Independent: Escândalo bate à porta do número 10 da rua Downing

Tempo de leitura: 3 min

Hunt pediu a Murdoch para guiar reação do governo ao escândalo da espionagem

E-mail explosivo no Comitê Leveson aumenta a pressão sobre Cameron

Oliver Wright, James Cusick e Martin Hickman, 12.05.2012, no diário britânico Independent

As revelações no Comitê Leveson implicam Downing Street [residência oficial e escritório do primeiro-ministro britânico] pela primeira vez num potencial acobertamento e colocam mais pressão sobre o ministro da Cultura, quando ele se prepara para depor.

Um e-mail comprometedor divulgado no comitê, ontem, sugere que o sr. Hunt [o ministro da Cultura] pediu à companhia [de Murdoch] para “assessorar privadamente” e “guiar o pensamento dele e do 10 Downing Street” sobre o desenrolar do escândalo. A existência do e-mail previamente secreto emergiu durante mais de cinco horas de interrogatório da ex-executiva chefe da News International, Rebekah Brooks, na Comissão Leveson.

Brooks revelou que:

* Ela discutiu privadamente o negócio de 8 bilhões de libras pelo qual a News Corp assumiria o controle da TV via satélite BSkyB com o ministro da Fazenda, George Osborne, durante um jantar. Antes do jantar, o Ofcom, escritório de regulamentação da mídia no Reino Unido, tinha levantado algumas preocupações sobre a proposta da News Corp. No dia seguinte, a srta. Brooks escreveu uma mensagem para Fréd Michel, chefe de relações públicas da News Corp, dizendo “VAMOS — totalmente perplexa com a resposta”.

* Brooks discutiu as acusações de espionagem telefônica com David Cameron em várias ocasiões, entre 2009 e 2011. O primeiro-ministro também ligou para perguntar sobre o assunto em outubro de 2010. No entanto, ela afirmou que o primeiro-ministro nunca discutiu o possível envolvimento de Andy Coulson [que era, então, assessor de Cameron], o ex-editor do jornal News of the World, na espionagem.

* O sr. Cameron enviava a ela mensagens de texto com a assinatura LOL, até que ela explicou a ele que isso significava “Laughing out Loud” [Gargalhar], não “Lots of Love” [Muito amor]. No entanto, ela negou receber mensagens 12 vezes por dia, dizendo que as mensagens eram enviadas uma ou duas vezes por semana.

* Ela recebeu mensagens de apoio diretas ou indiretas de políticos, inclusive de Cameron, Osborne e do ex-primeiro-ministro Tony Blair, quando foi forçada a renunciar a seu cargo na News International, em julho de 2011. A srta. Brooks também disse que recebeu uma mensagem de apoio do Home Office [ministério responsável pela imigração e segurança], que tem papel importante na supervisão dos processos contra atividades criminais relacionadas à espionagem telefônica.

Mas é o surgimento do e-mail endereçado à srta. Brooks, enviado pelo lobista da News Corp, Fréd Michel, descoberto no Blackberry dela, que causa o maior dano ao governo. Enviado no dia 27 de junho de 2011, apenas uma semana antes da descoberta de que jornalistas do News of the World tinham violado a secretária eletrônica da adolescente assassinada Milly Dowler, a mensagem sugere que ministros estavam combinando com executivos da News Corp formas de controlar o escândalo.

É a prova de que a News Corp tinha um canal secreto para saber o que Jeremy Hunt [o ministro da Cultura, encarregado de zelar pela pluralidade da mídia] estava planejando, quando decidia aprovar ou não a proposta de compra da BSkyB. O sr. Michel escreveu para a srta. Brooks: “Hunt fará referência à espionagem telefônica quando falar sobre Rubicon (o negócio da BSkyB) esta semana… Será baseado na crença dele de que a polícia está fazendo uma investigação completa e de que a espionagem não tem qualquer relação com questões relativas à pluralidade da mídia”.

[Nota do Viomundo: A compra da BSkyB pela News Corp, de Murdoch, implicaria em maior concentração da mídia britânica. Ele desistiu do negócio]

O sr. Michel, no e-mail, acrescentou: “Isso é extremamente positivo”. E continuou: “Ele [Hunt] quer evitar uma investigação pública [da espionagem]”.

“JH está agora analisando as questões/práticas de espionagem mais detalhadamente e me pediu para assessorá-lo privadamente nas próximas semanas, para guiar a ele e ao 10 Downing Street…”

Quando o e-mail foi enviado, o sr. Hunt estava sob pressão de parlamentares trabalhistas para adiar o negócio da BSkyB por causa do escândalo de espionagem. A Operação Weeting estava identificando um crescente número de vítimas da espionagem e uma semana antes a News International tinha entregue secretamente documentos revelando o suborno de policiais da Metropolitan Police [a polícia londrina]. Apesar disso, Hunt essencialmente aprovou o negócio da News Corp, a não ser por pequenos detalhes, três dias depois da mensagem ter sido enviada.

Fontes próximas ao sr. Hunt dizem categoricamente que ele nega ter dito à News Corp que pretendia evitar uma investigação pública ou que tenha pedido à companhia para assessorá-lo ou ao governo na resposta ao escândalo da espionagem. O ministério disse: “Jeremy Hunt vai dar sua resposta quando testemunhar à comissão Leveson. Ele está confiante de que as provas vão demonstrar que ele se comportou com integridade em todas as questões. Já está claro que, apesar do que diz Fréd Michel nas mensagens, ele não estava tratando do assunto com Jeremy Hunt”.

Mas Harriet Harman, o ministro da Cultura no governo paralelo do Partido Trabalhista, disse que o e-mail levanta novas questões sobre o sr. Hunt e o sr. Cameron.

“As pessoas vão ficar ofendidas com a ideia de que Jeremy Hunt e 10 Downing Street se juntaram à News Corp para evitar uma investigação pública da espionagem telefônica”.


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Comentários

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RicardãoCarioca

Por aqui, o PiG tucano e seus eleitores tucanos querem levar à cruz os corruptos petistas e ao altar os corruptos tucanos. Aqueles que têm sentimentos seletivos de indignação com a corrupção, não passam de piada, meros provocardozinhos de Internet que – espero, ao menos – sejam a soldo, para compensar tamanha perda de tempo e energia elétrica escrevendo baboseiras que ninguém, com um cérebro minimamente funcional, conseguiria levar a sério.

Gil Rocha

É isso mesmo que acha?
Então a Inglaterra pode ser
comparada com o Brasil em matéria
de falcatrua política?
O que acontece com políticos por lá
quando são pegos?
Lá o político acaba para a vida púbica quando
não vai para o xilindró.
Aqui, geralmente eles voltam reeleitos e cadeia
que é bom não ficam nem um dia.
Já se preocupou em pesquisar a quantidade
de escândalos políticos ingleses com os daqui?
nos últimos 10 anos?

Mario Silva Lima

A diferença básica entre o que acontece lá e o que acontece aqui, é que lá quando se é pego com a boca na botija quem é pego assume a bronca e entrega todos envolvidos no esquema, e aqui quem é pego fica querendo jogar para os advesários as responsabilidades de suas mancadas.

Julio Silveira

E tem gente que teima querer acreditar, e até vende a versão, que a má politica é coisa exclusivamente brasileira. Essa é apenas mais uma informação que nos é repassada, sem retoques de grandeza, como inversamente costumam apresentar a mídia corporativa nativa e colonizada.

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