Em menos de 10 minutos, fogo destrói polo-base Diauarum, no Território Indígena do Xingu; vídeos

Tempo de leitura: 4 min

Polo-base do Diauarum: antes do incêndio, majestoso, com o rio Xingu percorrendo todo o território; agora, só se vê destruição

por Conceição Lemes

O Território Indígena do Xingu (TIX), antes denominado Parque Indígena do Xingu, fica na região nordeste do Mato Grosso, ao sul da Amazônia brasileira.

Ele tem quatro polos-base que servem de apoio às 16 etnias que vivem nos seus 2.642.003 hectares.

Nesse domingo, 14-09, as instalações de um deles – o Diauarum – pegaram fogo.

O incêndio  teve início por volta das 14h na cabeceira da pista de pouso e avançou rapidamente pela área.

Os vídeos mostram o desespero dos poucos moradores que lá estavam na hora.

A maioria perdeu tudo o que tinha em suas casas: roupas, alimentos, redes, fogão, geladeira, documentos.

‘’Foi impossível recuperar alguma coisa”, afirma o enfermeiro do polo Carlos Martins Carrijo, que presenciou  tudo.

Em menos de 10 minutos tudo se queimou.

‘’Ainda bem que muitos tinham ido para as suas aldeias’’, observa.

‘’Se todas as famílias estivessem no polo na hora do fogo, poderia ter sido pior. Várias têm filhos pequenos; uma, bebê de 1 mês de idade”, argumenta.

‘’Graças a Deus nenhum ferido nem intoxicado com aquela fumaça provocada pelo incêndio’’, ressalta.

Geograficamente, os indígenas dividem o território em ‘’alto’’, ‘’médio’’, ‘’baixo’’ e ‘’leste’’ Xingu.

Essa divisão está relacionada ao curso do rio Xingu.

No ‘’alto’’ Xingu, região sul do território, fica a nascente.

No  ‘’baixo’’ Xingu, ao norte, é onde o rio desemboca.

O mapa o Brasil, no topo à direita, mostra o Território Indígena do Xingu (TIX), que antes  recebia o nome de Parque Nacional do Xingu. Ele circundado por vermelho.  O mapa maior detalha o TIX com seus quatro polos-base, todos assinalados por retângulos vermelhos

O polo-base Diauarum fica no “baixo” Xingu.

Foi construído na década de 1970, para dar suporte principalmente aos kaiabi e kaiapó que na época ocupavam a região mais ao norte do Parque. Atualmente, os kaiapó vivem fora do TIX.

Os outros três polos-base são:

Leonardo  Villas Boas — No ‘’alto’’ Xingu. Foi o primeiro a ser construído, ainda no final dos anos 1.950, antes mesmo da criação do Parque Nacional do Xingu, em 1961.

Pavuru – Situa-se no ‘’médio’’ Xingu. Foi criado na década de 1980.

Wawi – Localiza-se no leste do rio Xingu. É o mais recente. Foi reconhecido oficialmente apenas no final dos anos 2.000, a partir da demanda do povo Suiá (Kīsêdjê), que conseguiu recuperar parte de seu território original, no final da década de 1.990.

Esses quatro polos-base são áreas administrativas.

São uma “herança” da época em que a Fundação Nacional do Índio (Funai) ainda era responsável pela assistência à saúde indígena.

Geralmente ficam neles as coordenações técnicas locais da Funai e estruturas como as Unidades Básicas de Saúde (UBS).

Cada polo tem, por exemplo, uma UBS, para atender os indígenas da área.

Atualmente, o Diauarum é o polo com maior número de aldeias juntas.

Atende principalmente as etnias kaiabi e yudjá.

Segundo levantamento do enfermeiro Carlos Carrijo, pelo menos 15 casas foram destruídas.

Cinco delas são do ISA, o Instituto Socioambiental.

Destinam-se às equipes de campo da ONG.

Ultimamente, por serem mais afastadas do centro do Diauarum, vinham  sendo utilizadas no contexto da pandemia pela covid-19, como espaço para a quarentena dos profissionais após a entrada no polo.

“Irão fazer falta”, observa o médico e pesquisador Clayton Coelho, do Projeto Xingu da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

A maioria das outras dez casas destruídas tinha como moradores  (cerca de 50) indígenas que trabalham na Funai e na Saúde.

O QUE CAUSOU O INCÊNDIO?

Dois funcionários do Distrito Sanitário Indígena do Xingu  (Dsei/Xingu) e um engenheiro da Funai já estão na área para apurar o que aconteceu.

A hipótese de incêndio criminoso não está descartada.

Mas, segundo quem conhecem bem a região, essa possibilidade é pouco provável.

Clayton Coelho é uma dessas pessoas.  Ele atuou durante cinco anos como médico do posto avançado da Unifesp no Xingu.

‘’Se fosse um ponto mais próximo aos limites do Parque, a probabilidade de incêndio intencional, criminoso, seria mais alta. Mas o Diauarum é relativamente distante desses limites’’ , justifica.

‘’Seria muito difícil alguém de fora chegar até lá e provocar um incêndio sem que os indígenas soubessem’’, acrescenta.

O mais provável é que o fogo esteja associado a alterações do período de seca e demora para retorno das chuvas.

Na região, o clima alterna estação chuvosa, de novembro a abril, quando os rios enchem e o peixe escasseia, com período de seca nos demais meses.

Portanto, agora é tempo de seca no Território Indígena do Xingu.

Para agravar, também devido às mudanças climáticas,  cada vez mais as pessoas têm perdido o controle das queimadas tradicionais.

Lá, a agricultura tradicional baseia-se na coivara.

Derruba-se o trecho de mata escolhido para plantio/formação da nova roça

Após algumas semanas, é feita a queimada, levando em consideração a direção do vento, abertura de aceiros (desbaste de terreno em volta de propriedades, matas e coivaras, para impedir propagação de incêndios), época prevista para a chegada das chuvas.

Mas, por conta mudanças climáticas relacionadas às alterações do período de seca e chuvas — facilmente perceptíveis para quem frequenta a região há alguns anos –,  o controle das queimadas tem se tornado cada vez mais difícil.

A conferir.


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Comentários

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Eddie

Fala serio, que fogo é esse que só pula para as casas e só pega em casas? Aviao nâo mostrou o fogo pegando em mato. ai tem

Zé Maria

É Gritante a Negligência do desgoverno Bolsonaro/Salles/Mourão,
pela inoperância no Combate aos incêndios no Pantanal.
Pelo visto, quer exterminar não só os Povos Nativos, mas todo e
qualquer Ser Vivo da Região. Tudo isso é pra Exportar Mais Soja?

Cadê as Forças Armadas, tão diligentes e competentes de Güela ?!?

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