História e ideias de Lula desafiam os sem caráter, demonstram Cláudia Motta e Paulo Donizetti

Tempo de leitura: 4 min
Foto Ricardo Stuckert

Quanta dor Lula ainda pode suportar? Por que o temem tanto os sem-caráter?

Perseguido barbaramente há três anos, nesse período ex-presidente perdeu companheira de vida, irmão, neto e amigos. Mas ainda empresta seu olhar sereno e altivo para que a esperança sobreviva

por Cláudia Motta e Paulo Donizetti de Souza, na Rede Brasil Atual

Ao se despedir do neto, o ex-presidente Lula disse a Arthur que ele agora está com dona Marisa no céu.

E prometeu que quando for encontrá-los também, vai levar o diploma de sua inocência, que vai redimi-lo de todo bullying que o Arthur sofreu na escola. E vai provar que Moro e Dallagnol mentiram.

Quanta dor um homem é capaz de suportar? É impossível saber.

A natureza humana é vasta, os limites, extensos. Aos 73 anos de idade, Luiz Inácio Lula da Silva parece forçado a testar esses limites.

O ex-presidente foi preso em 7 de abril passado, dia do aniversário de 67 anos de sua companheira de vida, Marisa Letícia.

A mulher com quem foi casado por 43 anos morreu em 3 de fevereiro de 2017.

Familiares e amigos atribuem a morte prematura de Marisa Letícia a todo o sofrimento vivido por Lula, pelos filhos e por ela própria.

A ciência comprova a relação entre tristeza, angústia, adoecimento.

Depois de 10 meses sem poder conviver com os filhos, netos, com sua bisneta, seus amigos e sem o contato permanente com o povo – vivência que dá ao ex-presidente energia e juventude –, em 29 de janeiro último Lula perdeu o irmão mais velho, Vavá. Também metalúrgico em São Bernardo do Campo,

Vavá estava com 79 anos e lutava contra um tipo raro de câncer que afeta os vasos sanguíneos.

Contrariando a Lei de Execuções Penais, o ex-presidente foi proibido de participar do velório até o último momento.

A jornalista Nicole Briones, do Instituto Lula, que está “ao lado” do ex-presidente na cobertura da Vigília, em Curitiba, conta que nesse quase um ano Lula só teve medo uma vez.

“Era uma manhã de domingo quando os advogados entraram em sua cela e ele não entendeu.” O dia, 8 de julho, e estavam lá pra comunicar que ele estaria livre graças a um habeas corpus do TRF4. Lula não foi solto e manteve a serenidade o dia todo.

“Mais tarde, contou que seu medo foi a possibilidade de terem aparecido lá pra comunicar uma notícia ruim sobre o irmão, que já não estava bem.”

Nesta sexta-feira (1º), entretanto, o pior dos medos que um ser humano pode sentir, se confirmou. Lula recebeu a morte do seu neto Arthur, de 7 anos.

“Deveria ser proibido um pai enterrar um filho e um avô enterrar um neto”, disse o ex-presidente, consternado pela dor. Arthur era o único filho de Marlene e Sandro, o mais jovem dos filhos de Lula e Marisa.

Vavá morreu saudoso do irmão ex-presidente. E pobre, como foi durante toda a vida. Como de resto toda a família Lula da Silva, sofria com a injustiça dos ataques, e com as mentiras tecidas ao longo de décadas e que hoje ajudam a alimentar um ódio que corrói a nação.

Era de Arthur, lembra o blogueiro Luiz Müller em texto postado ontem, o tablet apreendido pela força tarefa da Lava Jato há três anos.

Naquele 4 de março de 2016, Sérgio Moro promoveu a ação espetaculosa da condução coercitiva de Lula – não sem antes mandar invadir e revirar ao avesso seu apartamento em São Bernardo do Campo. Tudo isso sem que o ex-presidente tivesse recebido sequer um convite para ir depor espontaneamente.

“O tablet do Arthur ainda tá com Moro”, escreve Müller. “O avô, pro Arthur, Moro não devolve mais.

Dos 4 aos 7 anos, a vida de Arthur foi invadida, de forma leviana, rasteira, abusiva e violenta. Era manhã quando os netos de Lula foram acordados com as portas arrombadas, barulho e homens armados vasculhando seus brinquedos, a mando de Moro.

No ano seguinte, (Arthur) perde a avó. Um ano depois, seu avô é levado preso, pra bem longe dele. Onze meses depois, Arthur entra no hospital 7h20 e falece 12h11.”

Conforme já relatou Lula, toda essa perseguição – com objetivos políticos que foram alcançados nas eleições de outubro –, resultou à família dificuldades até para conseguir trabalho.

E trouxe para todos os brasileiros que não se conformam com injustiça, mais um episódio de inconformismo e dor.

O homem, que elevou o Brasil à condição de nação respeitada internacionalmente,  que retirou milhões da miséria e levou saúde, educação, luz e alegria aos rincões do país, deveria estar curtindo sua velhice e os louros de sua obra grandiosa ao lado da família, dos amigos.

No Brasil surreal, onde o ódio governa, o presidente eleito com a ajuda de Moro não sabe o que diz, direitos e povo são desprezados e os ministros desconhecem as áreas que vão administrar, Lula é o retrato de todas as injustiças.

Lula é símbolo de conquista de cada jovem pobre que chegou à universidade, cada pai e mãe que acreditaram que haveria um futuro diferente para seus filhos.

O sofrimento de Lula é o sofrimento dos milhões para quem um país se faz com inclusão e justiça social, com respeito às diferenças, igualdade, cidadania.

A dor de Lula é a dor de quem treme de indignação diante das injustiças. Transformar essa dor em capacidade de resistência para recuperar o Brasil para todos os brasileiros seja talvez a única saída.

Lula pôde abraçar seus familiares e amigos e despedir-se de Arthur neste sábado cinzento de março. Nas redes sociais, algumas demonstrações de selvageria fazem balançar a fé na humanidade.

São pessoas que, mais que ódio, ou inveja, têm medo de Lula. Porque sua história, sua existência e suas ideias atormentam essa gente, mexem, no fundo, com a ausência de caráter.

Lula caminhou pelo cemitério Jardim da Colina, em São Bernardo do Campo para o adeus ao neto. Ainda que rodeado de policiais – “que medo vocês têm de nós”, diz a canção – acenava agradecido ao povo ao seu redor.

Abatido pela perda, e submetido a uma distância forçada do convívio com a família, os amigos e o povo – de onde extrai energia e juventude –, Lula ainda carrega em si a luz da serenidade, a força da dignidade, a altivez. E também uma esperança que nos contagia a seguir em frente, em busca de uma humanidade mais justa.


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Comentários

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Julio Cesar

Quizeram implantar no Brasil um Bozo como mito, mas o mito é Lula.
É o homem da historia é o tiradentes do seculo XXI, um elemento que não necessita de fake news, de publicidade marqueteira por que tem o reconhecimento de benfeitor da maioria de um povo que só recebe desrespeito desses grupos que conservam preconceitos, raciais, de genero, até sociais. O versadeiro mito é e será Lula na historia deste país.
Que morram de inveja os insipidos, inodores, e invisiveis que o desprezam.

Zé Maria

https://twitter.com/i/status/1101975826281754625

Ao deixar o cemitério, Lula subiu no carro da PF
e acenou para seus apoiadores.
Na hora que ele desceu, o delegado da PF disse:
-O senhor sabe que não devia ter feito isso.
E Lula respondeu:
-O senhor sabe que eu devia.

https://twitter.com/Haddad_Fernando/status/1101975826281754625

antonio azevedo

LAVA JATO

Para Emile Durkheim (sociólogo, antropólogo, cientista político e filósofo francês) o crime é todo “ato que ofende certos sentimentos coletivos”. Nesse sentido, o caráter fragmentário do direto penal não alcança todos os bens jurídicos e nem torna crime todas as condutas. Ou seja, a lei penal somente mostra-se pronta a intervir quando todos os outros ramos do direto (militar, eleitoral, civil, administrativo, ambiental, trabalhista, tributário, etc.) não alcançam a devida proteção dos bens jurídicos. Dessa forma, é possível afirmar que o princípio da intervenção mínima resulta do entendimento do caráter fragmentário da lei penal, por conseguinte, do entendimento imediato do garantismo penal. Detalhe: a intervenção mínima é um limitador, ou seja, um barrador de um Estado opressor, consequentemente, limita o seu poder punitivo. Sob este ponto de vista e sob o aspecto da devida utilização da norma penal como a “última razão”, o “último recurso”, a “ultima ratio” levando-se em consideração os conceitos liberais do Iluminismo, é possível afirmar que o punitivismo atual não pode ser usado, utilizado, abusado e sorrateiramente manipulado ao bel prazer dos “incautos” como instrumento único de controle social (Eugenio Zaffaroni). Ou seja, abusar do direito penal como único mecanismo de preservação da ordem social é literalmente “chover no molhado” e não resolve os gravíssimos problemas da criminalidade. Destarte, entender o caráter fragmentário do direito penal, é sobremaneira, compreender que a lei penal não foi, não é, e nunca será a mais indicada para resolver os graves problemas da violência e corrupção no país, principalmente, em tempos de lava jato. Dito isto, relembrar o pensamento de Boaventura de Sousa Santos é sempre reconfortante e indica um caminho: o direito atual é apenas um direito regulador e não emancipatório. Ou seja, emancipar é sobretudo respeitar a dignidade da pessoa humana que implica, por fim, no uso limitado do codex penal, sempre em última ratio, nunca em favor de um Estado que não respeita a lei, caso contrário, a norma penal será transformada em um instrumento de opressão e pode ferir de morte o regime democrático.

ANTONIO SERGIO NEVES DE AZEVEDO – Estudante de Direito – Curitiba – Paraná.

Morvan

Boa noite. Parabéns à autora por tão bem engendrado texto. A imagem de Stuckert: de Lula sendo escoltado por homem (primeiro plano) com escudo da SWAT diz muito sobre o que a classe dominada fez ao país (reportagem e imagem embutida nesta aqui, via Brasil 247).
Mas vos digo: Lula é maior do que todos eles somados; do que o antigo superministro, hoje um esquentador de laranjas, levando pito de milicianos e engolindo seco; do que o Golpiciário brasileiro, rebaixado a capataz dos estadunidenses, sionistas e outras mazelas.
Lula é o amálgama do que a sociedade brasileira, a parte ainda não gangrenada, concebe como humanidade.
Lula, condenado a resistir. Com ele, nosso Dreyfus, seguiremos.

VALDIR CARRASCO

QUISERA EU TER CAPACIDADE PARA CONVENCER MILHARES, MILHÕES DE BRASILEIROS DE QUE PRECISAMOS REAGIR SERIAMENTE E TIRAR LULA DA PRISÃO……QUISERA EU TER CORAGEM DE SER UM HOMEM BOMBA PARA EXPLODIR-ME NO MEIO DOS VIGARISTAS DO EXECUTIVO, DO LEGISLATIVO E DO JUDICIÁRIO BRASILEIRO, LEVANDO PARA O INFERNO PELO MENOS UNS 100 DELES….QUISERA EU VER NOSSO POVO NA RUA, INCENDIANDO TUDO QUE É DOS PODEROSOS CAFAJESTES DA ELITE………MAS INFELIZMENTE SÓ TEMOS ESSA PRECÁRIA ARMA: ESCREVER SOBRE NOSSA INDIGNAÇÃO E NOSSA POUCA ESPERANÇA DE QUE ESSA MERDA TODA TENHA SOLUÇÃO.

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