Funcionários do MEC levantam dúvidas sobre a classificação dos candidatos no “melhor Enem de todos os tempos”

Tempo de leitura: 3 min
Foto: Geraldo Magela/ Agência Senado

Da Redação

Alterações pequenas em notas de candidatos do Enem podem ter afetado a distribuição de vagas pelo Sistema de Seleção Unificada, o Sisu, diz o dário conservador paulistano Folha de S. Paulo em reportagem assinada por Paulo Saldaña.

O texto, citando funcionários do Ministério da Educação não identificados, diz que o resultado do Enem “não é 100% confiável”.

O Tribunal Superior de Justiça (TSJ) aceitou recurso da Advocacia Geral da União e liberou a divulgação da distribuição de vagas do Sisu.

A polêmica se dá em torno de modelos matemáticos utilizados na correção das provas conhecidos em conjunto como TRI, Teoria de Resposta ao Item.

O Viomundo publicou um artigo do jornalista e professor aposentado da Universidade do Estado de Santa Catarina, Cesar Laus Simas.

O professor explicou da forma mais didática possível o espinhoso assunto:

“O cálculo da TRI leva em consideração três aspectos: nível de entendimento do candidato em relação à questão dada, o grau de dificuldade da questão e o acerto no chute.

Quando uma pessoa acerta mais questões fáceis, nenhuma média e algumas difíceis, o sistema entende que ali não existe um comportamento coerente, mas um padrão de resposta aleatórias, o famoso chute.

Não é “normal” ter conhecimento avançado e básico sobre o mesmo tema.

O coerente é ter conhecimento médio.

Com a TRI esses acertos são considerados, mas a eles é atribuída uma pontuação mais baixa.

A TRI considera e mede o grau de conhecimento da pessoa em um exame específico como o Enem.

Assim, quanto maior for o conhecimento sobre um tema proposto, maiores são as chances da pessoa acertar questões fáceis, médias e difíceis.

Em um universo de um exame como o Enem, as provas não têm pontuação mínima ou máxima.

Tudo é calculado de acordo com o desempenho e as notas de cada pessoa individualmente e o resultado de todos os candidatos em cada questão e na prova como um todo.

A TRI foi feita para dar notas menores para questões fáceis, com mais gente acertando, e notas maiores, com menos gente acertando, para questões difíceis.

O ‘erro’ na correção da prova, com milhares de candidatos envolvidos, pode alterar SIM o cálculo da nota final de todos os candidatos.

Daí, não tem saída, vai atrasar e será necessário refazer todos os cálculos”.

O artigo com a opinião do professor foi publicado no dia 20.01, às 22h02.

Dois dias antes, em sua conta no Twitter, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, havia prometido uma solução até o dia 20 para o erro na correção das provas, que afetou um número relativamente baixo de candidatos (5.974 de 3,9 milhões de inscritos).

Weintraub escreveu: “Houve inconsistência no gabarito de algumas provas do Enem 2019 e, por isso, candidatos foram surpreendidos com os resultados de suas notas. O número é muito baixo. Até segunda-feira, dia 20, tudo será resolvido. Pedimos desculpas aos participantes do exame pelo transtorno”.

Porém, o problema não foi resolvido até o dia 20.

No dia 28, por força de ação judicial, o governo finalmente conseguiu divulgar os resultados do Sisu.

À Folha, os funcionários do MEC disseram que o governo Bolsonaro optou pelo caminho mais rápido de resolver o problema.

O recurso da AGU baseou-se numa nota técnica que alegou que “a proposta de selecionar nova amostra, recalibrar os itens e recalcular as proficiências [parâmetros], se apresentaria como medida inócua”.

O Inep, que organiza o Enem, citou um estudo segundo o qual “a proporção de indivíduos com inconsistências encontradas na amostra não produziu efeitos significativos na estimação dos parâmetros dos itens frente ao tamanho da amostra”.

Traduzindo em miúdos, os erros teriam sido tão ínfimos diante da amostra geral que não justificariam um recálculo completo, como defendeu Cesar Laus Simas no artigo que publicamos.

A Folha publica opinião do professor Dalton Francisco de Andrade, da Universidade Federal de Santa Catarina, que corrobora a decisão do Inep.

Ele é professor do Departamento de Estatística e Informática da UFSC.

“A melhor saída seria recalcular e fazer uma auditoria detalhada nas notas. O argumento de que o problema foi pequeno não se justifica porque, quando se trata de um vestibular, a nota tem que corresponder exatamente”, contra-argumentou Ocimar Alavarse, professor da USP citado pelo jornal.

De acordo com a Folha, para ganhar tempo o governo “não recalculou os parâmetros dos itens usados nas provas do exame”.

Os parâmetros utilizados teriam sido “contaminados” por parte das 5.974 notas erradas.

Funcionários do MEC citados pela Folha argumentam que, embora minúsculas, as diferenças na nota poderiam mudar a classificação de candidatos em cursos concorridos.

O governo Bolsonaro, sempre de acordo com o jornal, teria decidido ir adiante para não atrapalhar o calendário escolar, mesmo sob o risco de ações judiciais.

O ministro da Educação Abraham Weintraub disse, no dia 10 de novembro, quando as provas estavam em andamento: “Tivemos, acho que agora dá para afirmar, o melhor Enem de todos os tempos, tanto em execução, operação, logística, como também em termos de formulação”.


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Comentários

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Zé Maria

Trocar uma Olavéte por Outra também não resolve.

Tirar o Asno do MEC para pôr um Jumento não adianta.

Tem que trocar o Rebanho Inteiro de Asinus
Bolsonaro/Guedes/Moro/LavaJato e Olavétes.

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