Ilan Pappe: Revolução no Egito é ruim para Israel

Tempo de leitura: 6 min

17/02/2011

Independentemente do modo como tudo isso vá acabar, (a revolta na Tunísia e no Egito) expõe as falácias e o simulacro de Israel como nunca antes. O que está em jogo é a falácia de que Israel é um país estável, ilha civilizada ocidental no mar agitado da barbárie e do fanatismo islâmico árabe. O “perigo” para Israel é que a cartografia seja a mesma, mas que a geografia mude. O país ainda seria uma ilha, mas de barbárie e fanatismo em um mar de Estados democráticos e igualitários recém-formados. O artigo é de Ilan Pappe.

por Ilan Pappe*, em Carta Maior

As revoluções da Tunísia e do Egito, se realmente obtiverem sucesso, serão ruins, muito ruins para Israel. Árabes educados – nem todos vestidos como “islâmicos”, a maioria sem falar um inglês perfeito, cujo desejo de democracia não recorre à retórica “antiocidental” – são ruins para Israel.

Exércitos árabes que não atirem nos manifestantes são tão ruins para Israel como o são muitas outras imagens que movimentam e entusiasmam tantas pessoas ao redor do mundo, inclusive no Ocidente. Essa reação mundial também é ruim, muito ruim para Israel. Faz a ocupação israelense na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, e as políticas sionistas de apartheid dentro de Israel, parecerem atos de um típico regime “árabe”.

Por algum tempo não soubemos o que os oficiais de Israel pensavam [sobre a intifada egípcia]. Na primeira mensagem a seus pares, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu pediu a seus ministros, generais e políticos que não comentassem em público os acontecimentos no Egito. Por um breve momento qualquer um de nós pensaria que Israel havia passado de bandido do bairro para o que ele sempre foi: um visitante ou um residente permanente [na Palestina].

Parece que Netanyahu ficou particularmente envergonhado com os comentários infelizes sobre a situação proferidos publicamente pelo general Aviv Kochavi, o chefe da inteligência militar israelense. Especialista em assuntos árabes, Kochavi declarou confiante, no Knesset [o Parlamento de Israel], duas semanas antes da queda de Mubarak, que o regime do ditador estava mais sólido e resistente do que nunca. Mas Netanyahu não pôde ficar de boca fechada por tanto tempo. E, quando falou, todos os outros o seguiram. E, quando todos falaram, suas opiniões fizeram os comentaristas da Fox News [de direita, conhecidos pela virulência] parecerem um bando de hippies pacifistas e amantes da liberdade da década de 1960.

A essência da narrativa israelense é simples: essa é uma revolução semelhante à iraniana, auxiliada pela Al Jazeera e estupidamente permitida pelo presidente dos EUA, Barack Obama, que é um novo Jimmy Carter, e por um mundo estupefato. No comando da interpretação israelense estão os ex-embaixadores de Israel no Egito. Todas as suas frustrações por terem sido trancados em um apartamento de um arranha-céu no Cairo agora explodem como um vulcão em erupção. Suas invectivas podem ser resumidas nas palavras de um deles, Zvi Mazael, que declarou ao canal de televisão israelense One, em 28 de janeiro, que “isso [a intifada egípcia] é ruim para os judeus, muito ruim”.

Em Israel, claro, quando você diz “ruim para os judeus,” você quer dizer “para os israelenses” – mas também significa que tudo que é ruim para Israel é ruim para os judeus de todo o mundo (apesar das evidências em contrário desde a fundação do Estado).

Mas o que é realmente ruim para Israel é a comparação.

Independentemente do modo como tudo isso vá acabar, [a revolta na Tunísia e no Egito] expõe as falácias e o simulacro de Israel como nunca antes. O Egito está passando por uma intifada pacífica – a violência letal vem do lado do regime. O exército não atirou contra os manifestantes, e até mesmo antes da partida de Mubarak, com os protestos alcançando a marca de sete dias, o ministro do interior, que liderou seu capangas num choque violento contra os manifestantes, foi demitido e, provavelmente, será levado à justiça.

Sim, isso foi feito para o governo ganhar tempo e tentar convencer os manifestantes a ir para casa. Mas mesmo esta cena, agora esquecida, nunca poderia acontecer em Israel. Israel é um lugar onde todos os generais que ordenaram o massacre de manifestantes palestinos e judeus contra a ocupação agora concorrem ao mais alto cargo, o de chefe do estado-maior das forças armadas.

Um deles é Yair Naveh, que deu ordens, em 2008, para matar palestinos suspeitos até mesmo quando eles podiam ser presos de maneira pacífica. Ele não vai para a cadeia, mas a jovem Anat Kamm, que tornou públicas essas ordens, enfrenta agora nove anos de prisão por revelá-las ao diário israelense Haaretz. Nenhum general ou político israelense passará um único dia na prisão por requisitar tropas para disparar contra manifestantes desarmados, civis inocentes, mulheres, velhos e crianças. A luz que irradia do Egito e da Tunísia é tão intensa que também ilumina os espaços mais escuros da “única democracia do Oriente Médio” [como Israel se autodenomina].

Não violentos, democráticos (religiosos ou não), os árabes são ruins para Israel. Mas talvez esses árabes estivessem ali o tempo todo, não só no Egito como também na Palestina. Os comentadores israelenses insistem que a questão mais importante em jogo – o tratado de paz israelense com o Egito – é um desvio, com pouca relevância para o impulso poderoso que agita o mundo árabe como um todo.

Os tratados de paz com Israel são os sintomas da corrupção moral, não a doença em si – e é por isso que o presidente sírio, Bashar Asad, sem dúvida um líder antiisraelense, não está imune a essa onda de mudança. Não, o que está em jogo é a falácia de que Israel é um país estável, ilha civilizada ocidental no mar agitado da barbárie e do fanatismo islâmico árabe. O “perigo” para Israel é que a cartografia seja a mesma, mas que a geografia mude. O país ainda seria uma ilha, mas de barbárie e fanatismo em um mar de Estados democráticos e igualitários recém-formados.

Aos olhos de grande parte da sociedade civil ocidental, a imagem democrática de Israel desapareceu há muito tempo, mas agora pode ter sido ofuscada e embaciada aos olhos de outros, os políticos e os que estão no poder. Quão importante é a velha e positiva imagem de Israel para a manutenção de sua relação especial com os Estados Unidos? Só o tempo dirá.

De um jeito ou de outro, o grito da Praça Tahrir é um aviso de que as falsas mitologias da “única democracia do Oriente Médio”, do fundamentalismo cristão hardcore (muito mais sinistro e corrupto do que a Fraternidade Muçulmana), do lucro da cínica corporação das indústrias militares, do neo-conservadorismo e do lobby brutal não vão garantir a sustentabilidade da relação especial entre Israel e Estados Unidos para sempre.

E, mesmo que essa relação especial se mantenha por algum tempo, será baseada em fundamentos ainda mais precários. Os estudos de caso diametralmente opostos dos até agora resistentes poderes regionais antiamericanos do Irã e da Síria, e, em certa medida, da Turquia, por um lado, e a queda derradeira dos tiranos pró-EUA, por outro lado, são indicativos: mesmo que se prolongue, o apoio estadunidense pode não ser suficiente, no futuro, para manter um “Estado judeu” étnico e racista no coração de um mundo árabe em mutação.

Essa poderia ser uma boa notícia para os judeus, mesmo para aqueles que vivem em Israel, a longo prazo. Não será fácil viver cercado por povos que prezam a liberdade, a justiça social e espiritualidade, e que navegam às vezes com segurança, às vezes de maneira precária, entre a tradição e a modernidade, o nacionalismo e o mundano, a globalização capitalista agressiva e a sobrevivência diária.

No entanto, há um horizonte que carrega a esperança de desencadear mudanças similares na Palestina. Pode chegar ao fim o mais de um século de desapropriação e de colonização sionista, substituído por uma reconciliação mais equitativa entre os palestinos – vítimas dessas políticas criminosas onde quer que estejam –, e a comunidade judaica. Essa reconciliação seria construída sobre a base do direito de retorno palestino e sobre todos os outros direitos pelos quais o povo do Egito tão bravamente lutou nos últimos 20 dias.

Mas os israelenses não perdem uma oportunidade de perder a paz. Eles uivariam como lobos. Exigiriam, e receberiam, mais recursos do contribuinte estadunidense, em função dos novos “acontecimentos”. Interfeririam de modo clandestino e destrutivo para minar qualquer transição para a democracia (lembram-se da força e da agressividade que caracterizaram a reação israelense à democratização da sociedade palestina?) e elevariam a campanha islamofóbica a patamares novos e sem precedentes.

Talvez, porém, o contribuinte estadunidense não se movesse dessa vez. E talvez os políticos europeus seguissem o sentimento geral de seu público e permitissem não apenas que o Egito fosse dramaticamente transformado, mas também dessem as boas vindas a uma mudança semelhante em Israel e na Palestina. Em um cenário assim, os judeus de Israel teriam a chance de se tornar parte do Oriente Médio real e não membros estrangeiros e agressivos de um Oriente Médio inventado pela imaginação alucinatória sionista.

* Ilan Pappe é professor de história e diretor do Centro Europeu para o Estudo da Palestina da Universidade de Exeter, Grã-Bretanha. Seu livro mais recente é Out of the Frame: The Struggle for Academic Freedom in Israel [Fora do esquema: a luta pela liberdade acadêmica em Israel] (Pluto Press, 2010).

Tradução: Baby Siqueira Abrão


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Comentários

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MA_Jorge

Uma coisa todos podem estar certos; o estado de Israel(e seus governantes) sempre foram mais prejudiciais ao povo norte-americano em suas decisões e atual envolvimento, do que o que muitos hoje no mundo querem ou desejam imputar como sendo uma atitude genérica dos governantes americanos.

O problema do governo americano foi não detectar, dentro de todo o processo de negociação de paz, o ponto onde nas conversações deveria ser exigido das partes envolvidas, igualdade de direitos e deveres e, o mais importante, respeito em relação aos povos da região.

O erro dos EUA foi colocar suas necessidades sempre a frente de todo o processo, optaram por "puxar a sardinha para o lado de Israel, aceitando, candidamente, seus argumentos.

Hoje; perderam e estão perdendo cada vez mais, todo o respeito que contavam em todo o mundo em relação a sua democracia exemplo, a democracia idealizada por aqueles que eles chamam "os pais da nação". Ninguém mais a deseja, o exemplo tem se identificado por demais com toda esta corrupção generalizada em relação aos acordos ligados com o estado de Israel. Hoje, cada país deseja ter a Democracia moldada ao seu povo e às suas necessidades.

betinho2

Aqui um vídeo de uma longa entrevista de Ilan Pappe que vale a pena assistir, até para melhor entender esse artigo acima:
http://www.youtube.com/watch?v=buIKKeygWBY

betinho2

Pedro, Beto_w e demais.
Posto abaixo dois vídeos que talvez ajudem a clarear um pouco essa questão Israel, Judeus e Sionistas.

A notícia que o resto do mundo não viu 1 http://www.youtube.com/watch?v=DMmc9okbfGw&NR

A notícia que o resto do mundo não viu 2 http://www.youtube.com/watch?v=Jv8TW2Pts_w&fe

    Beto_W

    Caro xará, acho que sem contexto seus vídeos mais confundem do que explicam. O primeiro vídeo me preocupa, já que coloca no mesmo saco sionistas pacifistas protestando em vários lugares do mundo e os Neturei Karta, judeus ultra-religiosos anti-sionistas. O segundo vídeo mostra uma delegação de Neturei Karta se encontrando com Ahmdinejad.

    Há judeus, em israel e no resto do mundo, que são sionistas – ou seja, defendem o direito à existência de Israel como lar nacional para os judeus – e que são contra a guerra, a ocupação de Gaza e da Cisjordânia, e as atrocidades cometidas contra os palestinos. Eu me incluo nesse grupo.

    Os Neturei Karta,no entanto, são uma seita religiosa que se declara anti-sionista por razões religiosas. Explico: no judaísmo, existe o conceito da chegada do Messias, que trará paz aos povos e reconstruirá a terra de Israel. Os Neturei Karta interpretam esse conceito entendendo que qualquer tentativa de criar um país judaico em Israel antes da tal chegada do Messias vai contra a religião, e que portanto o Estado de Israel e qualquer um que apóie a criação/construção/manutenção de um lar nacional para os judeus vai contra a religião. Portanto, para eles, sionismo é anti-judaico.

    No entanto, eles são um grupo muito pequeno da parcela religiosa ortodoxa do povo judeu, que por sua vez já é pequena. São uma minoria considerada extremista, tresloucada e até perigosa pelo resto dos judeus. Eles assumem posições polêmicas, apoiando o Irã, o Hamas, o Hizbullah, entre outras coisas. Seus protestos contra as ações de Israel são válidos, mas seus motivos são um tanto distorcidos.

    Já quanto aos judeus do Irã, existe uma comunidade judaica razoável lá, uma das maiores do Oriente Médio, formada em sua maior parte de religiosos ortodoxos que se alinham com o pensamento dos Neturei Karta. Como eles se declaram contra Israel, lhes é permitido viver no Irã sossegados, mas se algum deles resolver mudar de idéia quanto a Israel, ou tentar telefonar para Israel, ou tentar viajar para Israel, está arriscado a ser preso.

mariazinha

Os palestinos precisam ter seu próprio país; nada de dividir bandeiras nem hinos com israel. Cada um terá seu país e israel vai ter que mudar ou um raio DIVINO cairá sobre o solo sagrado, fulminando-o. Não será possivel carregar em seus espíritos essa carga negativa desumana que lançaram contra palestinos; seus pecados precisam ser expiados, de alguma forma.
Continuemos a boicotar os produtos , as marcas que alimentam israel, gente. Só assim, minando seus bolsos, conseguiremos que enxerguem alguma coisa além de sua própria luxúria e crueldade.

Maravilhoso, estupendo texto de Ilan Pappe!
Paraqbéns, AZENHA , por coloca-lo.
PAZ e bem p/tds.

    Beto_W

    Mariazinha, eu concordo que os palestinos devem ter seu própro país. Quando eu mencionei a bandeira e o hino, me referia ao problema que seria gerado ao conceder o direito de retorno aos palestinos, ou seja, ao dar cidadania israelense aos palestinos cujas famílias foram expulsas de onde hoje é território israelense. Esse é um dos pontos reivindicados pelos palestinos, e que poderia gerar polêmica, como eu já mencionei. Na verdade, esse tema já é polêmico hoje em dia, pois 20% da população de Israel é de etnia árabe, e se sente excluída em muita coisa, a começar pelo hino e bandeira, que carregam simbologia e temática judaicas.

O_Brasileiro

A ganância de um povo pode levá-lo à ruína…

    Jairo_Beraldo

    A arrogancia é a sintomática da queda eminente.

SILOÉ

Qualquer movimentação nos países Árabes é ruim para Israel e os EUA, pois eles se acham donos do mundo.

Pedro

Talvez seja necessário ser mais categórico com relação a desvincular Israel de judeu. Se existem judeus que apoiam Israel, isso não nos deve levar a estabelecer uma identidade entre ambos. Houve judeus que apoiaram Hitler, como há brasileiros que apoiaram a ditadura militar e gostaram do que ele faz como, por exemplo, assassinatos e torturas. Nem por isso podemos dizer que os brasileiros apoiam monstruosidades políticas.

    Beto_W

    Pedro, infelizmente nem os judeus conseguem fazer isso muito bem. Existe uma ligação emocional dos judeus com Israel muito forte, e por isso muitos não querem enxergar nem admitir as atrocidades cometidas contra os palestinos, e sempre defendem incodicionalmente as ações de Israel. Engolem qualquer argumento meia-boca que defenda seu ponto de vista, acusam qualquer crítico de ser anti-semita, ficam na defensiva. Eu mesmo fico muito triste quando leio aqui ou em outros lugares duras críticas a Israel. Só que no meu caso eu já li e vi o suficiente para saber que o governo israelense não é nenhum santinho, e na maioria esmagadora das vezes merece as críticas.

    betinho2

    Pedro
    Você diz: "Houve judeus que apoiaram Hitler".
    Concordo e digo mais, foram justamente os que promoveram a criação do estado de Israel, precisavam povoar, para tanto era necessário que os Judeus (principalmente os que metiam a mão na massa) fossem para lá, onde a "perseguição" promovida por Hitler lhes era necessária e útil.
    Um dia o mundo descobrirá ou chegará a conclusão que Hitler foi o grande "laranja" do sionismo Israelense.
    Está lá nos Protocolos: "se for necessário usaremos nosso irmãozinhos para atingir nossos objetivos".
    Quero aqui registrar que faço uma distinção entre os sionistas bíblicos e os sionistas ateus, esses os promotores da atual Israel.

    Beto_W

    Vamos com calma. Acho que você exagerou. A perseguição de Hitler não precisa de aspas, foi bem real, e não foi obra dos sionistas não. No começo alguns sionistas gostaram da idéia de tornar a vida na Alemanha desconfortável para os judeus para que considerassem a idéia de ir para a Palestina, e outros até tentaram negociar com os nazistas a facilitação da saída dos judeus de lá com destino à Palestina, mas quando o caldo engrossou, todos os judeus estavam no mesmo barco, e ninguém mais apoiou Hitler.

    Quando se fala nos judeus que apoiaram Hitler, isso foi logo no início de sua ascenção, pois muitos não acreditavam que ele fosse levar a cabo suas medidas anti-semitas. Daí a concluir que Hitler foi levado pelos "sábios de sião" a cometer o holocausto, acho que é forçar a barra. Se seu embasamento se resume aos Protocolos, documento polêmico cuja autenticidade já foi refutada diversas vezes, melhor revisar isso. Você já leu os estudos que comprovam que o documento é uma farsa criada por anti-semitas? Se sim, ainda acredita que eles sejam reais?

    betinho2

    Beto
    O desmentido sobre a autenticidade dos protocolos até o momento tem sido somente verbalizados, até o momento não foi demonstrado nenhuma comproivação do plágio de Biarritz, uma das alegações.
    Os publicados na Russia, e dados como armação podem sim ser os originais. Minha convicção de sua autenticidade está em todo um histórico anterior e posterior e a própria evolução dos acontecimentos na linha exata do que foi ali proposto. Entre a comprovação da "profecia" e o desmentido vazio, retórico, sem nenhum documento comprobatório, fico lógicamente com o primeira.

Pedro

Tradução muito bem feita, o que não acontece frequentemente com os textos traduzidos do inglês. O artigo é primoroso e importantíssimo para se entender, também, como Israel parece não ter como continuar a ser o que é. Mas será que Israel pode mudar?

    Beto_W

    Pode e deve, caro Pedro. A pergunta é: Israel vai mudar?

    Os dois últimos parágrafos de Pappé resumem a mais provável atitude do governo israelense: lançar mão de argumentos islamofóbicos, tentar minar a transição democrática do Oriente Médio, e pedir ajuda aos americanos. Só que o contribuinte americano está cansado de ver seu dinheiro ir para Israel, enquanto lá eles mal e mal acabam de sair de uma recessão, então o apoio financeiro a Israel tende a diminuir. E a Europa também talvez não apóie a posição de Israel, que se torna cada vez mais insustentável. Se o governo israelense seguir agindo dessa forma, se isolará em pouco tempo.

    Mas aí talvez o povo israelense também se revolte contra seu governo e o derrube. Pouco provável, mas não custa sonhar.

    r godinho

    Desculpe discordar num ponto, Beto.
    A direita fundamentalista cristã, cuja face mais visível no momento é o Tea Party, CONTA com um Israel mais e mais opressor. Não podemos esquecer que para eles Armagedon, fim do mundo, essas coisas religiosas, são tão importantes como a sua ganância material. Israel é a ponta da lança ocidental, na visão desses novos cruzados. E vai abrir caminho para que a guerra do fim do mundo se estabeleça. Então, qualquer dinheiro que Israel peça, eles aprovam, mesmo que tenham que matar pobres americanos de frio e fome.

    Bonifa

    Talvez não seja um sonho tão inalcançável. Um fato que chamou a atenção na cobertura (surpreendente) da Globonews foi o seguinte: sua repórter em Tel Aviv saiu a entrevistar pessoas comuns da rua para saber o que estavam a pensar da revolução egípcia. O jovem dono de um lanchonete falou mais ou menos assim: "Eles (o governo de Israel) estão é com muito medo que esta revolta se estenda para cá. Por aqui não há quem aguente mais as péssimas condições de vida e o desemprego generalizado."

Marcelo Fraga

E vão se esvaindo as desculpas para o genocídio levado a cabo por Israel.
Lutar contra o fanatismo, o totalitarismo, a violência e o terrorismo não passa de baboseira para poderem saciar os seus desejos de matança e humilhação dos povos árabes.
Tudo isso que esses sionistas "abominam" pode ser facilmente encontrado se colocado um espelho na sua frente.

Existem sim muitos judeus que em nada se parecem com esses assassinos. Mas enquanto permitirem que essa loucura sionista se infiltre na sociedade, continuaremos a ver esse absurdo.

Beto_W

Pappé, assim como Uri Avnery, é uma das vozes mais lúcidas da comunidade judaica. Pena que seja considerado por muitos israelenses – inclusive no meio acadêmico – como um "traidor".

A sociedade israelense precisa de profundas transformações se quiser adentrar o século 21 pela porta da frente, deixando de ser o "corpo estranho" no organismo do Oriente Médio, para finalmente alcançar o status de "simbionte". Para isso, deve-se abandonar a idéia do "Estado Judeu", e em troca adotar uma visão de Israel como um lar para os judeus – mas não só para eles.

Os israelenses – e muitos judeus aqui em São Paulo com quem converso – temem que, ao garantir o direito de retorno aos milhões de palestinos expulsos de suas casas, a população de israel, predominantemente judaica, se torne predominantemente palestina, perdendo assim seu "caráter judaico". Mas não existe nada mais judaico do que a convivência pacífica entre os povos, que é o que o judaísmo almeja através da "chegada do Messias".

Na minha opinião, há realmente algumas questões delicadas: será que uma maioria palestina não poderia tentar mudar a bandeira do país, ou o hino, ou trocar a lígua oficial de hebraico para árabe, ou até mesmo mudar o nome do país? Como judeu e sionista, isso me incomodaria, e eu gostaria que essas coisas pudessem permanecer como estão.

Mas não sei de fato o que os palestinos pensam a respeito. Será que os palestinos que exigem o direito ao retorno querem, após obterem sua cidadania, mudar esses símbolos? Imagino que haja uma carga emocional tremenda associada a esses símbolos para os palestinos, como por exemplo a bandeira israelense – que eles vêem apenas em tanques e uniformes. Se houver real necessidade, que se chegue a um consenso, como por exemplo uma bandeira que tenha tanto elementos judaicos quanto árabes. A convivência, a democracia, a igualdade, a paz e a compreensão devem ser os valores máximos do Estado de Israel do século 21.

    r godinho

    Beto, as taxas de nascimento de árabes israelenses (de resto, cidadãos de segunda classe em seu próprio país, apenas por não serem hebreus), já são bem maiores que a de hebreus. Segundo um estudo demográfico que li a algum tempo, antes de 2050 a população etnicamente árabe será maior que a hebraica. O que fará Israel, então? Vai explicitar o apartheid em que já vivem atualmente? A questão é que os hebreus não querem um estado democrático. Eles querem um estado judeu. Não sei porque, mas isso me lembra alguma coisa acontecida na Europa lá pelos anos 20, 30…

    Beto_W

    Já li esse estudo, e essa questão já me passou pela cabeça. Infelizmente, grande parte dos judeus israelenses não percebe essa discriminação contra parte dos cidadãos de seu próprio país, muitas vezes inconscientemente exercendo tal discriminação. Outra parte chega ao absurdo de achar que "os incomodados que se retirem", afirmando que eles deveriam ir para outro país.

    No entanto, um estudo recente [ http://www.israelnationalnews.com/News/News.aspx/… ] aponta uma reversão nesse quadro. Mas em algum momento os israelenses vão ter que lidar com o fato de que seu país é um lar para os judeus, mas não só para eles. E espero que quando esse dia chegar, eles olhem para a declaração de independência do país, que garante igualdade de direitos civis e políticos a todos os seus cidadãos, independente de raça, religião ou sexo, e a liberdade de religião, consciência, linguagem, educação e cultura. É, parece que muita gente por lá ou faltou nessa aula na escola, ou se esqueceu desse trecho…

Valdeci Elias

Será que está, ocorrendo uma nova "queda do muro de Berlin"? E que o mundo de 2012, vai ser diferente do mundo de 2010 ?

DUDU

Vejam que ironia: democracia no Egito será ruim para israel!
Pois é.
Se a democracia vier, certamente o Egito deixará de ser um c´pacho de israel e dos estados uinidos na gloriosa missão de assassinar palestinos!
Dá-me nojo ver a chifruda hilary clinton querer entrar no bonde andando, para influenciar no resultado desse levante do povo egipcio!
Creio que a política norte-amercanan de sustentar ditadores para defender seu cahorro-louco, pelo menos no oriente-médio, está no fim.
Saravá

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