invictus. Não vi o filme, pode até ser bom, mas quando uma cobertura se baseia num filme de Hollywood… A eleição de Mandela pôs fim formal ao apartheid na África do Sul, mas ele continua existindo na prática, como apartheid econômico.


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Comentários

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monge scéptico

ESTÁ DOENTE,CORRUPTO, PÕDRE E PIOR DE TUDO BURRO!

Urbano

Há uma parte do jornalismo brasileiro que não está doente, mas morta, sepultada e em avançado estado de decomposição.

voxetopinio

Não tenho o que falar. Só que o texto foi completo e certeiro. Quando era pra mostrar o lado bom, não mostravam. Quando era para mostrar o lado ruim, tampouco aparecia. "Holismo na lata do lixo" parece ser um mote da imprensa nacional.

Clóvis

Veja o filme! Excepcional, pena que o François Pineear não foi interpretado por alguém melhor… Aliás o que o filme menos fala é do fim do regime do apartheid, trata do uso brilhante do Mandela de uma competição esportiva para simbolizar uma nova cultura que ao invés do revanchismo preconizado por alguns preferiu o caminho da "nação arco-íris".

beatriz

Mais uma do jornalisom corporativo: UFRJ responde a matéria parcial e equivocada de O Globo. http://www.trezentos.blog.br/?p=4809

Helcid

A requentadora de novelas (Globo), requentou mais uma notícia em seu papel higiênico (o globo): http://www.tijolaco.com/?p=20819

Manchete de O Globo é velha de cinco anos:

Este post é dedicado a você, leitor, que ainda tem algum tipo de fé no que os jornais publicam nesta época de campanha eleitoral.

Tratei desta matéria num post anterior, mas ainda não estava satisfeito, porque não tinha encontrado o relatório original da ONU para comprovar, sem nenhum tipo de dúvida, que o jornal dos Marinho tinha sonegado informações ao leitor e apresentado como se fossem atuais – apenas com algumas ressalvas quase imperceptíveis – dados antigos sobre a desigualdade social no Brasil para afirmar que o país tem o terceiro maior índice de desigualdade do mundo.

Claro que a desigualdade é imensa. É imensa e era ainda maior, construída por todos os governos que o jornal O Globo apoiou.

Mas o jornal praticamente escondeu o fato de que ela vem caindo no governo que ele combate, o Governo Lula. Uma frase perdida no meio da matéria e uma afirmação vaga num subtítulo não podem mostrar a verdade ao leitor: que a desigualdade caiu dos mencionados 0,56 para 0,515 em 2008 e, hoje, como a elevação do salário mínimo, já terá, com certeza, caído ainda mais.

É desonesto, sobretudo, porque há no documento da ONU (página 200 do anexo de dados) uma informação preciosa, que jamais poderia ter sido omitida: que a percentagem da população brasileira na faixa da pobreza caiu de 24,9% em 2004 para 15,7 em 2008. Você mesmo pode verificar no quadro que publico ao lado, reproduzindo um pedaço do gráfico da ONU. Ou será que O Globo não considera informação digna de registro que quase 10% dos brasileiros, cerca de 18 milhões de pessoas tenha saído da pobreza?

Eu não sou economista, nem tenho um exército de jornalistas para apurar as informações. Mas, como qualquer pessoa, posso perceber quando algo se choca com a realidade.

Ou será que o tijolaco.com é que está errado de ir verificar as informações que se passa aos leitores, em lugar de fazer simples sensacionalismo politiqueiro?

    O Brasileiro

    Melhor não esperar que ainda haja jornalistas de verdade em O Globo…

roberto de carvalho

eu acho que no aspecto estritamente futebolístico, a cobertura é mt ruim. o nível de análise é ruim e não estou falando de neto e dos caras da globo. tirando um ou outro, o nível é mt baixo. nesse aspecto específico, tostão é insuperável. gosto do josé geraldo couto da folha e do resto, incluindo os caras da espn, não sou fã não. peço q vcs pensem no segintes exemplos: carlão, está comentando a liga mundial p o sportv. o cara foi capitão da seleção brasileira , tem um nívle de comentário técnico mt bom. não temos um equivalente a ele no futebol. a msma coisa o paulo cleto no tênis e o darcio marques tb. o zé boquinha no basquete. não gosto do neto mas desconfio de comentarista que não deve nem saber fazer embaixada. o pvc que seria uma luz nesse mar de escuridão, não sabe fazer comentário técnico, faz comentário tático, mas não consegue enxergar os fundamentos de um jogador de futebol.

Ramalho

O viés corporativista de Coelho Sobrinho manifesta-se na desqualificação de comentaristas esportivos e na insuflação das pretensas características superiores imanentes dos jornalistas e jornalismo. Fecha seu artigo defendendo a exigência de diploma universitário para o exercício da profissão.

A desqualificação dos comentaristas esportivos baseada em correção sintática é patética. Nem vou me dar ao trabalho de explicar o porquê (e o espaço aqui é curto).

Já a multidão de jornalistas formados que foi em revoada para a África o que fez de útil? A se considerar as informações de Coelho Sobrinho, quase nada. Na verdade, sem os "comentaristas", ficar-se-ia sem saber até o que ocorreu nas partidas de futebol, e lá, afinal, transcorria uma Copa do Mundo.

Fazer proselitismo em favor da guilda em cima de ex-jogador de futebol – que fez o trabalho para o qual foi contratado – enquanto jornalistas não o fizeram, é caretice, para se dizer o mínimo.

    Roberto

    Concordo enfaticamente! Esse tal Sobrinho, na tentativa de gerar uma falsa polêmica, perdeu ótima oportunidade de ficar calado.

Helcid

e por falar em "Ti Ti Ti", Gustavo quem diria que a Vênus Platinada (Globo), além de requentar notícias antigas, agora requenta novelas antigas ?

que tosco… este é o padrão de qualidade da "Vênus Platinada" !!

Eduardo Guimarães

Estive em Joanesburgo em agosto do ano passado e fiquei impressionado com os contrastes. A violência urbana se explica por esse apartheid financeiro. O filme que Hollywood fez ainda não terminou, o que torna extemporânea e precipitada qualquer conclusão sobre o país. A África do Sul ainda pode piorar muito antes de melhorar…

Carlos

Folha de S. Paulo 17/08/200 – Janio de Freitas

No império da venalidade

Com os depoimentos, nos últimos dias, de juízes do TRT-SP e do ex-presidente da Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil, estão desmentidas todas as afirmações de Eduardo Jorge Caldas Ferreira nos três temas centrais dos indícios e suspeitas suscitados por suas atividades como principal assessor do presidente da República.
Está dito agora formal e oficialmente, nos autos das investigações do Ministério Público como nos registros da subcomissão do Senado, que a intensa relação de Eduardo Jorge com o ex-juiz Nicolau dos Santos Neto vai muito além da interferência no Poder Judiciário; a liberação de verbas para o Fórum Trabalhista-SP contou com sua participação decisiva, e sua presença em assuntos da Previ foi real e constante.
Não faltam, antes sobram, elementos para a criação de uma CPI, instrumento dotado dos poderes necessários a investigações a um só tempo amplas e mais rápidas. Já que não cabe dúvida de que o assunto vai além de práticas pessoas ou políticas, de ética ou de moralidade administrativa. Envolve as instituições mesmas.
Apesar disso, as lideranças do PFL, do PMDB, do PPB e, claro, o mais comprometido, que é o grupo parlamentar do PSDB, podem continuar impedindo que o Congresso cumpra o seu dever constitucional. Vão receber da Presidência e da mídia negocista as retribuições à altura do serviço de conivência e cumplicidade. Assim como a mídia negocista receberá os favores escusos.
Esses todos fazem muito em agir como agem: lutar para preservar o país que construíram e que, por isso, tem a sua cara. Para eles é essencial que o Brasil seja o império da venalidade. Diferença entre eles e os Nicolaus, EJs, PCs, Cacciolas? Quem quiser que procure outra, mas que o faça com microscópio e sem esperança, porque a única diferença conhecida é só de sorte ou azar: um ou outro de repente é desmascarado. O que, aliás, não tem importância, porque os sócios, ainda que só informais, o protegem com a impunidade, a regra fundamental da classe.

"Vão receber da Presidência e da mídia negocista as retribuições à altura do serviço de conivência e cumplicidade. Assim como a mídia negocista receberá os favores escusos."

Wilson I. dos Santos

Muito oportuna sua apreciação Azenha seria o mesmo que dizer que a educação de casa é que levamos para a rua. Tanto na cobertura da copa quanto em todas as outras matérias feitas aqui na nossa casa deveria valer a observação de Peucer e sua. No último Globo Repórter veículado em 16/07 vi uma matéria sobre os motoboys e qual não foi a minha frustração, provavelmente igual a sua sobre a cobertura da copa, sobretudo por que trabalho a alguns anos como motoqueiro – igual o senhor é jornalista. Indignado fiz uma crítica de quatro páginas querendo demosntrar que a matéria choveu no molhado e não contribuiu em nada para a paz entre os motoristas no trânsito, que o problema deve ser visto de outro ponto de vista, enfim não é só ver a bola rolar…
A resposta deles? A esperada, que aceitamos a sua crítica e blá, blá blá…

Carlos

(Parte 2 / 2 )

DECRETO-LEI Nº 972 – DE 17 DE OUTUBRO DE 1969 – DOU DE 21/10/69

Dispõe sobre o exercício da profissão de jornalista.

Os MINISTROS DA MARINHA DE GUERRA, DO EXÉRCITO e DA AERONÁUTICA MILITAR, usando das atribuições que lhes confere o artigo 3º do Ato Institucional nº 16, de 14 de outubro de 1969, combinado com o § 1º do artigo 2º do Ato Institucional nº 5, de 13 de dezembro de 1968,

DECRETAM:
(…)
Art. 4º O exercício da profissão de jornalista requer prévio registro no órgão regional competente do Ministério do Trabalho Previdência Social, que se fará mediante a apresentação de:

I – prova de nacionalidade brasileira;
II – folha corrida;
III – carteira profissional;
IV – declaração de cumprimento de estágio em emprêsa jornalística;
V – DIPLOMA DE CURSO SUPERIOR DE JORNALISMO OFICIAL OU RECONHECIDO REGISTRADO NO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA OU EM INSTITUIÇÃO POR ESTE CREDENCIADA, PARA AS FUNÇÕES RELACIONADAS DE "A" A "G", NO ARTIGO 6º. (destaque meu, em 15.07.2010)
(…)
Brasília, 17 de outubro de 1969; 148º da Independência e 81º da República.

AUGUSTO HAMANN RADEMAKER GRÜNEWALD
Aurélio de Lyra Tavares – Márcio de Souza e Mello – Jarbas G. Passarinho

Vigorasse tal aberração em 1956, o Brasil não teria conhecido o jornalismo do secundarista Aloysio Biondi…

Convenientemente, o sr. Coelho Sobrinho sonega a informação sobre a origem da exigência e o objetivo de "constitucionalizar" o absurdo.

(*) Já que a velha mídia se esfarela, ruma pra ruína, os defensores do diploma pretenderão torná-lo obrigatório também na internet….

    Carlos

    40 anos depois da imposição do diploma, a constatação: "O jornalismo está doente" – completo: e não só na cobertura esportiva!

    Quantas vezes ao longo deste tempo o "Código de Ética" foi aplicado?

Carlos

(Parte 1 / 2 )

Coelho Sobrinho disse: "… a aprovação, no dia 14 de julho, da exigência de diploma universitário específico para o exercício da profissão de jornalista, por uma comissão especial da Câmara dos Deputados, é bem-vinda."

Bem-vinda, sim, para os barões do ensino privado, que continuarão a despejar milhares de jovens diplomados para disputar reduzidos postos de trabalho, coisa que também serve aos interesses dos barões da mídia. (*)

Que fique claro: exigência do diploma para o exercício do jornalismo, foi uma criação da ditadura militar via decreto-lei, uma aberração autoritária que tentam agora, 40 anos depois, transformar em dispositivo da Constituição Federal.

A seqüência autoritária:

09.02.1967: Lei de imprensa – no. 5.250
13.12.1968: AI-5
26.02.1969: Decreto-lei 477
17.10.1969: Decreto-lei 972 – http://www3.dataprev.gov.br/sislex/paginas/24/196

Marcos Vinicius

Esnobe como texto. Apontar desvios da norma padrão da língua parece argumentos de quem caiu do olimpo da arrogância e não colou as penas derretida do inferno da vida cotidiana. O jornalista – felizmente não é mais o 'paradigma civilizatório' (termo que ouvi no Observatório da Imprensa, pensei que isso fosse função da educação e da escola,mas deixa pra lá), e parece magoado em textos que desqualificam os 'mulatos comentaristas de futebol', num apartheid a lá Brasil.

    Fabrício

    Caro Marcos,
    Todo texto tem uma interpretação, veja a bíblia, por exemplo! Tudo é interpretado e repassado da forma que convém! Mas religião não vem ao caso, como diz o ditado popular: "futebol mulher e religião não se discute"! E nessas pautas não foi discutido o futebol, mas sim a forma como as notícias nos foram repassadas, sem cunho jornalístico, e na maioria das vezes por pessoas despreparadas! Na minha interpretação, o jornalista aproveitou "a deixa", e englobou o despreparo dos nossos "jornalistas" com a oportunidade perdida pelo meios de comunicação de apresentar ao mundo um país novo, cheio de contrastes sociais, tais como o nosso, onde ainda impera a arrogância e prepotência do ser humano! Mostrar o bairro do Soweto, a fauna, a casa onde Mandela cresceu … é tudo banalização! A organização da copa foi um pedido de socorro, os olhos do mundo todo estavam voltados ao continente africano, era a chance de mostrar que a segragação racial ainda existe! Mas a mídia brasileira, como tantas outras do mundo, não se ateve a isso!
    Quanto ao assassinato da língua portuguesa em cadeia nacional, concordo com o jornalista! Arrogância é achar que sabemos tudo, mas ver ou ouvir algo errado e se calar é burrice! Tal como a escola, toda pessoa pública é formadora de opinião e ou exemplo, portanto deve ficar atenta ao que diz e como diz – concordância verbal inadequada, frases sem conclusão, perguntas sem respostas, pronúncias erradas, etc., são frequentes na boca dos comentaristas e apresentadores, sem falar dos políticos! Não que eles não devam atuar nesses cargos, mas as emissoras deviam prepará-los com antecedência. Nossas crianças também assistem TV e são vítimas dessa podridão, acabam desaprendendo o pouco que aprendem na escola!
    Estou longe de ser ou "querer ser" jornalista, mas o fato da formação universitária não ser mais obrigatória para o reconhecimento da profissão só piorará ainda mais o lixo que vemos diariamente na televisão!
    Espero que o mesmo não aconteça na Engenharia!
    O texto do jornalista foi coerente e oportuno, deveria ter sido mais divulgado. E olha que encontrei por acaso!

carmen silvia

Se nos programas jornalisticos com transmissão nacional os profissionais já são essa lástima que todos conhecemos ,o que dirá dos jornalistas que apresentam os jornais regionais,só pra citar um exemplo, a algum tempo assintindo ao jornal regional de minha cidade a reporter disse que no final de semana seria realizado uma apresentção com músicas do "cantor" Heitor Vila Lobos.É por essas e outras que o texto acima deveria ser distribuido aos alunos no primeiro dia de aula de um curso que se pretende formar jornalistas.

dukrai

o interessante de mostrar o desempenho da cobertura jornalística da Copa na África do Sul é que descartou a partidarização da mídia e pode falar de jornalismo e da sua essência, "o direito fundamental de ser (bem) informado e o interesse público".
Foi possível assim fugir do FlaxFlu eleitoral e botar o dedo na ferida, jornalismo é formação e informação, não dá mais pra quebrar galho porque vc tem um milhão de palpiteiros de plantão pra te entregar de bandeja. Vide o fofoqueiro do Esquerdopata que postou a reportagem do Sportv sobre o Paraguai no Youtube e dedurou pro jornal ABC Color. Quem acabou comprando a briga foi o La Nacion e o vexame esportivo-cultural internacionalizou.
Mas cabe a pergunta, quando se fala no despreparo do jornalista, fala-se da sua prática profissional e aí volto à questão da partidarização da mídia. O jornalista é a sua formação e a sua prática profissional, como ficam esses profissionais que só conheceram as redações da Veja, Globo, Folha de São Paulo, Estadão … ?

Sergio Mendes

Se para um leitor incauto, a falta de coerência entre as coberturas jornalísticas de nosso país e a realidade do cotidiano deste é fato, fico me perguntando o que pensam os profissionais que não se rendem, nem comprometem sua capacidade técnica sob a tutela dos editores modernos. Seu texto respondeu a minha questão.

Vania Cury

A análise está realmente muito boa. Para corroborar suas observações, vale a pena ler o capítulo destinado à África do Sul do brilhante livro de Naomi Klein, intitulado A Doutrina do Choque, publicado recentemente no Brasil. Nele, estão muito bem traçados os (des) caminhos que tomou o processo de democratização do país, com ênfase na continuação do modelo econômico de forte exclusão social. Com as mais cordiais saudações, Vania

Christian Schulz

Realmente, Mandela acabou se tornando a Princesa Isabel dos sulafricanos.

Daí para virar nome de terminal de ônibus (que a prefeitura de São Paulo insiste em chamar de "praça") é um pulinho.

    Luiz Carlos Azenha

    Lamento informar, mas é isso. abs

Hans Bintje

Azenha:

Vamos fazer um exercício muito interessante. Escolha qualquer uma de suas reportagens recentes – http://www.viomundo.com.br/tv – e desligue o volume.

Nesse momento, nada vai importar se você fala português ou sueco, se você tem o "cobiçado diploma universitário" para impor o discurso da ordem para as pessoas, mas vai fazer toda a diferença como você olha para elas e, sobretudo, como as pessoas olham para você, o reporter.

No Brasil, exercícios do gênero costumam apontar resultados deploráveis, na linha do comentário de Carlos Brickmann, no Observatório da Imprensa ( http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos…. ):

"Há, e sempre houve, muitas críticas ao jornalismo de TV. Mas hoje a crítica envolve até mesmo a sobrevivência do gênero: estará o jornalismo televisivo sendo contaminado pelo humor grosseiro e escrachado que tira sua graça de incomodar pessoas que não têm nada com isso e infernizar-lhes a vida?"

Em outras palavras, os reporteres olham para as pessoas com desprezo e elas respondem com raiva. Interessante perceber que ambos tentam medir as palavras e a entonação de voz, mas os gestos são evidentes demais. Sem a distração do som, é possível perceber todo esse sofrimento.

Como se comporta o Azenha nesse quesito? Veja por você mesmo. E vai entender porque eu acesso direto o Viomundo!

Quanto ao "cobiçado diploma universitário" para impor o discurso da ordem para as pessoas, prefiro ler com atenção o livro "Essais", de Montaigne ( http://pt.wikipedia.org/wiki/Michel_de_Montaigne ):

"Os 'Essais' são um auto-retrato. O auto-retrato de um homem, mais do que o auto-retrato do filósofo. Montaigne apresenta-se-nos em toda a sua complexidade e variedade humanas. Procura também encontrar em si o que é singular. Mas ao fazer esse estudo de auto-observação acabou por observar também o Homem no seu todo. Por isso, não nos é de espantar que neles ocorram reflexões tanto sobre os temas mais clássicos e elevados ao lado de pensamentos sobre a flatulência. Montaigne é assim um livre pensador, é um pensador sobre o Humano, sobre as suas diversidades e características. (…)

Montaigne não tem um sistema. Não é um moralista nem um doutrinador. Mas não sendo moralista, não tendo um sistema de conduta, uma moral com princípios rígidos, é um pensador ético. Procura indagar o que está certo ou errado na conduta humana. Propõe-se mais estudar pelos seus ensaios certos assuntos do que dar respostas. No fundo, Montaigne está naquele grupo de pensadores que estão a perguntar em vez de responder."

dil

Exatamente isso: "Serra esconde FHC, e todos escondem Serra, menos a mídia" Texto em:
http://eagora-dil.blogspot.com/

Klaus

A melhor cobertura da Copa foi feita pela ESPN e, em alguns poucos momentos e pelo esforço pessoal de alguns repórteres, Sportv. O resto…

    Leider_Lincoln

    Concordo em gênero, número e grau. As demais coberturas resvalaram sempre entre o óbvio e a boçalidade, não raro raivosa.

O Brasileiro

Que texto maravilhoso! Mais uma vez obrigado ao Viomundo.
Um exemplo: eu quis saber quem era Bert van Marwijk, o técnico da Holanda. Quis saber de onde veio, que experiência tinha, como conseguiu transformar pernas-de-pau numa seleção vencedora. E não encontrei nada disso na cobertura feita no Brasil. E olha que vi a copa por três canais diferentes – Band, ESPN e Band Sports (não vi pela Globo porque acho o Galvão Bueno muito ansioso e deprimido, um cara que "não sabe perder"). Então, tive que recorrer à internet, a serviços de busca para saber quem era o tal técnico. Para mim, van Marwijk foi o grande nome dessa copa.
Por favor, agradeçam ao José Coelho Sobrinho também em meu nome!

Ernando Peluso

Parabéns ao autor. De fato a cobertura de um dos maiores eventos esportivos do mundo deixou muito a desejar. Mas como isso é comum no dia-a-dia, não? É só abrir um jornal, uma revista, ver os telejornais, de quase todas as emissoras. Nunca vi algo tão atual quanto o que disse Tobias Peucer em 1690. Traduz . Traduz fielmente o que ocorre hoje na mídia.

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