Aline Blaya: Tô felizona, os Nikolas, Davis, Letícias e Pedrinhos pelo Brasil afora já estão sendo vacinados contra a covid
Tempo de leitura: 5 minXÁ EU TE FALÁ, UM BEIJO PARA TODAS AS LETÍCIAS E PEDRINHOS DO BRASIL!
Por Aline Blaya Martins*, especial para o Viomundo
Janeiro de 2022 é um marco na história do Brasil.
Nikolas, um menino de Poços de Caldas (MG) que se vacinou essa semana, tem razão ao querer pastel com guaraná e mandar um beijo para todas as Letícias e Pedrinhos do Brasil afora.
Menino sábio que avisou ao mundo que o presidente não tá com nada e que vacina não transforma ninguém em jacaré ou em formiga australiana…No máximo uma criança chorona ou um braço dolorido. Viva você, Nikolas.
Em fevereiro de 2020 minha filha retornou às aulas, depois das férias, e nos primeiros dias voltou para casa muito alarmada com a notícia de que um novo vírus estava matando pessoas na China e que estava se espalhando rapidamente.
Solicitou um tubo de álcool gel e instruía todos que entravam e saíam de casa a lavar as mãos, obsessivamente.
Àquela altura, o vírus ainda não havia chegado ao Brasil e, para evitar medos desproporcionais, cortei os naipes da guria e fui taxativa:
— Logo isso deve acabar por lá mesmo. Se tu quer te proteger, te esforça no jiu-jitsu, porque no Brasil tu tens mais chance de morrer por violência de gênero, feminicídio, do que de coronavírus.
O tempo passou rápido e em dois meses eu estava isolada do mundo, assim como todas as mães que podiam se dar a este luxo, passando álcool até nos pensamentos da família inteira.
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Como sou asmática, convivi 24 horas por dia com dois medos gigantescos: 1) morrer agonizando de falta de ar , e 2) deixar duas crianças sem mãe, à mercê de um vírus que ainda não se sabia o que poderia provocar (ainda mais em crianças alérgicas).
Dois anos se passaram, saímos do isolamento e paramos de colocar álcool em qualquer coisa.
Compreendemos que a caixinha de leite que entrava em casa não era uma bomba relógio de covid entregue pelo moço do aplicativo.
Apesar disso, desde maio de 2020, monitorei leitos de UTI Covid para adultos e crianças e estudei muito os padrões de transmissão.
Por essas razões, minhas pequenas foram as últimas dentre os colegas a retornarem para as aulas presenciais.
Muitas crianças desenvolveram fobia social. Passaram meses, anos, sem ver avós, sentindo que abraçar um amigo era uma grande contravenção.
Crianças, que já não tinham uma educação de qualidade, passaram dois anos no limbo; com pais em sofrimento psíquico, arcando com desemprego ou com o desespero de sair para a batalha, deixando as crianças em casa.
Nós, professores, por muitas vezes fingíamos que ensinávamos enquanto as crianças (que tinham um computador ou celular) fingiam que aprendiam.
Em um estado como o Rio Grande do Sul onde as doenças respiratórias acompanham boa parte da população ad eternum, no retorno as escolas havia um misto entre a guerra por fazer as crianças manterem máscaras, muitas vezes sujas e completamente desadaptadas para seus pequenos rostos, cobrindo boca e nariz, e as vistas grossas necessárias para que uma pobre professora pudesse minimamente tentar buscar um pouco do tempo “perdido”.
O que se observava, de fato, eram crianças ora sendo apenas crianças e se colocando em risco, ora convivendo com o medo e desenvolvendo comportamentos policialescos umas com as outras.
Pelo menos uma vez por semana eu escuto que o jiu-jitsu não teria impedido a morte de mais de 620 mil pessoas, entre as quais mais de mil crianças como elas, e que ao contrário do que eu havia falado, neste momento, talvez minha filha tivesse mais chance de morrer de covid do que de violência de gênero.
E ela está e esteve sempre certa: as crianças também precisavam ser educadas e protegidas para o novo.
Infelizmente ainda precisaremos de muito jiu-jitsu para nossas meninas, mas, nestas circunstâncias, todas as crianças precisavam e precisam, sim, de álcool, máscaras de qualidade e compatíveis com seus rostos e, principalmente, de vacina.
Minha mais velha ficou com os olhos marejados quando me aceitaram como voluntária da pesquisa da Coronavac. E, quando fiz a primeira dose da vacina, as duas comemoraram como se fosse Natal.
Ontem, vi o vídeo do menino Nikolas (abaixo). Também vi o pequeno Davi. Ambos têm 11 anos como minha primogênita.
Davi vestia uma camiseta com os seguintes dizeres “Pai, estou tomando a vacina por nós dois. Muita saudade! Eu te amo!”.
Quantos Davis órfãos da covid farão vacina por estes dias. Muito triste.
Mas, apesar de você, amanhã há de ser outro dia, e eu fico muito feliz porque Davi da tribo Xavante, Nikolas, o outro Davi, Manuela, João Carlos, Letícias e Pedrinhos estão sendo vacinados.
Fico feliz pelo abraço que a técnica de enfermagem Maria Rocineide, de Osasco, pode retribuir após vacinar um pequeno radiante por ter recebido a vacina. Só um país que protege suas crianças, tem futuro.
Como disse o Nikolas, to felizona! Dava até para comer um pastel, tomar um guaraná, mandar beijo para todo mundo e lembrar que quem não pensa assim, não tá com nada.
Simbora gurizada. Xá eu te falá, definitivamente amanhã há de ser outro dia. E sigamos na vacina e no jiu-jitsu, porque a coisa não é fácil e lutar é preciso.
E como disse outro pequeno por aí: Eu venci a covid! Viva a ciência e viva o SUS!
Venceremos a covid, garoto, apesar deles.
Aline Blaya Martins: Mulher, mãe, militante social do Coletivo Célia Sánchez, professora, coordenadora do Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva da UFRGS.
NIKOLAS: ‘NENHUMA CRIANÇA VIROU JACARÉ OU FORMIGA AUSTRALIANA’
Os pequenos, já sabiamente vacinados contra a covid-19, dão uma lição em defesa da vida de todos nós
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Aline Blaya foi aceita como voluntária da pesquisa da Coronavac no Rio Grande do Sul. Quando recebeu a primeira dose, as duas filhas comemoraram como se fosse Natal
PS do Viomundo: Ontem, 20/01, começou em Curitiba (PR) a vacinação de quem nasceu em 2010.
Lucas Thome Mandarino, 7 anos, é de 2014. Não vê a hora de chegar a sua vez.
“Antes, quando eu tinha 6 anos, não queria tomar a vacina, porque eu tinha muito medo. Mas agora que eu fiz 7 anos perdi o medo. tomei coragem.
Pensei assim: ‘tenho que tomar essa vacina, senão eu vou morrer de covid’. Aí, criei coragem e estou esperando chegar o dia da minha idade.
Acho que as crianças devem tomar a vacina para não pegar covid. As crianças que não querem tomar a vacina vão pegar covid e passar pras outras pessoas”.
Eu gostaria que fossem umas cinco doses dentro da metade de um ano; se fosse assim, eu iria tomar todas.
Por que eu gostaria que fossem tantas? “Para prevenir melhor, para a gente se cuidar melhor”.
Comentários
Pedro Matos
É outra mentira que contaram para nós.
Que criança não pega covid e não morre de covid.
Tem umas 200 mentiras só sobre covid no Brasil.
“Temos” um tenista doido que não se vacina e ainda culpa o subordinado dele pela cagada que ele tenista fez falsificando documentos.
Certamente já pensa na carreira política na Servia.
Mais um completo irresponsável.
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