O Futuro é Nosso!, mais novo filme de Silvio Tendler, é imperdível. Assista agora!

Tempo de leitura: 5 min

Por Conceição Lemes

Em 26 de junho, aconteceu no Rio de Janeiro a pré-estreia do filme O Futuro é Nosso!, do premiado cineasta Silvio Tendler.

Realizado em parceria com o Sinpro-RJ –Sindicato dos Professores do Rio de Janeiro, o filme é uma radiografia do mundo do trabalho atual.

”Este é o retrato de uma transição”, considera o próprio Silvio Tendler no comecinho do filme.

Em letras garrafais, tendo ao fundo o som de diferentes máquinas em operação como se fossem instrumentos musicais, Silvio conta:

Começamos as gravações no início da pandemia de covid-19.

E finalizamos logo após a posse do presidente Lula para o seu terceiro mandato. 

É a nossa aposta em um futuro melhor para os trabalhadores.

Agradecimentos especiais ao Sinpro-Rio e a todos os sindicatos e centrais sindicais parceiros da Caliban.

Sem eles, não teríamos seguido trabalhando nos períodos mais duros da pandemia de covid-19.

A José Candido Portinari, que generosamente cedeu a obra de seu pai para este filme.

Em1935, foi professor do Instituto de Arte da Universidade do Distrito Federal. 

Este filme é dedicado aos professores e a todos os trabalhadores que movem o mundo.

Em especial, à jovem professora e atriz Rita de Cássia, vítima da covid-19.

E ao centenário operário e líder sindical Clodesmidt Riani.

Ao longo da história, trabalhadores perderam suas vidas lutando contra a opressão.

A todos eles, nosso respeito e nossa homenagem.

Candido Portinari (no meio do círculo) dedicou a sua vida a retratar os oprimidos. Em 1935, ele foi professor do Instituto de Arte da Universidade do Distrito Federal, no Rio de Janeiro. Imagens reproduzidas do filme O Futuro é Nosso!

Abaixo o texto que fiz sobre a pré-estreia.

Acima, fotos da Passeata dos Cem Mil feitas por Kaoru, Hamilton e Campanela (CPDoc JB)

Por Conceição Lemes

Nesta segunda-feira, 26 de junho, a Passeata dos Cem 100 mil faz 55 anos.

Memorável momento histórico da nossa história recente para ser lembrado e celebrado.

Sob o título Passeata dos Cem mil Afronta a Ditadura (imagens acima), o verbete do Memorial da Democracia registra nas primeiras linhas:

Na manhã de 26 de junho, estudantes, artistas, religiosos e intelectuais se concentram nas ruas do centro do Rio de Janeiro.

Às 14h, iniciam uma passeata com cerca de 50 mil pessoas.

Uma hora depois esse número já havia dobrado e os manifestantes ocupam toda a avenida Rio Branco.

O ato, que ficaria conhecido como a Passeata dos Cem Mil, foi a maior manifestação de protesto desde o golpe de 1964.

A Passeata dos Cem Mil marcou o ápice da reação da sociedade contra o regime, a censura, a violência e a repressão às liberdades.

Por coincidência (ou de propósito?), nesta segunda-feira, 26 de junho, acontece também na cidade do Rio de Janeiro a pré-estreia do filme O Futuro é Nosso!, do premiado cineasta Silvio Tendler, que pensa e filma fora da caixinha.

Será às 19h, no cinema Estação Botafogo. A entrada é franca.

A partir da terça-feira, 27 junho, O Futuro é Nosso! poderá assistido no canal da Caliban no YouTube.

Realizado em parceria com o Sinpro-RJ –Sindicato dos Professores do Rio de Janeiro, o filme é uma radiografia do mundo do trabalho atual.

A obra é toda alicerçada em depoimentos de especialistas, sindicalistas e, principalmente, de trabalhadores de vários setores e diferentes condições, que relatam as suas lutas diárias.

“Nunca um funcionário vai negociar com o patrão. Nunca. Quem disse isso, realmente não entendeu nada da vida”, diz no filme uma funcionária da área comercial de uma multinacional.

“É desumano. A caixa d’água não é limpa há mais de dez anos e é água que a gente bebe”, denuncia funcionário da Comlurb, sobre as instalações da empresa.

“Para a gente, era bem mais sofrido”, conta Lora Matoso, catadora de papelão. “Eles [criadores do aplicativo Cataki] fizeram, sim, uma transformação da vida dos trabalhadores”.

O teaser (vídeo de divulgação, que está no topo e dura 3min20s) dá uma boa ideia do que filme todo.

Eu o recebi do próprio Silvio Tendler, com esta mensagem: As muitas lutas. Todo dia tem coisa nova. Serei o primeiro ou último utopista? 

Utopista é uma pessoa partidária da utopia, idealista, sonhadora.

Utopia, diz o Dicionário Houaiss, é “qualquer descrição imaginativa de uma sociedade ideal, fundamentada em leis justas e em instituições político-econômicas verdadeiramente comprometidas com o bem-estar da coletividade”.

O Silvio é, sim, um utopista, que não fica esperando as coisas acontecerem. Ele batalha muito para os seus sonhos de uma sociedade mais justa, igualitária, solidária, virarem realidade.

— Quando vi a tua pergunta — eu respondi –, a resposta inicial que me veio à cabeça, dado o andar da carruagem, é que você seria o último utopista.

– Mas, depois, vendo o teaser – eu não sabia, por exemplo, da onda de sindicalização de trabalhadores ligados às plataformas digitais, antes refratários a qualquer organização -, eu diria que você é o primeiro utopista de uma nova utopia. Você aponta um recomeçar — eu acrescentei.

O filme fala do cenário atual.

Aborda o impacto da robotização, do neoliberalismo e da desregulamentação do capital no mundo do trabalho.

“O neoliberalismo nos traz não apenas a desregulamentação do capital ou a destruição do Estado Social. Ele também nos traz um ataque à democracia”,  explica no filme a professora Wendy Brown, da Universidade da Califórnia, campus de Berkeley (EUA).

No Brasil, a reforma trabalhista, do governo do usurpador Michel Temer, (MDB) aprofundou a informalidade.

O cientista político Roberto Amaral, diz, indignado, no filme: “Nós vimos o que foi feito neste país nos últimos seis anos com a previdência social, com os direitos dos trabalhadores, com a consolidação das leis do trabalho…”

O filme aponta também para o cenário futuro.

“Rasgar a CLT é jogar a luta dos meus irmão no lixo, não abro mão. E não abro mão de lutar por mais conquistas pros irmãos que vão vir depois de mim”,  afirma Paulo Galo Lima, Movimento dos Entregadores Antifascistas.

“Quando você vive num nível intenso de exploração, você começa a buscar formas de resistir. E, por pior ou melhor que sejam, os sindicatos é uma das raras ferramentas que a classe trabalhadora tem”, afirma o professor Ricardo Antunes, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

“Um setor de classe média que estava com saídas totalmente individuais, até por muitas vezes serem trabalhadores freelancer, sem contato com o outro, passou a se organizar”, observa o professor Rafael Grohman, da Unisinos, sobre trabalhadores das big techs.

“Quem constrói essa sociedade, quem trabalha e quem produz as riquezas, somos nós, trabalhadores”, ressalta Oswaldo Teles, ex-presidente do Sinpro-Rio.

”Greves de entregadores por aplicativo, proliferação de cooperativas e de sindicatos de categorias que rejeitavam qualquer forma de organização mostram que o fio invisível que une os trabalhadores continua a tecer novas formas de luta”, arremata Silvio Tendler. ”Elas, em diálogo com formas outras já consolidadas, movem o pêndulo da História.”

O FUTURO É NOSSO!

Ficha Técnica

Direção e Argumento
Silvio Tendler

Produção Executiva
Ana Rosa Tendler

Diretora Assistente
Lilia Souza Diniz

Produção
Maycon Almeida

Fotografia Entrevistas Online
Tao Burity
Taynara Mello

Montagem
Lilia Souza Diniz
Diego Felipe S Q

Coordenação de Pós-Produção
Taynara Mello

Assistente de Pós-Produção
Lukas Hoekstra

Assistente de Produção-executiva
Diego Tavares

Entrevistados
Alerson Rodrigues

Adair Rocha

Boaventura de Sousa Santos

Carolyn Kazdin

Casper Gelderblom

Clemente Ganz Lúcio

Cunca Bocayuva

Emerson M

Fausto Augusto

Juca Guimarães

Ken Loach

Lora Matoso

Luiz Dulci

Luiz Edmundo Aguiar

Marcio Pochmann

Marcus Vinicius Cordeiro

Maria Lucia Fattorelli

Paulo Galo Lima

Rafael Grohmann

Ribamar Barroso

Ricardo Antunes

Rita de Cássia

Roberto Amaral

Sérgio Carvalho

Virgínia Fontes

Wendyl L. Brown

Yanis Varoufakis

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