Hélio Bacha: Bolsonaro apostou de forma deliberada na imunidade de rebanho. Ricos pagam R$ 1.400 por vacina e pobres morrem

Tempo de leitura: 3 min
Amazônia Real, via Fotos Públicas

De entrevista do infectologista Hélio Bacha à Rede Brasil Atual

Qual sua opinião sobre a falta de vacinas?

Eu imaginava que isso pudesse ocorrer, porque nada foi feito para que tivéssemos vacina. Houve uma política deliberada de se esperar que a própria doença imunizasse por efeito de rebanho. Isso foi anunciado. Em agosto, quando seria o momento de disputar o lugar na fila com outros países que compravam a vacina, a orientação foi esperar, que o pior já havia passado e nós estaríamos recuperando a condição de normalidade através da imunidade de rebanho. É claro que isso não ocorreu, e então ficamos numa desvantagem perante o mundo muito grande. E todo o início da vacinação foi feito sem nenhum preparo, com um discurso de que já tínhamos uma estrutura de vacinação boa – o que é verdade, temos uma das melhores do mundo. Mas a vacinação para cada tipo de doença pressupõe uma organização diferente. E não tivemos organização mínima, nem de compra, nem de distribuição, nem de calcular que a vacina iria faltar.

Quais são suas expectativas nesse cenário?

Teremos que correr, para ganhar o tempo que perdemos.

E isso pode acontecer, levando em conta a “política” do governo Bolsonaro?

Espero que sim. Mas não vejo nenhum esforço para que isso ocorra, a não ser discursos otimistas e desvinculados de uma prática efetiva de disputa pela compra de vacinas no mundo.

Segundo algumas teses, em função das dificuldades seria possível misturar vacinas, por exemplo a pessoa tomar a primeira dose de uma fabricante e a segunda de outra…

Isso ainda está para ser demonstrado. Há várias fórmulas de se tentar o menor dano em função da escassez. A solução boa é a aquisição de vacinas.

Qual sua opinião sobre o papel da Anvisa, que, segundo algumas análises, está politicamente aparelhada. Não lhe parece que diante da emergência ela é muito burocrática?

Acho que o maior problema não está na Anvisa. É apenas um órgão fiscalizador. A questão da Anvisa deveria ter inclusive sido prevista por quem planeja a vacinação, e já deveria contar com esse tempo de análise da Anvisa. O problema está nas autoridades sanitárias que deveriam ter providenciado isso a tempo.

Clínicas de São Paulo estão negociando a venda da vacina indiana Covaxin por R$ 1.400 pelas duas doses. O que o senhor acha dessa alternativa?

Essa iniquidade, essa condição de desigualdade é criminosa, não é? Só para o pessoal da primeira classe? Não só é crime, como é ineficaz. Não se vacina individualmente. Não é a pessoa que tem que ser vacinada, é a população. O efeito da vacina é criar obstáculos à transmissão do vírus. Para isso precisamos vacinar o maior número de pessoas no tempo mais rápido que conseguirmos. Essa é uma forma de enganar os ricos: gastando dinheiro, além de ser iníquo.

O que o senhor acha do comportamento da população?

Uma parte é por ignorância e burrice. E outra parte por má sinalização do governo, que sinaliza que está tudo bem. No momento mais grave da epidemia no país – e estamos no momento mais grave – há uma sinalização de que está tudo normal. As escolas voltam a funcionar, os shoppings estão abertos, os bares, os restaurantes, os cabeleireiros estão abertos. É uma sinalização que as pessoas tendem a interpretar como normalidade. Então, entre ficar num bar, na capital, ou na praia, eles preferem ir para a praia.

Diante desse quadro, a curva de infecções vai certamente aumentar, então…

Ah, claro. Vai aumentar ou manter esse nível altíssimo. O que é uma desgraça e uma infelicidade, de qualquer forma. Já temos um número muito alto de casos. Janeiro cumpriu a previsão de ser um mês de trevas, na questão sanitária. Espero que fevereiro não seja pior. Eu gostaria que melhorasse, mas para isso era melhor termos um isolamento social, um lockdown, mais curto e intermitente, do que fazermos essa política de dissociar a gravidade da pandemia das iniciativas de isolamento social.


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Zé Maria

COVID-19
Brasil
ÓBITOS

2020
09/05 = 10.000
21/05 = 20.000
01/06 = 30.000
11/06 = 40.000
20/06 = 50.000
01/07 = 60.000
10/07 = 70.000
20/07 = 80.000
29/07 = 90.000
08/08 = 100.000
18/08 = 110.000
29/08 = 120.000
11/09 = 130.000
25/09 = 140.000
10/10 = 150.000
01/11 = 160.000
24/11 = 170.000
11/12 = 180.000
23/12 = 190.000

2021
07/01 = 200.000
18/01 = 210.000
27/01 = 220.000
05/02 = 230.000
16/02 = 240.000

JOSÉ PAULO XIMENES DA SILVA

Estou certo de que o presidente e seu círculo estão, deliberadamente, pró genocídio de parte da população vulnerável. Êle tem esse espírito genocida e tem os figurões que compactuar.
Ele foi e está sendo suficiente alertado de seu comportamento.
Acho ainda que, quem está em posição pública de denunciar e barrar o morticínio, se omitindo vai ser responsabilizado por crime contra humanidade.

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