Música em perfil de Atlética da PUC-Rio fala sobre cotas: “Foi lavadeira, já foi faxineira, hoje a cotista ganha a vida com michê”

Tempo de leitura: 4 min
Reprodução You Tube e redes sociais

Reprodução You Tube e redes sociais

Da Redação, com coluna do Ancelmo e Sidney Rezende

Gravações de músicas atribuídas a estudantes da PUC-Rio foram apagadas do perfil do Sound Cloud do Jacaré da Gávea, como é conhecida a Atlética da faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Uma das letras fala das cotas raciais:

“É favelada, vou ajudar um pouquinho/toma um trocadinho/faz um lanche ali no bandejão/pão com mortadela, de repente um requeijão/foi lavadeira, já foi faxineira, hoje a cotista ganha a vida com michê”.

A informação foi divulgada pela coluna do Ancelmo, em O Globo.

O gosto por “pão com mortadela” faz parte do repertório dos antipetistas e é frequentemente usado como ofensa de classe, às vezes por gente que leva amigos para comer o famoso pão com mortadela no Mercado Municipal de São Paulo.

A PUC-Rio foi punida por injúrias raciais cometidas durante jogos universitários no Rio de Janeiro, conforme nota oficial da Liga Jurídica Estadual:

NOTA OFICIAL

A Liga Jurídica Estadual do Rio de Janeiro vem a público manifestar-se sobre os três episódios de injúria racial cometidos durante a edição dos Jogos Jurídicos Estaduais de 2018, em Petrópolis/RJ.

No sábado, depois da partida futebol entre PUC-Rio e UCP [Universidade Católica de Petrópolis], uma integrante da torcida da PUC jogou uma casca de banana na direção de um atleta negro da UCP.

No domingo, após a final do basquete masculino entre PUC-Rio e UERJ, integrantes da torcida da PUC-Rio imitaram macacos diante dos torcedores negros da UERJ e, mais tarde, torcedores da PUC-Rio, novamente, chamaram uma atleta de handebol da UFF de macaca.

A Liga repudia veementemente os atos praticados, porém, diante da gravidade dos fatos relatados, tem consciência de que repudiar não é suficiente.

Portanto, em reunião extraordinária realizada na madrugada de segunda-feira, em conjunto com o movimento Jogos Sem Racismo, a Liga decidiu, por unanimidade, acatar a sugestão de penalidades encaminhadas pelo movimento a serem aplicadas à PUC-Rio, de acordo com os artigos 33 e 34 do Estatuto da Liga.

As punições são as seguintes:

1. A PUC-Rio, que havia terminado a competição com o maior número de pontos da competição pela primeira vez, foi punida com a perda de 12 pontos, sem, contudo, retirar os resultados esportivos das equipes e das modalidades individuais, em respeito aos atletas;

2. Excetuando-se as competições em que os seus atletas já estão inscritos, a PUC-Rio não poderá participar de quaisquer competições ao longo de 2018; e

3. A PUC-Rio não participará dos Jogos Jurídicos Estaduais do Rio de Janeiro em 2019.

A Liga e o movimento Jogos Sem Racismo decidiram também que, diante dos atos praticados, a edição de 2018, não consagrará nenhuma faculdade participante como campeã geral, mantendo-se apenas os resultados das modalidades em respeito aos atletas participantes.

A atlética da PUC-Rio se comprometeu a colaborar com a identificação dos agressores e prestar auxílio jurídico às vítimas dos crimes cometidos.

Por fim, a Liga se compromete a criar canais de comunicação e diálogo com o movimento Jogos Sem Racismo e os coletivos negros de cada faculdade a fim de que o período de suspensão da PUC-Rio seja um ano de trabalho intenso de didática antirracista a fim de que casos como os ocorridos nos últimos jogos não se repitam e os jogos se tornem mais inclusivos para todos os atletas e torcedores negros de todas as faculdades participantes.

Tanto a direção da PUC-Rio quanto a Atlética de Direito repudiaram as injúrias. Mas os representantes dos alunos de Direito da PUC escreveram que pode existir exagero nas denúncias:

Nesse clima de confusão geral, gerado pelo espalhamento de fatos graves e, a rigor, ainda não confirmados, não se pode, contudo, tomado pelo calor do momento, pactuar com a imputação leviana de fatos criminosos a todo um conjunto de pessoas, como “alunos da PUC/Rio”, pelo simples fato de que, tal generalização, nomeadamente quando propagada por tantos meios de comunicação, sem a prévia e devida apuração dos fatos, seguida da necessária individualização, será — necessariamente — injusta. Ademais, não se pode esquecer de que, atualmente, toda a polêmica vem embasada somente em versões ora contraditórias, ora complementares, consubstanciadas em relatos que não dialogam entre si e não se confirmam.

Alunos negros da PUC carioca fizeram uma manifestação no campus — alguns cartazes que pregaram nas paredes foram destruídos.

O racismo e a ostentação são comuns nos jogos universitários do Rio, informou Sidney Rezende.

Nos Jogos Universitários de Comunicação Social (JUCS), realizados em Vassouras, a torcida da Escola Superior de Propaganda e Marketing usou notas de 100 reais como adereços.

“Eu fico lá segurando essas notas, mas me sinto até mal, porque no meu bolso não tem nem 10 reais (risos)”, disse um bolsista da ESPM ao blog de Rezende. “Eu tentei passar para a UFRJ e não consegui. Meus pais às vezes ficam no vermelho para poder pagar a ESPM”, afirmou outro.

Já a turma da PUC-Rio provoca os estudantes de universidades com palavras de ordem ligadas a consumo e poder social: “Eu ando de Ferrari e você de Renault Clio. Passo férias na Europa e você em Cabo Frio. Uh, PUC-Rio! Uh, PUC-Rio!”. “Meu pai vai demitir seu pai” e “O seu pai é meu porteiro ÔôÔôÔ”.

No twitter, o perfil SAC Universitário publicou letras que reproduziu a partir do Sound Cloud da Atlética de Direito da PUC Rio:

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Comentários

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Rachel

Mas não é uma universidade católica? E seus dirigentes nunca viram isto? O pior cego é aquele que não quer ver. Afinal de contas as mensalidades pagem a caridade que pela igreja é feita. E assim é mantido um círculo vicioso. Daí nada, ou muito pouco fizeram para combater o racismo e, a abissal diferença entre as classes sociais nesse , nesse, como chamar o lamaçal que somos ? De país? de nação? de que?

Sergio

Depois esses caras vão parar no judiciário ou mp com auxílio-moradia.

    fernando miller

    e ainda fazem campanha pela “moralização do país”.

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