Aumento do desmatamento na Amazônia está ligado à reforma do Código Florestal

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Documento liga Código Florestal a aumento de desmate na Amazônia

Ofício enviado pelo secretário do Meio Ambiente de MT ao gabinete de crise afirma que reforma do Código alimentou expectativa entre proprietários de terra de que não seriam concedidas novas autorizações para desmate e responsáveis seriam anistiados

Marta Salomon – O Estado de S.Paulo

O aumento do ritmo das motosserras na Amazônia está relacionado à reforma do Código Florestal em discussão no Congresso Nacional. É o que afirma documento oficial submetido ao gabinete de crise criado nesta semana pelo governo federal para combater o desmatamento na Amazônia.

Ofício assinado pelo secretário do Meio Ambiente de Mato Grosso, Alexander Torres Maia, relata que o Código Florestal criou a expectativa entre proprietários de terra de que não seriam concedidas novas autorizações para desmatamento. Outra expectativa criada foi de que os responsáveis seriam anistiados. O Estado lidera o ranking dos que mais derrubam árvores.

“Não há como negar a forte vinculação entre o desmatamento e os processos de discussão da legislação ambiental”, diz o ofício ao qual o Estado teve acesso. O documento faz referência ao Código Florestal e ao Zoneamento Econômico Ecológico de Mato Grosso. À reportagem, o secretário confirmou o vínculo.

Procurada pelo Estado, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, confirmou o recebimento do ofício. Ao anunciar que as áreas de alerta de desmate produzidas por imagens de satélite haviam mais do que quintuplicado em março e abril, em relação ao mesmo período de 2010, Izabella preferiu não apontar eventuais responsáveis. Caberia ao gabinete de crise, segundo ela, identificar as causas.

Nos nove primeiros meses (de agosto a abril)de coleta da taxa anual de desmatamento de 2011, o ritmo de abate das árvores cresceu 27%, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O governo tem menos de três meses para evitar uma taxa anual maior que a de 2010. Na quinta-feira, o relator da reforma do Código, deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), atribuiu o aumento do desmatamento à “ineficácia” da fiscalização. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) chegou a negar que o desmatamento tivesse aumentado.

Mato Grosso concentrou 81% dos 593 km2 do desmate registrado pelos satélites em toda a Amazônia em março e abril. As motosserras funcionaram num ritmo que não era visto lá desde agosto de 2008, segundo levantamento do Ibama, e se concentraram numa área correspondente a 15% dos municípios do Estado.

Além de rápido, o desmatamento mudou de perfil. “Os últimos dados mostram uma retomada dos grandes desmatamentos, com até 17 quilômetros de extensão”, diz o documento assinado pelo secretário do Meio Ambiente de Mato Grosso.

Segundo ele, o Estado já aplicou R$ 42 milhões em multas neste ano e vai suspender o Cadastro Ambiental Rural dos proprietários rurais responsáveis por desmatamento irregular.

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Proprietários. Na lista de proprietários encaminhada ao gabinete de crise há três representantes da família Predeschi, moradora de Ribeirão Preto (SP). Procurada, a família afirmou ter vendido as terras para Áureo Carvalho Freitas, de Rio Verde (GO). “Nunca houve desmatamento lá, não sei por que o satélite apontou isso. É uma inverdade”, reagiu Freitas. “O último desmatamento nas terras aconteceu em 2005 e foi feito com autorização”, alegou. O gabinete de crise dispõe de imagens de satélites desde o início dos anos 80 e tem como identificar a época em que houve o abate das árvores.

PARA ENTENDER

A votação do novo Código Florestal foi adiada três vezes por divergências entre o relator Aldo Rebelo (PC do B-SP), o Executivo e parlamentares. O Código deve ser votado nesta terça-feira, mas com emenda que desagrada o governo, proposta pelo PMDB. Ela valida as plantações feitas até 22 de julho de 2008 em Áreas de Preservação Permanente (APPs), como várzeas, encostas, topos de morro e matas ciliares.

O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), afirmou que a presidente Dilma Rousseff poderá vetar parte ou até integralmente o novo Código.

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Comentários

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Salvador

O aumento ou a redução do desmatamento estão ligados a subida ou declinio dos preços da soja, milho, açúcar, etc, no mercado internacional, assim como o aumento do consumo de água, energia, cimento, madeira, vidro, embalagens – que dependem de desmatamentos e alterações ambientais para serem produzidos – está ligado ao aquecimento/esfriamento da economia.

FrancoAtirador

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SAGA DA AMAZÔNIA
Composição, voz e violão: Vital Farias

"Só é cantador quem traz no peito
a cheiro e a cor de sua terra,
a marca de sangue dos seus mortos
e a certeza de luta dos seus vivos!"

Era uma vez na Amazônia a mais bonita floresta
mata verde, céu azul, a mais imensa floresta
no fundo d'água as Iaras, caboclo lendas e mágoas
e os rios puxando as águas

Papagaios, periquitos, cuidavam de suas cores
os peixes singrando os rios, curumins cheios de amores
sorria o jurupari, uirapuru, seu porvir
era: fauna, flora, frutos e flores

Toda mata tem caipora para a mata vigiar
veio caipora de fora para a mata definhar
e trouxe dragão-de-ferro, prá comer muita madeira
e trouxe em estilo gigante, prá acabar com a capoeira

Fizeram logo o projeto sem ninguém testemunhar
prá o dragão cortar madeira e toda mata derrubar:
se a floresta meu amigo, tivesse pé prá andar
eu garanto, meu amigo, com o perigo não tinha ficado lá

O que se corta em segundos gasta tempo prá vingar
e o fruto que dá no cacho prá gente se alimentar?
depois tem o passarinho, tem o ninho, tem o ar
igarapé, rio abaixo, tem riacho e esse rio que é um mar

Mas o dragão continua a floresta devorar
e quem habita essa mata, prá onde vai se mudar???
corre índio, seringueiro, preguiça, tamanduá
tartaruga: pé ligeiro, corre-corre tribo dos Kamaiura

No lugar que havia mata, hoje há perseguição
grileiro mata posseiro só prá lhe roubar seu chão
castanheiro, seringueiro já viraram até peão
afora os que já morreram como ave-de-arribação
Zé de Nana tá de prova, naquele lugar tem cova
gente enterrada no chão:

Pois mataram índio que matou grileiro que matou posseiro
disse um castanheiro para um seringueiro que um estrangeiro
roubou seu lugar

Foi então que um violeiro chegando na região
ficou tão penalizado que escreveu essa canção
e talvez desesperado com tanta devastação
pegou a primeira estrada, sem rumo, sem direção
com os olhos cheios de água, sumiu levando essa mágoa
dentro do seu coração

Aqui termina essa história para gente de valor
prá gente que tem memória, muita crença, muito amor
prá defender o que ainda resta, sem rodeio, sem aresta
era uma vez uma floresta na linha do equador…

[youtube M2u66fMtYA0 http://www.youtube.com/watch?v=M2u66fMtYA0 youtube]

SILOÉ -RJ

Mexer no código florestal, é comprar briga com os mais poderosos desse país:
OS LATIFUNDIÁRIOS.
As terras muito mais que o dinheiro e o ouro, é o verdadeiro sinônimo de riqueza e poder, passível de exibição sem riscos,e com alta valorização.
Políticos, ministros,empresários, profissionais liberais, etc, etc… Quem não tem sua terrinha???
REGULAR OU NÂO : EIS A QUESTÃO!!!
Prefeitos, governadores e outros, com mansões em área de preservação ambiental permanente, prefeitos governadores e outros, com mansões em praias "privadas", prefeitos, governadores e outros, com construções irregulares em ilhas, prefeitos governadores e outos, com vastass área de fazendas desmatadas ilegalmente, Projac e outros, com hectares de terras conseguidas de forma nebulosa através de conlúios, e por aí vai…
Pelo visto com culpa ou não: Palocci é o boi de piranha desse embróglio sem fim…

    JOSE DANTAS

    O Brasil do jeito que o Cabral encontrou e com um código florestal prevendo o desmatamento zero não valeria absolutamente nada, pois nem turistas se aventurariam por aqui, a não ser que viessem com alguma má intenção em relação ao meio ambiente.
    Na realidade o que os ambientalistas e gringos querem é um Brasil inteiro como área de preservação ambiental e um monte de idiotas tomando conta dele sem ganhar uma prata sequer, na condição de proprietários, ainda por cima pagando o ITR anualmente.
    Claro que a perspectiva de aprovação do código florestal da maneira como está, proibindo o desmatamento incentiva essa prática e talvez por isso venha demorando tanto a ser votado.
    Se a matéria for posta em votação somente em 2020, é provável que não sobre uma árvore.

Léo

Azenha isso até pode está ligado com a discussão no congresso, mas o principal e pior deles é a certeza da impunidade, como dizia meu pai( falta de "cunhão roxo" dos nossos representantes), desse e dos governos passados.
no dia que os códigos da legislação brasileira for empregado de forma igualitária entre quem tem e que não tem. Não teremos skinheads que demoram 20 anos para serem julgados e condenado e mesmo assim ficar solto, não teremos pais de famílias presos por um momento de desespero ter roubado o que comer, ministros que acusa alguém de esculta ilegal sem nunca ter apresentado provas, políticos nazifascistas

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