Vanessa Barbara, no NYT: “Bolsonaro tem medo de ser preso, e com razão”

Tempo de leitura: 4 min

“Bolsonaro tem medo de ser preso, e com razão”

Por Vanessa Barbara*, no The New York Times

 

SÃO PAULO, Brasil — “Quero dizer aos canalhas,” o presidente Jair Bolsonaro falou a apoiadores no ano passado, “que eu nunca serei preso!”

Ele estava gritando. É que Bolsonaro tende a ficar exaltado quando fala sobre a perspectiva de detenção.

“Por Deus que está no céu, eu nunca serei preso,” ele declarou a uma plateia de empresários em maio.

Como ele passa “mais da metade” do seu tempo lidando com processos, certamente se sente bem preparado para essa possibilidade.

Mas há desespero em sua fala. O destino da ex-presidente boliviana Jeanine Añez, que foi recentemente condenada à prisão sob a alegação de orquestrar um golpe, paira pesadamente no ar.

Para Bolsonaro, o caso serve de alerta. A poucos meses das eleições presidenciais em outubro, que ele se encaminha para perder, Bolsonaro está claramente preocupado em também ser preso por exercer “atos antidemocráticos,” como ele mesmo diz, usando um eufemismo pouco característico.

Esse temor explica suas tentativas enérgicas de desacreditar a eleição antes mesmo que ela ocorra — por exemplo, quando ele decide reunir dezenas de diplomatas estrangeiros para enxovalhar o sistema eletrônico de votação do nosso país.

E ainda assim, por mais que esse comportamento seja absurdo — e forçar os embaixadores a presenciar uma diatribe de 47 minutos certamente está na ponta bizarra do espectro — a justificativa por trás disso faz perfeito sentido.

Pois a verdade é que Bolsonaro tem motivos suficientes para temer a prisão. De fato, está cada vez mais difícil acompanhar todas as acusações contra o presidente e seu governo.

Para começar, temos a mísera questão de que vários aliados de Bolsonaro estão sendo investigados no Supremo Tribunal Federal por participar de uma espécie de “milícia digital” que inunda as redes sociais com desinformação e coordena campanhas de difamação contra seus oponentes políticos.

Em um inquérito relacionado, o próprio Bolsonaro está sendo investigado por sua “atuação direta e relevante” em promover a desinformação, nas palavras de um relatório da Polícia Federal.

Os delitos de Bolsonaro, porém, não se limitam à esfera digital.

Escândalos de corrupção definiram sua administração, sendo que o estrago começa em casa.

Dois de seus filhos, que também detêm cargos públicos, foram acusados por procuradores estaduais de Justiça pelo roubo sistemático de verbas públicas ao embolsar parte dos salários de aliados e de funcionários-fantasmas que constavam de suas folhas de pagamento.

Acusações similares foram feitas ao próprio presidente, em relação a seu período como deputado federal.

Em março, ele foi indiciado por improbidade administrativa por manter uma funcionária-fantasma como sua secretária parlamentar por 15 anos. (A suposta assessora era, na verdade, uma vendedora de açaí).

Acusações de corrupção também rodeiam membros de alto escalão do governo.

Em junho, o ex-ministro da educação Milton Ribeiro foi preso sob a suspeita de tráfico de influência.

Bolsonaro, que é citado nominalmente por Ribeiro em áudios comprometedores, foi firme em sua defesa do ex-ministro.

“Eu boto minha cara no fogo pelo Milton,” disse o presidente antes da prisão, explicando mais tarde que apenas colocaria a mão no fogo.

Ele sustenta, contra todas as evidências disponíveis, que não há “corrupção endêmica” em seu governo.

E também há o incriminador relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre a resposta do governo à Covid-19, que descreve como o presidente ajudou ativamente a disseminar o vírus e pode ser responsabilizado por muitas das 679 mil mortes pela doença no Brasil.

O relatório recomenda que Bolsonaro seja indiciado por nove crimes, incluindo emprego irregular de verbas públicas, violação de direitos sociais e crimes contra a humanidade.

Como o presidente responde a essa vertiginosa folha de acusações? Com ordens de sigilo.

Esses decretos, que ocultam evidências por um século, foram aplicados a todo tipo de informação “sensível”: as despesas detalhadas do cartão corporativo de Bolsonaro, o processo disciplinar do Exército que inocentou um general e ex-ministro da Saúde por ter participado de uma manifestação pró-Bolsonaro, e relatórios fiscais da investigação de corrupção sobre seu filho mais velho.

Um tremendo contraste com aquele homem que, no início de sua gestão, gabou-se de que iria promover “transparência acima de tudo!”.

Se o sigilo não funciona, temos a obstrução. Bolsonaro tem sido frequentemente acusado de tentar obter informações privilegiadas das investigações, ou mesmo de obstruí-las por completo.

No caso mais notório, o presidente foi acusado por seu próprio ex-ministro da Justiça de interferir com a independência da Polícia Federal. É uma acusação bem convincente.

Afinal, em uma gravação vazada de um encontro ministerial de dois anos atrás, Bolsonaro foi pego dizendo que não iria esperar prejudicarem “a minha família toda,” ou amigos, quando ele podia muito bem substituir os agentes de segurança.

Para exercitar esse poder, contudo, ele precisa se manter no cargo.

Com isso em mente, Bolsonaro tem distribuído cargos de comando no governo e usado um conjunto de verbas, apelidado de “orçamento secreto” por sua falta de transparência, a fim de garantir o apoio de congressistas de centro.

Considerando a força dos pedidos de impeachment contra ele — em dezembro de 2021, mais de 130 pedidos haviam sido protocolados — um banco de apoio é crucial.

A estratégia não é um segredo: Bolsonaro confessou que fazia ambas as coisas para “acalmar o Parlamento.”

Ele nega que o orçamento seja secreto, apesar de os relatores dos pedidos das verbas permanecerem anônimos.

Mas o maior desafio é ganhar o eleitorado. E aqui, mais uma vez, Bolsonaro recorre a truques e gambiarras.

Em julho, o Congresso aprovou uma emenda constitucional — apelidada de “PEC Kamikaze” pelo ministro da Economia — que dá ao governo o direito de gastar mais de 7,6 bilhões de dólares (41 bilhões de reais) extras em auxílios sociais e outros benefícios até 31 de dezembro.

Se parece uma tentativa descarada de incitar o apoio da população, é porque é mesmo.

Se isso vai ajudar o presidente, ninguém sabe. Mas o sinal enviado é inconfundível: Bolsonaro está desesperado para evitar a derrota. E tem todos os motivos para isso.

*Vanessa Barbara é escritora brasileira a editora do sítio literário “A Hortaliça”; autora de dois romances e dois livros de não-ficção, em português, e escritora de opinião do The New York Times.


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Zé Maria

“Casagrande vence Ação movida por Bolsolóide do Vôlei”

Juíza conclui que em reação ao texto de Casagrande,
AnaPaulaHenkel, ao insinuar a doença do ex-jogador,
se aproximou mais dos ataques pessoais do que ele.

O ex-jogador de futebol e comentarista, Walter Casagrande Jr., foi absolvido
em 1.ª instância pela Justiça Estadual de São Paulo na ação movida pela ex-jogadora de vôlei Ana PaulaHenkel.

A ex-atleta reivindicava R$ 50 mil do ex-jogador alegando danos morais
por críticas feitas por ele em um texto publicado em seu ex-blog ‘De Peito Aberto’, em 21/02/2021.

Em sua decisão, a Juíza da 3ª Vara Cível do Fórum de Pinheiros, em São Paulo, definiu que o conteúdo das críticas de Casagrande não excedeu a liberdade de imprensa nem resvalou para ataques pessoais que pudessem gerar danos morais a ela.

Pela decisão da Magistrada, à qual cabe recurso, a Bolsolóide terá de pagar
R$ 10 mil aos advogados de defesa, correspondentes a 10% do total do valor
requerido pela ex-atleta na petição inicial.

A juíza conclui ainda que, em sua reação ao texto de Casagrande,
a Bolsolóide do Vôlei se aproximou mais dos ataques pessoais
do que ele, ao insinuar a doença do ex-jogador de futebol.

“Não fez o corréu [Casagrande], por exemplo, menção a qualquer assunto
pertinente à vida privada da autora [Ana Paula], situação que mais se aproximaria
de extrapolar a liberdade jornalística, tendo apenas exprimido sua opinião acerca das manifestações públicas da requerente”, diz a Decisão Judicial.
“No caso, mais próxima chegou a autora de derivar o debate para ataques pessoais,
ao rebater em sua rede social o texto jornalístico em questão com insinuação
à doença do corréu.”

[Fonte: f5.UOL]

Nelson

Lembro que, em 2018, ainda antes do segundo golpe impingido ao povo brasileiro, a eleição de Bolsonaro, eu insistia com um pequeno empresário aqui da minha cidade.

Ele costumava repetir: “O Temer vai ser preso”. Eu eu dizia a ele: “João, o Temer não vai ser preso. No máximo, vai ser detido por uns três ou quatro dias ou uma semana, vai pedir um habeas corpus e ficará solto”.

E ainda completava: “Vão abrir um processo – ou até mais – contra ele e jogar bem no fundo da última gaveta de uma escrivaninha. Depois de se passarem uns 7 ou 8 anos, alguém vai vasculhar a gaveta, encontrar o processo, dar uma olhada e exclamar: “’e esse processo aqui? Ah, prescreveu’”.

“Àqueles que trabalharam exclusivamente pelo topo da pirâmide, pelo grande capital, o Sistema não vai deixá-los na mão”, eu dizia para o João.

E o que aconteceu? Temer foi detido, por duas vezes, se não me engano, por três ou quatro dias e acabou solto. Hoje, está aí, curtindo sua boa vida e, a menos que eu me equivoque, deve estar se candidatando a deputado outra vez.

Para justificar a minha insistência, eu lembrava ao João do caso de Fernando Henrique Cardoso. O governo dele doou mais da metade do patrimônio e riquezas que pertenciam ao povo brasileiro. Alguma vez ele foi denunciado? – perguntava ao João.

Não houve a mídia hegemônica e comentaristas a vociferarem por semanas, meses, por anos, contra a monstruosa corrupção do governo FHC. Não houve Ministério Público, não houve TCU, não houve Judiciário.

Nenhuma dessas instituições teve a coragem de denunciar FHC e de embalar uma campanha para fazê-lo responder pelo entreguismo abjeto e os vários crimes de lesa-pátria que cometeu.

FHC entregou a Vale do Rio Doce por um valor 1.000 vezes menor que o do montante do patrimônio que a grande estatal controlava. Há quem estime que esse patrimônio era 8.000 vezes maior que o valor recebido na privatização da empresa.

FHC investiu R$ 21 bilhões do meu, do teu, do nosso dinheirinho na expansão e modernização da telefonia antes de privatizá-la. No leilão da privatização, aceitou apenas R$ 13,5 bilhões por um outro patrimônio pertencente ao povo brasileiro.

Esses são apenas dois casos a darem a dimensão do que foi a monumental corrupção na Era FHC.

Para terminar, a pergunta, inevitável. Por que é que Fernando Henrique Cardoso não foi preso, processado ou pelo menos admoestado pela Justiça? Eu diria que é porque FHC governou exclusivamente a favor do topo da pirâmide, do grande capital. Em favor dos já ricos, milionários e bilionários. Então, é claro que essa patota, de enorme poder econômico, não iria deixar seu grande padrinho em maus lençóis.

Como Bolsonaro também está a governar exclusivamente em favor do grande capital, deverá ter destino idêntico ao de FHC e escapará indene a qualquer punição.

Zé Maria

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Zambelli, a Aloprada

Carla Zambelli queria que Partido de Bolsonaro
contratasse Hacker para “fiscalizar eleições”

O plano de Zambelli era que ele fosse contratado como um especialista [SIC]
em ataques cibernéticos pelo Instituto Voto Legal [IVL], ONG indicada pelo
Partido ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para auditar as eleições em outubro.

A ONG IVL ainda aguarda o credenciamento da Corte Eleitoral.

Duas pessoas do Partido de Bolsonaro confirmaram a história,
antecipada na quarta-feira [10] pelo site G1.

A Deputada Bolsonarista levou o Hacker a um encontro na terça-feira [9]
com o presidente do Partido, Valdemar Costa Neto, na sede do partido,
em Brasília, e a outro no dia seguinte com o presidente Jair Bolsonaro,
no Palácio da Alvorada.

A parlamentar Bolsonarista revelou que pagou a hospedagem do Hacker
e do advogado de defesa dele, no hotel Phenícia, na Capital Federal,
cujas diárias custam em torno de R$ 200,00.

Questionada sobre o teor da reunião com Bolsonaro no Alvorada, a deputada
confirmou que ali foram tratadas “informações valiosas” às quais ela se recusou
a revelar:
“Isso eu não posso falar”, declarou a parlamentar bolsonarista, segundo
reportagem de Eduardo Gonçalves e Patrik Camporez, em O Globo.
Ela relatou, também, que o advogado do Hacker ficou “nervosinho”,
decidiu ir embora e tentou levar o cliente junto.

Porém, segundo Carla, o hacker falou, : “Não, eu vou ficar”.
“E aí ele [o advogado vazou o encontro para a imprensa,
porque ele ficou nervosinho e queria dinheiro”,
acrescentou a deputada

“Ela pediu que ele – o Hacker – fizesse coisas
que eu achei que ele não devia fazer”, afirmou
o advogado, negando que tivesse pedido
dinheiro e acusou Zambelli de mentirosa:

“Em momento algum foi pedido dinheiro.
Pelo contrário, ela pediu que ele fizesse
coisas que eu achei que ele não devia fazer” .

“Eu não vou falar o que ela pedia.
O que ela queria eu não ia fazer, só isso”,
concluiu o defensor do Hacker.

https://t.co/2Qf7W6CHgp
https://twitter.com/RevistaForum/status/1558771677164601345

Nilton Carvalho

Se o Exército brasileiro de Brochas deixar, ele vai ser preso junto com toda famifllcia.
Familia bolsonarista e seus seguidores, ” e se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão”.
Lugar de bandidos é na cadeia, isso inclui os militares.

Sandra

Crimes não faltam, mas será que vai preso mesmo?

Zé Maria

Com certeza!
É só os Inquéritos Policiais que apuram os Crimes do Bolsolão
baixarem pra Primeira Instância, quando o Serial Killer perder
a Prerrogativa de Foro por Função, ao deixar o Mandato no ano
que vem, que o Miliciano-Mor vai pegar umas Longas Férias,
Metade do Período em Bangu e Outra Metade na Papuda.

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