Em Bauru, prefeita imita “rebeldia” de Bolsonaro e coloca comércio acima de tudo

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Negacionismo e populismo digital no interior paulista — o caso de Bauru

Por Luiz Ferreira*, via e-mail

Na última quarta-feira, na cidade de Bauru, localizada no centro-oeste paulista, a Câmara Municipal votou em favor da abertura total de todas as atividades comerciais e produtivas, sem restrição, enquanto a cidade já atravessava a fase vermelha, decretada pelo governo do Estado de São Paulo, desde o dia 22/01/21.

A prefeita local, Suéllen Rosim (Patriotas) esteve na Câmara no mesmo dia para assinar o projeto de lei encaminhado por um grupo de vereadores que simplesmente decretava como serviços essenciais, ou seja, não submetidos às mesmas regras de restrição do Plano SP,  atividades desenvolvidas por academias, comércio varejista, bares e restaurantes, salões de beleza, cabeleireiros, barbearias e manicures, shoppings e praças de alimentação, escritórios e empresas no segmento de advocacia, contábil, imobiliário, corretagem de seguro e empresas de tecnologia, esporte de alto rendimento que disputam campeonatos nacionais, estaduais e internacionais e Poder Legislativo.

Ocorre que desde o dia 25 de janeiro, o atendimento presencial ao público, nesses locais, estava proibido em decorrência da fase vermelha do Plano SP do Governo do Estado.

No entanto é importante salientar que a resistência por parte do Executivo bauruense iniciou-se desde próximo ao dia 22/01, quando a prefeita ao ser notificada da decretação da fase vermelha, por parte do governo estadual, simplesmente ignorou a situação crítica de aumento progressivo de casos de infectados e lotação dos leitos hospitalares na cidade, e decretou uma “fase vermelha abrandada” com regras próprias, o que foi logo rechaçada pelo executivo estadual que encontrou socorro no judiciário suspendendo a medida da prefeita bauruense.

Neste cenário, se destaca a postura da única vereadora de oposição na casa legislativa do interior que votou contra a medida dos vereadores, Estela Almagro (PT) que esteve alertando desde a audiência da quarta-feira (03/02) que a medida proposta pelos vereadores afrontava o pacto federativo e ademais era inconstitucional e já contava com antecedentes judiciais do TJ que cassou medidas parecidas que ao flexibilizar as regras derivadas do Plano São Paulo, acabavam desobedecendo o mesmo.

Estela Almagro, na sessão legislativa se pronunciou enfaticamente explicando que a medida dos vereadores:

1. fazia uma inversão tornando a exceção regra geral, descaracterizando as medidas de restrição;

2. seria rapidamente cassada, e parecia ser mais uma medida de cunho político que terceirizava na cidade o conflito nacional estabelecido entre Dória e Bolsonaro;

3. que as pessoas ao deixarem de ter referência das restrições no momento mais crítico da pandemia na cidade, acabariam submetendo-se ainda mais ao contágio da doença;

4. que além de não proteger vidas, a medida do legislativo bauruense se converteria em uma frustração social, e poderia levar a cidade a uma dinâmica de iô-iô, ou abre e fecha, mas sem planos claros de vacinação em massa combinados a mecanismos de apoio ao comércio, aos trabalhadores locais e a população da cidade e região.

Segundo Estela Almagro: “A cada vez que o comércio abre ou fecha, cria-se uma expectativa gigantesca em quem precisa estocar, fazer pedidos ou entregas, cria-se uma enorme esperança na estabilidade e manutenção de empregos e garantia de renda”.

O conflito de Doria e Bolsonaro na região encontra coincidências de postura quando se trata de combater a Covid.

O governo federal não prorrogou o custeio de leitos para atendimento do COVID19 no Interior de São Paulo. E sem estes recursos, é possível que várias unidades, como as Santas Casas, tenham que terminar com o atendimento desses leitos.

De fato, a postura tanto do governador Doria, que se recusa a implementar permanentemente o Hospital das Clínicas, como a de Bolsonaro, que elimina repasses para manutenção do atendimento à pandemia, demonstram que estes governos não tem problema em combinar políticas de cortes de direitos enquanto fazem isenções fiscais, reserva de recursos para pagamento de investimentos feito por grandes bancos e privatizações.

Suéllen Rosim que tem se destacado nas redes sociais e já ocupa algum lugar de destaque na imprensa nacional, na cidade tem sustentado sua gestão em parte pela mediação de redes sociais, de modo similar a estratégia de Bolsonaro, enquanto destina cortes a setores sociais como moradores de rua e pessoas com baixo poder aquisitivo, para citar um caso.

Também parece articular com prefeitos de cidades próximas e menores, a tomada de posturas similares, criando um núcleo de “cidades rebeldes”.

Na cidade os meios de comunicação aderiram ao discurso instaurado pela prefeita municipal de confronto ao governador do estado.

O saldo disso, propaganda de um lado ao outro. Tomada de posturas exageradas, falta de parâmetros e protocolos comuns entre o que se passa na cidade e no resto do estado, mas a ausência de recursos e leitos segue.

A vereadora Estela Almagro, mesmo sofrendo ataques contínuos nas redes sociais, por radicais direitistas, tem se esforçado para evitar a divisão social e falta de ações contra os efeitos da pandemia, sem desprezar o problema econômico que a cidade enfrenta, defendendo as seguintes medidas:

1) testagem em massa da população para retirar de circulação aqueles que estiverem contaminados;

2) aumento do número de veículos do transporte coletivo que estão circulando hiper lotados, em pouquíssimos horários e se transformaram em vetores móveis de transmissão do vírus;

3) fiscalização de comércio, indústria, serviços… para garantir o cumprimento dos protocolos de biossegurança;

4) fiscalização para coibir festas, da periferia à zona sul, das comunidades aos condomínios;

5) investimento, ampliação e transparência na vacinação (imunização contra Covid19);

6) restabelecimento do pacto federativo, pois a saúde coletiva é responsabilidade do Município, Estado e Governo Federal. Doria e Bolsonaro têm que ser cobrados, nem que seja na Justiça para cumprirem suas responsabilidades: ampliar investimentos na saúde e leitos de UTI. Não é hora de cortes.

Na noite do dia de ontem, como prognosticou a vereadora petista, foi cassado projeto de lei da Câmara Municipal que ignorava a situação de extrema gravidade sanitária que a cidade vive.

O Tribunal de Justiça (TJ) suspendeu, nesta segunda-feira (08/02), os efeitos da lei municipal que ampliou o rol de atividades econômicas consideradas essenciais na cidade com o objetivo de garantir a abertura do comércio e de diversos outros estabelecimentos, mesmo Bauru estando classificada na fase vermelha.

*É assessor parlamentar da vereadora Estela Almagro


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