A hipocrisia de Obama e os dois pesos no Oriente Médio

Tempo de leitura: 3 min

por Gianni Carta, em CartaCapital

Magid Shihade, professor de Estudos Internacionais da Universidade de Birzeit, na Cisjordânia, e autor de Not a Soccer Game: Colonialism and Conflict Among Palestinians in Israel (Não é um jogo de futebol: Colonialismo e conflito entre palestinos em Israel, em tradução livre), analisa as repercussões da morte de Osama Bin Laden no Oriente Médio.

CartaCapital: Que impacto a morte de Bin Laden pode ter na “Primavera Árabe”?

Magid Shihade: Muitos argumentaram que a razão desse ato americano ou as notícias tiveram como objetivo desviar a atenção da Revolução Árabe, numa tentativa de reiniciar o discurso sobre a “guerra contra o terror”. Em outras palavras, esse ato americano é visto por numerosos críticos como uma forma de ofuscar a Revolução Árabe que começou a eclipsar as notícias sobre o “terror”, e parecia ter trazido um fim à política, pós 11 de Setembro, dos EUA na região.

CC: Qual é a imagem de Obama no Oriente Médio, após a morte de Bin Laden?

MS: Para muitos sua imagem deteriorou-se tempos atrás pelo fato de ele ter seguido seus antecessores na política de apoio a Israel. Ele mostrou hipocrisia, padrões duplos na reação às diferentes revoluções na região. A intervenção na Líbia é vista como contrarrevolucionária, ao contrário do que parece. Por outro lado, a não intervenção no Bahrein mostra os padrões duplos e o egoísmo que permeiam a política dos Estados Unidos. Autorizar a matança de Bin Laden e declarar que apesar disso “a guerra contra o terror” continua, deixa claro para muitas pessoas que Obama, assim como o seu predecessor, pretende permanecer envolvido na região sem modificar o curso.

CC: Como avalia a operação que matou Bin Laden?

MS: O sinal verde do presidente dos Estados Unidos, Barak Obama, para a operação que terminou com a matança de Osama bin Laden causou reações diferentes. Uma reação foi aquela de apoio e de satisfação com o resultado. Celebrações nos Estados Unidos foram seguidas por declarações de suporte na Europa e no mundo afora. Outra reação foi aquela de dúvida e de condenação. Condenou-se o modo como Bin Laden foi tratado, e questionou-se o fato de o seu corpo ter sido lançado no Mar Árabe. Outros duvidaram da história inteira. Houve quem duvidasse da morte de Bin Laden. Os motivos que levantaram dúvidas foram vários. Por que seu corpo não foi mostrado a peritos? Por que jogar seu corpo ao mar? Por que bombardear e queimar o lugar onde ele foi encontrado?

CC: Enquanto Ismail Haniyeh, líder do Hamas, condenou a operação dos EUA que matou Bin Laden, a Autoridade Palestina disse que foi positiva para a paz. Como devemos interpretar essas visões opostas num momento em que o Hamas e o Fatah se reconciliaram?

MS: Definitivamente, Haniyeh está jogando com os sentimentos de setores religiosos na região. Enquanto isso, o Fatah quer agradar ao Ocidente, visto que a Autoridade Palestina depende do financiamento ocidental.

CC: O premier israelense, Benjamin Netanyahu, não aceita o Hamas num eventual governo palestino. Como será a relação entre Israel e a Palestina?

MS: Israel continuará usando todos os tipos de subterfúgios para prevenir qualquer possível unidade palestina. E, mais importante ainda, usará diferentes desculpas para que sua colonização contínua da Palestina não seja bloqueada. Nos últimos anos, o Hamas foi a desculpa dada por Israel para não aceitar o plano de implementação internacional de passos para a paz. Antes disso, o entrave era Arafat. Se o Hamas não existisse na Palestina, Israel o teria criado, ou teria ajudado a criá-lo, coisa que em parte fez.

Gianni Carta é jornalista, correspondente de CartaCapital em Paris, escreve sobre coisas da vida do Hemisfério Norte.


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Comentários

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Dr. Marcelo Silber

Um comentarista do Blog (Com grande prestígio com o dono do Blog) , pois ja vi artigos traduzidos por ele, não gosta que eu assine os meus comentários com Dr. precedendo o meu nome.
Tudo bem, eu respeito sua opinião.
Mas dai a me comparar a outros Drs. como Mengele, Zawahari ou Baruch Goldstein é de uma profunda falta de educação, civilidade, respeito ao próximo que são qualidades importantes para pessoas que se dizem humanistas, progressistas, etc…
Esse comentarista deve ser muito amigo do dono do Blog, pois se eu as tivesse escrito, com certeza não seriam aprovadas.
Aprendi desde cedo com meus avôs (que infelizmente não tiveram a possibilidade de estudar) um era barbeiro e o outro mascate, a desconfiar de pessoas que " defendem grandes ideais" mas não conseguem tratar com dignidade e respeito o seu semelhante
Grande abraço a todos e me desculpem por este desabafo.

Jair de Souza

Estimado Beto_W (espero ainda saber seu nome um dia), obrigado por seus comentários. Os sionistas de todas as pelagens são os declaradamente de direita e os de direita que se fazem passar por moderados de esquerda. Como o termo sionista adquiriu um significado quase que exclusivo dessas duas variantes racistas e pró-imperialistas, a gente acaba usando-o sem levar em consideração que há sionistas de outro tipo, como Noam Chomsky, Martin Buber, Albert Einstein e, acredito, você. Nenhum deles nunca tratou de justificar o estado de Israel e a expulsão dos palestinos. Defendiam a convivência de todos em igualdade, sem nenhuma primazia dos judeus. Não gosto do uso de títulos para tentar ganhar credibilidade. Não quero comparar os casos, mas há muitos facínoras como o Dr. Mengele, Dr. Zawahari e o Dr. Baruch Goldstein (talvez o pior de todos) que foram ou são doutores. FHC é doutor, Lula, não. Por que o interesse (a partir de certo momento) de se apresentar como doutor? Por que eu tenho de me apresentar como doutor para ganhar credibilidade?

    Beto_W

    Pelo que tenho lido, o Silber é uma pessoa bem razoável, mas às vezes seu pavio é muito curto. Acho que onde você está vendo uma tentativa de justificar algo, provavelmente a intenção era mostrar que há dois lados (no mínimo) em toda moeda. O conflito é multifacetado, e a culpa ou responsabilidade pela sua continuidade não é _só_ de Israel (nem eu, nem o Silber afirmamos em nenhum momento que Israel não tenha sua grande parcela de culpa).

    Quanto ao título, a discussão vai longe, e não tem nada a ver com o assunto em questão. Poderíamos discutir porque médicos e advogados são chamados de Doutor logo após a graduação e o resto dos cursos outorgar esse título apenas depois de um árduo percurso de pós-graduação, poderíamos discutir porque o brasileiro, quando quer mostrar respeito, chama o outro de "dotô". Mas acho que o Silber coloca esse título não com intenção de ganhar credibilidade (já que por aqui isso não impressiona ninguém), mas como forma de identificar sua persona neste fórum pela característica que ele crê que o define mais precisamente, que é seu ofício de médico. E ele nunca obrigou que ninguém se dirigisse a ele pelo título.

    Luca K

    Beto, o conflito existe apenas pq os judeus roubaram as terras dos palestinos e os expulsaram brutalmente – limpeza étnica – de seu próprio país. Os turcos foram umas belezas perto dos seus coleguinhas sionistas. Ao menos jamais tentaram expulsar a população nativa. A maioria dos palestinos vive hoje em países vizinhos em miseráveis campos de refugiados. Os bondosos sionistas, como sempre dando uma banana pra ONU, desrespeitam a resoluçao q dá direito aos refugiados de voltarem pra suas casas. Suas terras, seus bens, tudo devidamente surrupiado pelos bandidos sionistas. Vc, e sujeitos como o Avnery tb, não são assim tão melhores. O q querem é a criação de um estado palestino em talvez o que? 20% da palestina histórica? É isso q vcs consideram justiça. Mas o pior é q nem com essa mixaria a maioria dos judeus concorda. Os caras que comandam IsraHell nao querem a criaçao de um estado palestino e ponto final. A solucçao dos 2 estados, todos bem informados o sabem, está morta e enterrada. Sim Beto, a CULPA E RESPONSABILIDADE pelo conflito Israel/palestina é de Israel e da comunidade judaica mundo afora, que apóia a entidade sionista. O condecorado general dos Marines, Smedley Butler, famoso por seu livro( war is a racket), escreveu q uma das poucas causas válidas para se lutar era a defesa de seu torrão de terra. Essa é a luta inglória do povo palestino…

    Beto_W

    Luca, estude o assunto e você verá que há vários pontos de vista, várias facetas, e os acontecimentos se deram espalhados durante séculos, até culminar na situação atual. Não é como se de repente em 1948 um bando de judeus aparecesse por lá e começasse a dar bordoadas a torto e a direito. Sempre houve judeus morando na região. Há alguns séculos, começou uma campanha de colonização judaica da região, e os judeus começaram a ir em massa para lá, _comprando_ terras pantanosas que a ninguém interessavam, e drenando os pântanos para transformá-los em terras cultiváveis (isso gerou um problema ecológico tremendo, que é história para outra ocasião). Mas a convivência nem sempre era pacífica, e judeus e árabes atacavam uns aos outros em seus assentamentos já no século 19. O conflito já existia, mesmo bem antes da guerra de 1948.

    Eu entendo que seu raciocínio é "se os judeus não tivessem ido para lá, o conflito nunca teria acontecido". Mas isso é uma visão muito simplista e frágil, e vai ter gente argumentando que eles apenas retornaram depois de séculos de exílio. A discussão de quem estava lá antes, ou de quem eram as terras, é complexa e infrutífera, já que a região passou por vários donos (persas, gregos, romanos, cruzados, mamelucos, otomanos, britânicos).

    O que interessa agora é tentar acabar com o conflito, e Avnery, com o Gush Shalom, faz um excelente trabalho nesse sentido. O que eles propõem não é apenas a fundação do estado palestino, mas também o direito de retorno aos refugiados – coisa que, nesse caso concordo com você, é impensável para o governo israelense e para grande parte da comunidade judaica mundial.

    Além disso, eu havia falado da culpa pela _continuidade_ do conflito, não pelo estopim (que, como eu mostrei, não é tão claro e pontual assim).

    Luca K

    Olha Beto, eu tenho estudado o assunto e é óbvio que há vários pontos de vista. Nunca haverá falta de judeus e filo-semitas escrevendo propaganda pró-israel( hasbara ). Mas os fatos são muito claros. No teu caso de duas uma; ou vc é ignorante – o q é bastante possível, além disso uma característica forte dos judeus é se auto-enganarem – ou é mais um Israeli public relations man. O argumento de que os judeus apenas "voltaram" pra Palestina é ridículo e historicamente insustentável. Historiadores e arqueólogos israelenses já documentaram o fato de que nunca houve exílio nenhum pq os judeus jamais foram expulsos em massa da região pelos romanos, como querem fazer crer os sionistas. O fato de a região já ter sido conquistada por vários invasores estrangeiros não muda nada; aliás, os judeus foram os ultimos invasores. A "história" dos judeus Beto, é predominantemente ficção, projetada para fazer vcs se sentirem bem, sempre vítimas, nunca responsáveis por seus atos. Antes do advento do Sionismo no sec 19, havia pouquíssimos judeus na Palestina, e estes em geral conviviam pacificamente com os árabes palestinos. Afinal, o conflito começou quando os palestinos se tocaram que seriam expulsos de suas terras pelos esforços do Sionismo, ideologia que surgiu no sec19. Os israelenses são judeus europeus(maioria) e do Oriente médio e Africa do norte transplantados artificialmente para a região as expensas da populaçao nativa. É tão simples quanto isso. Avnery, um ex-terrorista, entende que se Israel continuar suas políticas, fatalmente as coisas em algum momento futuro acabarão muito mal pra Israel. Duvido q Avnery defenda o retorno pq ele explicitamente em artigo do antiwar.com escreveu que acha que palestinos e judeus sao muito diferentes para viverem junto. Talvez ele queira o retorno dos milhoes de refugiados para o pequeno estado palestino q seria formado, em cerca de 20% ou pouco mais da palestina historica. Avnery deseja que Israel permaneça um estado judaico.
    Nesse link http://www.ifamericansknew.org/history/maps.html vc poderá ver Beto, como se deu o roubo das terras dos palestinos. Acompanha vários mapas.

    Beto_W

    Luca, o seu (e o dos historiadores e arqueólogos que você cita) é apenas mais um ponto de vista, longe de ser unânime ou consenso no mundo acadêmico. Se você toma isso como a mais absoluta verdade, há gente que não o faz. Não escrevo propaganda pró-Israel, e não estou nem aí para hasbara.

    Para você, os judeus ou são ignorantes ou trabalham de relações públicas para Israel. Não lhe ocorre que haja judeus que pensam por si próprios, não dizem amém para toda e qualquer barbárie cometida pelo governo israelense, mas que tentam enxergar os dois lados do conflito? Nada no mundo é preto-no-branco, vilão contra mocinho.

    Avnery e seu grupo Gush Shalom defendem o direito de retorno dos palestinos a seus lugares de origem, mesmo dentro de território israelense. Pesquise sobre eles e verá.

    Eu entendo seu argumento de que os conflitos começaram com a imigração em massa dos judeus, mas como eu já disse, acho essa discussão infrutífera. Israel não deixará de existir, os judeus não irão simplesmente sair e ir para outro canto do planeta. Bem ou mal, o país existe há mais de 60 anos, com sua história, língua, suas manifestações artísticas e culturais (música, literatura, etc). E tudo isso vale para os palestinos também (eles têm sua cultura, sua história, e não vão sair dali).

    O que nos resta a fazer é tentar achar meios para que ambos coexistam em paz. Para isso, é fundamental que Israel se retire para as fronteiras de 1967 – para começar. Do outro lado, é fundamental que o Hamas aceite a existência de Israel – para começar.

    Luca K

    No que diz respeito a ficção que é a "historia" dos "judeus" na antiquidade, é consenso acadêmico sim, pelo menos no que toca os acadêmicos que trabalham objetivavemente, cientificamente. Propagandistas não contam. =D
    A arqueologia principalmente tem devastado a ficção que é a história antiga dos "judeus". Por exemplo, nao há evidencia do êxodo, nao faria sequer sentido uma vez que a Palestina era provincia do império egipcio. Muito antes da guerra de 66-70 havia comunidades judaicas espalhada pela bacia mediterranea. Inclusive no coração da Europa da época, Roma. Os judeus se espalharam em função de deslocamentos por vontade própria e conversões, bem mais comuns na antiguidade do que em períodos recentes. Os romanos jamais "exilaram" os judeus. Pura invençao. Não há qualquer evidencia de que os árabes tenham expulsado os judeus também(versão menos usada). Beto, o q vc acha q aconteceu com a massa de cristãos na palestina? Pq hj são minoria? Dica; nao foram expulsos porém… os mesmo ocorreu com os seguidores do judaísmo. Outra dica; seguidores do islã estavam isentos do pagamento da jizyah(impostos).
    Sobre Avnery, li 2 artigos dele em q deixou claro que Israel deveria permanecer um estado judaico e que judeus e palestinos deveriam viver em estados separados. Isso seria impossível com o retorno da massa de refugiados palestinos.
    Sobre a discussão ser infrutífera; não é. A verdade dos fatos precisa ser estabelecida pra que se entenda a enormidade da injustiça cometida pelos Sionistas contra o povo palestino. Israel não deixará de existir, vc diz; talvez, mas não tenha tanta certeza. Certamente não deixará de existir em breve, com os EUA ainda como a única superpotencia do planeta. Mas o imperio estadunidense está em franco declinio. Nao custa torcer, kkkk. Em termos práticos, nao vejo como resolver a injustiça perpetrada contra os palestinos, pelo menos não por enquanto. Se vivêssemos no país das maravilhas poderia imaginar um único estado, democrático, para judeus e palestinos, com a comunidade judaica pagando idenizações aos últimos. A propósito Beto, o que vc acha da soluçaõ de um estado para todos?

    Beto_W

    Luca, assim fica complicado, pois se eu apresentar qualquer historiador que vá contra o que você afirma ser consenso, você pode acusá-lo de propagandista.

    Quanto aos artigos de Avnery que você cita, se puder me arranjar links para leitura, eu agradeço. Não lembro de ter lido nada dele com esse teor. Será que são textos mais antigos? O homem foi membro de uma organização terrorista, mas nos anos 90 fundou o Gush Shalom, entidade israelense que defende a paz, a criação do estado palestino, e também o direito de retorno dos palestinos a seus locais de origem – mesmo dentro de Israel.

    Já fui um sionista fanático, daqueles que acreditavam em toda a baboseira de "oásis de democracia no Oriente médio", e enxergava Israel como a pobre vítima dos malvados árabes. Ainda há muitos judeus que ainda enxergam assim, e há muitas pessoas (aqui nesse blog inclusive) que enxergam exatamente o oposto – Israel é o mal personificado, e os palestinos/árabes/muçulmanos são todos bonzinhos e pobres vítimas (antes de levar pedrada, não estou negando que o povo palestino seja vítima da opressão israelense, estou apenas questionando as motivações de seus líderes).

    Hoje em dia, não deixo de ser sionista, no sentido em que acredito que os judeus israelenses têm o direito de permanecer em Israel. Mas enxergo a sujeira do governo israelense (assim como enxergo a sujeira das lideranças palestinas, árabes e muçulmanas em geral – coisa que muita gente se recusa a ver). Quando disse que Israel não deixará de existir, não foi com o fervor de um fanático, mas sim como uma constatação de que nenhum lado irá aniquilar o outro e varrê-lo do mapa – com ou sem EUA. Se um dos dois tentar, provavelmente os dois se aniquilarão mutuamente.

    A meu ver, a solução de um estado único e democrático é a melhor alternativa – a longuíssimo prazo. Acho que primeiro ambos os lados devem desarmar a animosidade, depois devem trabalhar em conjunto para que o estado palestino seja efetivamente criado dentro das fronteiras de 1967. Se os colonos judeus quiserem lá permanecer, que o façam sob o governo palestino. Se os palestinos quiserem retornar e reconstruír suas aldeias em território israelense, que o façam. E sim, acho que Israel deve indenizá-los, da mesma forma que a Europa indenizou os judeus vítimas da segunda guerra.

    Fundamental também é fazer uma limpa nas leis discriminatórias e religiosas de Israel – e garantir que o futuro estado palestino seja também laico, democrático e não discrimine seus cidadãos. Se no futuro o país perder sua maioria judaica, e com ela se for a tal "característica judaica" do país, é uma pena – melhor será preservar a característica judaica e fundí-la num caldeirão cultural com a essência palestina, formando uma nova identidade nacional. Aí sim, poderemos pensar em fundir os dois estados.

    Mas isso tudo que eu falei não é fácil, e exige líderes carismáticos, ousados e dispostos a enfrentar diversos interesses – de ambos os lados, e ao mesmo tempo. E esse tipo de coisa não parece passível de acontecer em nenhum ponto no futuro próximo.

    Luca K

    Beto, nem a solução do estado único é possível, nem tampouco a dos 2 estados. O governo de Israel nao tem interesse. A solução dos 2 estados minimamente exigiria a retirada dos mais de 500 mil colonos fanáticos de seus assentamentos ilegais. No clima atual, impossível. Aliás, como sempre digo, a fundação do estado de Israel foi não apenas uma injustiça, mas sob a ótica do direito internacional uma completa ilegalidade. O empreendimento sionista é racista e colonialista… e ilegal. Pouco se pode esperar de uma nação nascida do terrorismo, ilegalidade e limpeza étnica… para sorte dos israelenses e de seus numerosos apoiadores na diáspora as lideranças árabes são péssimas, como vc bem notou. Fossem os governantes árabes unidos e a situação de Israel ficaria bem precária. Se bem que são os únicos na região com armas nucleares. Quanto as lideranças palestinas, estas tem sido geralmente penetradas e corrompidas pelos Israelenses, q inclusive deram apoio ao Hamas no início como forma de enfraquecer o Fatah. O blowback foi que os israelenses tem tido muito mais dificuldades em corromper o Hamas. Pessoalmente, gostaria de ver o Hamas se desenvolver e se tornar uma força militar do peso do Hezbollah. Mas não acho que isso venha a ocorrer por várias razões. A melhor chance dos palestinos seria se a comunidade internacional fizesse sançoes pesadas contra Israel, como foi feito contra a África do Sul. Mas isto tb não ocorrerá em grande medida por causa do enorme poder dos lobbies sionistas e do apoio das influentes comunidades judaicas da diáspora. Por outro lado, o crescimento da populaçao palestina nos territorios ocupados preocupa os judeus. Demografia é tudo e quando os números nos territorios ocupados, somados os israelenses palestinos, superarem os judeus, a comparaçao com o Apartheid sul-africano será inevitável. Nova expulsão dos palestinos, nos moldes de 48 e 67, pode ser a soluçao do problema sob a ótica israelense.

    Com relaçao ao Avnery, os artigos foram publicados nos ultimos 2 ou 3 anos. Fiquei um tanto chocado pois nunca tinha lido nada do cara naquele tom. Talvez o antiwar.com tenha retirado os artigos politicamente incorretos de Avnery. Procure aqui http://original.antiwar.com/author/avnery/
    A posição da manutençao de Israel como um estado judaico é bem mainstream. Noto que vc inclusive escreve que se isso acabar seria uma pena. Mas é engraçado como organizaçoes judaicas, simpáticas a Israel/sionismo tem trabalhado ardentemente para transformar países de maioria européia em caldeirões multiétnicos. Diversidade para os outros, para nós homogeneidade. Quem se beneficia?

    Beto_W

    Concordo com boa parte, Luca. Realmente, no clima atual é impossível o governo de Israel ceder alguma coisa mínimamente palpável que acene uma intenção concreta de paz. Os políticos estão cada vez mais à direita, os partidos religiosos são influentes demais, e o povo acredita em tudo que o governo fala.

    Vou procurar entre os artigos do Avnery algum que mencione o que você disse.

    Quanto a ter dito que é uma pena, não me referi a manter um estado judaico, com leis que privilegiam os judeus. Me referi a manter coisas como o hino, a bandeira, a língua, a manutenção do sábado como dia de descanso (caso você não saiba, domingo é o primeiro dia de trabalho da semana por lá), manter os feriados judaicos no calendário oficial do país. Falei em manter o caráter judaico, não em manter o aparato discriminatório.

    Pode ser que alguém diga que essas coisas também são discriminatórias, mas eu responderia dizendo que há vários países cuja bandeira e cujos símbolos nacionais refletem características de uma religião (mesmo estados laicos), e as pessoas de outras religiões não se sentem discriminadas por isso. Espero ter esclarecido esse meu ponto.

    Luca K

    Beto, dê uma olhada nesse vídeo, arqueólogos, maioria dos quais claramente judeus, discutem algumas facetas da suposta historia dos hebreus antigos. http://www.gilad.co.uk/writings/bible-vs-archaeol
    Gilad Atzmon, um judeu israelense que admiro muito, escreveu hj sobre a perspectiva do retorno dos palestinos. O prognóstico dele é sombrio para os sionistas. http://www.gilad.co.uk/writings/gilad-atzmon-isra
    []s

Luca K

É patético como a mídia Ocidental, inclusive no Brasil( e até mesmo a nossa mídia alternativa ) engole e dissemina a versão dada pelos norte-americanos a respeito do raid q supostamente matou Bin Laden sem qualquer questionamento. Antes da suposta execução do sujeito no tal raid, a melhor avaliação – a despeito da constante propaganda, dos vídeos e áudios duvidosos e sem procedencia – q havia sobre o assunto, inclusive dito publicamente por peixes graúdos da CIA e do FBI, era de que Bin Laden havia morrido de causas naturais em 2001(estava muito doente). Subitamente o sujeito aparece vivo em Abbottabad, cidade cheia de tropas paquistanesas! Bem, dizem q vivo pq convenientemente não apresentaram NENHUMA PROVA concreta, disseram q mataram BL e depois atiraram seu cadáver no mar. Quão conveniente uh? Interessante quantas vezes as autoridades americanas mudaram a estória. Primeiro, teria havido um enorme tiroteio durando cerca de 40 minutos, depois não houve tiroteio e apenas um cara armado, BL teria usado a esposa como escudo humano e estava armado, er, não, nao usou a esposa como escudo e estava desarmado. Se estava desarmado pq o mataram? Nao seria interessante interrogar o temível fantasm, er, terrorista, em Gitmo ou algum outro lugar? A little waterboarding maybe? no? Lembrem-se; a mentira tem muitas versões, a verdade apenas uma. Como explicar tantas versões contraditórias? Fog of war my ass, uma vez q na última versão nem sequer houve tiroteio mas apenas assassinato. E essa de q jogaram o presunto no mar por respeito as leis muçulmanas?? Minha nossa, desde quando os americanos se preocupam com isso? Mataram os filhos de Saddam e fizeram questão de provar mostrando as fotos dos corpos destroçados… sem contar que estudiosos das leis muçulmanas negam que a prática tenha sido correta, muito ao contrário. Pode até ser q de fato os SEALs tenham assassinado Usama mas msm essa premissa deixa inúmeras perguntas no ar. Talvez, uma vez que os ataques do 11 de Set sao extremamente mal explicados( a investigação foi uma farsa grotesca ), Bin Laden fosse mais valioso morto do que vivo em um tribunal. Afinal, em 2 ou 3 entrevistas pós 9/11, BL negou categoricamente participação ou conhecimento nos ataques em NY…

Luiz Carioca

Terror gera terror.
Vídeo: Terror brings terror http://vimeo.com/23602129

Jair de Souza

Existe uma velha tática de citar em defesa própria nomes e fatos com a crença de que aqueles que receberão a mensagem não terão conhecimento suficiente para discernir a verdade e, portanto, acabarão aceitando aquilo que lhes é jogado em cima. Mas, querer apoiar-se em Martin Buber (inimigo ferrenho da criação do estado de Israel), em Avi Shlaim (um dos maiores inimigos das políticas do estado de Israel) e Uri Avnery (ferrenho opositor às políticas racistas antipalestinas do estado de Israel) já é demais. Deixo alguns links para conferir o que essas pessoas pensam (pensava, no caso de Buber) sobre o estado de Israel: http://www.youtube.com/watch?v=TOYwzFz441c ; http://www.youtube.com/watch?v=rCUPXWyE1HY ; http://www.youtube.com/watch?v=rajr64wCvwY; http://www.youtube.com/watch?v=Aih39SDES3w&feature=related ; http://www.youtube.com/watch?v=h_Xz8ZIDmWE&fe

    Beto_W

    Jair, Shlaim e Avnery denunciam os abusos passados e presentes de Israel, mas acho que nenhum dos dois defende o desmantelamento do país. Eles, como muitos outros, defendem que Israel deva dar condições aos palestinos de fundarem seu próprio estado, que seria criado em coexistência com Israel. Martin Buber acreditava na criação de um estado bi-nacional mas, depois que Israel foi fundado, passou a defender um diálogo aberto com os vizinhos árabes, e não a dissolução do país.

    Nesse sentido, pode-se dizer que os três defendem o direito de Israel à existência, e que portanto são sionistas. O que eu acho que o Silber quis é mostrar que se pode considerar que sua generalização sobre os sionistas "de qualquer pelagem" abrange estas três figuras (e outros sionistas de "pelagem" mais pacifista) que defendem a criação de um estado palestino com dignidade para o povo.

    Ao invés de enxergá-lo como inimigo, talvez você deva tratar Silber como um colega que também expressa sua opinião nesse canal, e que pode estar disposto a dialogar se o tom agressivo e preconceituoso for amenizado. Um debate saudável e respeitoso pode enriquecer a vocês dois (e ao resto dos frequentadores do Viomundo), e o Silber pode influenciar mais pessoas na comunidade judaica a enxergarem o outro lado.

    Jair de Souza

    Estimado Beto_W, nem eu defendo o fim do estado de Israel. Penso como Shlomo Sand: Israel é filho de um estupro, mas não por ter origem num ato criminoso, a criança deve ser eliminada. Eu quero é que, na situação atual, haja justiça para o povo palestino. Que eles possam ter seu estado livre e soberano, nada de bantustões, e que Israel, dentro das fronteiras reconhecidas internacionalmente, deixe de ser um estado tribalista, exclusivamente judeu, e passe a ser um Estado de seus cidadãos, independemente de religião ou origem étnica. Você é judeu, mas nascido aqui e, por isso, é tão brasileiro como eu, que sou de família católica. Não fico tranquilo enquanto os bulldozers de Israel derrubam casas de milhares de famílias humildes, bombas de fósforo branco de Israel incineram milhares de crianças. A insensibilidade com isso me indigna. Sou pela unidade dos povos, sem nada a ver com raça, religião. Quero ver judeus, cristãos, muçulmanos, ateus, e outros, vivendo em paz. Sem primazia de ninguém. Isto vale também para os países árabes.

    Beto_W

    Desta vez concordo com você, palavra por palavra.

cesar

Como explicar o jogo duplo dos EUA :No padrão duplo contra a LIbia e não contra o BAhrein? Parece similar das negociações do Brasil /Turquia e Irã em 2010(programa nuclear Iraniano).Quando tudo caminhava de acordo com o solicitado os EUA retrocedem?
E agora com a morte de OSama ficam duvidas;
1)Pq matar Osama? Ele vivo não teria mais informações a fornecer?e agora querem interrogar suas esposas!!!
2)Pq jogar corpo ao mar/
3)Como explicar que a policia do Paquistão não tenha chegado até a casa da morte de OSama se reportagens dizem que chegaram 02 helicopteros com tiros e ficaram por volta de 40 minutos na casa e agora o Paquistao dá uma de agredido sem saber o que estava acontecendo!

    Anit

    A morte do Osama desperta muitas dúvidas.
    Os vídeos apresentados como supostas provas, são falsificados. As mesmas imagens com fundos diferentes apareceram já uns anos atrás. Levemente retocadas com photoshop.
    Tem mais, se o terrorista era canhoto, como é que aparece segurando um controle remoto com a mão direita?

Anit

Recomendo o documentário
Loose Change final cut. Vai o link, para aqueles que ainda não o viram…
http://www.youtube.com/watch?v=zN10xDOGehc

Jair de Souza

Daqui a pouquinho, vão aparecer os sionistas de plantão, alguns que até gostam de se apresentar com títulos, para fazer a defesa de Israel. No entanto, a verdade foi muito bem dita. Hamás é o pretexto da vez. Sempre haverá um pretexto, posto que os sionistas (de todas as pelagens) nunca aceitaram (e nunca aceitarão, pelo menos de boa vontade) um acordo de paz com dignidade para o povo que se constitui na única e verdadeira vítima desse conflito: o povo palestino. Quando os sionistas pseudo-liberais aparecem por aqui, sua missão é defender o monstro tribalista ao qual eles creem que devem lealdade acima de tudo, acima mesmo de qualquer direito humano de outros povos.

    Dr Marcelo Silber

    Eu não te decepciono, apareço mesmo, e bem rápido afinal como bom corinthiano, eu não fujo do "pau"
    -Dr. eu sou mesmo, e com muito orgulho (pois foi com muito sacrificio da minha familia) Medicina na USP (Pinheiros) , trabalho no Einstein e no Sirio-Libanes e com muito, mas muito trabalho social em creches, orfanatos, etc…
    -Sionista tambem sou,assim como Martin Buber, Avi Shlaim, Uri Avnery e outros que preconizam e agem pela paz, acham que a fundação do Estado de Israel trouxe consigo muitas injustiças, mas foi absolutamente legítima e sou a favor de um Estado Palestino.
    -O Sr. disse "povo que se constitui na única e verdadeira vítima desse conflito: o povo palestino" balela, muitos judeus perderam a vida nos conflitos e O Massacre de Gush Etzion'em janeiro de 1948 é público e notório…114 mortos, todos os cadaveres violados…
    -Pelagens??? Voto nulo e passo batido, não sou ave ou mamífero, apenas um ser humano…..
    Passar bem!!!

    Beto_W

    Jair, também apareci por aqui, já que você conclamou todos os sionistas, de todas as "pelagens". E assim como o Dr. Silber, sou sionista, o que não quer dizer que não apoio a criação de um estado palestino, nem que defendo incondicionalmente as ações do governo israelense. E o Silber (se te incomoda tanto o título, acho que ele não vai se importar se você se dirigir a ele pelo nome sem colocar o Dr. na frente, certo?), pelo que tenho lido, também.

    O assunto é complexo, e não deve ser visto através de lente maniqueísta. Há várias forças do lado árabe e palestino a quem tampouco interessa um acordo de paz, e que estão pouco se lixando para o sofrimento do povo palestino. E na minha opinião, parte do Hamas está incluída.

    Dr Marcelo Silber

    Beto_W
    Quem quer brigar,arruma qualquer pretesto.
    Quem quer dialogar de verdade, não começa nunca uma resposta ofendendo…
    Ainda mais a quem nunca lhe fez mal…
    As pessoas aqui não conseguem conversar, dialogar, argumentar…
    Todo mundo com a mesma opinião. É PROIBIDO DIVERGIR
    Em relaçõa a Israel, os Post são colocados, todos na mesma linha, geralmente das mesmas fontes e sites…
    E ai de quem divergir…
    Me chame de Silber, de Marcelo, nenhum paciente me chama de Dr. Marcelo…pode perguntar.
    Mas eu posso assinar como eu quero.
    É fácil agredir. O dificil é conversar
    Anwar Sadat e Ytzhak Rabin que o digam…
    Ambos generais e estadistas brilhantes.Venceram muitas batalhas. Mas não a batalha da INTOLERÂNCIA. Mas a gente caminha…Eu gosto mesmo é de fazer amigos…De conversar…Tomar uma cerveja!!! Com certeza vou tomar algumas com você!!!
    Continue assim, fazendo amigos, pois a vida é bela!!!
    Abração, velho!!

Bonifa

Filhos de Bin Laden vão processar Obama pela morte do pai
11 de Maio de 2011, 13:21
Os filhos de Osama Bin Laden contestam a legitimidade dos EUA na operação militar da qual resultou na morte do pai e equacionam abrir processos contra a Administração norte-americana no Tribunal Criminal Internacional e no Tribunal Internacional de Justiça.
Numa carta que foi publicada no New York Times, pedem à Organização das Nações Unidas que abra um inquérito para determinar o porquê de se ter optado pela morte a sangue frio e não pela prisão. Utilizam o exemplo do processo que resultou na morte de Saddam Hussein, o ditador iraquiano foi preso, julgado e condenado à morte.
Na missiva, a família exige saber o porquê «de um homem desarmado ter sido morto e não preso e levado a tribunal, para que a verdade fosse revelada às pessoas de todo o mundo».
Fonte: Sol

Zhungarian

Tenho absoluta convicção de que a História demonstrará cabalmente o viés terrorista dos EUA e de Israel. Um e outro se utilizaram de modo ostensivo de instrumentos de terrorismo para ocupar os territórios que hoje ocupam. E, pior, adotam o discurso de que é o outro que faz isso. Ou seja, para os EUA, são os muçulmanos ou os mexicanos que são os algozes, eles são apenas vítimas que se defendem. Do mesmo modo, Israel, que ocupou de forma "inocente" a região da Palestina, tentando expulsar dali os palestinos à custa de atentados terroristas. Hoje, posam de vítimas do terrosrismo palestino.

    Nelson

    "As duas maiores organizações terroristas do planeta são o governo dos Estados Unidos e o governo de Israel".
    Quem afirma isso é o linguista e filósofo Noam Chomsky, descendente de judeus nascido nos EUA, meu caro Zhungarian.
    Esta afirmação eu li no livro "Piratas e imperadores, antigos & modernos – o terrorismo internacional no mundo real", se não me falha a memória.

Lilith

Sem nenhuma guerra, como vender as armas? Como sustentar quem realmente manda naquele país, a indústria bélica?

    Nelson

    Lilith

    No pequeno mas notável livro "O Teatro do Bem e do Mal", o jornalista e escritor uruguaio, Eduardo Galeano, escreve:
    "A indústria de armas precisa de guerras, assim como a indústria de casacos precisa de invernos.

    Então, resta aos povos do mundo inteiro que, creio, querem realmente a paz, chegarem ao consenso de que é fundamental o fechamento de todas as fábricas de armas.

Marat

Lógico que, para falar de um império ávido de dinheiro e sangue alheios, as pessoas devem cercar-se de cuidados, contudo, não podemos deixar passar em branco o que os EEUU são: Imperialistas, ladrões, assassinos e terroristas. Isso, para mencionar apenas uma parcela do que aqueles insanos representam!

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