Crack faz disparar violência em Minas

Tempo de leitura: 4 min

Pesquisa aponta que tráfico de crack é responsável por aumento de homicídios

por sugestão da leitora Magda Maria de Magalhães

do Portal da PUC-Minas

O crescimento das ocorrências de homicídios em Belo Horizonte e Região Metropolitana, a partir de 1997, entre jovens de 15 e 24 anos, está diretamente relacionada ao aumento dos conflitos relacionados ao tráfico de drogas, em especial do crack. No caso dos usuários dessa droga, há um perfil relativo e diversificado, inclusive de pessoas de nível socioeconômico elevado. Essas informações estão entre as principais conclusões do estudo A Problemática do Crack na Sociedade Brasileira: o impacto na saúde pública e na segurança pública, divulgado na manhã do dia 26 de agosto, no campus Coração Eucarístico. A pesquisa foi desenvolvida por equipe do Centro de Pesquisas em Segurança Pública (Cepesp) da Universidade.

“Não é o efeito farmacológico (do crack) que provoca a violência, mas sim seu comércio, mais que a cocaína em pó e a maconha, pois gera consumidores compulsivos”, explicou Luís Flávio Sapori, professor do Curso de Ciências Sociais e coordenador do Cepesp. Financiada com recursos do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), a pesquisa, realizada de dezembro de 2008 a julho de 2010, buscou compreender os mecanismos sociais e simbólicos envolvidos na relação entre o tráfico do crack e a disseminação da violência, bem como aqueles envolvidos no consumo compulsivo dessa substância e os tratamentos e serviços de atenção ao usuário.

O levantamento apresentou entrevistas com traficantes, usuários de crack em tratamento e gestores de instituições de saúde. Foram consultados 671 relatórios finais de inquéritos de homicídios ocorridos em Belo Horizonte, no período de 1993 a 2006, que relatam o esquema de funcionamento do comércio do crack na Região Metropolitana da capital. “A droga entrou primeiro na Pedreira Prado Lopes (localizada na Região Noroeste) e depois disseminou para outras favelas”, afirmou Sapori, para quem o estudo pode ajudar a entender o fenômeno no âmbito nacional. De acordo com ele, o aumento nos homicídios está relacionado aos conflitos causados pelo endividamento e pelo uso da arma de fogo, o que os torna letais. “Os conflitos pelo endividamento tendem a gerar mais homicídios, embora também haja uma disputa pelos pontos de tráfico”, observou.  Para ele, o comércio do crack é “tosco e baseado na troca de mercadorias”, entre as quais roupas, tênis e televisão.

Uma das formas de contenção do tráfico de drogas, sobretudo do crack, segundo o professor, seria por meio de ação repressiva e pela presença ostensiva por parte da polícia nos aglomerados, juntamente com a prisão de homicidas. “A presença da polícia não é interessante para os traficantes”, afirmou o professor, explicando que esse tipo de ação diminui o lucro dos bandidos, uma vez que afasta o usuário das bocas onde são vendidas as pedras de crack. Para Lúcia Lamounier, professora do Curso de Ciências Sociais e também integrante da equipe da pesquisa, o tráfico de crack é o tipo de comércio que mata o próprio consumidor ou cliente. “É uma rede social curta e estreita”, disse.

Relação com a violência

Conforme constatou a pesquisa, a entrada do crack em Belo Horizonte, a partir de 1997, é seguida de uma epidemia de homicídios. Entre as principais motivações, considerando os 671 inquéritos consultados, estão os conflitos relacionados ao comércio de drogas ilícitas, com percentual de 18,48%, a segunda maior entre as levantadas, antes apenas de outras motivações (crimes passionais, vingança, etc.), que registrou 39,20%. Conflitos em decorrência de vingança e acerto de contas representaram 13,71% dos inquéritos; seguido de conflitos nas relações afetivas (11,62%), conflitos oriundos de discussões em bares ou similares (8,20%) e indefinidos (8,79%).

Se considerarmos a distribuição das motivações por período, fica claro que os conflitos relacionados ao tráfico de drogas, entre elas o crack, tornaram-se a principal motivação da ocorrência de homicídios na capital e região. Entre 1997 e 2004, quando o crack começou a ser disseminado, 19,2% das motivações foram por conta de drogas ilícitas, contra 80,8% de outras motivações. Entre 2005 e 2006, com uma maior participação do crack no tráfico de drogas, o percentual aumenta para 33,3%, diminuindo o de outras motivações, para 66,7%. A título de comparação, entre 1993 e 1996, antes da entrada do crack, as motivações por drogas ilícitas eram de apenas 8,3%, contra 91,7% de outras motivações.

De acordo com a pesquisa, o período de disseminação e da consolidação do comércio do crack coincide com o crescimento da vitimização dos jovens na faixa etária de 15 a 24 anos. A taxa de homicídios nessa faixa etária, entre 2001 e 2005, tornou-se 2,5 vezes maior do que a taxa dos adultos acima dos 25 anos. O estudo aponta que as chances de que uma morte dessa natureza seja cometida por arma de fogo é 3,5 vezes maior do que o mesmo crime cometido por algum outro instrumento, tendo em vista que a predominância da arma de fogo nos homicídios foi bastante acentuada entre 1997 e 2004.

Impacto na saúde pública

Durante o estudo, foram identificadas três categorias de pacientes usuários de crack: os psicóticos, o marginal travestido de paciente e o usuário compulsivo e neurótico. O psicótico é o paciente que apresenta um quadro psiquiátrico de psicose e faz o uso da droga; a segunda, é o indivíduo que faz o uso do rótulo de “craqueiro”, simula um quadro de fissura e/ou abstinência para buscar ou exigir uma internação ou tratamento nas instituições especializadas. Já a terceira, do usuário compulsivo e neurótico, trata-se de um usuário que pode fazer o uso descontrolado de crack e apresenta quadro de fissura.

“Quase 100% dos pacientes de crack abandonam o tratamento, não recebem alta”, afirmou a professora Regina Medeiros, também professora do Curso de Ciências Sociais e responsável pela parte da pesquisa relacionada à saúde. Segundo ela, as equipes de profissionais que trabalham nas instituições de saúde são deficitárias para atender as demandas, o que exige por parte do poder público uma reestruturação da infraestutura física e de pessoal, para que possa ser feito o diagnóstico e tratamento adequados. “Os usuários de crack são pessoas totalmente diferentes, por isso os diagnósticos também devem ser totalmente diferentes”, defendeu.

De acordo com o estudo, há uma maior possibilidade de sucesso em abordagens que associem tratamento medicamentoso e psicoterapia com o suporte de profissionais de outras áreas do conhecimento. Os usuários chegam aos serviços especializados por demanda própria, por demanda de família, sugestão de amigos e ou colegas de trabalho, por encaminhamento judicial ou para escapar das ameaças de traficantes. “A relação dos usuários com a pobreza e indivíduos desocupados não é real. O crack vem disseminando com uma velocidade impressionante, inclusive junto à classe média e média-alta”, afirmou.

Veja aqui um resumo da pesquisa


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Comentários

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Maria de Fátima

É isso que temos do governo estadual.INÉRCIA pura.Mais quatro anos de anastasia é de enlouquecer.Aqui a saúde esta um caos ,o governo estadual não faz nada tanto o atual anastasia , quanto seu antecessor aecio.Dono de um discurso bonito ,aecio pouco se preocupou com a melhoria de vida dos mineiros pobres ,porque os ricos esses, estão satisfeitíssimos.Esse é o "Choque de (INDI)Gestão que essa dupla aprontou no estado.Ontem aecio descia o pau no Itamar,hoje estão juntos em campanha pelo Senado dizendo que vão moralizar o Senado.Moralizar como?Deixou o Estado ser invadido pelas drogas. "POVO MINEIRO se atentem,mais discípulos de FHC por um mandato no Palácio da Liberdade NÃO!

    Antonio

    Em São Paulo é a mesma coisa. A droga se disseminou com o Governo do PSDB. A escola estadual tornou se um circo trágico, onde os professores são os palhaços, os alunos os patrões analfabetos que tudo podem. A segurança pública é um caos.

Ed.

A droga está se tornando um desafio mundial e este maldito crack, comparado à maconha, cocaína e outras menos disseminadas é nefasto.
Conheço pessoas que conseguem levar uma vida "normal" com passado e/ou presente de maconha e até cocaína (mais elitista). Mas quem conhece viciado em crack com vida normal? ou mesmo "levemente" degradada?

rafael, BHte

E esse povinho daqui ainda vai de tio anastásia, pelo amor de Deus, essa farsa vai continuar mais 4 anos, é zero educação, é zero saúde, é zero segurança a região metropoliana de mediocrezonti city está entregue às baratas, é zero bombeiros nas cidades históricas apesar do novo imposto criado pelo faraó da 'cidade adminstrativa' feita com royalties dos minérios, é zero governo são mais de 500 municipios q nem deveriam existir pois sobrevivem à custas do fundo de participação dos municipios, a bolsa familia dos municipios Me dêem um transfusão de sangue (feita em outro estado, óbvio!) q eu não quero fazer parte dessa meleca mais não!

Zé Cabudo

O que quer que aconteça no próximos 40 dias, os mineiros não vislumbram um futuro muito promissor.

Fernando

Crack é uma tragédia, é uma droga com enorme penetração nas pequenas cidades do interior, seja no Centro-oeste, seja no sertão pernambucano e etc.

Crianças estão se prostituindo pra bancar o vício.

o Jorge Bastos Moreno noticiou que Sérgio Cortes será o ministro da Saúde da Dilma… a princípio não gosto do nome.

dukrai

bão, e o que o governo do Aócio Never faz com relação a isto tudo? Favor dirigir as perguntas pra Andrea Goebels Neves e pro posteAsia, ex-secretário de segurança pública de mg.
O trein está ficando feio na medida em que pessoas próximas relatam a barbárie, o sobrinho da diarista aqui de casa, de 16 anos, foi morto porque estava devendo pra "boca", entraram uns tres ou quatro traficantes na casa dela e o mataram na frente da mãe, também usuária.

turmadazica

Que pena que essa praga tenha avançado por aí… Muita gente que faz uso recreativo ainda não se dá conta de que o crack vicia impetuosamente, e muito rápido… E ai brow, já era…

É o resultado da demonização das drogas; uma das poucas certezas que eu tenho… Defendo a legalização de algumas "drogas", mas sinceramente não sei se seria uma solução eficaz… Opiáceos e derivados da cocaína deveriam ser banidos, salvo por uso médico…

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