Os tucanos, a classe média e os interesses do capital internacional

Tempo de leitura: 7 min

Os interesses do grande capital internacional e da fração da burguesia brasileira a ele completamente integrada, representados pelo PSDB, encontraram uma base de apoio no Brasil. Essa base não é “a classe média”. A parte majoritária da classe média apoia a política neodesenvolvimentista dos governos do PT. Essa base de apoio é a fração superior da classe média brasileira, a alta classe média. Em termos eleitorais, não é muito e em daí as agruras do PSDB

08/04/2013

Armando Boito Jr., especial para o Brasil de Fato

I

Muitos analistas e observadores políticos têm escrito que o PSDB representa a classe média. Será verdade?

É meritório colocar a questão de saber quais setores sociais um determinado partido político representa. Tal questão poderá parecer óbvia para alguns, mas ela não o é para a maioria dos que escrevem sobre os partidos políticos. Nas universidades, os cientistas políticos analisam os partidos de maneira formalista. São consideradas sua estrutura interna e seu papel no sistema partidário sempre isolando a vida do partido da estrutura social e econômica da sociedade.

Esse enfoque, que omite a questão da função representativa dos partidos, é praticado pelos neoinstitucionalistas, corrente amplamente hegemônica na Ciência Política contemporânea. Ainda nas universidades e também nos jornalões, a questão é omitida inclusive por outras razões.

Os articulistas que se apresentam como conhecedores da política brasileira se deixam iludir pelo discurso dos próprios partidos. Apegam-se à superfície desse discurso e tomam ao pé da letra suas proclamações de princípios e de intenções bem como suas declarações de ocasião. O resultado é que o exame rigoroso da representação partidária é deixado de lado.

Os partidos políticos representam, no geral e de modo complexo e flexível, interesses de classe e de frações de classe sociais. Partindo desse ponto, voltamos à pergunta: os tucanos representam a classe média?

II

No fundamental, a resposta é não, não representam. Como tentei argumentar em texto escrito anteriormente para o Brasil de Fato, o PSDB representa o grande capital internacional – financeiro e produtivo – e a fração da burguesia brasileira subsumida a esse capital.

A plataforma do PSDB, como tentei então mostrar, sistematiza e representa os interesses desse setor da classe dominante. Ao dizer isso, não me refiro às declarações genéricas desse partido, que é, como a de muitos outros, a “construção de um país mais próspero e mais justo”.

Refiro-me, isto sim, ao elenco de medidas práticas que esse partido defende, nas linhas ou nas entrelinhas dos seus documentos e nas manifestações de seus líderes, e que ele de fato aplica quando está no poder: controle rigoroso e por meios ortodoxos do processo inflacionário, taxa de juro elevada, câmbio estável e apreciado, redução dos gastos públicos com investimentos, com o funcionalismo e com programas sociais – mas não com a rolagem da dívida interna – e a retomada do programa de privatizações e da reforma trabalhista.

Indiquei, ainda no referido artigo, como é possível visualizar, por detrás dessas propostas, os interesses inconfessáveis – posto que contemplam uma restrita minoria – do grande capital internacional e da fração da burguesia brasileira a ele integrada. O PSDB tem sido, pelo menos até o presente, o principal partido político desse setor da classe dominante.

Se o PSDB fosse o partido da classe média, seríamos obrigados a concluir que essa classe social controlou o poder governamental durante os governos FHC e teria, então, dirigido o processo de implantação do modelo capitalista neoliberal no Brasil. Ora, não seria difícil demonstrar que não foi essa classe social, tão vasta e heterogênea, a grande beneficiária da desregulamentação do mercado de trabalho, da redução dos direitos sociais, das privatizações, da abertura comercial e financeira da década de 1990.

Contudo, numa dimensão que não é a fundamental embora seja também importante, o que se pode dizer a respeito da relação do PSDB com a classe média é que esse partido tem como base social mais ampla um setor da classe média. Esse setor não dirige o partido, mas oferece-lhe apoio ativo. A ação do partido deve, por isso, contemplar alguns interesses desse setor social, mesmo que não os priorize.

Mas, atenção: é apenas uma parte da classe média, a sua camada superior, que serve de base social para esse partido burguês e neoliberal. A classe média é demasiado heterogênea e raramente intervém unificada no processo político.

Podemos resumir assim: o PSDB representa os interesses do grande capital internacional e da fração da burguesia brasileira completamente integrada a esse capital e se apoia na alta classe média. Ou, dito de outro modo, o grande capital internacional dirige o PSDB enquanto a alta classe média tem, de maneira secundária, alguns dos seus interesses atendidos por esse partido [1].

A baixa classe média e mesmo a classe média remediada – camada intermediária e inferior do funcionalismo público, trabalhadores de escritório, comerciários e outros – têm votado preferencialmente em partidos como o PT. É certo que a divisão entre a parte superior, intermediária e inferior da classe média não é uma separação nítida, mas ela indica tendências efetivamente atuantes.

III

Para comprovar afirmações como essas seriam necessárias pesquisas mais amplas do que as que temos disponíveis. Porém, os mapas eleitorais de uma cidade como São Paulo são expressivos indicadores da procedência do que dissemos acima.

Nos bairros burgueses e de alta classe média, a população tem votado, de maneira amplamente majoritária, nos candidatos do PSDB, enquanto nos bairros onde habitam a classe média empobrecida e remediada, o proletariado e os trabalhadores da massa marginal, nesses últimos, o PT colhe a esmagadora maioria dos votos.

Para citar casos extremos mas significativos, no segundo turno da eleição para a prefeitura de São Paulo em 2012, o candidato do PT chegou a ter mais de 80% dos votos em bairros da Zona Leste e da Zona Sul da cidade, enquanto o candidato do PSDB atingiu a mesma marca nos Jardins.

Por que a alta classe média apoia o partido do grande capital internacional propiciando-lhe, ainda, alguma força eleitoral? As razões são de ordem econômica e ideológica.

Desde a década de 1990, quando serviu de “base de massa” para a ofensiva neoliberal dirigida pelo imperialismo e pela grande burguesia, a alta classe média convenceu-se de que os direitos sociais representam, para ela, custos sem retorno.

É verdade que parte da classe operária também embarcou nessa canoa – basta lembrarmos a atuação da Força Sindical naquele período e as vitórias de Fernando Henrique Cardoso em 1994 e 1998. Mas os trabalhadores o fizeram por razões distintas daquelas que moviam a alta classe média e, de resto, descobriram, em poucos anos, que tinham embarcado numa canoa furada.

No caso das famílias de alta classe média, elas mantiveram a sua posição. Os profissionais liberais bem sucedidos, os ocupantes de cargos de direção e administrativos nas empresas privadas, o alto funcionalismo público e outros setores que integram a fração superior da classe média não queriam e não querem saber de ensino ou de saúde pública – salvo quando a instituição pública é privilégio deles próprios, como ainda é o caso de algumas universidades públicas.

No geral, as famílias de alta classe média preferem os serviços privados que são, nos fatos ou na fantasia, de melhor qualidade e que, não menos importante, permite que elas e seus filhos se mantenham separados da população pobre. Ora, o neoliberalismo prometia isso: suprimir e reduzir direitos sociais acenando com uma correlata redução dos impostos.

Os governos do PT, tanto Lula quanto Dilma, embora não tenham rompido com o capitalismo neoliberal, têm uma política social distinta daquela da década de 1990. Em muitos aspectos, essa política contraria os interesses e as disposições ideológicas da alta classe média.

Tais governos criaram o Bolsa Família, fortaleceram o Benefício de Prestação Continuada, suspenderam as ameaças que pairavam sobre a aposentadoria rural, implantaram uma política de reajuste real do salário mínimo e deram guarida à lei que estende os direitos trabalhistas às empregadas domésticas.

Circunstância agravante: tais governos estimularam um ataque em regra à reserva de mercado que, informalmente, a alta classe média detinha de grande parte das vagas oferecidas pelas universidades públicas. Todos pudemos ver a disposição com a qual os intelectuais, professores e estudantes desse setor social combateram e combatem a política de quotas racial e social.

Nesse ponto, evidencia-se a maneira concreta como o conflito de classes articula-se com a luta contra o racismo no Brasil atual. A política de quota racial e social favorece a população de baixa renda, onde predominam os egressos de escola pública e onde é grande a presença de afrodescendentes, mas prejudica a alta classe média que detinha uma reserva do mercado em grande parte do ensino superior público e que é na sua quase totalidade composta por indivíduos socialmente definidos como brancos.

Ainda agora, neste primeiro semestre de 2013, o governo tucano de Geraldo Alckmin, sentindo-se acossado, faz acrobacias as mais variadas para manter a USP, a Unesp e a Unicamp fora do regime de quotas.

O discurso meritocrático, ideologia funcional para os interesses da alta classe média, foi ativado contra a democratização – pequena, de resto – que se está verificando no acesso ao ensino superior. Só esse discurso diante da política de quotas já mereceria um exame à parte. Ele nos revelaria muita coisa sobre o que quer e como age a alta classe média tucana.

No plano político, os governos Lula e Dilma têm reconhecido, para o desgosto da alta classe média, as organizações e movimentos do campo operário e popular, em contraste com os governos tucanos que os ignoravam ou os criminalizavam. O Governo Lula reconheceu as centrais sindicais, criou fóruns para sua participação, recebeu o MST, a Contag e os sem-teto.

O Governo Dilma, principalmente no período mais recente, tem feito algo parecido. É verdade que ambos fizeram ouvidos moucos para as reivindicações mais sentidas desses movimentos. As reivindicações históricas e recentes mais importantes do movimento sindical – política de reposição automática das perdas salariais provocadas pela inflação, jornada de 40 horas, regulamentação da terceirização e outras – foram ignoradas. A reforma agrária foi posta de lado.

Contudo, quando estudamos a história recente do Brasil, podemos verificar que a fração superior da classe média é particularmente hostil a governos que reconheçam o direito dos setores populares se organizarem e apresentarem suas reivindicações.

O problema, aqui, é político e simbólico. Político, porque a alta classe média pressente o perigo – hoje, eles são convidados no Palácio do Planalto, amanhã poderão ambicionar serem os anfitriões; simbólico, porque o espaço dito público, onde se pratica o jogo político, deveria, de acordo com o elitismo meritocrático desse setor, permanecer um espaço reservado aos diplomados. Basta recordar o epíteto de ignorante com o qual os bem-nascidos – mas muito malcriados – estigmatizam os políticos de origem popular.

Os interesses do grande capital internacional e da fração da burguesia brasileira a ele completamente integrada, representados pelo PSDB, encontraram uma base de apoio no Brasil. Essa base não é “a classe média”. A parte majoritária da classe média apoia a política neodesenvolvimentista dos governos do PT. Essa base de apoio é a fração superior da classe média brasileira, a alta classe média. Em termos eleitorais, não é muito e em daí as agruras do PSDB.

[1] Há algumas diferenças entre a alta classe média inserida no setor público e a que está no setor privado, mas, para efeito deste texto, podemos deixar isso de lado.

 Armando Boito Jr. é professor de Ciência Política da Unicamp


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Comentários

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Urbano

Na verdade, tungano que é tungano de raça só defende os interesses do patrão galego lá do norte. Vez por outra leva bronca segura, mas sempre defende um trocado pra comprar o caviar.

Messias Franca de Macedo

“Vai que é teu, ‘cheirosos(as)’!”

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Tribunal da Justiça: Aécio é réu e será julgado por desvio de 4,3 bilhões da saude
TJMG confirma: Aécio Neves é réu e será julgado por desvio de R$4,3 bi da saúde
Por Rogério Correia em seu blog
05/04/2013

Em http://mariafro.com/2013/04/09/37159/

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UMA OPOSIÇÃO PELO AMOR DE DEUS!…

… República da [eterna] OPOSIÇÃO AO BRASIL… ABESTADA, indecorosa, AÉTICA, traidora, despudorada, fascista, aloprada, alienada, histriônica, impunemente terrorista, MENTEcapta, néscia, golpista de meia-tigela, antinacionalista, corrupta… ‘O cheiro dos cavalos ao do povo!’ (“elite estúpida que despreza as próprias ignorâncias”, lembrando o enunciado lapidar do eminente escritor uruguaio Eduardo Galeano)
Bahia, Feira de Santana
Messias Franca de Macedo

Carlos Tautz: O golpe de 64 que ainda não terminou – Viomundo – O que você não vê na mídia

[…] Os tucanos, a classe média e o capital internacional […]

FrancoAtirador

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Eleição é financiada por 200 grupos, diz Fontana

Por Fernanda Nascimento, no Jornal do Comércio

A Câmara dos Deputados deve iniciar amanhã (9) a votação do pacote de alterações proposto para uma reforma política.
Em entrevista ao Jornal do Comércio, o relator do texto, deputado federal Henrique Fontana (PT), afirma que seu único temor é que articulações políticas impeçam a apreciação das medidas, mas avalia que, se o projeto for para o plenário, conseguirá emplacar o financiamento público de campanha.

O petista reconhece que o projeto não engloba todas as mudanças necessárias para qualificar a estrutura política do Brasil, mas acredita que as alterações serão capazes de tornar as eleições mais igualitárias e justas.
Fontana explica os principais pontos do projeto de lei e das propostas de emenda à Constituição, que implantam o sistema de lista flexível, redução do número mínimo de assinaturas para a tramitação de projetos de lei de iniciativa popular, extinguem as coligações nas eleições proporcionais e unificam as eleições.

Em um balanço sobre o PT em Porto Alegre, avalia que o partido tem que se modificar, mas indica que o modelo de gestão do ex-prefeito José Fogaça (PMDB) e do atual chefe do Executivo, José Fortunati (PDT), está se esgotando. O deputado também projeta as articulações para a reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT) e do governador Tarso Genro (PT) com a manutenção do PSB entre os aliados.

Jornal do Comércio – O financiamento público de campanha é a questão mais importante da reforma política?

Henrique Fontana – Sem dúvida. A democracia brasileira é cada vez mais a democracia do dinheiro, ao invés da democracia dos projetos, dos programas, histórias de vida e credibilidade dos candidatos. Há diversos indicativos que mostram isso: por exemplo, das 513 campanhas mais caras do Brasil para deputado federal, 379 tiveram sucesso. A tendência é de que a capacidade de arrecadação, o volume de dinheiro disponível para uma campanha eleitoral, seja o fator decisivo para o sucesso ou para o insucesso dessa candidatura. Outro número interessante é que a diferença do preço médio entre as 513 campanhas vitoriosas para os 513 suplentes é de seis vezes.

JC – O financiamento público é questionado por uma parcela da população.

Fontana – As pessoas estão iludidas quando pensam que não pagam pela campanha hoje, a partir do sistema de financiamento privado. A população paga porque o preço das doações de campanha vem embutido no preço dos produtos que o cidadão compra, nas obras que o Estado faz. E paga pela rede de ilegalidades e de corrupção que se forma nesse sistema de financiamento privado de campanha. Outra ilusão é sobre quem financia as eleições no Brasil. O custo está sendo suportado por 200 grandes financiadores, que detêm um poder absurdo. O financiamento público será mais barato para o Brasil, vai economizar recursos e vai cortar diversos canais de corrupção.

JC – Quais mecanismos serão criados para evitar o caixa-2?

Fontana – O sistema vai aumentar a capacidade de fiscalização porque só os partidos receberão recursos. Ao invés de milhares de campanhas para fiscalizar, passa-se a ter, em cada estado, no máximo 80 campanhas para financiar, porque o partido vai organizar as contas de campanha. Não há lei perfeita. Há pessoas que fazem uma sabatina minuciosa, crítica com o novo sistema e exigem dele a perfeição, mas não analisam o atual. Tenho colegas deputados que criticam a mudança porque, no fundo, querem deixar tudo como está.

JC – Os partidos menores criticam o fim das coligações nas eleições proporcionais. Como está a negociação?

Fontana – Hoje, os partidos pequenos têm uma enorme dificuldade de financiar suas campanhas, e quando entram em uma eleição, em geral, o candidato a governador ou a prefeito tem poucas chances de vitória. O atual sistema de financiamento é extremamente benéfico para os grandes partidos, que são os únicos a receber recursos das grandes empresas. O financiamento público torna a eleição mais igualitária. A atual tática de sobrevivência do partido é fazer uma coligação com outros dois maiores e escolher um único candidato para representar o partido. A minha proposta é que, ao apresentar uma chapa completa de candidatos a deputado, vou tornar a política mais plural, com mais oferta de candidatos.

JC – E o coeficiente eleitoral, que hoje também é considerado um impedimento para os pequenos partidos?

Fontana – O coeficiente eleitoral é uma cláusula de barreira e será retirada. E isso é algo justo, que beneficiará os partidos menores. Tenho sido acusado de defender pontos que beneficiam partidos grandes. Mas, se fosse olhar o interesse preciso do PT, no momento atual da política, provavelmente, continuar com o financiamento privado faria do PT um partido que elegeria mais deputados.

JC – A deputada federal Manuela d’Ávila (PCdoB) lidera um grupo de partidos que pede a reforma completa, ao invés de uma minirreforma. Como vê isso?

Fontana – A crítica é no sentido de que a reforma não deve votar apenas o fim das coligações, e tenho a mesma posição que ela. Queremos garantir que, em primeiro lugar, aconteça a votação do projeto de lei que garante o financiamento público de campanha e a do sistema belga de votação. Depois uma emenda constitucional, que propõe a coincidência de eleições e alteração de data de posses, uma terceira emenda propõe o fim das coligações proporcionais. Isto pode ser mexido no plenário, em qualquer votação existem riscos no plenário, mas entendo que o maior risco para a democracia brasileira é não votar a reforma política.

JC – Como funcionará o sistema de votação em lista?

Fontana – O chamado sistema belga vai fazer uma mudança moderada no sistema político eleitoral, uma mudança que a cultura do brasileiro vai acolher, porque o brasileiro está muito acostumado a votar nominalmente em seu deputado. Os partidos vão ordenar a lista de seus candidatos, com sistema democrático interno. O filiado a um partido vai ter a obrigação e o direito de votar em quatro nomes para ordenar a lista de seu partido. Neste ordenamento, haverá uma ação afirmativa, na qual proponho a ampliação do papel da mulher na política brasileira. Coloco que, de cada três candidatos, sejam dois homens e uma mulher ou duas mulheres e um homem, com a garantia de que, no mínimo, o número de mulheres no próximo Parlamento duplique.

JC – A mudança na proporcionalidade entre o número de eleitores e o de deputados é um tema polêmico e não foi mexido. Por quê?

Fontana – É justa a ideia de que um brasileiro tem direito a um voto. Não pode o voto de um acreano valer 10 vezes mais ou 15 vezes mais do que o voto de um gaúcho. Só que não há nenhuma possibilidade de isso mudar no Parlamento brasileiro. Se fosse colocada esta proposta, seria derrotada na arrancada, não começaria nem o debate. Como pretendo mudar coisas estruturais, que melhorem a democracia, tive que fazer escolhas. Acredito que um assunto como este só pode ser debatido se, em algum momento, o País fizer uma Constituinte exclusiva para analisar seu sistema político.

JC – Como está a articulação no plenário? A principal bancada aliada, o PMDB, tem afirmado que não dá respaldo para o financiamento público.

Fontana – Não temo isso. Temo que impeçam a votação. Se for à votação, tenho convicção de que vamos ganhar na questão do financiamento público. Está crescendo o número de pessoas na sociedade que o apoiam. À medida que as pessoas compreendem os porões do financiamento privado, passam a apoiar o público.

JC – A ampliação da participação popular é um dos temas que tem tido menor repercussão dentro reforma.

Fontana – Sim, e haverá uma ampliação real. Hoje, a população só pode apresentar projetos de lei, a Constituição não permite que uma emenda constitucional nasça da iniciativa popular. Mas é tão difícil este projeto ser criado que, desde que está prevista a possibilidade de projetos de lei de iniciativa popular, apenas três foram apresentados na Câmara dos Deputados. Proponho a diminuição no número de assinaturas para 500 mil, nos projetos de lei, e 1,5 milhão para emenda constitucional.

JC – O senhor é um dos principais líderes do partido no Estado e foi sondado para disputar a prefeitura da Capital. Como avalia a derrota petista em Porto Alegre?

Fontana – O PT tem que tirar profundas lições desses dois últimos processos eleitorais, e não são lições referentes a personalidades. O partido tem que se revitalizar na cidade, redescobrir o conjunto de relações políticas que tinha e que perdeu e tem que ter humildade para reconhecer que, se as perdeu, é porque não conseguiu motivar essas relações políticas. Um voto não é eterno. O mesmo PT que perdeu a eleição em Porto Alegre de maneira bastante dura é o PT que, quando teve um candidato a governador como o Tarso (Genro), teve vitória ampla em Porto Alegre. Sinto que o governo que vai agora encerrar esses 12 anos, o governo José Fogaça (PMDB), que é continuado pelo governo José Fortunati (PDT), dá um conjunto enorme de sinais de cansaço e de falta de algumas medidas estruturais de que a Capital precisa.

JC – Mas a expressiva votação não legitimou este governo?

Fontana – Sim, foi uma votação muito grande, mas percebo que algumas temáticas, no seu devido tempo, serão discutidas. A maneira como está sendo feita a expansão urbana de construções em Porto Alegre, por exemplo, com altíssima verticalização em alguns lugares e alta ocupação de solo urbano, não está sendo acompanhada de devidas contrapartidas que esses investimentos teriam que dar para a cidade. Mas, antes desse debate, o PT tem que fazer seu dever de casa, que é redescobrir o contato com uma série de setores que evidentemente perderam a confiança em nós na última eleição.

JC – Qual é a sua avaliação do quadro político para a reeleição da presidente Dilma?

Fontana – Estou entre os que vão fazer um grande esforço para manter o PSB na nossa aliança. O (governador de Pernambuco) Eduardo Campos (PSB) tem toda a legitimidade para ser candidato, mas se a economia dá certo e o País vive um volume de obras como nunca, então, será melhor apoiar a reeleição de Dilma. Eduardo se fortalece mais como líder político se estivermos juntos. Vamos enfrentar, provavelmente, o (senador mineiro) Aécio Neves (PSDB), que tem se mostrado com muita dificuldade de sintonizar com a opinião da população brasileira. E a (ex-ministra do Meio Ambiente) Marina Silva (ex-PT, ex-PV e hoje sem partido) é uma candidatura que tem demonstrado muita fragilidade. Respeitamos os adversários, mas sinto que a presidenta é franca favorita.

JC – E a reeleição do governador Tarso Genro (PT)?

Fontana – Tarso será uma candidatura fortíssima. É candidato à reeleição, ainda que não nos autorize a dizer isso oficialmente. Tenho uma enorme motivação e convicção da importância da reeleição do governador Tarso, porque ele está promovendo mudanças estruturais no Estado. O governador restabeleceu, ampliou a capacidade de investimento do Estado, há uma melhoria em diversas áreas, estradas, obras em escolas. Quando chegar ao final dos quatro anos de governo e compararmos com os governos anteriores, teremos resultados superiores em quase todas as áreas. Vamos enfrentar a (senadora) Ana Amélia (PP) e uma candidatura do PMDB. O (deputado federal) Beto Albuquerque (PSB) só será candidato se Eduardo Campos concorrer à presidência da República, e acredito que isso não vai acontecer.

JC – O senhor concorrerá à reeleição?

Fontana – É a maior possibilidade. O PT deve ter Tarso como candidato à reeleição e deve ter as vagas do Senado e de vice-governador para compor a nossa aliança. Preferencialmente devemos trabalhar para manter a aliança com PDT, PTB, PSB, PCdoB e PPL.

Perfil
Henrique Fontana nasceu em 18 de janeiro de 1960, em Porto Alegre. Formado em Administração de Empresas e Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Henrique cumpre o quarto mandato de deputado federal, eleito em 2010 com 131.510 votos. Atualmente, Fontana é vice-líder da bancada do PT na Câmara dos Deputados e relator da Comissão Especial da Reforma Política. O petista foi eleito vereador da Capital em 1992. Em 1996, foi reeleito para o Legislativo e se tornou secretário municipal da Saúde, na gestão de Raul Pont (PT). Candidato a deputado federal pela primeira vez em 1998, teve expressiva votação e ingressou na bancada do PT na Câmara Federal. Foi selecionado pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) como um dos parlamentares mais destacados do Congresso. Em 2008 e 2009, foi eleito pelos parlamentares como o segundo deputado mais destacado do Congresso Nacional. Pela sua atuação, recebeu também prêmios do site Congresso em Foco.

(http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=120916)

Messias Franca de Macedo

“Acusado é que prova inocência ficou no ‘acordão’?”
— Evandro Silva

“Visanet é estatal ficou no ‘acordão’ ?” — Hermes Persa

“BV ferra o Pizollatto e livra a Globo – isso está no ‘acordão’ ?”
— David Ogilvy

em http://www.conversaafiada.com.br/

Rubinho da Divinéia

1964-Brasil; 1973-Chile. A Receita de Bolo. Desestabilização Política e Tomada do Poder/Estado pela Elite Ogânica/Internacional Capitalista. Luta de Classes. CRFB/88, Artº 223, &5º, Cumpra-se! Urge regulamentar capítulo da Comunicação Social! Nada além ou aquém da #Lei. Solução Legal e Democrática. O Povo elege maioria PeTista/Aliados na Câmara e Senado, Reelege Dilma e o resto é atividade política normal!
Leiam A Internacional Capitalista de Renê Armand Dreifuss. Esclarecedor!

Fabio Passos

A pior “elite” do mundo ja nao controla mais a populacao.
Sao tres eleicoes que o PiG apanha nas urnas.

Com a perspectiva de nova derrota em 2014 a casa-grande vai tentar o golpe.
A casa-grande abomina a democracia e despreza a vontade do povo.

Esta na hora de um acerto de contas definitivo com estes crapulas que construiram um Apartheid Social em nosso pais.
E hora de recuperar toda a riqueza que a minoria branca, rica e vagabunda roubou dos trabalhadores.

    FrancoAtirador

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    “Apanham nas urnas”, mas ganham no Tapetão.

    Os Grandessíssimos Filhos da Plutocracia…
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Roberto Locatelli

Sortudos os alunos que tiverem aula com esse professor.

jaime

Muito importante o artigo, finalmente alguém colocou as coisas no seu devido lugar, um lugar muito diferente de simplesmente embalar toda a classe média no mesmo pacote. As colocações feitas são perfeitas e de resto concordo com o comentário do Guanabara. Acrescentaria apenas que a mídia – de novo ela – se encarrega de confundir o eleitor dos diferentes extratos da classe média (exceto a alta) fazendo-o identificar-se com um patamar de renda e interesses que na verdade não são os seus, mas os da burguesia.
Quando um candidato da direita fala “o Brasil” ou “este país”, está se referindo ao Brasil da altíssima classe média, dos industriais e do país que serve aos rentistas, mas o povo (o povão) assume automaticamente estar incluído nesse discurso.
Acontece o mesmo também com o funcionalismo público, onde, por exemplo, juízes tem um patamar de renda e interesses muito diferentes do reles servidor, mas estes últimos fingem que fazem parte do mesmo grupo, talvez até como a expressão de um desejo, mas que não reflete a realidade de fato.

    Guanabara

    Boa.

    Valmont

    É exatamente por esse desejo de “parecer chic” que muitos pobres metidos a besta acham bacana esculachar o PT e aliar-se aos Três Porquinhos – donos da Rede Goebbels – no seu discurso traiçoeiro contra a carga tributária e os gastos sociais do governo.

Willian

O que eu não entendo é que, com todo o apoio que os mais pobres e a parte majoritária da classe média dão ao PT, para se elegerem, tanto Lula quanto Dilma precisaram do segundo turno. Estes que apoiam o PT precisam começar a votar no PT. Que raio de apoio é este?

    Antonio Abreu

    O que eu morro de rir é sabêr, que aos 82 anos e em 2013, FHC reconhece que o Psdb precisa de um BANHO DE PÔVO. AGORA ACADÊMICO? kkkkkkkkkkkkkkk

    Ronaldo Silva

    Simples, é apoio com coerência, consciente, sem cabresto, muito diferente de sua subserviência aos tucanos, simples assim.

    Willian

    Ou seja, muitos daqueles que apoiam o PT, no momento do voto, pensam e votam na oposição.

    Ronaldo Silva

    Cada dia mais me surpreendo com sua inteligência Willian, nós votamos tanto na oposição que o Serra está sendo condenado ao ostracismo rsrsrs.

Urbano

Vem a ser a parte correspondente aos novos ricos… Ela se confunde e muito com escaterina, chegando a colocar a banda podre dos ricaços no bolso.

H.92

Isso explica o porque do PSDB ser o partido que realmente gosta de aparelhar o estado.

H. Back™

Entendo assim: a “elite da elite” (os muitos ricos) quer manter para si uma “reserva de mercado ao acesso da riqueza”, não permitindo que outros vindos de estratos sociais mais baixos tenham acesso aos mesmos recursos para atingirem o seu padrão de vida isto é; sentem-se ameaçados. Marx explicitou muito bem isso; é a eterna luta de classes.

Rafael

O articulista falou aquilo que sentimos mesmo. A alta classe média, muitos formados por profissionais como médico, funcionários publicos tem uma hostilidade com o governo muito grande. O texto defini os campos. E sabermos o que realmente é um medo da força de poder. É só ver os comentários nas noticias sobre a questão das leis para as domésticas.

Gerson Carneiro

O pai da Tetê foi o primeiro a fazer a inscrição. Ele qué aprendê fazê gagau.

Guanabara

Concordo em parte. Uma coisa que vejo muito em SP, mas com relevância apenas em SP, é uma baixa classe média apoiar o tucanato. Isso devido à ignorância sobre a realidade brasileira e, também, a grande dose de preconceito e um suposto sentimento de superioridade. Na prática, não passam de vítimas do sistema ou inocentes úteis, como diria o outro.

Agora, com relação ao voto propriamente dito, infelizmente, a maioria vota mesmo a partir da imagem do candidato. Não fazem a menor ideia do que efetivamente pretendem implantar. Hoje em dia, ainda associam Lula, PT e Dilma a criação de empregos e melhora na qualidade de vida dos mais pobres. Daí a luta hercúlea do PIG para (tentar…) transformar o Lula em um novo Maluf.

Um exercício interessante seria de levantarmos todas as denúncias feitas pelo PIG durante os governos tucanos, e mostrar como elas foram devidamente engavetadas e esquecidas, ao contrário do tal do “mensalão”, que até hoje não vi nada que caracterizasse o “denuncismo” do Roberto Jefferson em 2005. Além disso, Bob Jeff, na mesma época, disse que o Globo era um jornal amoral. A única coisa que vi foi Willian Bonner ler uma nota no JN de que a Globo sempre se pautou pela ética (rsrsrsrsrs. Faz-me rir…).

Ou seja, FHC foi eleito porquê, da noite para o dia, o povão viu seu poder aquisitivo quintuplicar, e ainda caiu naquela ladainha de 5 metas a la JK. Depois que veio o desemprego, recessão e racionamento, o príncipe tomou um pé na bunda via urnas. O problema é que enquanto o povão aumenta seu poder de compra, seja por PSDB ou por PT, nos bastidores surgem BrOi’s, Petrobrax’s, BV’s e outras berrações do mundo político econômico brasileiro, que continua alimentando suas elites de muito poder, e ninguém tem peito para mudar isso, exatamente porquê não terão respaldo popular, pelo simples fato de que o povo não só ignora, como também, se exposto ao real problema, infelizmente, não será capaz de compreendê-lo.

Dialética

No quesito Concurso Público a classe média se vê assim:

Se sou convidado, sou melhor que todos. Nunca consegue pensar que se fizesse concurso – em muitos casos, se houvesse concurso – talvez não fosse aprovada, e então outro melhor do que ela se vê eou/ é , tomaria o seu lugar, mas ela o vê como um intruso. É elementarmente animal o modo como essa classe se vê no concurso.Prefere o lugar de Assessor/Consultor/Secretário.

    Ulisses

    Uma unica coisa seu Willian. Imprensa! Se a imprensa não torpedeasse todo santo e não santo dia o PT com coisas como aborto, religião, falsos problemas como falsa inflação, falsa falta de energia, falsos escândalos e escondesse todos escândalo verdadeiro enraizado no PSDB desde FHC e continuo nos governos paulista, mineiro, goiano e paranaense, o PSDB estaria mais extinto que os dinossauros. No dia que esta mídia sumir e aparecer uma mídia mais honesta veremos quem tem razão!

    Willian

    Resumo: escândalos do PT: falsos, invenção da imprensa; escândalos das oposições: tudo verdade.

    Entendi direito?

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