Jorge Souto Maior: 1º de maio revelador da tragédia brasileira; nas ruas, só mesmo os negacionistas

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Foto: Reprodução de rede social

 Um 1º de maio revelador da tragédia brasileira

Por Jorge Luiz Souto Maior, em seu blog

No dia histórico das lutas da classe trabalhadora, parte da elite brasileira, que se move também pelo revisionismo histórico e o desprezo ao conhecimento, utilizando sua já tradicional estratégia de inversão dos fatos e apropriação de seus significados e simbologias, tomou, ela própria, as ruas, em numerosas manifestações, para, dentre outras coisas, defenderem a manutenção da situação em que nos encontramos, expondo rejeição às medidas de prevenção e nada propondo sobre vacinação pública.

Não satisfeita, se mobilizou para defender a implementação, por outorga, de um regime ditatorial, de modo a possibilitar o uso arbitrário da força estatal (e, no caso, também, miliciana), com todos os seus efeitos inerentes, prisões, torturas, assassinatos e extradições, para aniquilar adversários políticos e ideológicos.

O efeito, do ponto de vista das imagens, foi bastante impressionante, com cenas de lutas trabalhistas concretas em outros países, em contraposição com o cenário brasileiro dominado por fotos de manifestações bolsonaristas, alegres e coloridas de apoio ao governo, fazendo transparecer que por aqui a situação está bem mais tranquila e harmônica do que nos países retratados.

Este contraste fotográfico, no entanto, apenas revela (deixa bem nítido) como o Brasil está atrasado em termos de enfrentamento da Covid-19 com relação aos demais países, onde as pessoas já podem ir às ruas com menor risco de perder a vida, para fazerem suas tradicionais reivindicações trabalhistas, no sentido da conquista de novos direitos.

Já aqui os trabalhadores e trabalhadoras estão morrendo (3.000/4.000 ao dia – sem contar a subnotificação) e, por consequência, estão tentando, de algum modo, manter-se vivos e uma forma para tanto é não se aglomerar. Além disso, estão acuados e com medo da fome, que já assola mais de 12 milhões de pessoas.

​E, claro, o contraste em questão é também reflexo do imobilismo recorrente da esquerda nacional, que se burocratizou e que, mesmo diante da gravidade do momento, tem dedicado, com sério efeito conivente, todo seu esforço e atuação à via das eleições de 2022.

Neste contexto, só vão para as ruas mesmo os negacionistas, figuras mimetizados de seu “mito”, que pouco se importam com a vida alheia (e, por ignorância, com a própria vida), e, assim, não se incomodam em promover aglomerações e não usar máscaras, para vociferarem ódio, golpearem a democracia e corroborarem os atos e omissões que multiplicaram a nossa tragédia social e humana.

Assim, se postaram em nome da preservação da sua condição de elite e classe dominante, uma posição que, de fato, se vê ameaçada, embora isto se dê muito mais como efeito das políticas econômicas ultraneoliberais e entreguistas que tanto defendem e também por causa da excessiva demora – até se atingir um estágio de uma quase impossível recuperação – do governo em tomar as medidas necessárias para conter o contágio do que pelos motivos que, manipulados, acusam.

Melancólico fim das elites brasileiras!

São Paulo, 2 de maio de 2021.

*Jorge Luiz Souto Maior é professor livre-docente de Direito do Trabalho da Faculdade de Direito da USP,  coordenador do Grupo de Pesquisa Trabalho e Capital – GPTC, membro da Rede Nacional de Grupos de Pesquisa em Direito do Trabalho e da Seguridade Social – RENAPEDTS e juiz do Trabalho


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Zé Maria

21 mil trabalhadores se infectaram por Covid-19 exercendo
tarefas em seu ambiente de trabalho, no ano passado (2020),
de acordo com o Observatório Digital de Segurança e Saúde
no Trabalho, uma parceria entre a Organização Internacional
do Trabalho (OIT) e do Ministério Público do Trabalho (MPT).

O diretor da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz,
Sérgio Castro, destaca o aumento da mortalidade por Covid-19
entre trabalhadores dos serviços essenciais.

“As atividades mais claramente essenciais como comércio,
transporte, houve um aumento proporcional de mortalidade.
Morreram 300 motoristas de caminhão em 2019.
Em 2020, passou para 600 mortes.”

Profissionais de enfermagem foram os mais afetados pela
Epidemia durante o exercício da função.

[ Reportagem: Sayonara Moreno | Agência Brasil ]

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