Bolsonaro se defendeu daquilo que não foi acusado. Foi seu momento Nixon

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Reprodução de vídeo

Da Redação

O ex-ministro Sergio Moro, ao se demitir, não mencionou as acusações de que a trajetória da família Bolsonaro na política do Rio de Janeiro não teria tido futuro a não ser por causa da relação com milicianos.

Ao contrário, Moro foi frequentemente acusado de se omitir nos casos do laranja Fabrício Queiroz e do miliciano Adriano Magalhães da Nobrega, assassinado em circunstâncias nebulosas na Bahia.

Registre-se, no entanto, que os casos estão na alçada do Ministério Público do Rio de Janeiro e da polícia civil estadual — não diziam respeito diretamente ao ministério ocupado por Moro.

A Polícia Federal só tangenciou os acontecimentos do Rio, ao abrir inquérito para investigar tentativas de abafar a apuração estadual.

Hoje, o Intercept Brasil revela que dinheiro da rachadinha praticada nos gabinetes da família Bolsonaro no Rio foi investido por Fabricio Queiroz, através do miliciano Adriano, na construção de prédios em áreas controladas pela milícia.

O retorno do “investimento” teria proporcionado o enriquecimento repentino do senador Flávio Bolsonaro, cujos advogados já tentaram matar a investigação nove vezes.

Aqui, é preciso lembrar que há registro do emprego de funcionários fantasmas nos gabinetes de Jair Bolsonaro na Câmara Federal, do filho Flávio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e do filho Carlos na Câmara Municipal do Rio.

É uma prática comum do baixo clero, mas neste caso em associação com a milícia, que chegava a cobrar R$ 100 mil por imóvel — sempre segundo os detalhes do inquérito revelados pelo Intercept Brasil.

Na entrevista em que rebateu o demissionário Moro, Jair Bolsonaro respondeu, sem ser perguntado, sobre três episódios nos quais teria pressionado o ministro a agir em sua defesa pessoal.

Note-se que o presidente da República “naturalizou” o uso ou ao menos a tentativa de uso da Polícia Federal como sua guarda pretoriana.

Ele pediu investigação sobre supostos mandantes por trás de Adélio Bispo, o autor da facada que atingiu Bolsonaro na campanha eleitoral — as apurações até agora concluiram que Adélio agiu sozinho.

Porém, ao tratar do assunto, Bolsonaro hierarquizou o caso com o de Marielle Franco, a vereadora do Psol assassinada no Rio, sem que houvesse relação entre uma coisa e outra.

Disse também que teve de pedir ao filho Carlos que investigasse o porteiro do condomínio Vivendas da Barra, para desfazer a insinuação de que teria sido ele, Jair Bolsonaro, a autorizar a entrada no condomínio de um dos homens acusados de matar Marielle Franco, horas antes do crime político.

Por fim, Bolsonaro admitiu ter obtido, para uso pessoal, depoimento de um dos acusados de matar Marielle, através da Polícia Federal, com o intuito de desmentir que a filha do acusado teria namorado com seu filho mais novo, Renan, o 04.

É importante ressaltar, mais uma vez, que os três assuntos não tinham relação com a demissão de Moro e não foram mencionadas pelo ex-ministro ao anunciar seu afastamento do cargo.

Além disso, Jair Bolsonaro voltou a mencionar os “empréstimos” de R$ 40 mil reais feitos por Fabrício Queiroz em depósitos na conta da primeira dama Michelle, “empréstimos” altamente improváveis considerando que Queiroz era o subordinado e, Bolsonaro, o patrão na relação entre ambos.

As declarações de Bolsonaro podem ter sido uma forma de defesa preventiva diante da conclusão de inquéritos que estão em andamento ou de informações que Moro tenha o potencial de vazar.

Relembram um episódio famoso, de 17 de novembro de 1973, quando pairavam sobre o então presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, dúvidas sobre seu envolvimento no escândalo de Watergate, que mais tarde o derrubaria.

Em um discurso em sua defesa, Nixon disse:

“Eu cometi meus erros, mas em todos os meus anos de vida pública, nunca lucrei, nunca lucrei com o serviço público — ganhei cada centavo. E em todos os meus anos de vida pública, nunca… e acho que também posso dizer que, nos meus anos de vida pública, dei boas vindas a esse tipo de investigação, porque as pessoas precisam saber se o presidente é ou não um trapaceiro. Bem, eu não sou um bandido. Eu ganhei tudo o que tenho”.

O problema é que, àquela altura, ninguém ainda tinha sugerido publicamente que Nixon era bandido.


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Comentários

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Zé Maria

Empresa de Aviação dos EUA
puxa a Escada e deixa EMBRAER
pendurada na brocha.
Boeing rescindiu o contrato com
a Empresa Brasileira de Aviação.

Peçam pro venerado Mito Imbecil
reclamar com o semideus norte-americano
adorado pelo Reverendo Araújo

É o Mercado Capitalista, Estúpido !

a.ali

quando se tem culpa o pavor toma conta e acaba entregando o queijo e foi o que aconteceu, especificamente, no caso do dito cujo bozo repetindo a historia do nixon e, resumindo, os dois colocaram a carreta na frente dos bois…

Schell

Bem “apanhado”. Quem sai falando sobre o que não lhe foi perguntado, no mínimo, tem culpa em qualquer cartório: no caso específico dos bolsonazis, não é bem no cartório, mas, no escritório do crime. Passaram a vida se locupletando com funcionários fantasmas e outros cadáveres: talvez fosse o que a Marielle iria denunciar sobre a famiglia. Se estender a corda, enforcam-se todos.

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