Jeferson Miola: O projeto de poder dos militares fracassou

Tempo de leitura: 3 min
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As pedras no meio do caminho do Partido dos generais

Por Jeferson Miola, em seu blog

“No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra
Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
Tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra.”

Carlos Drummond de Andrade

Com a eleição do Bolsonaro, lançado por eles no pátio da AMAN [Academia Militar das Agulhas Negras] ainda em 29 de novembro de 2014, quatro anos antes da eleição presidencial de 2018, o Partido dos generais acalentava planos pretensiosos.

Planejavam tomar o poder e nele permanecer por longo período; pelo menos por muito mais tempo que os 21 anos em que usurparam o poder civil da última vez, durante a longeva ditadura que durou de 1964 a 1985.

A atual geração dirigente das Forças Armadas é formada nas turmas da AMAN dos anos 1971/1980.

É um pessoal originário do porão fétido do velho regime e fermentado numa cultura conspirativa e autoritária, que possui forte ambição política.

Consideram-se, ironicamente, predestinados a conduzirem os destinos da Nação, uma vez que consideram, não sem razão, que as elites civis do país são incapazes de cumprir tal missão, sobretudo com “decência e pureza” [sic].

A figura emblemática desta geração militar é Silvio Frota, o general que em abril de 1977 tentou perpetrar um golpe contra Geisel para impedir até mesmo a abertura lenta, gradual e segura defendida pelo penúltimo ditador daquele regime.

O ídolo de vários dirigentes desta geração que sublima a tortura é ninguém menos que o coronel-torturador-assassino Carlos Alberto Brilhante Ustra.

No horizonte do plano de poder, o Partido Militar encartava a possibilidade irônica de implantar uma “ditadura democraticamente eleita” para se perpetuar no poder.

Afinal de contas, eles se gabam do “retorno” ao poder por meio da “eleição democrática” do Bolsonaro – mesmo que, na verdade, tenha sido uma eleição fraudada por meio da interferência do Alto Comando do Exército e da gangue da Lava Jato no processo farsesco que impediu a participação do ex-presidente Lula no pleito.

Tudo andava bem para o plano dos militares até que a pandemia da COVID surgiu como uma pedra no caminho. Apostaram se tratar de um fenômeno passageiro, que logo seria superado.

Em nome desta aposta, desprezaram as previsões da OMS e sabotaram as recomendações científicas nacionais e internacionais.

Apostaram, inclusive, nas profecias de charlatões que prediziam que o número de óbitos não atingiria sequer a cifra de um milhar.

Na visão simplista e simplória deles, bastava aboletar um general “gênio da logística” no Ministério da Saúde que tudo estaria resolvido no menor prazo possível. Por isso, colocaram o paspalhão general da ativa do Exército Eduardo Pazuello no cargo de ministro da morte.

Com a aposta errada, Bolsonaro e os militares se tornaram reféns do próprio erro. E, com a errada e deliberada opção Pazuello, o genocídio de Manaus e a espiral do morticínio foi a consequência natural.

Hoje o país avança aceleradamente para as 500 mil mortes, sendo ¾ delas evitáveis; ou seja, juridicamente enquadráveis como homicídios decorrentes da consciente e criminosa opção governamental.

Na CPI do genocídio, Bolsonaro e o Partido dos generais estão no banco dos réus. As Forças Armadas, em especial o Exército, foram arrastados por seus comandos a esta situação vergonhosa e desonrosa.

Até 8 de março, quando o STF anulou as condenações ilegais do ex-presidente Lula, o Partido Militar reinava absoluto e prepotente; sentia-se inabalável no controle total da situação, pois com a tutela que exerciam sobre o judiciário mantinham Lula preso no cativeiro judicial do STF, ainda que liberto da Guantánamo de Curitiba.

O reconhecimento da suspeição do Moro e a anulação das condenações farsescas do Lula provocaram, entretanto, um abalo sísmico no projeto de poder do Partido dos generais, que se somou ao desgaste derivado do desastre deles na gestão do enfrentamento à pandemia.

Chegou a hora destes militares conspiradores e usurpadores do poder civil reconhecerem sua derrota e se recolherem às funções que, fossem eles profissionais e não conspiradores, jamais deveriam ter se afastado.
Como disse o relator da CPI Renan Calheiros, a diretriz é clara: “Militares nos quartéis, e médicos na saúde. Quando se inverte, a morte é certa. E foi isso que, lamentavelmente, parece ter acontecido”.

O projeto de poder dos militares fracassou. É chegada a hora de se recolherem aos quartéis. A repulsa ao seu papel é geral: da sociedade brasileira à comunidade internacional, a presença deles na arena na política é rechaçada.


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Comentários

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Zé Maria

Jair Bolsonaro sempre se elegeu às custas
da Popularidade dos Militares no Brasil.
Agora, são os Militares que se sustentam
apoiados na Popularidade de Bolsonaro.

A Incompetência dos Oficiais, sobretudo
do Exército, foi Exposta de tal maneira que
a Fama das Forças Armadas depende de
um Improvável Sucesso do desgoverno de
Bolsonaro/Guedes/Salles/Pazuello/Mourão,
uma Equipe de Sádicos que compactua com
a Devastação Ambiental e o Genocídio das
Pessoas Assoladas pela Fome e pela Doença.

Miguel Silva

Dessa confusão toda, caiu por terra a lenda do militar honesto e competente. Mais: que é um custo altíssimo pra sociedade brasileira manter essa turma de desocupados fardados confinados em quartéis, sabe-se hoje regados à picanha e whisky, maquinando tomar o poder pra sustentar e alargar suas sinecuras. Não tem como dar certo esses brucutus exercendo atividades governamentais que exigem mais que dois neurônios pô-las em ação.

Zé Maria

E o Vice-PreZidente, General Mourão, afirmando
que lá no Rio de Janeiro [nas Favelas, nos Morros]
“é tudo Bandido”. Como se justificasse a Execução
Sumária dos Moradores Pobres – e Negros – de lá.

    Loco

    Vc é doente? Morreu alguém que tava estudando ou na escola? vc nao pode ser tao doente assim

Zinda Vasconcellos

Acho perigo cantar vantagem antes da hora. Murphy escuta e nao gosta de ser desafiado, rs. Quem é o vice de Bolsonaro? E quem será o presidente se Bolsonaro for impedido? A nao ser que seja via Justiça Eleitoral, que casse a chapa, acho que o plano dos militares pode estar dando é muito certo…

Henrique martins

https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/reconhecemos-o-resultado-diz-psdb-apos-bolsonaro-dizer-que-aecio-venceu-dilma-em-2014/

Ele contestaria o resultado das eleições com ou sem voto impresso. Seu projeto é ser um ditador e se perpetuar no poder.
Mais nao se preocupem. Ele nao estará entre os candidatos nas eleições de 2022. Se eu estiver vivo vou ter o maior prazer em voltar aqui para dizer: bingo!

Henrique martins

https://www.brasil247.com/cpicovid/bolsonaro-ataca-cpi-e-volta-a-defender-cloroquina-remedio-ineficaz-e-perigoso

Se só Deus o tira da cadeira presidencial ele pode esperar que a providência divina está preparando uma péssima surpresa para ele que não poderá contar com o diabo por muito tempo. Ele além de cair, vai cair desonrado.
Sobre não ter corrupção no governo dele ja passou da hora dele explicar porque a rachadinha corria solto nos gabinetes dos filhos dele e quem os ensinou essa prática.
Rachadinha é desvio de dinheiro público. É peculato. Apropriacao indébita. Com Bolsonaro hipocrisia pouca é bobagem.
Sobre o uso da cloroquina o que é gravissimo é que as pessoas se sentiram seguras usando um medicamento ineficaz e nao se cuidaram e acabaram se contaminando e contaminando outras pessoas. Com certeza absoluta, bolsonaro é o responsável direto por milhares de mortes no Brasil. Extrapolou em muito o seu desejo de que a ditadura tivesse matado uns 30.000 mil. Nesse ponto ele é um sujeito vitorioso.
Esse homem tem um demonio no corpo. E eu aproveito para reiterar: vocês não viram nada ainda do que ele é capaz.

Henrique martins

https://www.brasil247.com/cpicovid/pazuello-avalia-ir-ao-stf-para-reivindicar-o-direito-de-ficar-em-silencio-na-cpi

Quem cala consente. Ele que depois nao reclame do relatório e das conclusões do relator.
A covardia do general é gritante. Fico pensando nas atitudes de um homem desses numa guerra. Torço para que ele seja exceção entre os generais __ ao menos os que estão na ativa.

    xt660

    Ir até a CPI e calar-se vai trazer o efeito contrário que ele espera. Toda a população verá que ele não passa de um cagão, sem moral e competência pra encarar dificuldades. Lula e mesmo Dilma nunca calaram-se diante de acusações. Dilma nunca tratou jornalistas com desprezo.
    Bolsonaro nunca aprendeu a fazer política e apostou alto em jogos que não poderia ganhar.

José Carlos da Silva

O artigo distorce atribuições pois baseia-se que os militares são os autores das frases públicas e não Bolsonaro. Não sou favor do governo e considero o desagregador da Nação. Mas atribuir o desgoverno e políticas de governos exclusivamente aos militares é demais… Cadê Guedes, Salles, Damares e etc. Chega de visão pequena e totalmente ideologizada!

    Azarias Esaú dos Santos

    Você chama para assessorá-lo pessoas que o apoiam e acreditam em teus projetos. Tudo o que estes assessores, secretários ou ministros fazem, é sob orientação politica e ideológica do grupo em que és líder.

    Azarias Esaú dos Santos

    Você chama para assessorá-lo pessoas que o apoiam e acreditam em teus projetos. Tudo o que estes assessores, secretários ou ministros fazem, é sob orientação politica e ideológica do grupo em que és líder.

Morvan

Militares nunca tiveram estofo para Governo, nem preparo para tal, bem como não é seu papel. Roma os proibiu de atravessar a cidadela, não por acaso; pelo perigo que sempre foram. Já naqueles idos. Essa de “governo militar” é invenção das ‘Demo Crau Cias’. Quando chegam ao poder, não importa como, se empanturram de nababesca, como leite condensado, sobejas mantas de bacalhau e outros rapapés, enquanto o povo agoniza, de fome, desemprego e pandemias.
Mas surge uma pergunta: seriam só essas bestas os culpados? E as Ordens, infestadas deles, de “juízes”, de “homens de bens”?

abelardo

Só que desta vez não pode haver anistia para os militares que tem suas digitais marcadas no genocídio que marchou por seus gabinetes, sem ser incomodado.

baader

será que vão sair assim facinho facinho, como Dlima?

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