Miola: Com a caneta na mão e a Câmara no bolso, Bolsonaro estará a um passo de proclamar “eu sou a Constituição!”

Tempo de leitura: 3 min
O presidente Jair Bolsonaro dá posse ao general Luiz Eduardo Ramos como ministro da Secretaria de Governo. Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

Com Câmara no bolso, Bolsonaro proclamará: “eu sou a Constituição!”

Por Jeferson Miola, em seu blog

A instalação do títere do Bolsonaro na presidência da Câmara dos Deputados tem duplo ganho para o regime dos generais.

Por um lado, representa um passo perigoso de hipertrofia e concentração do poder fascista-militar.

Controlando a Câmara, o “Partido Militar” aperta o garrote sobre as instituições, controla abertamente outro poder de Estado e avança com sutileza e suavidade o processo de fechamento/tutela do Congresso.

Tudo feito de modo “asséptico”, sem precisar de “um soldado e um cabo” e, também, sem precisar disparar sequer um único tiro de fuzil. Para não parecer um golpe militar sobre o poder civil.

O segundo ganho é a blindagem do genocida do Planalto.

Com seu títere na presidência da Câmara, o facínora ficará blindado tanto em relação à abertura de processo de impeachment por crimes de responsabilidade, como em relação à autorização para o STF julgá-lo por crimes chamados de “comuns” – genocídio, crimes contra a humanidade, contra a saúde pública etc.

Se Baleia Rossi não é nenhuma garantia de que o impeachment possa ser votado pelo Plenário da Câmara, Arthur Lira é a certeza de que esta urgência nacional terá nele um implacável adversário.

Bolsonaro enfrenta a conjuntura mais desfavorável desde que este ciclo de terror e horror iniciou, em 1º de janeiro de 2019.

Pela primeira vez, em todo este período, observa-se o descolamento, ainda que tímido, de setores e movimentos de direita e extrema-direita, ao mesmo tempo em que a oposição de esquerda e centro-esquerda se unifica em torno da bandeira do impeachment.

Manaus expôs sem filtros a natureza genocida e cruel do regime, abalou a legitimidade dos criminosos no poder e acendeu a luz de alerta para segmentos da oligarquia dominante.

A gestão criminosa e irresponsável do general-ministro da morte Eduardo Pazuello, um general ainda da ativa, abala ainda mais a imagem já emporcalhada do governo e das Forças Armadas.

Ao lado disso, com a derrota do Trump, a diplomacia pária-genocida se isola e enfrenta adversidades relevantes no cenário internacional.

A agressão do lunático Ernesto Araújo à China é fonte permanente de instabilidade e crise para o governo, que depende totalmente da potência asiática para abastecer o Brasil com vacinas.

A Administração Biden não poupou recados e gestos de rechaço a Bolsonaro, que deverá ser humilhado antes de conseguir conversar com o presidente estadunidense.

Os sinais são de que EUA – que se notabilizam por derrubar governos, apoiar ditaduras e impor regimes servis a seus interesses – não seriam empecilho à eventual destituição do cupincha tropical do Trump.

Por estes motivos, o controle da Câmara é fundamental para a governabilidade neste momento de dificuldades e de agravamento da crise de legitimidade do Bolsonaro e dos militares.

Segundo noticiado, o governo já investiu à vista R$ 20 bilhões na compra de deputados, e arrematou o passe de parlamentares venais com a promessa de “compra futura”, por meio da entrega de 3 ministérios para a farra de corrupção, apenas confirmada a eleição do Lira.

O general-ministro Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, comanda esta orgia corrupta de compra parlamentar em distintas modalidades: no atacado, no varejo, a vista ou a prazo.

Com a Câmara dos Deputados no bolso, com o PGR subjugado, o judiciário tutelado, e contando com a conivência da oligarquia calhorda que jogou o país neste precipício fascista-militar, Bolsonaro está a um passo de materializar a proclamação que fez em 20 de abril de 2020, dia seguinte à participação dele no ato terrorista que pedia o fechamento do Congresso e do STF e a “intervenção militar com Bolsonaro no poder” em frente ao Quartel-general do Exército Brasileiro : “eu sou a Constituição!”.


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Zé Maria

“Quando o luto não vem inscrever no real
a perda de um laço afectivo (de uma força),
o morto e a morte virão assombrar os vivos
sem descanso.” (José Gil)

A Democracia e os Mortos

Por José Gil *, no Público.pt

“É nestes Dois Princípios, de Igualdade e de Singularidade,
que assenta o Espírito da Democracia.
São eles que regem o Estado Laico Democrático, é deles que decorre
a possibilidade do Exercício da Justiça e da Livre Coesão dos Indivíduos
e da Comunidade.
É a uma certa Espiritualidade dos Mortos no Exercício da Vida
que a Democracia pode ir buscar as Forças Vitais para o seu Funcionamento.”

* Filósofo Moçambicano/Português
https://www.fnac.pt/Jose-Gil/ia58153/biografia

Íntegra: https://www.publico.pt/2021/01/31/sociedade/noticia/democracia-mortos-1948480

Zé Maria

“Corrupção contra o Impeachment”

íntegra: (https://pbs.twimg.com/media/EtD91nqWMAU-1Cz?format=jpg)

“A numerosa compra de parlamentares com verbas e cargos públicos,
praticada por Jair Bolsonaro e sua tropa para conduzir as eleições internas
de Câmara e Senado, viola a Constituição no princípio básico da independência
entre os Poderes.
Mas o objetivo maior desse ataque ao regime, definindo amanhã quem serão
os novos presidentes da Câmara e do Senado, não é a propalada aprovação
de reformas.
É o bloqueio dos requerimentos de impeachment, os cerca de 65 relegados
(até a sexta-feira em que escrevo) e os vindouros.”
[…]
“A escolha de Bolsonaro para chefiar a sua guarda pessoal na Câmara
foi por ele explicada com grande antecedência, quando se referiu
ao que forma o centrão: “é a nata do que há de pior no Brasil”.
Material que ele conhece.
Arthur Lira (PP-AL) vem de lá, e com posição de liderança.
Um trunfo para escapulir da Lei Maria da Penha e, se não de outras marias,
por certo de outras leis.”
[…]
“Nenhum obstáculo deterá o embate entre o jogo pesado de Bolsonaro
e a necessidade do impeachment. Só duas eventualidades poderiam impedi-lo:
o golpe militar, difícil sem a improvável adesão de Marinha e Força Aérea [SIC],
ou a retração dos conscientes da terrível situação nacional.”
[…]
“Há uma semana, 53% não aprovavam o impeachment, ao menos agora,
e 42% o desejavam. Quase meio a meio.
E, observação essencial, a opinião favorável a Bolsonaro é proveniente,
em parte volumosa, do recebimento de auxílio pandemia e da expectativa
de tê-lo outras vezes.
É comum, entre os recebedores, atribuir a Bolsonaro o auxílio dado,
na verdade, pelo Congresso.”
Como complemento ainda mais revelador do ambiente, apenas nos 30 dias
entre 20 de dezembro e 20 de janeiro a avaliação ótimo/bom de Bolsonaro
caiu de 37% para 31%; a regular caiu de 29% para 26%; e a de ruim/péssimo
subiu de 32% para 40%.
Se isso nada demonstra, voltemos a dormir o sono do nosso pesadelo, e pronto.

O argumento de que a eventual substituição de Bolsonaro por Mourão
nada mudaria até parece um desatino bolsonarista.

Ser mais inteligente e preparado do que Bolsonaro não é vantagem [*],
Mourão já exibiu os componentes goriliformes [SIC] da sua formação no Exército,
mas não é procedente, nem justo, descê-lo ao nível de Bolsonaro.
Ao contrário, tudo indica ser o mais inteligente e preparado dos generais
instalados na cúpula do governo. [*]
Não justifica esperança, mas não é provável que fizesse coisas como
matar incautos com a recomendação de cloroquina [**].

Este país já de 220 mil mortes figura como o de pior desempenho antipandemia
no mundo.
Prova-se que o projeto autêntico de Bolsonaro é vitorioso. E por isso mesmo
deve ser eliminado, para sobrevivência menos indigna do país e mais digna
dos brasileiros.

Jornalista Jânio de Freitas
.
*[Mas esse mesmo é o Risco]
**[Não de Cloroquina, mas sim de Fome. Ademais, as Estatais já eram.]

João Ferreira Bastos

Isso não irá acontecer

Nossa brava oposição desde o 2º mandato da Dilma está em profunda meditação para a queda do narco-presidente

Zé Maria

Se o Senado Federal cair na mão de Jair Bolsonaro,
a maioria do STF cai junto, com exceção, quiçá,
de Lewandowski e Marco Aurélio que está próximo
de se aposentar.

    Zé Maria

    Adendo

    MPF/PGR já tá na mão.

Deixe seu comentário

Leia também