Pressão obriga governo Temer a recuar e Nísia Trindade será nomeada presidente da Fiocruz; instituição é a grande vitoriosa
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Governo Temer recua e nomeará mais votada para presidir Fiocruz
Gustavo Uribe e Natália Cancian, na Folha de S. Paulo, 03/01/2017
Em meio a protestos de servidores e de representantes da comunidade científica, o presidente Michel Temer recuou nesta terça-feira (3) e decidiu nomear a pesquisadora Nísia Trindade para o comando da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Mais votada em eleição interna, a socióloga tem o apoio de dirigentes da OMS (Organização Mundial de Saúde) e sociedades científicas para ocupar o cargo, embora o governo federal pretendesse nomear a médica Tania Araújo-Jorge, segundo lugar na disputa interna. A situação gerou um embate entre Fiocruz e o Ministério da Saúde.
Com a repercussão negativa da decisão, que gerou protestos na sede da instituição, o presidente chamou ambas para uma conversa nesta terça (3) no Palácio do Planalto para chegar a um consenso.
“Houve um entendimento com as duas candidatas que disputaram para que seja nomeada a pesquisadora Nísia Trindade, que foi a mais votada na lista”, disse o ministro da Saúde, Ricardo Barros.
O ministro, porém, não deixou claro do motivo de ter optado inicialmente por Tania. “As duas tinham mais de 30% de apoios exigidos conforme o estatuto e estavam habilitadas a serem nomeadas. Não há prejuízo dentro das regras estabelecidas se qualquer uma fosse escolhida”, disse Barros.
Segundo ele, houve uma “solução conciliadora”. “Haverá uma união em torno dos objetivos. A presidente será a Nísia e haverá da parte do ministério e da chapa da Tânia a possibilidade de interlocução e participação no processo de busca dos objetivos estabelecidos pelo ministério para a Fiocruz”, afirmou.
Nísia obteve 2.556 votos como primeira opção à presidência e 534 votos como segunda opção. Tania recebeu 1.695 votos como primeira opção e 656 como segunda.
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Na semana passada, o atual presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, avaliou que o desrespeito à votação interna poderia ser considerado uma “afronta”. Nísia faz parte da atual gestão.
“Ela criou uma comoção intensa em todas as áreas em que a Fiocruz trabalha. Deveria ser um processo natural do presidente e do ministro de reconhecer que a Fiocruz tem demonstrado maturidade no processo de seleção da presidência”, disse.
A Fiocruz é uma instituição ligada ao Ministério da Saúde e sua história teve início em 1900. Além da missão inicialmente estabelecida de fabricar soros e vacinas, também tem importante atuação na área de saúde pública (em pesquisas sobre febre amarela, zika, Aids e dengue, por exemplo).
A instituição, que tem mais de 5.000 servidores, é composta de diversas unidades (institutos) distintos, em diversos Estados brasileiros, mas a maioria se encontra no Rio de Janeiro, onde tem presença marcante.
“Espero que os dirigentes atuais da Fiocruz tenham bom senso e preservem a nossa instituição centenária. Os ocupantes de cargos passam, a Fiocruz é patrimônio do povo brasileiro”, declarou Tania em nota, antes da decisão ter sido divulgada.
Colaborou GABRIEL ALVES, de São Paulo

Temer ficou bem para a Fiocruz
por Ilimar Franco, em O Globo, 03/01/2017
Depois de dois dias de intensa negociação, o presidente Michel Temer decidiu voltar atrás e nomear Nísia Trindade para a presidência da Fiocruz. As conversas envolveram o presidente, os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Ricardo Barros (Saúde), Moreira Franco e o coordenador da bancada do Rio na Câmara, Hugo Leal (PSB).
— Ficou bem para a Fiocruz. Encontramos uma boa solução. A primeira colocada será nomeada, mas com o compromisso de participação da segunda na gestão — disse Temer.
O presidente relata que as duas conversaram separadamente, pela manhã, com os ministros Eliseu Padilha, Ricardo Barros e Moreira Franco. Quando ficou tudo acertado, Temer pediu que elas fossem ao Palácio para tirar uma foto. E brincou sobre os posts e fotos pedindo Fora Temer ou o criticando por ter aplicado mais um golpe.
— Dizem que as duas são fora Temer, mas esse governo não leva em conta essas coisas — afirmou Temer.
Nísia foi a mais votada em eleições entre os funcionários da fundação. Elas ocorreram no final de novembro e Nísia Trindade recebeu 2.556 votos em primeira opção (59,7 %) e 534 votos em segunda opção.
Nísia ingressou na Fiocruz em 1987 e é vice-presidente de Ensino e Comunicação. Exerceu funções de coordenação, dirigiu a Editora da Fiocruz e foi vice do Instituto Oswaldo Cruz.
A solução foi uma derrota política do ministro Ricardo Barros e do deputado Hugo Leal, pois ambos defendiam a nomeação de Tania.
Estes haviam convencido o presidente a nomear a segunda colocada, Tania, que recebeu 1.695 votos em primeira opção (39,6 %) e 656 votos em segunda opção. Ela é pesquisadora da Fiocruz desde 1983, foi chefe de laboratórios e de departamentos (1991-2005) e integrou a direção do Instituto Oswaldo Cruz (2005-13).
A reação do presidente da Firjan, Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, pesou. Ele ligou da da Europa para a Restinga de Marambaia, onde Temer passava o final do ano. A posição assumida por acadêmicos, cientistas, intelectuais e parlamentares de esquerda também contribuiu para que o governo repensasse a solução que fora adotada.
A Fundação Oswaldo Cruz teve sua origem em 25 de maio de 1900, com a criação do Instituto Soroterápico Federal, na fazenda de Manguinhos, na zona norte do Rio de Janeiro. Ele foi criado para fabricar soros e vacinas contra a peste bubônica.
E depois, sob o comando de Oswaldo Cruz (médico bacteriologista), o Instituto foi responsável pela reforma sanitária que erradicou a epidemia de peste bubônica e a febre amarela da cidade do Rio.
Tania é pesquisadora da Fiocruz desde 1983, foi chefe de laboratórios e de departamentos (1991-2005) e integrou a direção do Instituto Oswaldo Cruz (2005-13).
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