Bolsonaro homenageia ditador paraguaio responsável por tortura e desaparecimentos

Tempo de leitura: 3 min
Tânia Rego/Agência Brasil

Bolsonaro elogia ditador paraguaio Alfredo Stroessner em público

Presidente brasileiro tratou militar, responsável por crimes contra a humanidade, de “estadista”

por Santi Carneri, de Assunção, no El País, sugestão Artur Scavone

O presidente Jair Bolsonaro viajou nesta terça-feira para a fronteira com o Paraguai para anunciar, ao lado de seu homólogo, Mario Abdo Benítez, a nomeação das novas autoridades de Itaipu, a hidrelétrica que os dois países compartilham no rio Paraná.

O discurso do brasileiro não foi protocolar: quando ninguém esperava, se desfez em elogios ao ditador Alfredo Stroessner,  o homem que com mão de ferro controlou o Paraguai entre 1954 e 1989, responsável por milhares de prisões arbitrárias, torturas e desaparecimentos.

A hidrelétrica só foi possível, disse ele, “porque do outro lado havia um homem com visão, um estadista que sabia perfeitamente que seu país, o Paraguai, só poderia continuar progredindo se tivesse energia”.

“Então, aqui está minha homenagem ao nosso general Alfredo Stroessner”, acrescentou em português, pouco antes de ficar em silêncio para ouvir os aplausos do público e o olhar imóvel de seu colega paraguaio.

Abdo Benítez assumiu em 15 de agosto do ano passado, depois de uma campanha em que tentou se distanciar de seu passado stroessnerista. Seu pai, Mario Abdo, foi o braço direito do ditador por mais de 30 anos.

Bolsonaro parecia confortável diante de seu interlocutor e continuou com citações da Bíblia. “A verdade nos libertará”, disse a Abdo, que insistiu em chamar de Marito, como fazem seus correligionários do Partido Colorado, o movimento político que deu sustentação à ditadura.

Para o brasileiro, seu colega paraguaio é “um cristão, conservador, homem de família”. E que por “esses valores” decidiu ir à fronteira para apertar sua mão.

“Será um prazer recebê-lo em Brasília nos próximos dias, onde aprofundaremos outras discussões para o bem-estar de nossos povos. Esquerda nunca mais!”, acrescentou o brasileiro. Bolsonaro, capitão reformado, elogiou em várias circunstâncias a ditadura brasileira  (1964-1985).

Por sua vez, Abdo agradeceu Bolsonaro pelo encontro e lembrou que vai visitá-lo em 12 de março para promover a construção de duas novas pontes entre os dois países.

Também destacou o “importante desafio” que têm pela frente ambas as nações, que em 2023 devem renegociar o tratado bilateral que dispõe sobre a divisão de energia de Itaipu, que desde 1984 fornece 74% de toda a energia consumida pelo Paraguai e 17% da do Brasil.

“É iminente, razão pela qual é prioridade agilizar as consultas e os estudos técnicos internos necessários para alcançar resultados que satisfaçam as legítimas aspirações de ambos os países”, disse Abdo.

A agenda energética, no entanto, não foi o destaque do evento.

O Paraguai  vive um constante debate social pela recuperação e normalização da memória da ditadura, especialmente desde a chegada ao poder de um presidente de sangue stroessnerista.

Mário Abdo sempre afirmou que tem poucas lembranças da ditadura porque era muito jovem na época. Mas, ao mesmo tempo, fez vários gestos polêmicos, como quando visitou o túmulo de seu pai no dia da eleição que o levou ao poder. Um grupo de veteranos do Partido Colorado, além disso, pretende trazer dos restos do ditador de Brasília, onde jazem desde sua morte no exílio.

Para a historiadora paraguaia e professora da Universidade Católica de Assunção, Margarita Durán Estragó, cada homenagem que os políticos rendem ao ditador faz sangrar as feridas deixadas pelo stroessnerismo.

“A nós que continuamos vivos, machuca muito. Eles se aproveitam de que os jovens não se lembram mais das atrocidades da ditadura porque não viveram o que vivemos. É preciso promover a memória, mas nossos vizinhos tampouco ajudam”, disse a pesquisadora, referindo-se a Bolsonaro.

“Quem diria que 30 anos depois da queda de Stroessner teríamos como presidente um rebento do stroessnerismo, o filho do próprio secretário particular do ditador”, acrescentou.

Na semana passada, em uma cerimônia oficial em uma escola por ocasião do primeiro dia de aula, a diretora homenageou o ditador diante do presidente e seus acompanhantes.

No início do mês, quando a queda do ditador completou 30 anos, Abdo escapou das perguntas da imprensa com uma gargalhada quando lhe perguntaram sobre o que faria para comemorar a chegada da democracia.

O presidente paraguaio não realizou nenhuma cerimônia de acompanhamento ou memória das vítimas e viajou para as comemorações do aniversário de Ciudad del Este, na fronteira com o Brasil. Ciudad del Este já se chamou Puerto Stroessner, em homenagem ao ditador.

O saldo de 35 anos de ditadura foi muito duro para os paraguaios. Quando um golpe palaciano expulsou Stroessner do poder em 1989, 336 pessoas estavam desaparecidas, 19.862 pessoas haviam sido presas e outras 20.000 haviam sido torturadas.

O Governo militar enviou 3.479 paraguaios ao exílio, segundo números da Comissão da Verdade e Justiça que investigou o passado com a chegada da democracia.


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Comentários

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Cláudio Abreu

Caso fosse Che Guevara, que fuzilou e torturou muita gente, estava valendo?

Jardel

A família Bozo está se notabilizando em homenagear bandidos e torturadores.
Stroessner, Ulstra, Adriano Magalhães etc.
Já chega a 25 o número de policiais do Rio de Janeiro acusados dos mais diversos crimes, homenageados pelos Bozo.
Já, policiais honestos e sem crimes nas costas, não constam na lista.

Julio Cesar

Sujeito disfuncional na presidencia só podia dar nessa aberração representando o país.

Nelson

O grande, o principal problema para o Sistema de Poder que domina os Estados Unidos não é Nicolás Maduro. O principal problema é a consciência do povo venezuelano que só faz crescer.

Paradoxalmente, dialeticamente, o açoite brutal que tal Sistema aplica sobre a Venezuela, só fará crescer essa consciência. Daí a premência em derrubar Maduro, para arrasar, destruir de um todo, o Estado venezuelano e derrotar os venezuelanos em sua esperança de dias melhores, de tal forma que o país nunca mais possa se reerguer.

O projeto é transformar a Venezuela em um Estado falido, sem eira nem beira, sem rumo, em uma nação que não sabe para onde vai, tipo boneco de posto de gasolina, algo que eles já conseguiram, por exemplo, na Libia e no Iraque. Guardadas algumas nuances diferentes, o projeto para o Brasil é o mesmo.

Zé Maria

https://pbs.twimg.com/media/D0a3BHuWkAUWhTf.jpg
O que é bom para os EUA é bom para o Brasil?
.
“China negocia comprar dos EUA produtos agrícolas
q compra do Brasil – soja, carne bovina e aves.
Trump comemorou no twitter.
Europa fará o mesmo p/ evitar sanções dos EUA
para os automóveis alemães.
Parabéns Bolsonaro, seu parceiro prioritário vai afundar
o Comércio [Externo] Brasileiro!”

https://twitter.com/gleisi/status/1100744336373895169
.
https://anovademocracia.com.br/196/09.jpg

Paráfrase dos “Novos Tempos”

[“O Agro é POP. O Agro é Tech”]*
[E o POP Não Poupa Ninguém]**

*[ https://anovademocracia.com.br/no-196/7473-agro-e-pop-cultivando-desinformacao-e-elogiando-a-escravidao ]
**[ Humberto Gessinger ]

Zé Maria

Depois dessa Operação Condor II [ou Abutre]
que fizeram contra Maduro na Venezuela,
nada há a estranhar vindo de um NeoFascista
capacho de NeoNazistas da América do Norte.

chico

Ditador de republiqueta cachorrinho de colo dos gringos; ‘nosso general’… pfiuuu, nosso representa ele o bozo puppet e seus filhos, suponho. Citações biblicas, etc, so faltava mesmo o ‘bispo’ Macedo neste governo retrocedido em ideias e pessoas obtusas e ignorantes. A midia brasileira fez um trabalho bem feito ao longo de decadas e decadas, e consegui mesmo manter a maioria que se embestifica vendo tv, plim plims e nadegas a la carte… Criaram uma sociedade provinciana conservadora, racista e sem analise critica. Melhor seria um presidente vindo de dentro do povo, mesmo sem saber Rosseau, Marx ou Keynes, e ate sem saber escrever direito que um como esse ignorante que cultua seres nefastos e desumanos. Ao menos um que vem dentro do povo sabe o que o povo precisa e uma nação saudavel tem suas celulas basicas (a familia) bem nutrida e assistida por um estado democratico e igualitario a todos. Triste 4 anos viveremos.

lulipe

Elogiar Kadafi, Fidel, Chávez, pode, né??

https://conexaopolitica.com.br/artigo/lula-para-kadafi-um-amigo-um-irmao/

    Nelson

    Democrático que és, tu esperavas, ansiosamente, que o Sistema de Poder que domina os Estados Unidos derrubasse, no final de semana passado, mais um governo eleito democraticamente pelo seu povo. Afinal, são dezenas derrubados somente após a Segunda Guerra Mundial.

    Mas, perdeste, meu chapa. O povo venezuelano ganhou mais uma do Sistema de Poder que tu tanto adoras.

    É claro que a pressão, a guerra econômico-financeira-comercial e os atos terroristas vão continuar. O objetivo do governo dos EUA é fazer o povo venezuelano desistir do caminho que escolheu a partir de dezembro de 1998, quando elegeu Hugo Rafael Chávez Frias para presidente.

    Ainda que tenham, sim, muitas restrições ao governo de Maduro, os venezuelanos têm plena ciência do que os países ditos democráticos, civilizados e respeitadores dos direitos humanos têm a lhes oferecer.

    Conscientes, os venezuelanos veem o Brasil, a Argentina, a Colômbia, Haiti, Honduras, Guatemala, para ficar só nesses, e sabem que neoliberalismo deletério, desagregador, destruidor e, claro desesperador, é a única oferta dos “humanitários” Estados Unidos e da Europa Ocidental como alternativo a Maduro.

    Conscientes, os venezuelanos só esperam a oportunidade de trocarem o governo Maduro por um outro que lhes possibilite dar um passo adiante na sua Revolução Bolivariana.

    Então, meu chapa, deixemos os venezuelanos decidirem e construírem o país a sua feição que anseiam construir. Ao contrário dos brasileiros, que, ao nos deixarmos influenciar pela avassaladora propaganda midiática, acabamos elegendo um governo de fanáticos fundamentalistas, os venezuelanos sabem muito bem o caminho que querem trilhar.

Marcos admmm

Isso não é novidade nenhuma.

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