O sonho americano de Sarkozy
por Amanda Lourenço, no Porte Dorée
Na França, os documentos divulgados pelo Wikileaks geraram uma série de reportagens no jornal Le Monde, que foi esmiuçando os telegramas ao longo da semana e publicando matérias diariamente. Enquanto o governo Lula foi exposto a um certo anti-americanismo (ou independentismo, dependendo do ponto de vista), a administração Sarkozy, ao contrário, chamou atenção pelos seus esforços em estreitar os laços entre França e Estados Unidos. A verdade é que o presidente francês Nicolas Sarkozy sempre demonstrou grande simpatia pelos ‘states’, mas até agora não se sabia o quanto a diplomacia norte-americana tirava proveito calculadamente dessa devoção. Descobriu-se, por exemplo, que Sarko anunciou sua candidatura à presidência aos americanos no dia 1° de agosto de 2005, dezesseis meses antes de anunciá-la oficialmente na França, confirmam o embaixador americano Craig Stapleton e o conselheiro econômico do então presidente George Bush, Allan Hubbard. Para os americanos, a revelação foi uma grande prova de confiança.
Os telegramas expõem a opinião dos diplomatas americanos sobre Sarkozy, o “presidente mais pró-americano desde a segunda guerra mundial” e “o politico francês que mais apoia o papel dos EUA no mundo”. Desde o anuncio de sua candidatura o entusiasmo foi generalizado e os diplomatas ja falavam em um governo de dez anos (o mandato na França é de cinco anos). Finalmente um adepto do liberalismo e do livre-mercado na França! Um telegrama exalta a intenção de Sarkozy, caso eleito, de “fazer com que a relação entre França e EUA seja a base da diplomacia francesa”. Foi evocada também uma “nova vontade de apoiar os objetivos americanos no Iraque, sob uma administração sarkozista”. O então ministro do interior ja havia demonstrado sua revolta contra a decisão do presidente Jacques Chirac de vetar a invasão do Iraque proposta no Conselho de Segurança da ONU, em 2003. Sarkozy teria aconselhado aos EUA de não invadir e ocupar o Iraque, mas que isso “não o impedia de sentir pessoalmente a morte de soldados americanos no combate”. O veto da França, segundo o atual presidente francês, teria sido “uma reação injustificada e excessiva”.
Depois da posse de Nicolas Sarkozy em 2007, a embaixada americana em Paris teve uma leve decepção com o desempenho do novo presidente: “Sim, Sarkozy é instintivamente pró-americano e pró-israelense e quer renovar uma relação de confiança com os Estados Unidos, mas ele tem pouca experiência em política estrangeira e fala um inglês muito limitado”. Além disso, o conceito de liberalismo para um americano definitivamente não é o mesmo para um francês e se na França Sarkozy é considerado um privatizador desvairado, nos Estados Unidos suas reformas estão longe de satisfazer. Os diplomatas americanos também parecem impressionados com a “presidência espetacularmente impopular” de Sarkozy, mas insistem que apesar disso o presidente se mantém fiel aos principais dossiês de cooperação franco-americana em pauta, como o Irã e o Afeganistão, apesar do grande risco de baixar ainda mais sua popularidade.
É verdade que as relações entre Sarkozy e Obama não têm nem de longe a mesma cordialidade que havia entre Sarkozy e Bush, mas o periodo ainda é favoravel e pode ser considerado como um dos melhores momentos na relação entre os dois paises. Sem duvida, Nicolas Sarkozy continua sendo “o parceiro dos Estados Unidos na Europa”.
A vida pessoal do presidente francês também foi descortinada. Apos a separação de sua ex-mulher Cécilia Attias, um telegrama anônimo declarou que “Sarkozy, um homem muito nervoso mesmo quando tudo vai bem, levanta dúvidas sobre sua capacidade de manter o equilíbrio e se concentrar (no caso de um divórcio). Ele já mencionou sua dependência à Cécilia – ‘minha força e meu calcanhar de Aquiles’ “. A relação com sua nova esposa, Carla Bruni, também foi abordada: “Estimamos que Sarkozy usa a fundo a popularidade pessoal de Carla Bruni, e a popularidade do casal, para avançar os interesses franceses no Brasil”. Pelo visto, Carla não conseguiu cumprir sua missão.




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