Carta aberta de Julian Rodrigues a Xuxa: “Mandando a real, a sua fala foi nazista. Que decepção, quanto lixo a senhora falou!”

Tempo de leitura: 5 min
Julian Rodrigues: A sua fala, Xuxa, remeteu-nos, de imediato, à memória trágica dos experimentos do guru nazista, o médico Josef Mengele, grande defensor do uso de seres humanos como cobaias. Fotos: reprodução de vídeo e arquivo

Carta aberta a Xuxa Meneghel

Por Julian Rodrigues*

Xuxa: a senhora deu uma declaração discriminatória e eugenista. Mandando a real: foi uma fala nazista.

Remeteu-nos de imediato, à memória trágica dos experimentos do guru nazista, o médico Josef Mengele, grande defensor do uso de seres humanos como cobaias. Revisite o que expressou:

”Acho também que com remédios e coisas, eu tenho um pensamento que pode parecer muito ruim para as pessoas, que pode parecer desumano. (…) acho que existem muitas pessoas que fizeram muitas coisas erradas que estão aí pagando seus erros ad eternum, para sempre em prisão, que poderiam ajudar nesses casos aí, de pessoas para experimentos (…)pelo menos serviriam para alguma coisa antes de morrer, para ajudar a salvar vidas com remédios e com tudo.

Aí vem o pessoal dos Direitos Humanos e dizer que não podem ser usados. Mas se são pessoas que está provado que vão viver 60 anos na cadeia, 50 anos na cadeia e que vão morrer lá, acho que poderiam usar ao menos um pouco das vidas delas para ajudar outras pessoas. Provando remédios, vacinas, provando tudo nessas pessoas para ver se funciona”.

Se estivéssemos em condições de normalidade democrática, essa sua fala absurda seria objeto de ampla repercussão e repúdio generalizado, com graves consequências, inclusive no âmbito penal.

O abismo da sua ignorância em tantos temas simultaneamente quase paralisa de tanta perplexidade que causa – mas não servirá de escudo para normalizar esse tipo de pensamento.

Com todo respeito: a senhora deveria imediatamente ser processada por defender a realização de testes biológicos supostamente degradantes ou impróprios em brasileiros – considerados não tão humanos assim pela senhora, menos sujeitos de direitos do que os animais.

A senhora acredita que a vida dos jovens pretos e pobres encarcerados deve ser colocada à disposição das grandes empresas de cosméticos – entre outras para – realização de experimentos.

Pensem, todas as pessoas, na crueldade absurda dessa declaração de inspiração nazista.

Impressiona-me como uma figura pública tão experiente saia a falar bobagens incandescentes sobre assuntos os quais demonstrou nada saber.

Senhora Maria das Graças Meneghel: já ouviu falar em bioética?

Já leu algo a respeito?

Conhece as metodologias científicas para testar vacinas, por exemplo?

Sabe dos esforços para cada vez mais, evitar o sofrimento animal em todo e qualquer experimento sério?

A senhora estudou alguma coisa antes de se autoproclamar ativista?

A senhora, cara Xuxa, se sensibiliza com o sofrimento animal em detrimento da dignidade de brasileiros e brasileiras encarcerado.

Age como um bolsominion qualquer ao incitar o ódio contra as pessoas em situação de privação de liberdade.

Vou repetir isso. Muitas vezes. Os bichos são mais importantes que brasileiras e brasileiros para a senhora. Preso não é gente, Xuxa?

O movimento vegano, pelos direitos dos animais, e o movimento ambientalista são importantíssimos.

Agora uma figura com a tua força midiática, senhora Xuxa, se apropriar dessas bandeiras para carimbar como cobaias pessoas em situação de privação de liberdade é simplesmente criminoso.

Xuxa: a senhora não tem a menor ideia do que é o sistema prisional brasileiro.

Trata-se de uma máquina excludente e racista feita para prender milhares de jovens, pretos e pobres. O próprio STF definiu o sistema carcerário como “um estado de coisas inconstitucional”.

São mais de 760 mil gentes empilhadas. 40% são presos provisórios, ou seja, deveriam estar respondendo processo em liberdade, pois não foram nem julgados. 65% são negros e 55% são jovens – metade não terminou o ensino fundamental.

Há um recorte de raça, idade, território, classe social (entende?).

Xuxa: não há prisão perpétua no Brasil! Estude um pouco.

Ninguém paga pena ad eternum – não vivemos em seriado norte-americano, não chegamos na barbárie dos EUA ainda, o país que mais prende no mundo.

Tire um tempinho e veja o documentário na Netflix chamado “A 13ª Emenda”. Vai te fazer um bem danado.

Sabe quais são os crimes que levam as pessoas à cadeia no Brasil?

25%: tráfico de drogas, outros 25%: roubo, uns 15% furto.

Sabe o que isso significa? O que chamam de tráfico de drogas é prender (os que eles não mataram) os moleques que fazem o delivery dos papelotes. Traficante aqui é quem o PM pega na rua e chama de traficante, o entregador do varejo.

Roubo e furto são pequenos crimes contra o patrimônio.

Antes de publicizar outras ideias fascistoides, sugiro que a senhora estude um pouquinho e aprenda que nem 5% dos homicídios no Brasil são elucidados.

A imensa maioria dos presos não é feminicida, estuprador ou homicida.

Apenas 10% dos encarcerados são acusados de crimes contra a pessoa!!!

Percebe a imensidão da besteira que a senhora propagou?

A Constituição brasileira veta a pena de morte e a prisão perpétua, senhora Meneghel.

Aqui, repito, avançamos e nossa Constituição não é aquela selvageria norte-americana que a senhora vê nos filmes. E parece que gosta.

Apesar desse sistema massacrador de pobres, periféricos e pretos, ainda vigem no Brasil alguns princípios fundamentais dos direitos humanos, consagrados pela ONU desde a Declaração Universal de 1948.

Então, a despeito de suas expectativas, ninguém vive 50 ou 60 anos preso em nosso país.

Mas, é verdade, milhares morrem. Por falta de condições mínimas e também por disputas entre facções do crime organizado – que só existe com tal força porque o Estado cria esse exército de presos prontos para serem recrutados.

Xuxa: por que esse desprezo aos defensores dos Direitos Humanos?

Que decepção! Quanto lixo a senhora falou!

Cresci te assistindo –desde a TV Manchete. Vinha acompanhando com satisfação teu amadurecimento como mulher, artista e formadora de opinião.

Sou militante dos DH e me lembro de mais de uma vez ter te visto na sede do Ministério dos Direitos Humanos, em Brasília, participando de atividades em prol das crianças e adolescentes.

Também sou militante dos direitos LGBTI e assisti recentemente várias entrevistas e depoimentos seus contra o bulliyng, a favor da diversidade, promovendo o respeito às diferenças.

Defendendo nossa causa: contra homofobia, lesbofobia e transfobia.

Xuxa: compreenda o tamanho do meu espanto e mesmo do meu nojo com essa opinião sua – bolsonarista, eugenista, discriminatória, racista, fascista e totalmente ignorante.

Seu pedido de desculpas, eu vi. Mostra que você não entendeu nada. Não se convenceu de fato que falou uma bobagem descomunal. Você propagou uma ideia nazista. Acorde!

Não estudou e não aprendeu nada nem depois da repercussão do que disse. Aliás, seu vídeo novo soou como reiteração até, de tão forçado e vazio seu tal “pedido de desculpas”.

Espero, francamente, que você reflita e faça outro vídeo.

Estude, reveja seus posicionamentos. Use esse episódio para se reinventar. Ajude a promover a dignidade e os direitos das pessoas presas. Mais ainda ajude no debate sobre a revisão do nosso sistema de justiça do sistema de justiça: racista e reprodutor da desigualdade social.

Xuxa: prisão não é para vingar, matar ou torturar: é para res-socializar, recuperar e humanizar.

Leia, estude, melhore como gente antes de sair fazendo lives! Tua opinião repercute demais. Pense antes de falar.

Faça dessa pisada na bola monumental o ponto de partida para uma guinada política.

Capacite-se. Se proponha a ser uma defensora dos direitos humanos. Use sua força para fazer o bem para as pessoas.

Ah: não precisa abandonar a causa dos animais, ok?

28/03/2021

*Julian Rodrigues é professor e jornalista, ativista do Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH) e militante movimento LGBTI.

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Comentários

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Rosa Santos

Xuxa é a representante da ignorância e mau caratismo da elite brasileira. A vacina deveria ser testada nela e em quem a defende. Há muitos mulheres encarceradas q são muito mais inteligentes e úteis do que esta rainha dos baixinhos branquinhos de olhos azuis. Nazista, eugenista,bolsonarista e iletrada.

André Teixeira César

A humanidade e os seres desumanos limitados por falhas cognitivas: coisas das vidas

A senhora Maria das Graças Meneghel é famosa: iniciou a carreira artística na segunda metade dos anos 70, do Século XX. Período no qual o Brasil seguia sob o jugo de “governo” militar e não eleito pelo voto direto da população. A censura estatal proibia que professores e meios de comunicação ensinassem e divulgassem assuntos que estimulassem as pessoas a desenvolverem raciocínios críticos e entendimentos díspares aos que os grupos dominantes do poder desejavam impor. Dessa maneira, desde 1964 até 1985, estudantes, sobretudo os de escolas públicas, receberam ensinamentos sem a abrangência de todas as opções que lhes permitissem entender e expandir suas mentalidades. Houve, é claro, alunos e alunas que, por hereditariedade congênita ou por estarem em meio a núcleos familiares estimulantes, conseguiram manterem-se imunes à imposição do pensamento tutelado pelo reacionarismo. A senhora Maria das Graças Meneghel é muito famosa: a “beleza” abriu-lhe portas. Em entrevista, certa vez, um dos produtores dos “concursos de beleza” do final dos anos 70/início dos anos 80, contou que já tinham organizado tudo para um daqueles “eventos”, inclusive com a “ganhadora” já definida. Foi quando alguém apareceu e apresentou-lhe a “Xuxa”. Resultado: mudaram a combinação: quem seria a “vencedora” daquele ano, deixou de ser e foi decidido que a novata passaria a ser a “mais votada” na data do “concurso”. Isso, na cidade do Rio de Janeiro. Lugar onde cidadãos honestos vivem cercados pelos malandros que se vangloriam por serem espertos e endinheirados o suficiente para tornarem-se “respeitáveis empresários de boates e entretenimentos”. A senhora Maria das Graças Meneghel, décadas depois de ter ficado famosa, já contou os dramas familiares que viveu. Portanto, precisou aceitar os trabalhos que lhes surgiam disponíveis, para superar as dificuldades que afligiam a si e aos parentes próximos. Teve coragem e força para permitir-se às situações bem complexas e aos direcionamentos que lhe foram sendo trilhados, a caminho do “sucesso”. Ganhou muito dinheiro. Ficou rica. Entretanto, não conseguiu tempo para se dedicar aos estudos. E, temo recomendar que ela, agora, procure se matricular em algum curso no qual obtenha conhecimentos que lhe faltam. Temo porque ela pode achar que o “curso do astrólogo da Virginia” é aceitável. Não é. Assim como nunca foi aceitável acreditar no “milagroso de Abadiânia”. Talvez, ela possa tentar, se aproximar do teólogo Leonardo Boff. Talvez ele consiga que ela aprenda o que outros padres não conseguiram que ela aprendesse. A senhora Maria das Graças Meneghel tem conta bancária farta, com fortuna acumulada com “o suor do seu trabalho”. Parabéns. Enquanto isso, pelas praças e becos, existem adultos, jovens e crianças morando nas ruas e sem chances de terem o direito de estudarem e, com isso, organizarem suas vidas e evitarem que o único caminho permaneça sendo o da exclusão social e do acolhimento pelo Estado, somente quando se tornarem aptos a ocuparem uma cela de prisão. E, assim, ficarem impedidos de fazerem maldades com as pessoas boazinhas que querem besuntar seus rostos de maquiagem (quem sabe, por vergonha de se olharem como são). Desde que não testem os produtos em “animais”. Como se vê, a interdição autoritária que desestimulou as leituras de “A teoria geral da evolução das espécies”, de “O segundo sexo”, de “Casa Grande e senzala”, de “Raízes do Brasil”, de “O povo brasileiro”,… reforçou e fez prevalecer uma enorme preguiça mental em gente que soube fartar-se de ganhar o vil metal, disponibilizado pela malandragem citada acima, e que depois de tê-lo em quantidade exageradamente a mais do que precisa, continua com a convicção de que esse “merecimento” lhes cai mais bem do que a outrem.

Sugiro, também, à senhora Maria das Graças Meneghel e congêneres, uma ideia que pode lhes parecer absurda: ao contrário de se desgastarem falando bobagens reacionárias e cruéis, passem a ajudar, com determinação, seriedade e investimento financeiro, o Padre Júlio Lancellotti. E, assim, “deixem nas histórias de suas vidas uma notícia nobre”. Dessa forma, celebraremos honras e graças às Marias que fizerem sorrir as Clarisses.

André Teixeira César (francamente, por não ser rico, ignoro se existe uma lei secreta que proíbe os milionários de doarem, espontaneamente, os excessos de suas riquezas para socorrerem as pessoas que estão na miséria. Acreditar que não deve ser secretamente proibido leva a crer que não o fazem é por maldade, mesmo).
E mais: previna-se contra a Covid-19: evite aglomerações, higienize as mãos, use máscaras.
30/03/21

Marcos Tales

Olha só. A União paga um monte de viagens para esse prof que riu dos mortos por covid.
86 mil. Livres de impostos.
Enquanto isso quem tá na linha de frente morre de covid. Óbvio que ele riu de todos que morreram de covid.
Que crápula !

Luiz Athayde

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Maria Rocha

Essa senhora mesma parece uma aberração, com essa mania de manter-se plasticamente esticada para parecer mais jovem do que é, embora sua cabeça denuncie o quanto é velha.

    leticia barbosa de brito

    Assino em baixo tudo o que ele disse, mas nao misture as coisas, xuxa poderia andar plastificada, mas ela odeia plástica, e caso goste devemos respeitar a vontade de cada um.

    Ester

    A Sra está completamente equivocada … Xuxa nunca fez 1 plástica se quer e defende que se seja natural, se aceite a velhice, pois tem muita neurótica por aí se enchende de boytox e pintando sobrancelha como se fosse uns monstrinhos !

Luiz Athayde

Essa Xuxa é uma espécie de Rainha de França que manda dar brioches ao povo; é o Circo da expressão “governar é dar pão e circo ao povo”; passou 30 anos idiotizando as crianças do Brasil. Não é só a sua declaração nazista um “lixo” como o Julian Rodrigues que é professor e jornalista, ativista do Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH) e militante movimento LGBTI. em seu excelente artigo, ela é o próprio lixo, característico da ELITE DO ATRASO, título do também excelente livro do Jessé Souza; com certeza o seu artigo terá grande repercussão para as pessoas inteligentes e conscientes, e esta idiota não conseguirá entender ou sentir a profundidade das ideias postas, como não entenderão os bolsominions como ela deve ser.

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