Gonzalo Vecina: Não é hora de relaxar com a covid, pode vir uma terceira onda forte no inverno. Variante indiana causa preocupação

Tempo de leitura: 4 min

Nós tivemos uma participação da P1, a variante desenvolvida em Manaus, que dissemina muito rapidamente a doença. Não chegou com força, mas já estão no Brasil as variantes inglesa e sul-africana. E os indianos estão produzindo alguma coisa muito explosiva por lá. Gonzalo Vecina, à CartaCapital

Da Redação

Na guerra das vacinas, os russos e os chineses estão aproveitando para fazer diplomacia, afirma o médico sanitarista Gonzalo Vecina, que foi um dos fundadores e presidente da Anvisa, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

Ele critica o governador de São Paulo, João Doria, pelo marketing da Butanvac, a primeira vacina inteiramente brasileira, dizendo que ela tem um longo caminho pela frente para ser aprovada.

Vecina está muito preocupado com o inverno, que começa oficialmente em 21 de junho.

Nas últimas semanas, o número de casos de covid 19 no Brasil vem caindo, criando a falsa impressão de que a pandemia está acabando.

No Dia das Mães, 9 de maio, ele teme que as famílias retomem o tradicional almoço, que teria repercussões nas semanas seguintes, como aliás já aconteceu no Brasil a partir do feriado de 7 de setembro de 2020.

Em todo o mundo, cientistas estão analisando a chamada “dupla mutação” de uma variante indiana.

“Tais mutações conferem ao vírus maior capacidade de escape e o tornam mais infeccioso”, escreveu o Ministério da Saúde do país em nota.

Apesar do nome, esta variante na verdade tem 13 mutações em relação aos primeiros vírus encontrados na Índia.

Ela é responsável por 60% dos casos no estado de Maharashtra, onde fica Mumbai, a capital financeira do país. O estado tem 120 milhões de habitantes.

Na média de casos dos últimos sete dias, a India tem quase 365 mil novas infecções diárias e o Brasil está em segundo lugar, com 60 mil.

Opinião: A política para combater a COVID-19 na Índia era um desastre esperando para acontecer

Apesar de ter tempo para se preparar para outra onda de infecções, o governo indiano se concentrou na negação. Já é hora de o governo assumir seus erros, em vez de culpar os outros, escreve Ankita Mukhopadhyay.

Do Deutsche Welle

Meu grupo de COVID-19 no WhatsApp está recebendo solicitações a cada segundo de oxigênio, medicamentos antivirais e leitos hospitalares. Tudo o que posso fazer é me perguntar como o governo do BJP [Partido do Povo Indiano] fracassou em sua resposta à pandemia.

O governo teve um ano para se preparar para essa onda. Mas quando 2021 começou, tornou-se complacente, desmantelando centros de isolamento temporários, reduzindo o distanciamento social e medidas de bloqueio, apesar dos sinais de alerta de uma próxima onda e novas variantes em outros países.

A Índia sempre teve uma lacuna de capacidade versus necessidade em seu sistema de saúde. Os especialistas alertam sobre isso há anos.

Mas os líderes da Índia confiavam excessivamente em que o hinduísmo, os templos e um desafio desorganizado ao COVID-19 acabariam “expulsando” o vírus do país.

Em 20 de março, o primeiro-ministro Narendra Modi, um “herói” para muitos, dirigiu-se à nação e instou as pessoas a ficarem em casa para evitar outro lockdown.

Embora ele tenha se esforçado para glorificar a resposta da Índia à atual onda de infecções por COVID-19, não compartilhou nenhum plano de investimento imediato em saúde.

O governo agora está atolado em culpar a oposição e os estados não controlados pelo BJP pela resposta mal administrada. Esse nível de política suja está colocando em risco a vida de todos os indianos – até mesmo daqueles que votaram em Modi e no BJP.

Se o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, pudesse visitar a Índia neste mês, ele teria visto um país que não dá a mínima para o distanciamento social, usando máscaras ou tomando outros cuidados. Algumas pessoas chegaram a afirmar que o vírus havia deixado a Índia.

Os indianos acreditavam que poderiam combater o vírus contando com medicamentos não certificados e anunciados no WhatsApp, como “kadha”, uma bebida ayurvédica, ou Coronil, um medicamento feito pela Patanjali, empresa do praticante de ioga indiano Baba Ramdev.

Durante essa calmaria, um novo mutante do vírus emergiu, enquanto médicos e especialistas continuaram a alertar sobre uma nova onda de COVID-19. O governo fez vista grossa a tudo.

Logo, as pessoas estavam fazendo ligações frenéticas para políticos, burocratas e outras pessoas influentes para salvar seus familiares. Aqueles que não podiam assistir lentamente seus entes queridos morrer.

Eu mesmo fui vítima dessa nova onda. Meu sogro não deu entrada no hospital a tempo, o que o levou a desenvolver pneumonia. Ele acabou morrendo na quinta-feira.

Poucos têm a sorte de conseguir um leito de hospital. Os hospitais na capital da Índia, Nova Délhi, estão lotados agora, com mais de um paciente ocupando uma cama.

Os menos afortunados estão morrendo em corredores de hospitais ou ambulâncias. Oxigênio e medicamentos antivirais estão sendo acumulados no mercado negro e pessoas inocentes estão gastando milhares de rúpias para garantir recursos escassos.

Quase todas as pessoas que conheço têm uma história comovente para compartilhar sobre a nova onda COVID-19 da Índia.

A infraestrutura de saúde da Índia desmoronou sob o peso de milhares de casos.

Os médicos estão trabalhando sem dormir, enquanto os hospitais agora estão contratando microbiologistas para substituí-los, devido à escassez da força de trabalho.

A gestão de crises na Índia é provavelmente a pior do mundo, mas o governo Modi acredita que injetar dinheiro em comícios eleitorais com milhares de pessoas e reformar a área administrativa central da Índia renderá mais louros do que salvar pessoas.

Em vez de admitir deficiências óbvias e tomar medidas concretas, o governo se rebaixou a ponto de negar abertamente que falhou, e até mesmo rebateu as recomendações do ex-primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, sobre como lidar com a pandemia. Singh testou positivo para COVID-19.

O que mais me surpreende agora é que os políticos do partido governante da Índia estão acumulando frascos de remdesivir, recusando-se a compartilhar dados sobre a vacina feita na Índia e ignorando o fato de que o vírus está literalmente no ar.

Os próprios políticos do BJP estão lutando para conseguir leitos hospitalares para seus familiares. No ano passado, Modi apelou aos indianos para doar dinheiro a um fundo de ajuda para combater a COVID-19, mas o dinheiro não parece ter chegado ao sistema de saúde da Índia.

O povo precisa responsabilizar este governo nas próximas eleições nacionais, em vez de ceder ao seu tipo usual de política religiosa. As divisões religiosas não estão destruindo a Índia, mas a negligência grosseira, sim.


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Comentários

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Zé Maria

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Crime!
O retorno às salas de aula foi viabilizado pelo último decreto
do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB),
que colocou todo o Estado em bandeira vermelha, após derrota
do Executivo no TJ-RS, quando tentou permitir a volta às aulas
mesmo com a vigência da bandeira preta.

Tucano é tudo igual
Em Santa Maria-RS, cidade com cerca de 283 Mil Habitantes,
no interior do Estado, o prefeito Jorge Pozzobon (PSDB) afirmou
que a estrutura para a retomada das aulas está pronta desde março.

Sensatez
Já em Canoas (348 Mil Habitantes) na Região Metropolitana de
Porto Alegre-RS, 75,2% das pessoas que votaram na consulta
virtual promovida pela Prefeitura opinaram que a volta às aulas
presenciais nas escolas municipais deve ocorrer apenas depois
da vacinação de professores e funcionários.
O Prefeito acatará o resultado.
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[Informações de Correio do Povo e GZH]
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    Zé Maria

    Em São Leopoldo-RS, a decisão de não retomar as aulas presenciais
    foi tomada pelo prefeito Ary Vanazzi (PT).
    “Ainda não temos segurança em função dos números
    da pandemia, mas seguiremos, por ora, até que o cenário
    melhore e que os professores sejam vacinados apostando
    nas aulas virtuais”, disse.
    Segundo Vanazzi, está sendo realizado trabalho junto às famílias
    dos cerca de três mil alunos que não aderiram às aulas.
    No total, são 33 mil alunos.
    Segundo Vanazzi, a prefeitura viabilizou Internet para todos.

    [ Taline Oppitz | Correio do Povo | 30/4/2021 ]

Zé Maria

O tal ‘Khada’ é um ‘Chá Milagroso’ pra Covid. Só Que Não.
A Medicina Ayurvédica pode até curar ‘Resfriadinho’,
mas Covid-19 se Combate com Vacina, não com Chá.
https://media.istockphoto.com/vectors/ayurvedic-immunity-booster-drink-ayurvedic-kadha-recipe-for-cold-and-vector-id1281804830

Zé Maria

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Esse tal ‘Coronil’ é uma espécie de ‘Cloroquina Indiana’.
Nada serve para tratar ou curar Infecção por COVID-19.
Além do mais, essa Panacéia do Baba Ramdev é cara.
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/coronavirus/falsos-remedios-que-prometem-imunidade-contra-coronavirus-sao-comercializados-em-londres.phtml

Zé Maria

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Bolsonaristas tentam enredar o Rastro na CPI do Genocídio
com essa história de investigar aplicação de verbas federais
pelos estados e municípios:

Já existe uma Comissão Temporária (CT) COVID-19 no Senado
precisamente com a Finalidade de “acompanhar as questões
de saúde pública relacionadas ao coronavírus”.
(https://legis.senado.leg.br/comissoes/comissao?codcol=2422)

Inclusive, está marcada para a Próxima Segunda-feira, Dia
03/05/2021, às 10h, Audiência Pública para “debater o Plano
Nacional de Imunização e o cumprimento dos respectivos
prazos, bem como a situação fiscal e a execução orçamentária
e financeira das medidas relacionadas à pandemia”, tendo como
convidado o Secretário Especial de Fazenda do Ministério da
Economia.
(https://www12.senado.leg.br/ecidadania/visualizacaoaudiencia?id=20307)

Esses assuntos, aliás, vêm sendo debatidos em Audiências
Públicas na CT COVID-19, pelo menos desde o dia 05/04/2021.
(https://legis.senado.leg.br/comissoes/comissao?codcol=2422)
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Henrique Martins

https://www.brasil247.com/economia/no-dia-do-trabalhador-bolsonaro-diz-a-pecuaristas-que-nao-expropriara-fazendas-onde-houver-escravidao

Em outras palavras: Bolsonaro é do mal. Não me admira que não tenha compaixão dos 400 mil brasileiros mortos na Covid.
Agora, o que ele definitivamente não sabe é que o bem sempre vence o mal.

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